As mudanças climáticas
representam uma das maiores ameaças à sustentabilidade ambiental e à
sobrevivência humana. Fenômenos como ondas de calor, inundações, secas,
tempestades e incêndios florestais, conhecidos como eventos climáticos
extremos, têm se tornado cada vez mais frequentes e intensos, em grande parte
devido às atividades humanas que alteram os ecossistemas naturais.
Os eventos climáticos
extremos são caracterizados por desvios significativos das condições climáticas
normais, ocorrendo em períodos curtos e específicos. As mudanças climáticas,
por outro lado, referem-se às alterações de longo prazo nos padrões climáticos
médios da Terra, incluindo temperatura, precipitação, ventos e correntes
oceânicas (Nusche et al., 2024). Estas mudanças de longo prazo não só
influenciam a frequência, mas também a intensidade dos eventos climáticos
extremos.
Nos últimos vinte anos, o
número de desastres relacionados ao clima aumentou substancialmente, com
inundações e tempestades sendo os eventos mais comuns. Recentemente, secas,
incêndios florestais e temperaturas extremas também se tornaram mais frequentes
e severas. Embora países de baixa renda sejam os mais impactados, os riscos
climáticos estão crescendo também em países de alta renda. Em 2018, países
desenvolvidos enfrentaram severas ondas de calor e secas, com a Europa
vivenciando um aumento drástico na incidência de ondas de calor extremo,
tornando esses eventos até 100 vezes mais prováveis do que há um século (Nusche
et al., 2024).
Os impactos das mudanças climáticas são amplamente documentados e demonstram um padrão de aumento em eventos extremos. Por exemplo, espera-se que uma criança nascida em 2024 experimente um número significativamente maior de eventos climáticos extremos ao longo de sua vida em comparação com uma nascida em 1970, incluindo três vezes mais inundações fluviais, o dobro de ciclones tropicais e incêndios florestais, quatro vezes mais quebras de colheitas, cinco vezes mais secas e 36 vezes mais ondas de calor (Thiery et al., 2021).
Escolas e comunidades na mobilização por um futuro sustentável
De acordo com a Organização
Meteorológica Mundial (OMM), 2023 foi o ano mais quente registrado nos últimos
174 anos. Além disso, os últimos nove anos, de 2015 a 2023, foram os mais
quentes da história (Inmet, 2023). Este aquecimento é amplamente atribuído ao
aumento das concentrações de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono,
metano e óxido nitroso, que atingiram níveis recordes em 2022 e continuam a
crescer em 2023 (Inmet, 2023).
O Brasil, em 2023, enfrentou
12 eventos climáticos extremos, dos quais 9 foram considerados incomuns e dois
sem precedentes. Estes eventos incluíram cinco ondas de calor, três chuvas
intensas, uma onda de frio, uma inundação, uma seca e um ciclone extratropical.
Entre os eventos mais significativos estava uma onda de calor sem precedentes
que atingiu a Amazônia em julho de 2023, contribuindo para uma das piores secas
já registradas na região (ONU, 2024).
No final de agosto de 2023,
temperaturas superiores a 41 °C foram registradas no Rio de Janeiro e São
Paulo, causando um impacto significativo na saúde pública e no meio ambiente. A
seca resultante na Amazônia levou à morte de mais de 150 botos cor-de-rosa no
Lago Tefé e contribuiu para um recorde de 22.061 focos de incêndio na região em
outubro, a maior quantidade desde 2008. A fumaça desses incêndios impactou
severamente a qualidade do ar em Manaus (ONU, 2024).
O Rio Grande do Sul também sofreu gravemente com eventos climáticos extremos em 2023. Um ciclone extratropical causou chuvas volumosas e fortes rajadas de vento, resultando em 46 mortes, 46 desaparecidos e 340 mil pessoas afetadas. As enchentes subsequentes causaram destruição em várias cidades, especialmente na região do Vale do Taquari, onde 92 municípios declararam estado de calamidade pública (ONU, 2024).
