Embora
seja verdade que o tráfego veicular e aéreo, bem como a atividade industrial,
tenham sido drasticamente reduzidos na maior parte do mundo desde janeiro de
2020, esse não é o caso do consumo de eletricidade. De acordo com o Panorama
Energético Mundial 2019, 64% das fontes globais de energia elétrica provêm de
combustíveis fósseis (carvão: 38%, gás: 23%, petróleo: 3%). Leia o relato do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
As cidades deverão produzir
mais de 70% das emissões de gás carbônico globais e consumirão 80% da energia
do mundo em 2030.
Nas últimas semanas, à medida
que o mundo parava para combater a pandemia de coronavírus, houve muitos
relatos de melhoria na qualidade do ar em alguns lugares. No entanto, ninguém deve pensar que a crise climática está resolvida.
Os dados mais recentes da
Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) mostram
que os níveis globais de dióxido de carbono (CO2) estão aumentando
acentuadamente.
Em abril de 2020, a
concentração média de CO2 na atmosfera era de 416,21 partes por 1
milhão (ppm), a mais alta desde o início das medições, que começaram em 1958,
no Havaí.
A Sala Mundial de Situação
Ambiental do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostra um
aumento representativo de mais de 100 ppm nas concentrações de CO2
desde março de 1958.
A curva indica flutuações
sazonais esperadas: o Hemisfério Norte possui maior massa de terra que o
Hemisfério Sul e a vegetação absorve mais CO2 durante o verão.
No Hemisfério Norte, o pico
de concentração de CO2 acontece ao final do inverno, em maio, pois,
com o frio, a Terra tem menos processos de fotossíntese e, portanto, os níveis
de CO2 sobem até o próximo ciclo.
Quando, então, a fotossíntese
volta a ocorrer e as novas folhagens aparecem, elas voltam a absorver CO2,
diminuindo as concentrações em cerca de 7,5 ppm até outubro.
Contudo, devido às emissões
antropogênicas (liberadas por atividades humanas), as concentrações de CO2
estão aumentando rapidamente.
O gráfico a seguir mostra a
diferença nos níveis entre o mesmo mês em diferentes anos (há, por exemplo, um
acréscimo de mais de 2,88 ppm entre abril de 2019 e abril de 2020).
Isso mostra que, embora na
década de 1960 o aumento em um ano tenha sido de cerca de 0,9 ppm, no período
de 2010-2019 a média foi de 2,4 ppm. Há uma tendência ascendente claramente
acelerada.
A visão de longo prazo
Usando registros do núcleo de
gelo, é possível medir o CO2 aprisionado pelo gelo na Antártica, que
remonta a 800 mil anos atrás. Desse período até hoje, nunca tínhamos atingido
416 ppm.
Dado que o Homo sapiens
apareceu cerca de 300 mil anos atrás e o primeiro vestígio do Homo sapiens
sapiens (também conhecido como ser humano) data de 196 mil anos atrás, nenhum
indivíduo de nossa espécie jamais vivenciou níveis tão altos de CO2.
“Isso é, obviamente, uma
grande preocupação para o clima e demonstra, mais uma vez, que ações urgentes
são necessárias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Para manter
a média de aquecimento global em 1,5°C, precisamos zerar as emissões líquidas
até 2040 – no mais tardar, até 2055”, disse o diretor do GRID-Genebra do PNUMA
e gerente de programas da Sala Mundial de Situação Ambiental, Pascal Peduzzi.
Esses resultados podem ser
surpreendentes para aqueles que assumem com otimismo que a COVID-19 reduzirá as
emissões globais totais.
Embora seja verdade que o
tráfego veicular e aéreo, bem como a atividade industrial, tenham sido
drasticamente reduzidos na maior parte do mundo desde janeiro de 2020, esse não
é o caso do consumo de eletricidade. De acordo com o Panorama Energético
Mundial 2019, 64% das fontes globais de energia elétrica provêm de combustíveis
fósseis (carvão: 38%, gás: 23%, petróleo: 3%).
Os sistemas de aquecimento
estão funcionando como antes da COVID-19 e nenhuma das questões fundamentais
mudou – como a busca por energia renovável, o uso de transporte público e o fim
do desmatamento.
Além disso, incêndios
florestais mais frequentes e severos, provocados pela mudança climática e
outras origens, continuam afetando países como Brasil, Honduras, Mianmar,
Tailândia e Venezuela, emitindo grandes quantidades de CO2
adicional.
“Sem mudanças fundamentais na
produção global de energia, não teremos motivos para esperar uma redução
duradoura dessas emissões”, afirmou o especialista em mudanças climáticas do
PNUMA, Niklas Hagelberg.
“A COVID-19 nos dá a
oportunidade de medir os riscos que estamos assumindo com o relacionamento
insustentável com o meio ambiente e de aproveitarmos para reconstruir nossas
economias de maneira mais ecológica. Devemos levar em consideração as ameaças
globais, como pandemias e desastres climáticos, a fim de criar mercados,
empresas, países e sistemas globais resilientes e gerar um futuro saudável e
sustentável para todos.”
“Apoiar o estímulo fiscal e os pacotes
financeiros para aproveitar a descarbonização e a transição acelerada para
energias limpas e renováveis não será apenas uma vitória econômica de curto
prazo, mas também uma vitória para a resiliência futura”, acrescentou.
(nacoesunidas)
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