sexta-feira, 31 de maio de 2024

Como os microplásticos atingem nosso sistema respiratório?

Os microplásticos absorvem alguns poluentes do ar, como os que saem de escapamentos de automóveis. Compostos orgânicos podem também se ligar a essas partículas, o que as tornam uma espécie de substrato para vírus e bactérias, que formam uma espécie de biofilme.
Microplásticos podem "grudar" nas vias aéreas superiores de humanos

Com estudos recentes tendo estabelecido a presença de partículas nano e microplásticas nos sistemas respiratórios de populações humanas e de aves, um novo estudo da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS) modelou o que acontece quando as pessoas respiram diferentes tipos de partículas de plástico e onde acabam.

A equipe de pesquisa usou a dinâmica computacional de partículas de fluidos (CFPD) para estudar a transferência e deposição de partículas de diferentes tamanhos e formas, dependendo da taxa de respiração.

Os resultados da modelagem, publicados na revista Environmental Advances, identificaram pontos de acesso no sistema respiratório humano, onde as partículas de plástico podem se acumular, na cavidade nasal, na laringe e nos pulmões.

Pesquisa em piscinões inicia mapeamento de microplásticos na Grande São Paulo

Análises surpreenderam ao revelar elevada quantidade de partículas de pneus transportada na água da chuva. Porém, ainda faltam estudos para determinar se fragmentos de polímeros realmente podem causar danos à saúde humana.

Os principais tipos são fabricados intencionalmente, incluindo uma grande variedade de cosméticos e produtos de cuidados pessoais, como pasta de dente.

Os secundários são fragmentos derivados da degradação de produtos plásticos maiores, como garrafas de água, recipientes de alimentos e roupas.

Extensas investigações identificaram os têxteis sintéticos como uma das principais fontes de partículas de plástico transportadas pelo ar, enquanto o ambiente externo apresenta uma infinidade de fontes que abrangem aerossóis contaminados do oceano para partículas originárias do tratamento de águas residuais.

A modelagem da equipe descobriu que a taxa de respiração, juntamente com o tamanho e a forma de partículas, determinada onde no sistema respiratório as partículas de plástico seriam depositadas. As taxas de respiração mais rápida levaram a uma maior deposição no trato respiratório superior, particularmente para microplásticos maiores, enquanto a respiração mais lenta facilitou a penetração mais profunda e a deposição de partículas monoplásticas menores.

(ecodebate)

O Cerrado é o berço das águas no Brasil

Com a geografia marcada por planaltos, o bioma abriga diversas nascentes e importantes áreas de recarga hídrica, desempenhando um papel fundamental para as principais bacias hidrográficas brasileiras e sul-americanas. Por esse motivo, é denominado como “berço das águas” ou a “caixa d'água do Brasil”.
“O Cerrado contribui para oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras. E esse dado é importante para analisarmos a importância desse bioma em termos hidrológicos para o país”, informa Jorge Enoch Furquim Werneck Lima. Por: Thamiris Magalhães e Graziela Wolfart

“A água do Cerrado não é importante só para a manutenção do bioma e para o desenvolvimento das atividades econômicas. É relevante também para todas essas regiões que estão abaixo, como a Caatinga, no caso da bacia do rio São Francisco, do Pantanal, da região da Mata Atlântica e para as populações que vivem na bacia do rio Paraná, que acabam recebendo essas águas. Energia elétrica, navegação, indústria, a própria população, que toma a água desses rios que têm suas nascentes no Cerrado: o bioma acaba sendo fundamental para tudo isso”. A análise é do engenheiro agrícola e pesquisador da Embrapa Cerrados, Jorge Enoch Furquim Werneck Lima, na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line.

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima é pesquisador em Hidrologia da Embrapa Cerrados. Possui graduação em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, mestrado em Ciências Agrárias pela Universidade de Brasília e doutorado em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pelo Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília. Jorge representa a Embrapa no Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal, no Conselho Diretor da Rede de Cooperação em Ciência e Tecnologia para a Conservação e o uso Sustentável do Cerrado – Rede ComCerrado/MCT, nos comitês das bacias dos rios Preto, Maranhão e Paranoá, no Distrito Federal, bem como no Conselho Gestor da APA do Planalto Central. Representa a Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH na Comissão de Coordenação das Atividades de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia no Brasil – CMCH/MCT desde 2008.

