O
aquecimento global pode levar a temperatura do planeta a nível semelhante de
125 mil anos atrás, quando os oceanos eram até nove metros mais altos.
Os
cubos de gelo da Antártida em foto clicada pelo ecologista Peter Convey.
Há
125 mil anos, em um breve período entre eras glaciais, a temperatura era apenas
um pouco maior que hoje. O nível do mar, no entanto, era entre seis e nove
metros mais alto, deixando submersas muitas áreas que hoje conhecemos como
terra firme.
Segundo
um documento divulgado durante uma
reunião da União Geofísica Americana, em Washington, nos Estados Unidos, esse
volume de água extra do período Eemiano veio do colapso do manto de gelo no
oeste da Antártida. Por ter base abaixo do nível do mar, o aquecimento das
águas oceânicas tem forte influência sobre essa parte do manto de gelo, que
derrete rapidamente.
O
problema é que a temperatura global está cada vez mais próxima da de 125 mil
anos atrás. “O grande aumento
na perda de massa observado na última década ou duas talvez seja o começo desse
processo, e não um acontecimento de curto prazo”, afirmou
Jeremy Shakun, paleoclimatologista do Boston College.
Se
for assim, o mundo talvez precise se preparar para o aumento nível do mar mais
rápido do que o esperado: uma vez que o antigo colapso da camada de gelo
começou, as águas oceânicas subiram cerca de 2,5 metros por século.
Durante
o Eemiano, a temperatura global era 2°C acima dos níveis pré-industriais (em
comparação com 1°C hoje). Os gases de efeito estufa não foram os responsáveis
pelo aquecimento, e sim as pequenas mudanças na órbita e no eixo de rotação da
Terra. A Antártida era, inclusive, mais fria do que é hoje. O mistério era o
que teria causado o aumento do nível do mar, descoberto por meio de fósseis de
corais em áreas secas.
A pesquisa
Um
grupo de geólogos glaciais da Universidade Estadual de Oregon, também nos
Estados Unidos, focou seus esforços de pesquisa no extremo sul do planeta. Os
cientistas começaram usando núcleos de sedimentos marinhos ao longo da borda do
manto de gelo ocidental. Estudando 29 núcleos, identificaram assinaturas
geoquímicas para três diferentes regiões de origem: a montanhosa Península
Antártica; a província de Amundsen, perto do mar de Ross; e a área intermediária,
ao redor da geleira Pine Island, que é bastante vulnerável ao degelo.
Com
essas impressões digitais, a equipe analisou os sedimentos marinhos de um único
núcleo, perfurados mais longe no mar de Bellingshausen, a oeste da Península
Antártica. Uma corrente estável circula ao longo da plataforma continental da
Antártida Ocidental, coletando sedimentos pelo caminho.
A
corrente despeja grande parte desse lodo perto do local do núcleo, onde se
acumula rapidamente e captura microorganismos com casca chamada foraminíferos,
que podem ser datados comparando suas proporções de isótopos de oxigênio com
aquelas em núcleos com datas conhecidas. Ao longo de um trecho de 10 metros, o
núcleo continha 140 mil anos de sedimentos.
Imagem
aérea de povoado da região de Kivalina, no Alascar, ameaçado pelo aumento do
nível do mar.
Aumento
do nível do mar acelerou e já é incontrolável, advertem especialistas da ONU.
IPCC
prognostica uma multiplicação dos fenômenos extremos vinculados ao aquecimento
dos oceanos.
Durante
a maior parte desse período, esses sedimentos continham assinaturas geoquímicas
de todas as três regiões do leito da Antártica Ocidental, relatou a equipe,
sugerindo erosão contínua por gelo. Mas em uma seção datada do início do
Eemiano, as impressões digitais se apagaram: primeiro da geleira Pine Island,
depois da província de Amundsen.
Suas
conclusões, no entanto, ainda são preliminares. A datação não é precisa,
significando que a erosão pode ter ocorrido em outra época, e as próprias
correntes oceânicas podem ter mudado temporariamente ao longo dos milênios, o
que acabaria com toda a hipótese.
Para
tirar a prova, um navio parte em janeiro para uma nova rodada de pesquisas com
duração de três meses. A ideia é fazer a perfuração de mais cinco núcleos
marinhos ao largo da Antártida Ocidental.
O
objetivo é que os resultados fiquem prontos antes da conclusão do próximo
relatório climático do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Nos
relatórios de 2001 e 2007, o colapso da Antártida Ocidental não foi sequer
considerado em estimativas do nível do mar no futuro. Suas descobertas podem
indicar que, se a temperatura do planeta chegar próxima da que era durante o
Eemiano, o nível do mar também acompanhe o aumento, com consequências ainda
pouco exploradas pela ciência.
Aquecimento
global pode estar contribuindo para a elevação do nível dos oceanos mais rápido
do que se imaginava.
Especialistas
estimam aumento de até 2 metros no nível dos oceanos até 2100.
Previsão
mais otimista é de que o nível dos mares suba entre 69 e 111 centímetros,
segundo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. (cetesb)
Nenhum comentário:
Postar um comentário