Brasil reduziu desmatamento, mas ainda enfrenta
diversas ameaças à biodiversidade, alerta PNUMA.
Mineração,
atividades extrativistas, expansão econômica na Amazônia e pesca destrutiva são
citadas em novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) como riscos para os habitat naturais do Brasil. Mata Atlântica e
Cerrado também estão ameaçados.
Vista
aérea da amazônia
O
Brasil tem apresentado avanços na redução do desmatamento da Amazônia e do
Cerrado, mas precisa fortalecer a proteção da Mata Atlântica e combater ameaças
— que incluem atividades da agricultura, mineração, geração de energia, pesca e
extração de petróleo — a sua biodiversidade.
A
conclusão é de um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), publicado no Dia Internacional para a Diversidade Biológica.
O documento
avalia os progressos da América Latina e do Caribe no cumprimento das Metas de
Aichi de Biodiversidade, adotadas por mais de 190 países em 2010.
Mais de 62 milhões m 3 de rejeitos e água foram despejados sobre a região de Mariana, em Minas Gerais, com a queda das barragens. Onze pessoas morreram, 12 estão desaparecidas e milhões foram afetadas pela lama tóxica e pela falta de água em dezenas de cidades em dois estados brasileiros, com possibilidade de outros serem atingidos.
Mais de 62 milhões m 3 de rejeitos e água foram despejados sobre a região de Mariana, em Minas Gerais, com a queda das barragens. Onze pessoas morreram, 12 estão desaparecidas e milhões foram afetadas pela lama tóxica e pela falta de água em dezenas de cidades em dois estados brasileiros, com possibilidade de outros serem atingidos.
De
2005 a 2009, o Brasil registrou uma queda de 36% na taxa de desflorestamento da
porção da Amazônia em seu território. Na comparação entre os anos 1990 e 2000,
o índice anual de perda da cobertura vegetal do Cerrado caiu de 0,79% para
0,44%.
Apesar
desses progressos, a análise do PNUMA estima que, de 1990 a 2015, o Brasil
registrou uma redução de quase 55 mil hectares no tamanho de suas florestas.
Até o ano passado, o maior compromisso de reflorestamento feito pelo país
previa a restauração de cerca de 12 mil hectares.
A
agência da ONU alerta para a situação da Mata Atlântica brasileira — que foi
dramaticamente fragmentada e é, atualmente, composta por zonas separadas que
não ultrapassam os mil hectares cada.
Segundo
o PNUMA, a fragmentação de todos os tipos de florestas afeta negativamente não
só a biodiversidade local, mas também a capacidade de a vegetação estocar
carbono.
Ao
lado da Caatinga e do Pantanal — região pantanosa mais extensa em todo o
planeta —, o Cerrado também corre riscos associados a mudanças no uso das
terras nas regiões onde a vegetação é encontrada. A expansão da agropecuária é
citada como uma das ameaças ao bioma que, no Brasil, concentra a maior
biodiversidade do mundo verificada em áreas de savana.
O
incidente envolvendo a ruptura das barragens da Samarco em novembro de 2015 foi
lembrado pelo PNUMA como exemplo de perigo associado à mineração para os
habitats naturais brasileiros.
Segundo
a agência das Nações Unidas, desde o final do ano passado, o Brasil enfrenta
efeitos “devastadores” da liberação de substâncias tóxicas que já
percorreram 850 km e se deslocaram de Minas Gerais até o Espírito Santo.
O
PNUMA citou ainda outros casos de contaminações do meio ambiente provocadas por
atividades mineradoras e extrativistas, como os vazamentos de petróleo em
Loreto e o despejo de resíduos nocivos em córregos na Amazônia — prática
realizada por décadas e suspensa apenas em 2009 por pressão de comunidades
indígenas.
Investimentos
trazem riscos para região da bacia Amazônia
O
programa da ONU chama atenção também para os investimentos em
infraestrutura na bacia Amazônica: 416 represas já estão operando ou estão em
construção na região e outras 334 já foram propostas ou planejadas.
Brasil,
Chile e Equador são citados como as nações que concentram o maior número desses
projetos — que podem levar à ampliação de redes rodoviárias para porções da
Amazônia antes intocadas. Comércio e busca por bens como madeira, minérios e
petróleo podem motivar expansões capazes de provocar degradação ambiental,
ressalta o PNUMA.