IHU On-Line – Como pode ser definida a atual situação dos recursos hídricos no Cerrado?

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – De uma forma geral, os recursos hídricos têm uma situação boa. O que acontece é que, em determinadas regiões, principalmente onde se têm grandes cidades ou locais que não possuem adequado sistema de saneamento, as águas que passam perto desses lugares geralmente têm problema de contaminação, ficando com a qualidade comprometida. E, em regiões onde há concentração de áreas agrícolas, principalmente de agricultura irrigada, as pessoas podem ter problema de falta de água. Isso porque se há uma grande concentração de sistemas de irrigação em uma bacia onde a quantidade de água disponível não é suficiente em determinados momentos, no período de seca, por exemplo, fica difícil suprir toda a demanda.

IHU On-Line – Qual o papel e a importância das águas do Cerrado para o desenvolvimento do Brasil?

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – Pelo fato de o Cerrado estar localizado no meio da região do Planalto Central, que é a parte alta, o bioma acaba funcionando como um “guarda-chuva” para o território, além de ser um grande reservatório. Por isso é conhecido como “pai das águas do Brasil”, ou o “berço das águas”. Pelas características de seu solo, ele tem uma capacidade boa de infiltração da água da chuva e armazenamento dessa água, que é liberada. No Cerrado, têm-se duas estações muito bem definidas: uma chuvosa e outra seca, com pouquíssima chuva. Então, graças a essa capacidade do solo de infiltrar e armazenar a água e de liberá-la de forma mais lenta, o bioma acaba funcionando como um grande reservatório e consegue abastecer nossos rios, inclusive no período seco. Por estar na região alta e central, o Cerrado tem um papel fundamental também na distribuição dessa água pelo território brasileiro e sul-americano, principalmente se pensarmos na Bacia do Rio da Prata. Todos os usos que são feitos nas bacias que recebem água do Cerrado acabam sendo dependentes. E as pessoas que moram nessas regiões acabam ficando dependentes também. Se pensarmos em bacias como a do São Francisco, como o próprio Pantanal, a bacia do rio Paraná e Tocantins, veremos que todas as pessoas que estão nelas acabam recebendo água do Cerrado. E todas as atividades econômicas que são desenvolvidas nessas bacias acabam tendo vinculação com as águas que são produzidas dentro do território do bioma. Isso vale para quase todo o Brasil. A água do Cerrado não é importante só para a manutenção do bioma e para o desenvolvimento das atividades econômicas. É relevante também para todas essas regiões que estão abaixo, como a Caatinga, no caso da bacia do rio São Francisco, do Pantanal, da região da Mata Atlântica, e para as populações que vivem na bacia do rio Paraná, que acabam recebendo essas águas. Energia elétrica, navegação, indústria, a própria população, que toma a água desses rios que têm suas nascentes no Cerrado: o bioma acaba sendo fundamental para tudo isso.

IHU On-Line – Quantas são as regiões hidrográficas brasileiras e quantas recebem contribuição hídrica do Cerrado?

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – O cerrado contribui para oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras. Esse dado é importante para analisarmos a importância desse bioma em termos hidrológicos para o país. Temos outros dados interessantes: cerca de 70% da água que sai na foz da bacia do Tocantins–Araguaia, por exemplo, vem do Cerrado; cerca de 90% da água que sai na foz do rio São Francisco vem do bioma; cerca de 50% da água que sai na foz do rio Paraná, no território brasileiro, da água que chega a Itaipu, por exemplo, vem do Cerrado. Ele manda mais água para o Pantanal do que este joga de água no rio Paraguai. Além disso, tem uma contribuição relevante também na bacia do rio Parnaíba. Pelo fato de o restante da bacia ser de zona semiárida, o Cerrado tem uma importância bastante relevante para ela também. Então, a contribuição hídrica desse bioma é bastante expressiva.

IHU On-Line – Qual a contribuição que o Cerrado oferece às usinas hidrelétricas brasileiras?

