Contaminação do Aquífero
Barreiras X Águas Minerais – Crônica Potiguar
O aquífero Barreiras não só
disponibiliza, via CAERN, a maior parte do abastecimento de água, como também é
fonte para indústrias de águas minerais na Região Metropolitana de Natal. Dessa
forma, o processo de contaminação do Barreiras pode também refletir nas águas
minerais comercializadas e consumidas pela população potiguar. Infelizmente
alguns informes técnico-científicos indicam que já existem casos comprovados
desse grave problema.
Municípios no entorno de
Natal, como Parnamirim, Macaíba e Extremoz, registram significativas taxas de
crescimento urbano e se caracterizam por conter diversas reservas de águas
minerais. Nóbrega et al. (2008) analisaram, para nitrato, dez marcas de águas
minerais comercializadas em Natal cujas as fontes se localizam nos três
municípios citados acima. Os autores compararam os resultados obtidos na pesquisa
com as concentrações de nitrato que essas águas apresentaram no ano em que suas
respectivas indústrias foram autorizadas a operar. A tabela 1 abaixo sintetiza
essas informações.
Água_Mineral
|
Nitrato (mgNO3/L) DNPM
|
Ano_DNPM
|
Nitrato (mgNO3/L) Nobrega et al
|
Ano_Nobrega et al
|
Amostar_01
|
12.50
|
1985
|
19.12
|
2005
|
Amostar_02
|
4.20
|
2001
|
3.66
|
2005
|
Amostar_03
|
4.70
|
1999
|
4.54
|
2005
|
Amostar_04
|
0.95
|
1987
|
5.26
|
2005
|
Amostar_05
|
0.001
|
1993
|
0.85
|
2005
|
Amostar_06
|
0.37
|
1999
|
0.37
|
2005
|
Amostar_07
|
4.53
|
1999
|
3.18
|
2005
|
Amostar_08
|
48.07
|
2005
|
||
Amostar_09
|
11.93
|
1993
|
57.30
|
2005
|
Amostar_10
|
1.20
|
2002
|
2.98
|
2005
|
Tabela 1 – resultados de
concentrações de nitrato originais (DNPM) e os obtidos na pesquisa de Nóbrega
et al. (2008).
A Resolução RDC nº 274 da
ANVISA (BRASIL, 2005) coloca o limite máximo de nitrato em águas minerais de 50
mgNO3-/L. Os dados da tabela 1 permitem fazer algumas
observações relevantes:
a) Uma marca de água mineral
(amostra 9) apresentou, em 2005, valor de 57.30 mgNO3-/L
e, portanto, superior ao limite permitido para águas minerais. Um aspecto
importante é que essa marca apresentava um resultado bem mais baixo (11.93 mgNO3-/L)
em 1993. Esse substancial aumento é um indício forte do processo de
contaminação de nitrato.
b) Cabral et al (2009)
comentam que no processo de contaminação, para nitrato, dos aquíferos
Dunas/Barreiras de Natal é essencial considerar fatores como o adensamento
e histórico populacional em conjunto com a qualidade do saneamento praticado.
c) A amostra 8 da tabela 1 não
tem registro analítico original, mas os resultados em 2005 apresentam valor
próximo ao limite da ANVISA e que, sem dúvida, é um indicativo de contaminação.
d) As amostras 1, 4 e 10
registraram representativos crescimentos nos valores de nitrato em 2005 em
relação aos resultados originais, servindo de alerta dessa tendência de
contaminação.
e) As amostras restantes (02,
03, 05, 06 e 07) registraram valores baixos em 2005 e praticamente não
apresentaram variações em relação aos resultados originais do DNPM. São marcas,
portanto, com fontes ainda preservadas de contaminação para nitrato.
Rodrigues et al. (2009) fizeram
análises das concentrações de nitrato para 3 diferentes marcas de águas
minerais, localizadas nos arredores do município de Natal. Uma dessas marcas
apresentou valor acima daquele recomendado pela ANVISA, enquanto as outras duas
registraram valores baixos.
Os dados dos pesquisadores,
transmitidos acima, registram exemplos de águas minerais comercializadas, em
Natal, com resultados não recomendáveis de nitrato ou com representativos
indícios de processos contaminantes desse parâmetro químico.
Rodrigues et al. (2009)
sugerem que várias medidas mitigadoras devem ser tomadas visando à melhoria da
qualidade da água da Grande Natal, dentre as quais: o desenho e montagem de um
sistema de esgotamento sanitário imediato, a racionalização do sistema de
abastecimento de água, a preservação dos mananciais, realização de estudos para
avaliar os impactos da impermeabilização do terreno para um melhor conhecimento
dos mecanismos do fluxo subterrâneo e atualização dos conhecimentos sobre a
qualidade das águas.
Nóbrega et al. (2008)
recomendam a realização de um projeto que objetive o cadastramento e
nivelamento de poços subterrâneos nas outras cidades pertencentes à Região
Metropolitana de Natal, tornando-se possível retratar de forma precisa a real
situação de toda região, e seu consequente monitoramento; fiscalização no
processo de perfuração de poços subterrâneos; controle das possíveis fontes
poluidoras; e em longo prazo, a implementação de rede de esgotamento sanitário
em caráter global.
Em crônica anterior, nesse mesmo
blog, fizemos uma proposta de uma amostragem e análise representativas de águas
expostas para venda em mercados e distribuidores. Este trabalho serviria, a
princípio, para checar / confirmar os resultados dos apresentados nos rótulos.
Permitiria, também, identificar e procurar as causas de possíveis desvios
encontrados nos parâmetros químicos e físico-químicos.
Acreditamos que esse cheque
analítico é um importante e simples método de garantir, ao cidadão, a qualidade
do produto consumido. Além da própria fonte, a água mineral pode ser
contaminada por diversos processos que vão desde o tipo da embalagem, do
processo de envasamento; meio de transporte e armazenamento, etc.
Uma proposta de amostragem e
análise periódica de águas minerais expostas para vendas em mercados e
distribuidores seria uma iniciativa útil e popular. Fica registrada, portanto,
a sugestão para os nossos representantes políticos e para o ministério público.
(ecodebate)
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