O
relatório destaca a dependência dos estados latino-americanos e caribenhos de
recursos oriundos de habitats naturais. Mais de dois terços do abastecimento de
energia do Brasil, por exemplo, é fornecido por hidrelétricas — proporção que
tende a aumentar devido a projetos já previstos para a bacia Amazônica.
Reservas
privadas, parcerias internacionais e terras indígenas são destaques na proteção
de habitats naturais.
Ainda
sobre a porção brasileira da bacia Amazônica, o PNUMA considerou como uma das
mais efetivas formas de proteção da natureza a categorização oficial de faixas
do território como “terras indígenas”. Evidências indicam que florestas
administradas por indígenas apresentaram taxas anuais de desmatamento menores e
menos variáveis do que em outras regiões protegidas.
O
relatório elogia o projeto Gestão Ambiental e Territorial Indígena (GATI), que
já foi implementado em 32 terras indígenas desde 2010 — escolhidas para
contemplar todos os biomas florestais brasileiros, mas também pelo fato de
registrarem ameaças à biodiversidade que poderiam ser contidas pela iniciativa.
Exploração de madeira na Amazônia é um dos riscos associados à expansão da infraestrutura na região.
Exploração de madeira na Amazônia é um dos riscos associados à expansão da infraestrutura na região.
O
programa busca fortalecer as práticas de uso sustentável e conservação dos
recursos naturais através de capacitação e eventos de troca de informações.
A
pesquisa do PNUMA também destaca o impacto positivo que propriedades privadas
protegidas podem ter em meio aos esforços de conservação. No Brasil, a rede
privada de reservas já alcança quase 480 mil hectares.
De
acordo com a agência das Nações Unidas, essas terras podem conscientizar
comunidades sobre os benefícios da preservação ambiental e complementar — mas
não substituir — o papel das unidades de conservação do Estado.
O
PNUMA revela ainda que um quinto da Amazônia brasileira está sob proteção de
300 unidades de conservação através de iniciativas como a Integração de Áreas
Protegidas do Bioma Amazônico (IAPA) — uma parceria do programa da ONU, da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o World
Wildlife Fund e a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
Pesca
excessiva e poluição ameaçam vida marinha
O Brasil
também é citado no relatório — junto com a Colômbia e o Peru — por abrigar
comunidades pesqueiras que poderão ser afetadas pelo colapso dessa atividade —
causado por gestões não sustentáveis e ineficientes dos recursos naturais.
Em
décadas recentes, a pesca continental registrou uma queda de cerca de 60% na
produção, que está sob pressão de métodos tradicionais ignorados por políticas
que visam à implementação de estratégias mais sustentáveis.
Outra
ameaça à vida marinha no Brasil é a poluição. O país apresenta “zonas oceânicas
mortas” onde a biodiversidade dos mares não consegue sobreviver devido aos
baixos níveis de oxigênio da água. A maior parte dessas regiões estaria
associada a áreas urbanas, como Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
Brasil
é um dos campeões da agricultura sustentável
Apesar
dos diversos desafios à preservação da biodiversidade, o Brasil também foi
destaque na análise do PNUMA por abrigar a terceira maior área de cultivo do
mundo adequada ao Padrão da Rede de Agricultura Sustentável (SAN) — quase 236
mil hectares distribuídos por 339 fazendas, a maioria das quais é de
cafeicultores.
Informação
e monitoramento são pontos fortes de estratégias brasileiras
O
país foi elogiado ainda por ser o único Estado que realiza um acompanhamento quantitativo
da conscientização da população sobre a perda de biodiversidade. Em 2012, 50%
dos brasileiros tinham conhecimento sobre o tema — índice que representa
um aumento em comparação aos 43% de 2006.
Iniciativas
para monitorar e projetar riscos para espécies também foram louvadas por
preverem diferentes cenários de acordo com a execução plena ou não do Código
Florestal brasileiro.
As
estimativas indicam que a aplicação da lei poderá ter impactos negativos
segundo a espécie analisada, pois o Código poderá instituir mudanças no uso da
terra que vão diminuir o território que alguns animais — como o
tatu-bola-da-caatinga — possuem atualmente como habitat. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário