Como vai funcionar a nova
detecção espacial do desmatamento
O
uso de duas novas tecnologias devem gerar ganhos significativos na detecção do
desmatamento na Amazônia ao permitir o monitoramento de áreas cobertas por
nuvens e aquelas desmatadas de menor dimensão a partir deste segundo semestre
do ano. A primeira inovação, anunciada nesta semana, é o uso de imagens do
radar orbital SAR (sigla em inglês para Synthetic Aperture Radar) que começa a
gerar dados para a fiscalização a partir de outubro. O investimento totalizou
R$ 80,5 milhões, R$ 63,9 milhões dos quais fazem parte dos recursos não
reembolsáveis do Fundo Amazônia e o restante do orçamento da União.
A
segunda será o aumento da resolução do mapeamento do Deter com a adoção de
imagens do satélite indiano, ResourceSat-2 (AWiFS). Em fase de testes, ele é
capaz de detectar desmatamentos com tamanho mínimo de 6,25 hectares. Esperado
inicialmente para final de 2014, a previsão, segundo o Ministério do Meio
Ambiente, é de que a nova ferramenta seja lançada nos próximos meses.
Com
os dois investimentos, a política brasileira de monitoramento e combate ao
desmatamento superaria neste ano dois limitadores: a impossibilidade de
identificação de desmatamentos em áreas sob nuvens e a baixa resolução do
Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), usado para alertas à
fiscalização, quando comparado ao Prodes, responsável pela taxa anual de
desmatamento com base em três satélites.
Aprimorando o monitoramento
Aprimorando o monitoramento
Conforme
o diretor do Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento (DPCD) do
Ministério do Meio Ambiente, Francisco Oliveira Filho, o governo federal deve
anunciar ainda neste segundo semestre o aprimoramento do Deter, aumentando sua
resolução para padrões equivalentes ao do radar orbital e ao dos satélites que
alimentam o Prodes. Hoje, com uma resolução de 250 metros, o Deter identifica
áreas desmatadas a partir de 25 metros, mas passará a uma resolução de 56
metros com as imagens do satélite indiano, o que permitirá descobrir
desmatamentos pelo menos quatro vezes menores do que a capacidade atual.
Fiscalização
antecipada e em áreas sob contínua nebulosidade
O
uso do radar orbital trás como principal avanço o fornecimento de informações
sobre o desflorestamento durante o período com maior predominância de nuvens,
entre outubro e março, e em regiões com alta nebulosidade mesmo fora da estação
chuvosa. Oliveira Filho explica que a oferta desses dados, até então
indisponíveis ou limitados, permitirá antecipar e melhor distribuir ao longo do
ano as ações de fiscalização terrestre. “Nossa capacidade de observação da
Amazônia está mais completa. Neste período em que ficávamos com um olhar
limitado à equipe de inteligência no campo, agora temos um novo aliado que são
as imagens de radar.”
Sem
o radar, a derrubada da floresta no início dos meses chuvosos só seria
descoberta após vários meses quando a condição atmosférica estaria favorável à
captura de imagens pelo sensor ótico do satélite MODIS, usado pelo Deter. Dessa
forma, a informação ágil que estará acessível a partir de outubro, pode ajudar
a coibir os desmates antes que alcancem maiores proporções.
O
radar também tornará visível a retirada de cobertura florestal em regiões que
estão continuamente sob nuvens, independente do período do ano, como é o caso
de todo o estado do Amapá e de partes do extremo norte do Pará. “Vamos passar a
monitorar sistematicamente o Amapá e outras áreas com essas características”,
adianta o diretor Geral do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção
da Amazônia (Censipam), Rogério Guedes.
Para
o pesquisador sênior da ONG Imazon, Beto Veríssimo, o uso do radar precisa ser
comemorado e suas informações podem intensificar o combate ao desmatamento. Em
sua opinião, o Brasil tem chance de cumprir a meta oficial de redução do
desmatamento em 80% até 2020, alcançando a taxa anual de 3.900 km2 de área desmatada, mas o governo teria condições de assumir uma
posição mais ousada com o objetivo de perseguir o desmatamento zero para 2020.
“O desmatamento ocorrido na Amazônia é muito grande. Já desmatamos três vezes o
estado de São Paulo, então já deveríamos estar zerando e recuperando essas
áreas”, ressalta.
Como
funcionará dobradinha SAR e MODIS
O
uso do radar orbital será restrito às áreas sob condições climáticas adversas,
complementando o monitoramento do Deter, que faz a cobertura de toda a Amazônia
Legal. Como usa a tecnologia ótica, que não ultrapassa a barreira das nuvens,
os dados do Deter não identificam a perda florestal em regiões encobertas.
Acoplado a um satélite, o sensor radar realiza um monitoramento mais rápido e
preciso porque funciona com tecnologia de micro-ondas. Sua resolução de 18 a 22
metros permitirá identificar desmatamentos de dimensões menores que todos os
demais sistemas.
O
radar auxiliará, em especial, a geração de dados para alertas às equipes que
atuam na fiscalização em terra. Em razão do alto custo, a ação terá como foco
regiões prioritárias em função do alto risco de desflorestamento. Esse
mapeamento ocorrerá dentro do âmbito de 950.000 km2,
aproximadamente 17% da região amazônica.
As
imagens do radar serão analisadas pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema
de Proteção da Amazônia (Censipam) e enviadas ao Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) a cada 30 dias.
Guedes observa que as imagens do radar, compradas pelo órgão, reduzem o tempo de processamento e análise das áreas monitoradas de 15 para 3 dias, em comparação ao desempenho obtido em sobrevoos feitos com a aeronave R-99 da FAB na etapa anterior do projeto Amazônia SAR. Paralelo ao monitoramento constante, o projeto prevê a construção da antena de recepção em Brasília, com início de operações em 2018, o que, entre outras coisas, reduzirá o custo das imagens e o tempo de processamento.
(ecodebate)
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