Em maio de 2024, o estado ainda enfrentava as consequências de chuvas intensas que causaram mortes, desaparecimentos e um grande número de desabrigados. As aulas foram suspensas em 2.338 escolas da rede estadual, afetando mais de 338 mil alunos, com muitas escolas danificadas ou servindo de abrigo para os desalojados (Lima Neto, 2024). A situação no estado, até o dia 18 de maio de 2024, incluía 155 mortes, 94 desaparecidos, 806 feridos, 77.202 desabrigados e mais de 2 milhões de pessoas afetadas em 461 municípios do total de 497 (RS. Gov,2024)
O panorama global, como
indicam os estudos de Poynting & Stallard (2024), sugere que o futuro será
marcado por eventos climáticos ainda mais extremos e frequentes. O aumento da
temperatura global está diretamente associado a chuvas mais intensas, secas
prolongadas e ondas de calor mais severas, contribuindo para um ciclo vicioso
de eventos climáticos que alimentam uns aos outros.
Esta realidade impõe desafios
significativos aos sistemas educacionais, como preconizado por Nusche et al.
(2024), onde é imperativo preparar as novas gerações para enfrentar e mitigar
os impactos das mudanças climáticas. A educação para a sustentabilidade e a
gestão de desastres torna-se uma peça fundamental na construção de uma
sociedade mais resiliente e preparada para os desafios do futuro.
A crescente frequência e
intensidade dos eventos climáticos extremos ressaltam a importância de educar
as futuras gerações sobre as mudanças climáticas e suas implicações. A atual
situação climática evidencia a urgência de ações efetivas para mitigar os
impactos das mudanças climáticas. Os eventos extremos não são apenas mais
frequentes, mas também mais severos, afetando milhões de pessoas em todo o
mundo, incluindo o Brasil. A resposta a esta crise deve ser abrangente,
envolvendo mudanças rápidas e sem precedentes em todos os aspectos da
sociedade, como destacado pelo Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas
(UNESCO, 2020). A adaptação dos sistemas educacionais e a preparação para
futuras crises climáticas são cruciais para garantir a resiliência das
comunidades e a sustentabilidade ambiental a longo prazo.
No contexto das mudanças
climáticas, a educação surge não apenas como um direito fundamental, mas como
uma ferramenta indispensável para capacitar as futuras gerações a enfrentarem
os desafios ambientais iminentes. Fletcher (2023) destaca a necessidade urgente
de integrar a educação ambiental nas escolas, ressaltando que uma formação
sólida em questões climáticas prepara os jovens para proteger ecossistemas
vulneráveis e mitigar os efeitos do aquecimento global. Essa necessidade é
amplificada pela crise planetária descrita pela UNESCO (2022), que aponta as
mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição como ameaças
diretas à sobrevivência humana.
A Educação para as Mudanças
Climáticas é definida como um processo educativo que visa integrar o
conhecimento sobre mudanças climáticas nos currículos escolares, promovendo uma
compreensão holística das causas, impactos e soluções para esta crise global.
Como Fletcher (2023) e UNESCO (2021a) sugerem, a EduClima não se limita à
transmissão de fatos, mas engaja os alunos em aprendizagens que fomentam
habilidades críticas, cívicas e problemáticas necessárias para transformar a
sociedade.
A importância da EduClima
transcende a mera conscientização. De acordo com March (2024), ela é
fundamental para preparar os jovens para tomarem decisões informadas e
participarem ativamente na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A
evidência é clara: sem uma educação robusta sobre o clima, os jovens permanecem
vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas e menos equipados para
contribuir para uma sociedade sustentável.
Vários países já reconheceram
a importância da EduClima e incorporaram-na em seus sistemas educativos. A
Itália, desde 2020/21, tornou obrigatório o tema das alterações climáticas e do
desenvolvimento sustentável nas escolas. Na República da Coreia, desde 2007, o currículo
nacional inclui educação climática em todos os níveis. Na pré-escola, crianças
de 4 anos exploram o clima e, aos 5 anos, aprendem sobre padrões climáticos.
Isso é apoiado pela Lei de Promoção da Educação Ambiental, visando o
desenvolvimento sustentável (UNESCO, 2021a). A França anunciou que começaria a
incluir lições sobre as alterações climáticas no início do ano letivo de
2020/21. Em 2020, a Nova Zelândia integrou estudos sobre mudanças climáticas no
currículo do ensino secundário. Camboja, Argentina, México e Reino Unido também
iniciaram ações preliminares para ampliar seus currículos, incorporando temas
relacionados às alterações climáticas (March, 2024).
