Metas de
redução de emissões são insuficientes, revela estudo
Se depender das contribuições que os países apresentaram até
agora para reduzir as emissões de gases estufa - que provocam o aquecimento
global -, será pouco provável que o planeta consiga estabilizar o aumento da
temperatura em 2°C até o final do século.
É o que mostra um cálculo preliminar feito com base nas INDCs
(Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida, na sigla em inglês)
entregues até a semana que passou à Convenção do Clima da Organização das
Nações Unidas (ONU). As INDCs são os compromissos que os 196 países-membros da
convenção têm de propor até 1.º de outubro para fundamentar o novo acordo
climático global que deve ser finalizado na Conferência do Clima da ONU
(COP-21), a ser realizada em dezembro em Paris.
Até final de agosto/15, 4, 56 países responsáveis por quase
70% das emissões do planeta, apresentaram suas propostas.
Cálculos feitos pelos pesquisadores do Instituto de
Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), obtidos pelo
jornal O Estado de S.Paulo, mostram que as emissões do mundo em 2030 - com os
cortes sugeridos até o momento - serão no mínimo o dobro do necessário para
segurar o aumento da temperatura. A comunidade científica considera que um
aumento acima de 2°C em média em todo o planeta podem trazer consequências
catastróficas.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC), para evitar o pior cenário, o mundo só pode emitir, entre
2012 e 2100, 1 mil gigatoneladas (Gt) de CO2 - é o
chamado "orçamento de carbono". Numa distribuição igualitária ao
longo do tempo, isso significa que podemos emitir no máximo 11,3 Gt CO2 por ano até lá. O problema é que o mundo, em 2010, segundo o
IPCC, emitiu 49 Gt do gás, o que dá uma ideia do tamanho do desafio para fazer
essa redução.
Os pesquisadores do Idesam calcularam quanto cada um dos
países que já apresentaram suas INDCs deverão emitir em 2030 se essas metas
forem adotadas. Eles chegaram ao montante de 14,9 Gt. Isso sem contar a China.
Hoje o maior emissor mundial, o país somente indicou que vai alcançar seu pico
de emissões em 2030, sem trazer nenhum indicativo numérico de quanto vai ser
isso.
Em 2012, a China emitiu 10,7 Gt CO2. Ou seja, hoje, sozinha, ela é responsável pela quantidade
que o mundo inteiro deveria emitir. Mesmo se o país mantiver esse valor até
2030, a soma das emissões globais, considerando as metas dos demais países,
seria de 25,60 Gt CO2, mais que o dobro do limite
recomendado pelo IPCC.
O grupo cita, no entanto, que há previsões, como a feita pelo
Grantham Research Institute on Climate Change, de que emissões chinesas podem
chegar, daqui a 15 anos, a 16,5 Gt, o que elevaria a emissão global a 31,40 Gt
CO2, quase o triplo da estimativa de
11,3 Gt por ano.
Incompatível
Mesmo sem todas as cartas na mesa, o que fica claro até o
momento, dizem os pesquisadores Mariano Cenamo e Pedro Soares, do Idesam, é que
a soma das ambições dos países para combater as mudanças climáticas globais não
está compatível com a necessidade apresentada pela ciência para manter o
equilíbrio do planeta.
Cenamo alerta que as INDCs estão sendo apresentadas cada uma
de um jeito, o que dificulta comparações. "Essa contabilidade criativa não
ajuda. Por enquanto está se estabelecendo a base de negociação, mas esperamos
que no futuro, seja por via oficial da Convenção do Clima ou por iniciativas da
sociedade civil, tenhamos uma base de comparação mais clara, seja com base na
responsabilidade histórica de cada país ou de suas capacidades
econômicas."
Hoje, começa em Bonn, na Alemanha, uma nova rodada de negociações
em torno do acordo climático. É o penúltimo encontro antes da COP de Paris. (yahoo)
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