Desmatamento na Amazônia pode atingir limite irreversível,
com mudanças para vegetação rala e esparsa e baixa biodiversidade.
Com mudanças climáticas e uso indiscriminado do fogo, se o nível de desflorestamento atingir entre 20% e 25% o ciclo hidrológico do bioma pode ser severamente degradado, alertam cientistas.
Com mudanças climáticas e uso indiscriminado do fogo, se o nível de desflorestamento atingir entre 20% e 25% o ciclo hidrológico do bioma pode ser severamente degradado, alertam cientistas.
O
desmatamento da Amazônia está prestes a atingir um determinado limite a partir
do qual regiões da floresta tropical podem passar por mudanças irreversíveis,
em que suas paisagens podem se tornar semelhantes às de cerrado, mas
degradadas, com vegetação rala e esparsa e baixa biodiversidade.
O alerta
foi feito em um editorial publicado em 21/02/2018 na revista Science
Advances. O artigo é assinado por Thomas Lovejoy, professor da George Mason
University, nos Estados Unidos, e Carlos Nobre, coordenador do Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas – um dos INCTs
apoiados pela FAPESP no Estado de São Paulo em parceria com o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – e pesquisador aposentado
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
“O sistema
amazônico está prestes a atingir um ponto de inflexão”, disse Lovejoy à Agência
FAPESP. De
acordo com os autores, desde a década de 1970, quando estudos realizados pelo
professor Eneas
Salati demonstraram que a Amazônia gera aproximadamente metade de suas
próprias chuvas, levantou-se a questão de qual seria o nível de desmatamento a
partir do qual o ciclo hidrológico amazônico se degradaria ao ponto de não
poder apoiar mais a existência dos ecossistemas da floresta tropical.
Os primeiros modelos elaborados para responder a essa questão mostraram que esse ponto de inflexão seria atingido se o desmatamento da floresta amazônica atingisse 40%. Nesse cenário, as regiões Central, Sul e Leste da Amazônia passariam a registrar menos chuvas e ter estação seca mais longa. Além disso, a vegetação das regiões Sul e Leste poderiam se tornar semelhantes à de savanas.
Os primeiros modelos elaborados para responder a essa questão mostraram que esse ponto de inflexão seria atingido se o desmatamento da floresta amazônica atingisse 40%. Nesse cenário, as regiões Central, Sul e Leste da Amazônia passariam a registrar menos chuvas e ter estação seca mais longa. Além disso, a vegetação das regiões Sul e Leste poderiam se tornar semelhantes à de savanas.
Com
mudanças climáticas e uso indiscriminado do fogo, se o nível de
desflorestamento atingir entre 20% e 25% o ciclo hidrológico do bioma pode ser
severamente degradado, alertam cientistas.
Nas últimas
décadas, outros fatores além do desmatamento começaram a impactar o ciclo
hidrológico amazônico, como as mudanças climáticas e o uso indiscriminado do
fogo por agropecuaristas durante períodos secos – com o objetivo de eliminar
árvores derrubadas e limpar áreas para transformá-las em lavouras ou pastagens.
A
combinação desses três fatores indica que o novo ponto de inflexão a partir do
qual ecossistemas na Amazônia oriental, Sul e Central podem deixar de ser
floresta seria atingido se o desmatamento alcançar entre 20% e 25% da floresta
original, ressaltam os pesquisadores.
O cálculo é
derivado de um estudo realizado por Nobre e outros pesquisadores do INPE, do
Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e da
Universidade de Brasília (UnB), publicado em 2016 na revista Proceedings of the National Academy of
Sciences.
“Apesar de
não sabermos o ponto de inflexão exato, estimamos que a Amazônia está muito
próxima de atingir esse limite irreversível. A Amazônia já tem 20% de área
desmatada, equivalente a 1 milhão de quilômetros quadrados, ainda que 15% dessa
área [150 mil km2] esteja
em recuperação”, ressaltou Nobre.
Margem de segurança
Segundo os
pesquisadores, as megassecas registradas na Amazônia em 2005, 2010 e entre 2015
e 2016, podem ser os primeiros indícios de que esse ponto de inflexão está
próximo de ser atingido.
Esses
eventos, juntamente com as inundações severas na região em 2009, 2012 e 2014,
sugerem que todo o sistema amazônico está oscilando. “A ação humana
potencializa essas perturbações que temos observado no ciclo hidrológico da
Amazônia”, disse Nobre.
“Se não
tivesse atividade humana na Amazônia, uma megasseca causaria a perda de um
determinado número de árvores, que voltariam a crescer em um ano que chove
muito e, dessa forma, a floresta atingiria o equilíbrio. Mas quando se tem uma
megasseca combinada com o uso generalizado do fogo, a capacidade de regeneração
da floresta diminui”, explicou o pesquisador.
A fim de
evitar que a Amazônia atinja um limite irreversível, os pesquisadores sugerem a
necessidade de não apenar controlar o desmatamento da região, mas também
construir uma margem de segurança ao reduzir a área desmatada para menos de
20%.
Para isso,
na avaliação de Nobre, será preciso zerar o desmatamento na Amazônia e o Brasil
cumprir o compromisso assumido no Acordo Climático de Paris, em 2015, de
reflorestar 12 milhões de hectares de áreas desmatadas no país, das quais 50
mil km2 são da Amazônia.
“Se for
zerado o desmatamento na Amazônia e o Brasil cumprir seu compromisso de reflorestamento,
em 2030 as áreas totalmente desmatadas na Amazônia estariam em torno de 16% a
17%”, calculou Nobre.
“Dessa forma, estaríamos no limite, mas ainda seguro, para que o desmatamento, por si só, não faça com que o bioma atinja um ponto irreversível”, disse. (ecodebate).
“Dessa forma, estaríamos no limite, mas ainda seguro, para que o desmatamento, por si só, não faça com que o bioma atinja um ponto irreversível”, disse. (ecodebate).
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