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – No caso de Itaipu, por exemplo, o Cerrado contribui com cerca de 50% da água que passa pela usina, que é imensa. Mas além desta, tem todas as outras usinas que estão na calha. Como o bioma está na região mais alta da bacia, 100% da energia gerada em Três Marias – MG é com água do Cerrado. 90% da água que passa em Xingó vem do Cerrado. Além dessas, 70% da água que passa na Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, sai do bioma Cerrado.

IHU On-Line – Diz-se muitas vezes que no Cerrado há apenas seca. Seu trabalho, no entanto, mostra que a água do bioma é responsável por abastecer grande parte do território brasileiro. Quais os fatores que levam as pessoas a terem esse tipo de visão?

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – O fato de o Cerrado ficar quatro ou cinco meses com pouquíssima chuva e, muitos meses, sem chuva alguma acaba dando essa impressão. Também pelo fato de as árvores do Cerrado serem tortas e o tipo de vegetação acaba dando uma impressão de que todas as vezes que alguém pensa no Cerrado, pensa na árvore torta, solta. Mas durante boa parte do ano o Cerrado é bastante verde. No bioma, temos regiões de mata, mas também temos regiões que são apenas de gramíneas, por exemplo, que é o campo limpo e o cerradão. Este último parece uma mata enquanto nossos campos de gramíneas são campos limpos. Ademais, o Cerrado tem divisa com quase todos os biomas; só não tem com o Pampa, que é mais ao sul. Mas tem com a Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Amazônia. E isso faz com que o Cerrado tenha uma biodiversidade muito grande e tenha uma variabilidade na chuva também, uma vez que perto da Amazônia chove muito mais que perto da Caatinga. A questão é que as chuvas no bioma são concentradas em seis, sete meses do ano. E no período seco têm-se umidades na faixa de 15%, o que fica sendo noticiado nos jornais o tempo todo, além das queimadas, etc. Então, tudo isso ajuda a formar uma ideia de que o Cerrado é uma região muito seca. Mas não é.

IHU On-Line – Qual a contribuição que as águas do cerrado oferecem às cidades e às terras agrícolas?

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – Por conta dessas características do bioma, os rios conseguem resistir à seca, em geral, o que é fundamental para o abastecimento de qualquer que seja a atividade e para o abastecimento humano também. Então, o Cerrado tem essa capacidade de infiltração e armazenamento. E o fornecimento de água para o rio faz com que se tenha, ao longo do ano, um bom abastecimento de água, seja ele para as cidades ou para irrigação. A própria chuva do bioma, por perdurar por cerca de seis meses, acaba permitindo, mesmo quando não se tem uma agricultura irrigada, cerca de duas safras por ano, em uma mesma área. Se ainda houver irrigação, consegue-se fazer, mesmo assim, uma terceira safra.

IHU On-Line – Gostaria de acrescentar algo?

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – Hoje, o Cerrado é considerado o “celeiro do mundo” porque tem um potencial agrícola muito grande. Com o desenvolvimento da tecnologia, essa região tornou-se altamente produtiva. Devemos olhar com atenção para esse bioma, que tem ainda grande potencial para o desenvolvimento da agricultura, mas tentando a todo instante incrementar a produção nas áreas que já foram abertas. Nós temos tentado recuperar as áreas um pouco mais degradadas ou menos produtivas, sem ter que abrir mais áreas do Cerrado. Pelo fato de essa área ser muito importante para os recursos hídricos do Brasil, ela tem que ser olhada com um carinho especial, uma vez que qualquer problema que aconteça com ela pode ser transferido para muitas outras áreas do país. Então, temos que pensar em um planejamento adequado do uso do solo do Cerrado, otimizando os nossos recursos naturais, tanto o solo como a água, bem como o uso dos insumos agrícolas, e tomando todos os cuidados para que não tenhamos futuros conflitos. (ecodebate)

Restaurar as terras áridas degradadas é vital e urgente

Como a engenharia ecológica antiga pode ajudar a consertar paisagens degradadas

A restauração de terras áridas degradadas é urgentemente necessária para ajudar a mitigar as mudanças climáticas, reverter a desertificação e garantir a subsistência de dois bilhões de pessoas que vivem ali, alertam os especialistas.

