Um novo
estudo da Lancet [ The public health implications of the Paris Agreement: a
modelling study ] analisou as metas do Acordo de Paris de nove países,
incluindo o Brasil, para medir os impactos de ações mais ambiciosas de combate
às mudanças climáticas e com foco na saúde pública. O resultado aponta que 6,4
milhões de vidas seriam salvas todo ano nos nove países devido a uma dieta
melhor; 2,1 milhões deixariam de morrer por adotarem uma locomoção mais ativa e
por praticar exercícios; e 1,6 milhões de vidas seriam poupadas com um ar menos
poluído.
A
pesquisa faz parte da iniciativa Lancet Countdown on Health and Climate Change
e publicada em 09/02/21 no número especial da revista The Lancet Planetary
Health. Os países considerados no estudo representam 50% da população e 70% das
emissões mundiais – África do Sul, Alemanha, Brasil, China, EUA, Índia,
Indonésia, Nigéria e Reino Unido.
Somente
no Brasil, um fortalecimento das metas do Acordo de Paris com medidas
explícitas para a área da saúde faria com que 24 mil pessoas deixassem de
morrer em decorrência da poluição do ar todos os anos até 2040.
Ações
de sustentabilidade atreladas à promoção de uma dieta mais equilibrada (com
mais acesso a frutas e vegetais e menos ingestão de comida processada e carne
vermelha) poderia salvar cerca de 330 mil vidas brasileiras ao ano. E medidas
climáticas aliadas ao incentivo à mobilidade ativa poupariam mais de 100 mil
vidas anualmente.
Metas
individuais de cada país no Acordo de Paris são conhecidas em inglês NDC
(Contribuições Nacionalmente Determinadas). Estudo levou em conta diferentes
cenários para a saúde pública, com as metas atuais e com NDCs mais ambiciosas e
consistentes com o objetivo de limitar o aquecimento a “bem abaixo de 2°C”.
Segundo a organização Climate Action Tracker, as metas atuais dos países
investigados vão de criticamente insuficientes a insuficientes (caso do
Brasil), com exceção da Nigéria que não teve sua NDC avaliada pela organização
e da Índia, que apresentou metas nacionais consideradas compatíveis com os
objetivos do acordo.
COP26:
oportunidade para a Saúde
Pelas
regras do Acordo de Paris, todos os signatários devem atualizar suas NDCs de
modo que elas se tornem progressivamente mais ambiciosas. Seis dos nove países
incluídos no estudo ainda não anunciaram suas revisões, enquanto o Brasil
apresentou em novembro de 2020 uma NDC que na prática diminui as ambições
climáticas das metas anteriores. Por essa razão, o país foi excluído da Cúpula
de Ambição Climática da ONU realizada em formato virtual sob a liderança do
Reino Unido em lugar da COP26, que foi adiada para novembro de 2021.
Os
autores enfatizam que as vidas salvas por meio de uma melhor dieta, ar mais
limpo e mais exercício fornecem mais uma razão para o fortalecimento dos
compromissos de Paris. “Ao contrário dos benefícios diretos da mitigação do
carbono que são, em última instância, de longo prazo e compreendidos em termos
de limitação de danos, os co-benefícios para a saúde de políticas climáticas
ambiciosas têm um impacto positivo imediato”, explica Ian Hamilton, autor
principal do estudo e diretor executivo da The Lancet Countdown on Health and
Climate Change.
Para
ele, não só o cumprimento das metas de Paris evita que milhões de pessoas
morram prematuramente a cada ano, mas a qualidade de vida de milhões a mais
será sensivelmente maior. “Temos agora a oportunidade de colocar a saúde na
vanguarda das políticas de mudança climática para salvar ainda mais vidas”, diz
Hamilton.
“Conclusões
do relatório constituem um incentivo importante não apenas para que os líderes
mundiais cumpram seus compromissos climáticos, mas também para alinhar os
objetivos ambientais e de saúde nos planos de recuperação pós-Covid-19. Afinal
de contas, populações mais saudáveis se mostrarão mais resistentes a futuros
choques de saúde”, escreveu Margaret Chan, ex-diretora-geral da Organização
Mundial da Saúde (OMS) em artigo incluído no relatório. Ela também destacou a
economia de recursos que seria alcançada com a melhoria geral da saúde da
população, aliviando os custos da transição para uma economia de baixo carbono.
Alastair
Brown, editor-chefe da The Lancet Planetary Health, afirma que como os países
já estão sendo solicitados a aumentar seu nível de ambição antes da COP 26 em
Glasgow, os próximos meses representam um momento-chave na luta contra a
mudança climática. “Se há a necessidade de um prazo para motivar a ação dos
países, nós temos: novembro de 2021”, em referência a data de realização do
evento.
Só 40
países (39 nações + União Europeia) submeteram revisões atualizadas, incluindo
três países investigados na pesquisa: Reino Unido, Alemanha e Brasil. É
possível acompanhar as atualizações aqui: https://climateactiontracker.org/climate-target-update-tracker/.
O
quadro abaixo foi divulgado no contexto do estudo com o dois cenários
principais são contrapostos:
Sustainable
Pathways Scenario (SPS): Alinhado com os compromissos do Acordo de Paris para
limitar o aumento da temperatura global a bem abaixo de 2°C dentro do século e
também para atender aos seguintes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável:
ODS2 (zero fome), ODS3 (boa saúde e bem-estar), ODS7 (energia limpa e
acessível), e ODS13 (ação climática).
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