Acelerar a transição para
energias renováveis, eliminar subsídios e adotar abordagens circulares ajudará
a reduzir os resíduos plásticos na escala necessária, de acordo com o relatório
Da Poluição à Solução: Uma Análise Global sobre Lixo Marinho e Poluição
Plástica (From Pollution to Solution: A Global Assessment of Marine Litter and
Plastic Pollution).
O relatório mostra que a
poluição plástica é uma ameaça crescente em todos os ecossistemas, de onde a
poluição se origina até o mar. Mostra também que, embora tenhamos o
conhecimento, precisamos da vontade política e da ação urgente dos governos
para enfrentar esta crise crescente.
O relatório alimentará as
discussões na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA 5.2) em
março/2022, quando os países se reunirão para decidir o caminho a seguir para a
cooperação global sobre esta questão.
O estudo destaca que a poluição plástica nos ecossistemas aquáticos cresceu consideravelmente nos últimos anos e deve dobrar até 2030, com consequências terríveis para a saúde, a economia, a biodiversidade e o clima.
A análise, divulgada dez dias antes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), enfatiza que o plástico também é um problema climático. Usando uma análise de ciclo de vida, estimou-se que em 2015 os plásticos estavam ligados à produção de 1,7 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e), e em 2050 este número deverá aumentar para aproximadamente 6,5 GtCO2e – 15% do orçamento global de carbono.
Os autores rejeitam a
possibilidade de reciclagem como uma saída para esta crise e alertam para
alternativas nocivas aos produtos de uso único, tais como plásticos de base
biológica ou biodegradáveis, que atualmente representam uma ameaça química
semelhantes aos plásticos convencionais.
O relatório analisa falhas
críticas do mercado, tais como preços baixos de matérias-primas fósseis virgens
versus materiais reciclados; esforços mal articulados no gerenciamento formal e
informal de resíduos plásticos; e a falta de consenso sobre soluções globais.
“Esta pesquisa fornece o
argumento científico mais forte até hoje para responder à urgência, agir
coletivamente e proteger e restaurar nossos oceanos e todos os ecossistemas
afetados pela poluição em seu curso”, disse Inger Andersen, diretora executiva
do PNUMA.
“Uma grande preocupação é o destino dos microplásticos, aditivos químicos e outros produtos fragmentados, muitos dos quais são conhecidos por serem tóxicos e perigosos para a saúde humana, a vida selvagem e os ecossistemas. A velocidade com que a poluição oceânica está captando a atenção do público é encorajadora e é vital que aproveitemos este impulso para alcançar um oceano limpo, saudável e resiliente”, acrescentou Andersen.
O relatório destaca que o plástico representa 85% dos resíduos que chegam aos oceanos e adverte que até 2040, os volumes de plástico que fluem para o mar quase triplicarão, com uma quantidade anual entre 23 e 37 milhões de toneladas. Isto significa cerca de 50 kg de plástico por metro de costa em todo o mundo.
Como resultado, todas as
espécies marinhas, desde plâncton e moluscos até aves, tartarugas e mamíferos,
enfrentam riscos de envenenamento, distúrbios comportamentais, fome e asfixia.
Corais, mangues e ervas marinhas também são sufocados por detritos plásticos
que os impedem de receber oxigênio e luz.
O corpo humano também é
vulnerável à contaminação por resíduos plásticos em fontes de água, que podem
causar alterações hormonais, distúrbios de desenvolvimento, anormalidades
reprodutivas e câncer. Os plásticos são ingeridos através de frutos do mar,
bebidas e até mesmo sal comum, mas também penetram na pele e podem ser inalados
quando suspensos no ar.
O lixo marinho e a poluição
plástica também afetam a economia global. Os custos da poluição plástica no
turismo, pesca, aquicultura e outras atividades, como a limpeza, foram
estimados em US$ 6-19 bilhões em 2018. E projeta-se que até 2040 poderá haver
um risco financeiro anual de US$ 100 bilhões para as empresas se os governos
exigirem que elas cubram os custos da gestão de resíduos nos volumes previstos.
Um aumento nos resíduos
plásticos também pode levar a um aumento do descarte ilegal de resíduos a nível
nacional e internacional.
O relatório pede a redução imediata dos plásticos, incentiva a transformação de toda a cadeia de valor envolvida e indica que há necessidade de reforçar os investimentos em sistemas de monitoramento muito mais abrangentes e eficazes para identificar a origem, escala e destino do plástico, bem como o desenvolvimento de uma estrutura de risco, que atualmente não existe globalmente.
O estudo conclui que é necessária uma mudança para abordagens circulares, incluindo práticas de consumo e produção sustentáveis, o desenvolvimento e adoção rápida de alternativas pelas empresas, e uma maior conscientização do consumidor para encorajar escolhas mais responsáveis. (ecodebate)
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