A civilização está seguindo
uma rota extremamente perigosa e a emergência climática é a principal ameaça à
vida na Terra.
Fevereiro/2024 bateu dois recordes preocupantes. A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 424,55 partes por milhão (ppm), um aumento de 4,3 ppm acima do valor de 420,3 ppm de fevereiro/2023. O pico anual da concentração de CO2 ocorre, normalmente, nos meses de maio. Mas fevereiro/2024 já antecipou o recorde e superou também o mês de maio/2023 (424 ppm), conforme mostra a figura abaixo da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos.
A NOAA também divulgou em 06/02/24, que a taxa de crescimento da concentração de CO2 na atmosfera foi de 3,36 ppm em 2023, o valor mais alto já registrado no Holoceno (últimos 12 mil anos) e bem acima da média de 2,4 ppm da década passada. O ano de 2024 caminha para ter uma concentração média em torno de 426 ppm, valor equivalente ao que aconteceu há milhões de anos.
Antes da Revolução Industrial
e Energética, a concentração de CO2 na atmosfera, na média,
permaneceu abaixo de 280 partes por milhão (ppm), por um longo período de
tempo. Mas a queima de hidrocarbonetos turbinou o crescimento demoeconômico, ao
mesmo tempo que jogava grandes quantidades de gases de efeito estufa na
atmosfera. O clima do Planeta ficou praticamente estável durante todo o
Holoceno. Mas começou a mudar rapidamente no Antropoceno – época em que os
seres humanos se transformaram em uma força geológica que está colocando em
xeque as condições de habitabilidade da Terra.
Nos últimos 250 anos houve um
grande aumento do volume populacional e um progresso extraordinário das
condições de vida da humanidade, com redução da mortalidade infantil, aumento da
esperança de vida, avanços significativos nos níveis de educação, com
significativa melhoria nas condições de moradia e no aumento padrão de consumo.
Mas tudo isto teve um custo ambiental terrível, com a aceleração das mudanças
climáticas e a perda de biodiversidade. As emissões globais de CO2
que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de
toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram
cerca de 40 bilhões de toneladas em 2023.
Em consequência, a concentração
de CO2 que manteve uma média entre 200 e 300 ppm durante mais de 800
mil anos, começou a subir no século XIX, atingiu 300 ppm em 1920, chegou a 310
ppm em 1950, alcançou 350 ppm em 1987, registrou 400 ppm no ano do Acordo de
Paris, em 2015, e marcou o recorde de 422 ppm no ano de 2023. Agora em
fevereiro de 2024 bateu novos recordes absolutos. Este crescimento exponencial
da concentração de CO2 na atmosfera é um fato inédito na história da
humanidade e nunca tinha sido visto nos últimos 14 milhões de anos.
Segundo o artigo “Toward a Cenozoic history of atmospheric CO2”, publicado na revista acadêmica Science (08/12/2023), a última vez que a atmosfera continha 420 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono foi entre 14 e 16 milhões de anos atrás, quando não havia gelo na Groenlândia e os ancestrais mais próximos dos humanos (hominídeos) ainda não existiam. Isto é muito mais antigo do que os 3 a 5 milhões de anos indicados por análises anteriores.
Este novo estudo é o produto de sete anos de trabalho de um consórcio de 80 investigadores de 16 países e é agora considerado o consenso atualizado da comunidade científica. Se as emissões não sofrerem uma rápida diminuição, a concentração pode aumentar até 600 ou 800 ppm, taxas só alcançadas durante o Eoceno (entre 30 milhões e 40 milhões de anos atrás), quando a vida silvestre e a flora do planeta eram muito diferentes.
Existe uma determinação da
física que relaciona as maiores emissões de dióxido de carbono com maior
concentração de CO2 na atmosfera, o que aumenta o efeito estufa e
eleva as temperaturas médias do planeta. Assim, não é de se estranhar que todos
os meses, desde junho de 2023, o limite mínimo de 1,5ºC do Acordo de Paris foi
ultrapassado.
Dados do Instituto
Copernicus, mostram que o mês de fevereiro de 2024 foi o mês de fevereiro mais
quente já registado a nível mundial, com uma temperatura média do ar de
13,54°C, representando 0,81°C acima da média dos meses de fevereiro de
1991-2020 e 0,12°C acima da temperatura do fevereiro mais quente anterior, que
foi em 2016. Este é o nono mês consecutivo mais quente já registrado para o
respectivo mês do ano. O mês foi 1,77°C mais quente do que uma estimativa da
média de fevereiro para 1850-1900, o período de referência pré-industrial
designado pelo IPCC, conforme mostra o gráfico abaixo.
A temperatura média global
dos últimos doze meses (março/2023 a fevereiro/2024) é a mais alta já
registrada, ficando 0,68°C acima da média de 1991-2020 e superando o limite
mínimo do 1,56°C acima da média pré-industrial de 1850-1900. A temperatura
média global diária foi excepcionalmente elevada durante a primeira metade do
mês, atingindo 2°C acima dos níveis de 1850-1900 em quatro dias consecutivos
(8-11 de fevereiro).
As temperaturas europeias em fevereiro/2024 situaram-se 3,3°C acima da média de fevereiro de 1991-2020, com temperaturas muito acima da média registadas na Europa Central e Oriental. Fora da Europa, as temperaturas estiveram acima da média no norte da Sibéria, no centro e noroeste da América do Norte, na maior parte da América do Sul, em toda a África e no oeste da Austrália. O El Niño continuou a enfraquecer no Pacífico equatorial, mas as temperaturas do ar marinho em geral permaneceram num nível invulgarmente elevado.
A temperatura média global da superfície do mar (TSM) para fevereiro de 2024, acima de 60°S–60°N, foi de 21,06°C, a mais alta para qualquer mês no conjunto de dados, acima do recorde anterior de agosto de 2023 (20,98°C). A temperatura da superfície do mar é definida sobre o oceano extrapolar global, de 60°S a 60°N. Isto é usado como um diagnóstico padrão para monitoramento climático. A média diária da TSM atingiu um novo máximo absoluto de 21,09°C no final do mês.
Não resta dúvidas de que a civilização humana está seguindo uma rota extremamente perigosa. A emergência climática é a principal ameaça à vida na Terra. Como disse o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres: “Estamos no caminho para o inferno climático”. Se esta rota não for alterada, as consequências serão catastróficas para os ecossistemas, a economia e a população mundial.
Concentração de CO2 na atmosfera da Terra bate novo recorde histórico. (ecodebate)
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