Pesquisadores explicam
requisitos e cuidados para garantir a qualidade da água de chuva coletada
Apesar de ser uma técnica
relativamente simples, o aproveitamento da água de chuva possui requisitos
mínimos que devem ser respeitados para garantir o funcionamento do sistema e,
principalmente, para assegurar a qualidade dos volumes coletados.
O telhado ou a laje de cobertura da edificação
funcionam como área de captação. “Jamais deve-se fazer a captação a partir de
pisos”, explica o pesquisador Luciano Zanella, do Centro Tecnológico do
Ambiente Construído do IPT.
Calhas e tubos direcionam as águas até o reservatório. É preciso prever um
sistema de tratamento, cuja complexidade vai depender dos usos pretendidos. Em
alguns casos, pode-se pensar em uma rede de distribuição da água para pontos de
consumo de água não potável, caso das bacias sanitárias. Em edificações já
construídas, entretanto, é indicado optar por sistemas simplificados, uma vez
que o custo de novas instalações hidráulicas prejudicará a viabilidade
financeira do projeto.
Exemplo de sistema permanente de uso. Sistemas
simplificados também demandam tratamento dos volumes coletados.
A capacidade de reservação é definida em
função de diversos fatores, a começar pela localização da edificação. É preciso
considerar o regime de chuvas na região, a existência e a regularidade de
abastecimento de água potável por uma concessionária, além do custo
do recurso.
Entra no cálculo também a demanda por água não
potável. O número de usuários e seus hábitos de consumo, além das diversas
aplicações que essa água pode ter na edificação, como limpeza de
pisos e rega de jardins, também precisam ser levados em conta.
Dois aspectos não podem ser ignorados: o
espaço disponível para a instalação do reservatório e, quando a intenção for
instalá-lo sobre a laje de cobertura, a
capacidade da estrutura para suportar o peso adicional. “A
carga extra de um reservatório cheio de água pode não ser suportada por alguns
tipos de construção”, ressalta Zanella.
Descarte da primeira chuva
É imprescindível, alertam os pesquisadores do
IPT, desprezar as primeiras chuvas. São elas que vão arrastar os poluentes
presentes no ar e lavar a sujeira acumulada na área de captação. As
recomendações técnicas indicam um descarte em torno de um a dois
litros de água da primeira chuva para cada metro quadrado de telhado.
Assim, se a cobertura tem 20 metros quadrados, é necessário desconsiderar
um volume entre 20 e 40 litros.
Um sistema mínimo de tratamento das águas
pluviais envolve não somente o descarte das primeiras águas, mas a
remoção dos sólidos, como folhas, galhos e areia, por meio da utilização
de filtro ou tela. “É recomendada a desinfecção com compostos de cloro,
quando existir a possibilidade de contato da água com a pele do usuário ou
quando o tempo de armazenamento for longo”, esclarece o pesquisador Wolney
Castilho Alves, do mesmo centro.
Sistemas permanentes de aproveitamento da água
da chuva, instalados com o objetivo de suplementar o abastecimento para fins
não potáveis, demandam sistemas mais complexos de tratamento. É possível
encontrar no mercado filtros e componentes de desinfecção que devem ser
empregados nesses casos. É exigido, para sistemas de uso integrados à
edificação, um projeto elaborado por profissional devidamente habilitado.
Cuidados no armazenamento
A qualidade da água está diretamente
relacionada com o seu armazenamento. Por isso, é fundamental manter o reservatório
com tampa e com quaisquer aberturas fechadas para evitar a proliferação de
mosquitos ou mesmo a contaminação da água pela entrada de ratos ou insetos.
Além disso, o reservatório deve ser protegido de impactos e da
luz solar, e também se deve prever uma saída de fundo no
reservatório que propicie sua limpeza, quando for necessária. Os pesquisadores
do IPT alertam ainda para a importância de manter o reservatório longe do
acesso de crianças.
O mais comum é utilizar a água de chuva para a
rega de jardins e plantações, lavagem de carros e pisos e também em
descargas de bacias sanitárias. Em condições anormais de abastecimento, desde
que se mantenha a forma adequada de coleta, tratamento e armazenamento, é
possível considerar o uso para lavagem de roupas, louças e para o banho.
(ecodebate)
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