Cientistas que lideram o Global Arid Zone Project examinaram os resultados da semeadura para restauração em 174 locais em seis continentes, abrangendo 594.065 observações de 671 espécies de plantas – com as lições aprendidas importantes para atender às ambiciosas metas de restauração futuras.

O Dr. Martin Breed da Flinders University, um dos três pesquisadores australianos que ajudaram a coordenar a coleta de dados para o banco de dados ao vivo, diz que o novo artigo é realmente importante para a Austrália.

“Grande parte da Austrália é formada por terras áridas e enormes áreas dessas terras áridas na Austrália estão degradadas”, diz ele.

“Eles foram limpos, cultivados de forma insustentável, queimados e, geralmente, não foram bem cuidados. Consequentemente, vastas áreas de nossas terras áridas estão agora sendo restauradas para ajudar a devolver a biodiversidade e fornece muitos serviços ecossistêmicos importantes, como ar e água limpos, apoiando nossa boa saúde mental e aumentando a produtividade agrícola.

“Essa restauração geralmente requer revegetação, principalmente por meio de nova semeadura em áreas de sequeiro. A escala desse esforço de semeadura globalmente é realmente enorme, encorajada não menos pela Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas, que começou este ano. Os orçamentos anuais envolvidos giram em torno de 10 a 100 bilhões de dólares ”, diz o Dr. Breed.

“Esta pesquisa estabelece uma base sólida para inovar novas maneiras de efetivamente semear novamente as áreas de sequeiro. Ele reúne uma compreensão global de quão eficaz é essa nova semeadura nessas terras áridas. Isso mostra que a nova semeadura geralmente funciona – se você semear as sementes, a planta tem uma boa chance de estar lá no futuro.

“No entanto, a nova semeadura é realmente arriscada, com quase 20% dos eventos de semeadura falhando. De forma alarmante, esse risco aumentou à medida que as áreas eram mais áridas – e com os aumentos realizados e previstos na aridez com as mudanças climáticas, isso não é um bom presságio para a restauração baseada em sementes em terras áridas.

O artigo da Nature Ecology & Evolution diz que há motivos para otimismo, embora as metas globais definidas para a restauração de terras secas para restaurar milhões de hectares de terras degradadas tenham sido questionadas como excessivamente ambiciosas.

Mas sem uma avaliação global de sucessos e fracassos, é impossível avaliar a viabilidade, dizem os pesquisadores.

A semeadura teve um impacto positivo na presença das espécies: em quase um terço de todos os tratamentos, 100% das espécies semeadas estavam crescendo no primeiro monitoramento.

No entanto, a restauração de terras secas é arriscada: 17% dos projetos falharam, sem o estabelecimento de nenhuma espécie com sementes, e declínios consistentes foram encontrados nas espécies com sementes conforme os projetos amadureciam.

Projetos, taxas de semeadura mais altas e tamanhos de sementes maiores resultaram em uma maior probabilidade de recrutamento, com outras influências no sucesso das espécies, incluindo aridez do local, identidade taxonômica e forma de vida da espécie.

Os resultados sugerem que as investigações que examinam esses fatores preditivos produzirão uma tomada de decisão de restauração mais eficaz e informada.

Mapa-múndi mostrando as áreas secas do site do Global Arid Zone Project. (ecodebate)

quarta-feira, 29 de maio de 2024

A vulnerabilidade das florestas tropicais ao clima e aos impactos humanos

 Com isso, as florestas tropicais apresentam maior vulnerabilidade e causam preocupação no que diz respeito as mudanças climáticas, devido sua contribuição para o aquecimento global, pois a mortalidade da floresta conduz ao aumento do aquecimento por meio da liberação de gases do efeito estufa.

Índice mostra que as florestas tropicais do mundo estão respondendo de maneira diferente a ameaças como o aquecimento do clima e o desmatamento.

Cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califórnia e outras instituições internacionais de pesquisa criaram um índice de vulnerabilidade da floresta tropical. Ele detectará e avaliará a vulnerabilidade desses diversos ecossistemas a duas categorias principais de ameaças: o aquecimento e o clima seco e as consequências do uso da terra pelo homem, como desmatamento e fragmentação por invasão de estradas, campos agrícolas e extração de madeira.

