Mudança Climática: Brasil
será um dos países com maiores perdas econômicas.
Mesmo que as emissões de CO2
fossem drasticamente reduzidas a partir de hoje, a economia mundial já está
comprometida com uma perda de renda de 19% até 2050 devido às mudanças
climáticas, aponta um novo estudo publicado na revista Nature.
Além disso, o estudo
demonstra que os países mais pobres e de clima tropical serão os mais
impactados com perdas financeiras, apesar de historicamente serem responsáveis
por uma parcela muito pequena das emissões de gases de efeito estufa causadores
das mudanças climáticas, e o Brasil está entre os países que sofrerá maior
impacto em sua economia, com queda acima de 20%.
Com base em dados empíricos de mais de 1.600 regiões em todo o mundo ao longo dos últimos 40 anos, cientistas do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK) avaliaram os impactos futuros das condições climáticas em mudança no crescimento econômico e sua persistência, e a análise mostra que os danos são seis vezes maiores do que os custos de mitigação necessários para limitar o aquecimento global a 2ºC.
“Projeções indicam grandes reduções de renda para a maioria das regiões, incluindo América do Norte e Europa, com Sul da Ásia e África sendo as mais afetadas. Isso é causado pelo impacto das mudanças climáticas em diversos aspectos relevantes para o crescimento econômico, como rendimentos agrícolas, produtividade do trabalho ou infraestrutura”, diz Maximilian Kotz, cientista do PIK e 1º autor do estudo. Danos anuais globais são estimados em US$ 38 trilhões, com uma faixa provável de US$ 19 a US$ 59 trilhões em 2050. Esses danos resultam principalmente do aumento das temperaturas, mas também das mudanças na precipitação e na variabilidade da temperatura. Considerar outros extremos climáticos, como tempestades ou incêndios florestais, poderia aumentá-los ainda mais.
“Nossa análise mostra que as mudanças climáticas causarão danos econômicos massivos nos próximos 25 anos em quase todos os países ao redor do mundo, também nos altamente desenvolvidos, como Alemanha, França e Estados Unidos” diz a cientista do PIK Leonie Wenz, que liderou o estudo. “Esses danos a curto prazo são resultado de nossas emissões passadas. Precisaremos de mais esforços de adaptação se quisermos evitar pelo menos parte deles. E temos que reduzir de forma drástica e imediatamente nossas emissões – se não o fizermos, as perdas econômicas se tornarão ainda maiores na segunda metade do século, chegando a até 60% na média global até 2100. Isso mostra claramente que proteger nosso clima é muito mais barato do que não o fazer, e isso sem nem considerar os impactos não econômicos, como perda de vida ou biodiversidade”.
Estudo destaca a considerável desigualdade dos impactos climáticos, com perdas financeiras em quase todos os lugares, porém mais concentrada nos países nos trópicos por já serem os mais quentes. Aumentos adicionais de temperatura serão, portanto, mais prejudiciais nessas regiões.
Além do Brasil, a maioria dos
outros países com danos projetados acima de 20% estão na África, no Oriente
Médio e no sul da Ásia. Na América do Sul, entre os mais impactados estão o
Suriname (24%), Guiana (24%) e Bolívia (21%), enquanto Argentina e Chile devem sofrer
perdas abaixo da média global (13% e 8%, respectivamente).
“Os países menos responsáveis pelas mudanças climáticas estão previstos para sofrer perdas de renda 60% maiores do que os países de renda mais alta e 40% maiores do que os países de maior emissão. Eles também são aqueles com menos recursos para se adaptar aos seus impactos. Cabe a nós decidir: uma mudança estrutural rumo a um sistema de energia renovável é necessária para nossa segurança e nos economizará dinheiro. Permanecer no caminho em que estamos atualmente levará a consequências catastróficas. A temperatura do planeta só pode ser estabilizada se pararmos de queimar petróleo, gás e carvão”, diz Anders Levermann, chefe do Departamento de Pesquisa em Ciência da Complexidade no Instituto de Potsdam e coautor do estudo.
Até o momento, as projeções globais de perdas econômicas causadas pelas mudanças climáticas geralmente se concentram nos impactos nacionais das temperaturas médias anuais ao longo de horizontes temporais longos. Ao incluir os mais recentes achados empíricos dos impactos climáticos no crescimento econômico em mais de 1.600 regiões subnacionais em todo o mundo ao longo dos últimos 40 anos e ao focar nos próximos 26 anos, os pesquisadores conseguiram projetar danos subnacionais decorrentes das mudanças de temperatura e precipitação com grande detalhamento ao longo do tempo e do espaço, ao mesmo tempo em que reduziram as grandes incertezas associadas às projeções de longo prazo. Os cientistas combinaram modelos empíricos com simulações climáticas de última geração (CMIP-6). Importante ressaltar que eles também avaliaram como os impactos climáticos afetaram persistentemente a economia no passado e levaram isso em consideração.
Estes números não devem ser entendidos como uma perda global do PIB: o estudo trabalha com o PIB per capita, e os números acima de danos econômicos globais são a média ponderada da população de todas as perdas de PIB per capita em cada país. Em resumo, eles refletem a redução média de renda que os cidadãos do mundo irão suportar.
Maximilian Kotz, cientista do
PIK e 1º autor do estudo, explica: “Descobrimos que as economias em todo o
mundo estão comprometidas com uma perda média de renda de 19% até 2050 devido
às emissões passadas. Isso corresponde a uma redução de 17% no PIB global”.
Leonie Wenz, cientista do PIK e autora principal do estudo: “Nossa análise mostra que as mudanças climáticas causarão enormes danos econômicos nos próximos 25 anos em quase todos os países ao redor do mundo, também nos altamente desenvolvidos, como Alemanha e EUA, com uma redução de renda projetada de 11% cada e na França com 13%”. (ecodebate).
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