Com a construção de novas barragens, China mantém
hidro hegemonia na Ásia.
“Há um ditado tibetano que diz: ‘A tragédia deve ser
utilizada como uma fonte de força’. Não importa que tipo de dificuldade, quão
dolorosa é a experiência, se perdemos a nossa esperança, esse será o verdadeiro
desastre”. Dalai Lama (1935 -)
A água é uma riqueza da Terra, um bem escasso e
desigualmente distribuído. Nenhuma espécie animal ou vegetal consegue viver sem
água. Porém, o ser humano tem maltratado, poluído e superexplorando as fontes
limpas de água doce, além de estar sujando, danificando e acidificando os
oceanos.
As pessoas pensam que a água é um bem abundante porque ela cobre 71% da superfície da Terra. Porém, do total dos recursos hídricos, os oceanos abarcam cerca de 97% do volume, restando apenas 3% de água doce para satisfazer as necessidades de todos os seres vivos do Planeta que não vivem nos oceanos. Desta pequena quantidade de água potável, 2,4% estão congeladas nas geleiras e calotas polares e somente 0,6% encontram-se nos rios, lagos e represas.
Conflitos pela água
As montanhas do Himalaia concentram grande quantidade de água que se acumulam nas geleiras e glaciares na época do inverno e garantem o fluxo de água para as regiões mais baixas, especialmente na primavera e no verão. Mas a China controla o Tibete – o teto do mundo – o que significa que controla também as nascentes dos principais rios da Ásia, que garantem a disponibilidade hídrica da metade da população mundial. Mas a estratégia chinesa de construir freneticamente represas e reservatórios em rios transnacionais que nascem no Tibete, ameaçam as economias e a prosperidade da região.
A China domina o mapa hídrico da Ásia, devido à anexação de terras de minorias étnicas, como o planalto tibetano e Xinjiang. O engrandecimento territorial da China no Mar da China Meridional e no Himalaia, onde atingiu até mesmo o pequeno Butão, foi acompanhado por esforços mais furtivos para se apropriar dos recursos hídricos em bacias hidrográficas transnacionais – uma estratégia que não poupou nem mesmo vizinhos amigáveis ou dóceis, como Tailândia, Laos, Camboja, Nepal, Cazaquistão e Coreia do Norte. De fato, a China não hesitou em usar sua hidro hegemonia contra seus 18 vizinhos a jusante.
Artigo de Brahma Chellaney, no Project Syndicate
(22/12/2020) mostra que as 11 megabarragens da China no rio Mekong, a via
navegável arterial do sudeste da Ásia, levaram as secas recorrentes rio abaixo
e transformaram a Bacia do Mekong em um ponto crítico de segurança e ambiental.
Enquanto isso, na grande parte árida da Ásia Central, a China desviou as águas
dos rios Illy e Irtysh, que se originam no Xinjiang, anexado à China. Seu
desvio de água do Illy ameaça transformar o Lago Balkhash do Cazaquistão em
outro Mar de Aral, que praticamente secou em menos de quatro décadas.
Todavia, o plano recentemente revelado da China para construir uma mega represa no rio Yarlung Zangbo, mais conhecido como Brahmaputra, pode ser a maior ameaça até agora para o continente asiático. O projeto planejado de 60 gigawatts, que será integrado ao próximo Plano Quinquenal da China a partir de janeiro, irá diminuir a represa das Três Gargantas da China – atualmente a maior do mundo – no rio Yangtzé, gerando quase três vezes mais eletricidade. A China conseguirá isso aproveitando a potência de uma queda de 2.800 metros (3.062 jardas) pouco antes de o rio entrar na Índia.
Porém, o plano da China de represar o Brahmaputra perto de sua disputada – e fortemente militarizada – fronteira com a Índia não é uma surpresa. A publicação comunista chinesa Huanqiu Shibao, citando um artigo que apareceu na Austrália, recentemente pediu ao governo da Índia que avaliasse como a China poderia “transformar em arma” seu controle sobre as águas transfronteiriças e potencialmente “sufocar” a economia indiana. Com o megaprojeto Brahmaputra, a China deu uma resposta, como mostra o professor Chellaney.
O perigo de acidentes é grande como ocorreu com o
colapso de uma geleira dos Himalaias causou uma enorme inundação em aldeias do
norte da Índia, matando pelo menos 150 pessoas no dia 07 de fevereiro. O
colapso do glaciar dentro da albufeira causou uma enorme onda de inundação que
varreu tudo no seu caminho, se deslocando ao longo do rio Alaknanda,
danificando gravemente a barragem de Rishiganga. O colapso da geleira provocou
uma enorme onda de inundação que ultrapassou a barragem, resultando em uma
intensa inundação que destruiu em poucos segundos as cidades construídas no vale
do rio, mostrando o perigo das barragens construídas na região do Himalaia.
A China já vive uma guerra comercial com os EUA e enfrenta hostilidades crescentes com o aumento da exploração de recursos naturais na África, na América Latina e no restante do mundo.
Laços e traçados da China no Brasil: Implantação de infraestrutura energética e o componente socioambiental.
Uma guerra pela água na Ásia traria maiores
problemas ambientais e seria uma “ducha de água fria” nas pretensões da
hegemonia econômica chinesa no mundo. (ecodebate)
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