O índice mostra que as três principais áreas de floresta tropical do mundo têm diferentes graus de suscetibilidade a essas ameaças. A Bacia Amazônica na América do Sul é extremamente vulnerável às mudanças climáticas e às mudanças no uso da terra pelo homem. A Bacia do Congo, na África, está passando pelas mesmas tendências de aquecimento e secagem que a Amazônia, mas é mais resistente. Maioria das florestas tropicais asiáticas parece estar sofrendo mais com as mudanças no uso da terra do que com as mudanças climáticas.

“As florestas tropicais são talvez o habitat mais ameaçado da Terra – o canário na mina de carvão da mudança climática”, disse Sassan Saatchi, cientista do JPL e principal autor do novo estudo publicado na revista OneEarth.

Esses diversos ecossistemas abrigam mais da metade das formas de vida do planeta e contêm mais da metade de todo o carbono da vegetação terrestre. Eles servem como um freio natural no aumento do dióxido de carbono na atmosfera devido à queima de combustível fóssil, porque eles “inspiram” dióxido de carbono e armazenam carbono à medida que crescem.

Mas, no último século, 15 a 20% das florestas tropicais foram cortadas e outros 10% foram degradados. O clima mais quente de hoje, que tem levado a incêndios florestais cada vez mais frequentes e generalizados, está limitando a capacidade das florestas de absorver dióxido de carbono à medida que crescem, ao mesmo tempo que aumenta a taxa na qual as florestas liberam carbono para a atmosfera à medida que se decompõem ou queimam.

A National Geographic Society reuniu uma equipe de cientistas e conservacionistas em 2019 para desenvolver o novo índice. O índice é baseado em múltiplas observações de satélite e dados terrestres de 1982 a 2018, como o Landsat e a missão Global Precipitation Measurement, cobrindo condições climáticas, uso da terra e características da floresta.

Quando um ecossistema não consegue mais se recuperar do estresse tão rápida ou completamente como antes, isso é um sinal de sua vulnerabilidade.

Os pesquisadores correlacionaram dados sobre fatores de estresse, como temperatura, disponibilidade de água e grau de degradação com dados sobre o funcionamento das florestas: a quantidade de biomassa viva, a quantidade de dióxido de carbono que as plantas estavam absorvendo, a quantidade de água que as florestas transpirar para a atmosfera, a integridade da biodiversidade de uma floresta e muito mais. As correlações mostram como diferentes florestas responderam aos estressores e como as florestas estão vulneráveis agora.

A equipe então usou modelos estatísticos para estender as tendências ao longo do tempo, procurando áreas com vulnerabilidade crescente e possíveis pontos de inflexão onde as florestas tropicais farão a transição para florestas secas ou planícies gramíneas.

Os dados do índice de vulnerabilidade da floresta tropical fornecem aos cientistas a oportunidade de realizar exames mais aprofundados dos processos naturais da floresta tropical, como armazenamento e produtividade de carbono, mudanças nos ciclos de energia e água e mudanças na biodiversidade.

Impacto da perda de florestas tropicais intactas é devastador para o clima

Esses estudos ajudarão os cientistas a entender se existem pontos de inflexão e o que provavelmente serão. As informações também podem ajudar os formuladores de políticas que estão planejando atividades de conservação e restauração florestal. (ecodebate)

Proteger a floresta nativa na Amazônia exige políticas públicas

Para proteger florestas na Amazônia é preciso foco em áreas prioritárias e incentivo à regeneração florestal, mostra estudo.

Reverter o desmatamento e a degradação da floresta amazônica vai exigir que o Brasil fortaleça políticas públicas já existentes, como a expansão de áreas protegidas e a punição ao desmatamento ilegal.

Mas é preciso ir além, de modo a incorporar à agenda pública incentivos à regeneração de florestas e o combate à degradação florestal.

As recomendações constam no estudo “Políticas Públicas para Proteção Florestal – o que funciona e como melhorar”, da economista Clarissa Gandour. No trabalho, parte do projeto Amazônia 2030, a pesquisadora passa em revista as políticas públicas de combate ao desmatamento adotadas pelo Brasil a partir de 2004. A partir daquele ano, e até 2014, mudanças tecnológicas, ações de fiscalização e a atuação integrada de diversos ministérios contribuíram para que a taxa de desmatamento na Amazônia regredisse. Depois disso, a situação se deteriorou.

