Esse final de ano de
2014 sepulta definitivamente as honestas e também as não muito honestas dúvidas
que ainda subsistiam sobre a veracidade e consistência científica das teses e
informações apontadas pelo IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas, organismo vinculado à Organização Meteorológica Mundial e ao
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). É fato, observa-se nas
últimas décadas uma comprovada persistência de aumento das temperaturas globais
e é certo que a atividade humana no planeta inclui-se entre suas principais
causas. As consequências para a Humanidade desse fenômeno climático podem vir a
ser catastróficas.
Bem, até esse ponto o
problema está colocado, agora vamos aos fatos a ele associados.
Nenhum de nossos
conhecidos problemas ambientais (ou de alguma forma relacionados a questões
ambientais) graves e crônicos, como poluição atmosférica, poluição de águas
superficiais e subterrâneas, contaminação de solos, enchentes urbanas, áreas de
risco em encostas e margens de cursos d’água, perda e empobrecimento agronômico
de solos agricultáveis, depauperação de corpos florestais ativos, crises
hídricas, binômio erosão/assoreamento, degradação de mananciais de boa água,
depleção do lençol freático, penúrias de mobilidade urbana, etc., tem no
aquecimento global qualquer origem causal. Foram e são problemas de enorme
gravidade, capazes de, per si, sufocar econômica, social e ambientalmente o
desenvolvimento brasileiro e a qualidade de vida de sua população, e que foram
inteiramente gerados por nós mesmos, por nossa estupidez e irresponsabilidade,
sem nenhuma participação de fatores outros como o efeito estufa e outros
fenômenos de ordem planetária.
Pelo contrário,
alguns desses problemas, como os diversos tipos de poluição, a eliminação de
corpos florestais e outros, integram o conjunto de ações humanas que colaboram
efetivamente para o aquecimento global. Perde o encanto e a decência, portanto,
a atual cantilena de nossos administradores públicos que, espertamente, lançam
agora às costas das mudanças climáticas globais a responsabilidade sobre esses
terríveis problemas brasileiros, que nunca foram, por irresponsabilidade, por
incompetência e por falta de respeito ao cidadão, devidamente enfrentados,
evitados ou mitigados pelas mais variadas instâncias do poder público.
Sobre esse trágico
rol de problemas crônicos, sim, o aquecimento global aparece como um fator dramaticamente
agravante.
Alertemo-nos, no
entanto, para que o aquecimento global não venha a ser levianamente utilizado
como o bode que é introduzido na sala de visitas de uma casa já cheia de
problemas gravíssimos e com cuja eventual retirada pretenda-se aplacar os
anteriores insistentes reclamos de seus moradores.
Mais do que nunca
coloca-se na ordem do dia de nossos governantes, como obrigação moral, a
decisão radical, honesta e inequívoca de enfrentamento desses nossos problemas
crônicos, hoje com a perspicácia necessária para que este enfrentamento sempre
que possível se apoie em opções tecnológicas que concomitantemente tenham o dom
de contribuir para o arrefecimento da parcela do aquecimento planetário
induzida pela atividade humana. (ecodebate)
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