A crise climática e suas consequências dividem a população mundial.
Parcela significativa desconhece ou não se interessa pelo assunto, outra porção
não acredita na crise ou não a acha potencialmente forte e, finalmente, existe
uma proporção, talvez menor, mas crescente, que aceita e considera muito grave
o assunto.
Os analistas que alertam sobre a gravidade das atuais questões
climáticas, especialmente os ecossocialistas, postulam da necessidade de
mudanças robustas na sociedade, nos comportamentos e hábitos de produção, de
consumo e culturais.
Interessante que mesmo entre os que creem na problemática ambiental da crise, muitos relutam em aceitar as modificações propostas por serem, talvez, desnecessárias, inoperantes ou, e principalmente, por serem fortes, radicais e de muito difícil adaptação.
Essa questão de aceitação e adaptabilidade foi brilhantemente discutida em artigo da escritora e historiadora Rebecca Solnit, publicado no Wasghinton Post de 15/03/2023. Alguns fragmentos desse importante e recomendável artigo, traduzidos, são transcritos a seguir.
Um frade me disse uma vez que a renúncia pode ser ótima se
significar desistir de coisas que o tornam infeliz. Essa visão é o que falta
quando falamos sobre a crise climática – e como devemos responder a ela.
Grande parte da relutância em fazer o que a mudança climática
exige vem da suposição de que isso significa trocar abundância por austeridade
e trocar todas as nossas coisas e conveniências por menos coisas, menos
conveniência. Mas e se isso significasse desistir de coisas das quais ficaremos
melhor livres delas, de emissões mortais a sentimentos irritantes de destruição
e cumplicidade na destruição? E se a austeridade for como vivemos agora – e a
abundância puder ser o que está por vir?
Este é o mundo em que vivemos com combustível fóssil, cuja queima nos torna mais pobres de várias maneiras. Sabemos que a indústria de combustíveis fósseis corrói nossa política. Sabemos que, em todo o mundo, respirar ar contaminado por combustível fóssil mata mais de 8 milhões de pessoas por ano e causa muitos danos, principalmente bebês e crianças. Sabemos que, à medida que o combustível fóssil enche a atmosfera superior com dióxido de carbono que desestabiliza a temperatura e o clima, aumenta o desespero e a ansiedade.
[…] Na verdade, estamos lidando com um sentimento mais amplo de desamparo e até de culpa – o impacto na psique de testemunhar ou se sentir cúmplice de algo errado.
[…] A boa notícia é que o conhecimento de que não estamos
separados da natureza, mas dependentes dela, já está muito mais presente do que
há algumas décadas. Em todos os lugares, vejo pessoas repensando como trabalham
e vivem, transformando esse conhecimento em realidade.
[…] Precisamos de uma mudança de perspectiva em grande escala.
Para reformular a mudança climática como uma oportunidade – uma chance de
repensar quem somos e o que desejamos.
[…] “Ganhando e gastando, desperdiçamos nossos poderes”, escreveu
William Wordsworth alguns séculos atrás. O que significaria recuperar esses
poderes, ser rico em tempo em vez de coisas? (ecodebate)
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