Análise demonstra que o Brasil conseguiu, ao longo daqueles anos, implementar instrumentos eficientes para conter a perda de floresta nativa. Eles foram enfraquecidos e, hoje, não bastam mais. “Para além de aprimorar seus esforços de combate ao desmatamento, o Brasil deve incorporar novas dimensões de proteção da vegetação nativa à sua agenda de políticas públicas para a conservação tropical”, diz o estudo.

O trabalho mostra que é preciso atuar em três frentes:

• Combate à degradação florestal

Hoje, o desmatamento não é o único dano ambiental que assola a Amazônia brasileira. A perda gradativa de floresta – conhecida como degradação florestal – desponta como um problema cada vez mais grave, mas ainda negligenciado no âmbito das políticas públicas. Há indícios de que a degradação florestal representa um estágio inicial do processo de desmatamento. Geralmente, ela está associada à extração madeireira e a queimadas.

Segundo o estudo, é preciso atuar para deter a perda de florestas em estágio inicial, de modo a otimizar os esforços de políticas públicas de conservação.

Hoje, a degradação florestal afeta uma área da Amazônia maior que o desmatamento. Em média, são 11 mil km2 de floresta degradada por ano, o dobro da área desmatada anualmente. A maior parte dela – 75% – se concentra nos estados do Mato Grosso e do Pará.

• Regeneração florestal

Restauro e a proteção de florestas tropicais captura carbono da atmosfera e são ações importantes para mitigar os efeitos do aquecimento global.

Com vasta quantidade de áreas degradadas e desmatadas em regiões tropicais, o Brasil está em posição única para contribuir para esse esforço. Contudo, suas políticas de conservação florestal tendem a focar no combate ao desmatamento primário e não enfatizam a promoção e a proteção de áreas regeneradas – aquelas que já foram desmatadas, mas que, aos poucos, voltam a crescer. Atualmente, o país nem sequer monitora essas áreas de forma sistemática.

Segundo estudo, é imprescindível que o Brasil aja agora para incorporar o restauro de ecossistemas em sua agenda de políticas públicas de conservação. Ao assumir um firme compromisso com a promoção da regeneração tropical e sua conservação, o país simultaneamente avançaria no cumprimento de suas metas ambientais, promoveria melhorias no bem-estar humano em escalas local e global e ainda caminharia em direção à retomada da sua posição como pioneiro de ação climática global.

Há, na Amazônia brasileira, vastas áreas de vegetação secundária – aquela que cresce em regiões já desmatadas. Os formuladores de políticas públicas precisam compreender que essa vegetação deve ser protegida.

• Foco em áreas prioritárias

O desmatamento na Amazônia não é homogêneo. Entre 2016 e 2019, ele esteve concentrado em 24 municípios. Parte significativa – um terço do total – ocorreu em terras públicas não designadas. Num cenário de recursos limitados, o Brasil deve focar seus esforços de combate ao desmatamento nessas áreas prioritárias, onde o problema é mais grave.

Além disso, afirma o estudo, é preciso fortalecer o ambiente institucional de modo a punir quem desmata. O Brasil dispõe de tecnologia capaz de monitorar a perda de floresta. Sem respaldo institucional, ela é insuficiente. (ecodebate)

Aquecimento global torna as chuvas mais irregulares

Os cientistas descobriram que, em um mundo com aquecimento futuro, as regiões climatologicamente úmidas (incluindo os trópicos, as regiões das monções e latitudes médias a altas) não só ficarão mais úmidas em média.
Aquecimento global torna as chuvas mais irregulares

A variabilidade da chuva globalmente ampliada manifesta o fato de que o aquecimento global está tornando nosso clima mais desigual

Os modelos climáticos preveem que a variabilidade da precipitação nas regiões úmidas globalmente será bastante aumentada pelo aquecimento global, causando grandes oscilações entre as condições secas e úmidas.