O Reino Unido tem adotado uma
abordagem ambiciosa através da “Estratégia de Sustentabilidade e Mudanças
Climáticas” lançada em 2022 pelo Department for Education (DfE, 2022). Esta
estratégia visa posicionar o setor educacional do Reino Unido como líder
mundial em sustentabilidade e educação para as mudanças climáticas até 2030. A
estratégia abrange desde a educação formal até experiências extracurriculares,
englobando a gestão dos edifícios escolares e seus arredores, com o objetivo de
melhorar o ambiente e inspirar a comunidade local (DfE,2023).
Estes exemplos, destacam o papel vital que os sistemas educacionais podem desempenhar na promoção de um entendimento profundo sobre a sustentabilidade e as mudanças climáticas.
Apesar desses avanços, a integração da educação sobre mudanças climáticas enfrenta desafios significativos. Conforme relatado pela UNESCO (2021b), quase metade dos currículos nacionais analisados não menciona as mudanças climáticas, e uma minoria de professores sente-se confiante para ensinar sobre o tema. Este cenário é exacerbado pelos impactos diretos das mudanças climáticas na educação, como escolas fechadas devido a desastres naturais, conforme destacado por Venegas Marin et al. (2024) e Nusche et al. (2024).
Em resposta, a UNESCO (2024)
compromete-se a implementar estratégias nacionais de educação para enfrentar o
risco climático e construir sistemas educacionais mais resilientes. O documento
do Banco Mundial citado por Venegas Marin et al. (2024) também sugere medidas
concretas, como a gestão da educação para a resiliência e a infraestrutura
escolar adaptada ao clima, para proteger os sistemas educativos dos impactos
climáticos.
Os jovens e as crianças estão
entre os mais afetados pelas mudanças climáticas, não apenas em termos de saúde
física e emocional, mas também em relação ao acesso à educação. March (2024)
ressalta que eventos climáticos extremos, como inundações e ondas de calor,
limitam significativamente o acesso à educação, perpetuando um ciclo de
vulnerabilidade e pobreza. A UNICEF aponta que bilhões de crianças vivem em
países com alto risco climático, muitas das quais poderão perder acesso à
educação devido a desastres induzidos pelo clima (March, 2024).
Mudanças curriculares são
essenciais, assim como intensificar o acesso a sites que explicam o aquecimento
global e as mudanças climáticas do ponto de vista científico. Não só as nações
devem se envolver, mas principalmente o poder local, onde ocorrem as tragédias
motivadas pelas mudanças climáticas. Os municípios podem e devem incluir a
educação para mudanças climáticas nos currículos escolares, treinar professores
de todas as disciplinas para estarem abertos à discussão do problema,
incentivando os jovens à ação. As nações devem agir com rapidez e determinação
para integrar a EduClima em todos os níveis de ensino, capacitando os jovens a
serem agentes de mudança proativos na luta contra as mudanças climáticas. Como
a crise climática não respeita fronteiras, a resposta educacional também deve
ser global, com políticas, recursos e estratégias compartilhadas que
transcendam as fronteiras nacionais para preparar uma geração verdadeiramente
resiliente e capacitada.
A educação climática não apenas prepara os jovens para enfrentar os desafios ambientais, mas também catalisa o ativismo juvenil, que tem se mostrado uma força poderosa na luta contra as mudanças climáticas. Jovens bem informados e educados sobre as questões climáticas estão mais propensos a se envolverem ativamente em movimentos sociais e a liderarem iniciativas de mudança. O ativismo juvenil, exemplificado por figuras como Greta Thunberg e Txai Suruí, demonstra o impacto significativo que os jovens podem ter na conscientização pública e na pressão por políticas ambientais eficazes. Movimentos como Fridays for Future e o trabalho de ativistas indígenas mostram como a educação climática pode inspirar ações concretas e mobilizações globais. Assim, a ligação entre educação e ativismo é vital, pois uma base educacional sólida empodera os jovens a se tornarem líderes na luta pela justiça climática e pela sustentabilidade ambiental.
