Pesquisa aponta que 82% dos
jovens não sabem como os governos de seus países estão lidando com as mudanças climáticas
De forma geral, adolescentes
e jovens não se veem incluídos nas discussões públicas sobre as mudanças
climáticas
Estudo conduzido pela ONG
Plan International* ouviu mais de 1.800 adolescentes e jovens de 15 a 24 anos,
de 37 países, incluindo o Brasil. Organização está convocando governos a
melhorar o ensino escolar sobre o tema
Poderia haver muitas outras
Gretas Thunberg no mundo se os governos se dedicassem a educar melhor crianças
e adolescentes sobre as mudanças climáticas – que sabem pouco sobre o tema, mas
se preocupam muito com ele. É o que leva a crer a pesquisa global on-line
Reimagining – educação climática e liderança jovem, conduzida pela ONG Plan
International.
A organização humanitária
coletou as opiniões e experiências dos jovens a respeito da educação sobre as
mudanças climáticas e sua participação nos processos de política climática.
Mais de 1.800 adolescentes e jovens de 37 países com idades entre 15 e 24 anos
participaram. Destes, 54% tinham de 15 a 18 anos, 72% eram meninas e 384 eram
do Brasil.
Quase todos (98%) os
entrevistados estão preocupados com a emergência climática. Destes, três
quartos (74%) dizem que se sentem muito ou extremamente preocupados. Mas quase
metade dos participantes (44%) não sabia o que é o Acordo de Paris e 81% não
sabiam sequer onde encontrar informações sobre o tema, o que expõe deficiências
significativas na forma como os governos educam os jovens sobre questões
ambientais.
Meninas e jovens mulheres são
mais propensas a se preocuparem com as mudanças climáticas (99%), em comparação
com meninos e jovens homens (95%). Quase nove em cada dez (86%) já tomaram
alguma atitude contra as mudanças climáticas por causa de seus medos. A forma
de ação mais comum foi multiplicar conhecimentos para colegas ou familiares
sobre as questões climáticas (64%), assinar ou compartilhar uma petição (49%) e
postar sobre as mudanças climáticas nas redes sociais (45%). Mas pouco menos de
um em cada cinco (18%) aderiu a um protesto ou uma greve pelo clima.
De forma geral, adolescentes
e jovens não se veem incluídos nas discussões públicas sobre as mudanças
climáticas. A maioria (84%) dos participantes afirma que os esforços dos
governos de seus países para incluí-los nas políticas de combate à emergência
climática são insuficientes.
Na prática, o ensino sobre o tema na escola se concentra nos impactos das mudanças climáticas (90%) e nas ações individuais, como reciclagem, economia de energia e mudança de dieta (73%). Os jovens, porém, acreditam que esses temas muitas vezes não são relevantes para o seu dia a dia. Só 22% deles receberam informações sobre políticas relacionadas ao clima, e apenas 11% foram ensinados a participar dos processos de tomada de decisão a respeito do tema. Com isso, 18% dos jovens classificaram a educação que receberam sobre mudanças climáticas como ruim ou muito ruim.
Meninas e mulheres jovens são mais propensas a dizer que não se sentem confiantes em participar de processos de políticas climáticas (29%), em comparação com meninos e homens jovens (20%).
Para Jessica Cooke,
Conselheira de Política e Incidência para Mudanças Climáticas da Plan
International, “a crise climática é, sem dúvida, a questão definidora de nosso
tempo, e são os jovens que vão suportar o peso de seus impactos e viverão com eles
por mais tempo. Como na maioria das emergências, as meninas e jovens mulheres
provavelmente sofrerão as consequências mais devastadoras”. Ela reforça que só
neste ano, estima-se que as mudanças climáticas impedirão pelo menos quatro
milhões de meninas de concluírem seus estudos.
“Os jovens nos disseram
claramente que temem por seu futuro e querem participar das discussões sobre as
políticas e as decisões que vão defini-lo. Mas eles não se sentem informados ou
capacitados o suficiente para fazer isso, o que expõe lacunas significativas
sobre como os governos estão ensinando crianças e meninas a respeito da crise
ambiental que enfrentamos”, afirma Jessica Cooke.
A Plan International entende
as mudanças climáticas como uma injustiça social, intergeracional, racial e de
gênero. Por isso, apoia crianças e jovens para que se engajem de forma
significativa e segura nos processos relacionados às mudanças climáticas para
reduzir as barreiras que os impedem de se envolverem e influenciarem a política
e a defesa do clima.
Jovens brasileiros
No Brasil, a pesquisa contou
com 384 adolescentes e jovens, a segunda maior representatividade entre os
países participantes, com 74% de meninas, 22% de meninos e 2% identificados
como não-binários. A maioria com idades entre 15 e 16 anos (53%), seguidos de
17 a 18 anos (24%).
Por aqui, a escola é a principal fonte de conhecimento sobre as mudanças climáticas (89%, seguida de sites na internet (71%) e a TV (59%). Ainda na escola, geralmente o conteúdo faz parte das aulas de Geografia (88%) e de disciplinas ligadas a Ciências (74%). Assim como nos outros.
* A Plan International é uma organização humanitária, não governamental e sem fins lucrativos que promove os direitos das crianças e a igualdade para as meninas. (ecodebate)
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