Esta é a previsão, acordo com um estudo conjunto do Instituto de Física Atmosférica (IAP) da Academia Chinesa de Ciências (CAS) e o Met Office, o serviço meteorológico nacional do Reino Unido. Este estudo foi publicado na Science Advances.

As chuvas desempenham um papel importante em nossa vida diária. Mais leva a inundações, menos à seca. Décadas antes, percebeu-se que o aquecimento global leva ao aumento das chuvas, em média. Como esse aumento é entregue no tempo é muito importante. Um aumento de 2-3% na precipitação anual, espalhando-se uniformemente ao longo do ano, não significa muito, mas se cair em uma semana ou um dia, causará estragos.

Usando grandes conjuntos de simulações de modelos climáticos de última geração, este estudo destaca o aumento na variabilidade da precipitação em uma gama de escalas de tempo, de diária a multianual. Os cientistas descobriram que, em um mundo com aquecimento futuro, as regiões climatologicamente úmidas (incluindo os trópicos, as regiões das monções e latitudes médias a altas) não só ficarão mais úmidas em média, mas também oscilam amplamente entre as condições úmidas e secas.

Classificação dos regimes de mudança de precipitação com base nas mudanças no estado médio da precipitação e na variabilidade. O sombreamento indica a razão de mudança na variabilidade da precipitação e precipitação média.

“À medida que o clima aquece, as regiões climatologicamente úmidas geralmente ficam mais úmidas e as regiões secas ficam mais secas. Esse padrão global de mudança média de chuva é muitas vezes descrito como ‘molhado-fica-úmido’. Por analogia, o padrão global de variação da variabilidade da chuva apresenta um paradigma ‘molhe-obtenha-mais variável’. Além disso, o aumento médio global na variabilidade da precipitação é mais de duas vezes mais rápido do que o aumento na precipitação média em um sentido percentual “, disse ZHOU Tianjun, autor correspondente do estudo. ZHOU é um cientista sênior do IAP. Ele também é professor da Universidade da Academia Chinesa de Ciências.

O aumento da variabilidade da precipitação, em uma primeira ordem, é devido ao aumento do vapor de água no ar à medida que o clima esquenta; mas é parcialmente compensado pelo enfraquecimento da variabilidade da circulação. Este último domina os padrões regionais de mudança na variabilidade da precipitação.

Ao considerar as mudanças no estado médio e na variabilidade da precipitação, a pesquisa fornece uma nova perspectiva para interpretar os futuros regimes de mudança de precipitação. “Cerca de dois terços da terra enfrentarão um hidro clima ‘mais úmido e mais variável’, enquanto as regiões de terra restantes deverão se tornar ‘mais secas, porém mais variáveis’ ou ‘mais secas e menos variáveis’. Esta classificação de diferentes regimes de mudança de precipitação é valiosa para o planejamento de adaptação regional “, disse ZHANG Wenxia, principal autor do estudo.

Aquecimento global causa secas e chuvas mais extremas

“A variabilidade da chuva globalmente ampliada manifesta o fato de que o aquecimento global está tornando nosso clima mais desigual – mais extremo em condições úmidas e secas, com transições mais amplas e provavelmente mais rápidas entre elas”, disse Kalli FURTADO, Cientista Especialista do Met Office e segundo autor do estudo. “Os eventos de precipitação mais variáveis podem ainda se traduzir em impactos sobre os rendimentos das colheitas e fluxos dos rios, desafiando a resiliência climática existente das infraestruturas, da sociedade humana e dos ecossistemas. (ecodebate)

segunda-feira, 27 de maio de 2024

O impacto dos acordos do G7 para as negociações de Clima

Os ministros do G7 concordaram em eliminar a geração de energia a carvão não controlada até a primeira metade da década de 2030, além de outros compromissos em resposta ao acordo da Conferência do Clima da ONU de 2023, a COP28.

Por outro lado, eles não fizeram qualquer progresso na ampliação do financiamento climático e ainda deixaram a porta aberta para investimentos públicos em gás.

O acordo alcançado em Turim, na Itália, será apresentado em junho aos líderes políticos dos 7 países mais ricos do mundo para aprovação. Com muitas eleições-chave em 2024, especialmente nos EUA, analistas temem que os tímidos progressos obtidos sejam obstruídos.