O ativismo juvenil no combate às mudanças climáticas
O ativismo juvenil contra as
mudanças climáticas tem se destacado como uma força significativa na luta
global pela preservação do meio ambiente. Um dos casos mais emblemáticos desse
movimento é o surgimento de Greta Thunberg e o movimento Fridays for future. Em
agosto de 2018, Greta, então com 15 anos, iniciaram uma greve escolar sentada
em frente ao parlamento sueco com uma placa que dizia “Greve Escolar pelo
Clima” (Igini, 2022). Esse simples ato de protesto solitário rapidamente ganhou
atenção mundial, inspirando milhões de jovens a se unirem em uma causa comum
contra a inação governamental diante da crise climática.
O impacto de Greta Thunberg
foi imediato e impressionante. Em poucos meses, mais de 20 mil estudantes em
todo o mundo aderiram às greves escolares semanais, culminando na Semana Global
de Ação Climática de 2019, que mobilizou quase 6 milhões de pessoas (Igini,
2022). As demandas dos jovens eram claras e diretas: manter o aumento da
temperatura global abaixo de 1,5°C, seguir as recomendações científicas e
garantir justiça climática e equidade para todos. O movimento Fridays for
future se tornou um símbolo poderoso do ativismo juvenil, demonstrando a
capacidade dos jovens de influenciar a opinião pública e pressionar por
mudanças políticas significativas.
Outro exemplo marcante de
ativismo juvenil é o de Txai Suruí, uma jovem indígena brasileira que destacou
a importância da proteção ambiental e dos direitos indígenas em foros
internacionais. Txai foi a única brasileira a discursar na abertura da 26ª
Conferência do Clima (COP26), em Glasgow, em 2021 (G1, 2021). Em seu discurso,
ela destacou os problemas enfrentados pelos povos indígenas da Amazônia,
incluindo o garimpo ilegal e a destruição de suas terras. Um trecho do discurso
de Txai na COP26 faz um veemente apelo à ação em relação às mudanças
climáticas, assim se expressando: “Devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento,
os animais e as árvores. Hoje o clima está esquentando, os animais estão
desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como
antes. A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo” (G1, 2021).
Txai enfatizou a necessidade de medidas urgentes para frear as mudanças
climáticas e a importância da participação dos povos indígenas nas decisões
sobre o clima, dado seu papel crucial na proteção das florestas (Cruz, 2023).
Os demandantes do caso de
Montana, com idades entre 5 e 22 anos, testemunharam sobre os impactos diretos
das mudanças climáticas em suas vidas, incluindo secas, incêndios florestais e
poluição do ar que agrava condições de saúde como a asma (Gelles & Baker,
2023). Eles também falaram sobre o impacto psicológico e emocional de crescer
em um mundo ameaçado pelo colapso ambiental. Essa vitória legal não só
reconhece os direitos constitucionais dos jovens a um ambiente saudável, mas
também estabelece um precedente importante para futuros processos judiciais em
outros estados e países.
O ativismo juvenil contra as
mudanças climáticas não é apenas uma expressão de descontentamento com o status
quo, mas uma demanda urgente por ações concretas e imediatas. A geração jovem,
representada por figuras como Greta Thunberg e Txai Suruí, e fortalecida por
vitórias legais como a de Montana, está mostrando ao mundo que a crise
climática requer uma mobilização global e intergeracional. Eles estão exigindo
não apenas uma mudança nas políticas, mas também uma transformação fundamental
na maneira como a sociedade percebe e aborda o meio ambiente.
O enfrentamento das mudanças
climáticas exige uma abordagem multifacetada que inclua a conscientização sobre
eventos climáticos extremos, a implementação de uma educação climática robusta
e o reconhecimento e apoio ao ativismo juvenil. A crescente frequência e
intensidade dos eventos climáticos extremos destacam a urgência de preparar as
futuras gerações para lidar com esses desafios. A educação climática (EduClima)
emerge como uma ferramenta essencial para equipar os jovens com o conhecimento
e as habilidades necessárias para mitigar e adaptar-se às mudanças climáticas.
Simultaneamente, o ativismo
juvenil continua a ser uma força poderosa na promoção de mudanças políticas e
na conscientização pública, exemplificado por figuras como Greta Thunberg e
Txai Suruí. Integrando essas abordagens, é possível construir uma sociedade
mais resiliente e preparada para enfrentar a crise climática, garantindo um
futuro sustentável para as próximas gerações. (ecodebate)
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