Áreas
da Amazônia deixam de ser locais de absorção de gases de efeito estufa e passam
a ser responsáveis por emissões, transformando o papel da floresta no
ecossistema global e ampliando a pressão sobre o governo brasileiro, às
vésperas da Conferência do Clima, em Glasgow.
Os
dados estão sendo publicados nesta segunda-feira pela Organização Meteorológica
Mundial (OMM), que aponta que a concentração global de gases de efeito estufa
que retêm o calor na atmosfera mais uma vez atingiu um novo recorde no ano
passado, com a taxa anual de aumento acima da média de 2011-2020. Essa
tendência continuou em 2021.
A
concentração de dióxido de carbono (CO2) atingiu 413,2 partes por
milhão em 2020 e é de 149% do nível pré-industrial. O metano (CH4) é
262% e o óxido nitroso (N2O) é 123% dos níveis em 1750, quando as
atividades humanas começaram a perturbar o equilíbrio natural da Terra.
Cerca
da metade do CO2 emitido pelas atividades humanas de hoje permanece
na atmosfera. A outra metade é absorvida pelos oceanos e ecossistemas
terrestres. Mas, segundo a agência, essa capacidade de absorção está sendo
afetada, com fortes implicações para atingir as metas do Acordo de Paris de
2015, e exigirão ajustes no cronograma e no tamanho dos compromissos de redução
de emissões.
"As
mudanças climáticas em andamento e os impactos relacionados, como as secas mais
frequentes e o aumento da ocorrência e intensificação de queimadas, podem
reduzir a absorção de CO2 pelos ecossistemas terrestres", diz.
Amazônia
Tais
mudanças já estão acontecendo, e a agência dá um exemplo de transição da parte
da Amazônia de um local de absorção de carbono para se tornar uma fonte de
carbono.
O
dióxido de carbono é o gás de efeito estufa mais importante na atmosfera, sendo
responsável por aproximadamente 66% do efeito de aquecimento no clima, principalmente
devido à combustão de combustíveis fósseis e à produção de cimento.
De
acordo com a OMM, "regiões tropicais como a Amazônia desempenham um papel
importante no equilíbrio global de carbono". "A Amazônia abriga a
maior floresta tropical da Terra, mas, como em outras regiões tropicais, possui
apenas algumas das observações in situ necessárias para determinar os fluxos de
carbono em larga escala", diz.
A região sudeste da floresta tem as maiores emissões de CO2 para a atmosfera, seguida pela região nordeste. Em contraste, os locais ocidentais indicam um balanço de carbono quase neutro ou de absorção.
Desmatamento indireto: entenda como a Amazônia passou a emitir mais CO2 do que absorver.
De
acordo com a agência, a coleta de dados "indica que as áreas mais afetadas
pelo uso da terra e pela mudança de cobertura mostram emissões mais elevadas de
carbono para a atmosfera".
"As
regiões do leste da Amazônia têm fortes aumentos de temperatura na estação
seca, diminuição da precipitação e grande desmatamento histórico durante os
últimos 40 anos, enquanto as regiões ocidentais experimentam níveis
relativamente baixos de perturbação humana e tendência climática na estação
seca", destaca.
Pandemia
De
acordo com a agência, a desaceleração econômica durante a pandemia da covid-19
não teve nenhum impacto discernível sobre os níveis atmosféricos de gases de
efeito estufa e suas taxas de crescimento, embora tenha havido um declínio
temporário nas novas emissões.
As
concentrações médias globais de CO2 alcançaram uma nova alta de
413,2 ppm em 2020. O aumento de CO2 de 2019 a 2020 foi ligeiramente
menor que 2018 a 2019, mas maior que a taxa média de crescimento anual na
última década. Isto apesar da queda de aproximadamente 5,6% nas emissões de CO2
de combustíveis fósseis em 2020, devido às restrições da covid-19.
"Enquanto
as emissões continuarem, a temperatura global continuará a subir", alerta.
"Dada a longa vida útil do CO2, o nível de temperatura já
observado persistirá por várias décadas, mesmo que as emissões sejam
rapidamente reduzidas a neutralidade", constata. "Além do aumento das
temperaturas, isto significa mais extremos climáticos, incluindo calor intenso
e chuvas, derretimento de gelo, elevação do nível do mar e acidificação dos
oceanos, acompanhados de impactos socioeconômicos de longo alcance",
aponta.
Segundo
a agência, cerca da metade do CO2 emitido pelas atividades humanas
de hoje permanece na atmosfera. A outra metade é absorvida pelos oceanos e
ecossistemas terrestres.
Absorção
A
agência ainda sinalizou a preocupação de que a capacidade dos ecossistemas
terrestres e oceanos de agir como locais de absorção pode se tornar menos
eficaz no futuro, reduzindo assim sua capacidade de captar dióxido de carbono e
agir como um tampão contra um aumento maior da temperatura.
Para
a organização, o documento contém uma forte mensagem científica para os
negociadores da mudança climática na COP26. "Ao ritmo atual de aumento das
concentrações de gases de efeito estufa, veremos um aumento de temperatura até
o final deste século muito superior às metas do Acordo de Paris de 1,5° a 2°C
acima dos níveis pré-industriais", disse o secretário geral da OMM,
Petteri Taalas. "Estamos muito longe do caminho", alerta.
"A
quantidade de CO2 na atmosfera ultrapassou o marco de 400 partes por
milhão em 2015. E apenas cinco anos depois, ultrapassou 413 ppm. Isto é mais do
que apenas uma fórmula química e números em um gráfico. Tem grandes
repercussões negativas em nossa vida diária e bem-estar, no estado do nosso
planeta e no futuro de nossos filhos e netos", disse Taalas.
“O dióxido de carbono permanece na atmosfera por séculos e no oceano por ainda mais tempo”. A última vez que a Terra experimentou uma concentração comparável de CO2 foi há 3-5 milhões de anos, quando a temperatura era 2-3°C mais quente e o nível do mar era 10-20 metros mais alto do que agora. Mas não havia então 7,8 bilhões de pessoas, disse Taalas.
Floresta amazônica já emite mais gás carbônico do que absorve.
"Muitos
países estão agora estabelecendo metas de carbono neutro e espera-se que a
COP26 veja um aumento dramático nos compromissos. Precisamos transformar nosso
compromisso em ações que terão um impacto dos gases que impulsionam a mudança
climática", defendeu. "Precisamos revisitar nossos sistemas
industriais, energéticos e de transporte e todo o nosso modo de vida". As
mudanças necessárias são economicamente acessíveis e tecnicamente possíveis.
“Não há tempo a perder”, disse. (uol)
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