O G7 é responsável por 21% das emissões globais de gases de efeito estufa e está sob pressão para detalhar como responderá ao resultado da COP28, principalmente iniciar uma transição para longe dos combustíveis fósseis, triplicar as energias renováveis, dobrar a eficiência energética e desbloquear financiamento climático para nações de baixa renda.

Na COP29, que será realizada em novembro/24, em Baku, no Azerbaijão, os países devem concordar com uma nova meta global de financiamento climático e preparar suas novas NDCs (planos nacionais de contribuição climática ou Nationally Determined Contributions) que devem ser submetidas antes de fevereiro de 2025.

Os principais anúncios do G7 sobre clima e ambiente

Carvão

O carvão é o combustível fóssil mais poluente e menos eficiente na geração de eletricidade. O G7 concordou em “eliminar gradualmente a geração de energia a carvão não controlada existente em nossos sistemas de energia durante a primeira metade da década de 2030 ou em um cronograma consistente com a manutenção de um limite de 1,5°C [meta do Acordo de Paris]”. O anúncio ocorre dois anos após o grupo concordar em descarbonizar totalmente ou “predominantemente” seu setor de energia até 2035.

•  A decisão deve ter impacto significativo para a Austrália, que respondeu por 50% do total de carvão importado pelos países do G7 em 2023. 30% de todo o carvão produzido na Austrália foi queimado apenas no Japão em 2023;

• O compromisso também estabelece, finalmente, uma data (2035) para que os EUA e o Japão eliminem o carvão de suas matrizes elétricas. Há dúvidas sobre se a Alemanha atualizará sua data legal para isso (2038). O governo de coalizão de Scholz tem o compromisso de eliminar o carvão “idealmente até 2030”.

• O Japão tem a maior participação de carvão na eletricidade no G7 (32%), seguido pela Alemanha (27%) e os EUA (16%). Os outros membros do G7 já eliminaram em grande parte o carvão: França (0,4%), Reino Unido (1,4%), Canadá (5,1%) e Itália (5,3%). Os dados da Ember mostram que os países do G7 geraram em média 16% de sua eletricidade a partir de carvão em 2023 – era 29% em 2015.

Baterias

De forma inédita, o G7 decidiu contribuir para uma meta global de armazenamento de energia no setor elétrico, que será de 1500 GW em 2030, um aumento de mais de seis vezes em relação aos 230 GW em 2022, além de aumentará significativamente “o investimento em redes de transmissão e distribuição de eletricidade até 2030, reconhecendo que são necessários US$ 600 bilhões por ano para atender às metas climáticas nacionais anunciadas”.

Gás

O texto deixa aberta a possibilidade de investimento público em gás como forma de redução da dependência em relação à Rússia. Isso é contraditório em relação à decisão anterior do G7 de se comprometer a “alcançar um setor de energia totalmente ou predominantemente descarbonizado até 2035”.

Metas climáticas

O G7 se comprometeu a apresentar Contribuições Determinadas Nacionalmente (NDCs)  de 9 a 10 meses antes da COP30, que será realizada no Brasil. As NDCs devem demonstrar “progressão e a mais alta ambição possível, com metas de redução absoluta abrangentes, cobrindo todos os GEEs, setores e categorias, alinhadas com 1,5°C”.

Metano

O grupo concordou em “perseguir esforços coletivos para uma redução de 75% das emissões globais de metano provenientes de combustíveis fósseis, incluindo a redução da intensidade das emissões de metano das operações de petróleo e gás até 2030, e trabalhar com países produtores de petróleo e gás interessados para obter cortes significativos nas emissões de metano”.

Finanças

A COP29 em Baku precisa concordar com uma nova meta climática pós-2025 – o Novo Objetivo Coletivo Quantificado. O G7 observa que o mínimo da meta deve ser de US$ 100 bilhões (meta anterior) e diz que “a nova meta deve ser de várias camadas em sua estrutura, abrangendo componentes públicos, privados, domésticos e internacionais”. O texto também reconhece “os desafios que os países vulneráveis estão enfrentando em relação aos impactos climáticos e aos ônus da dívida”.

Subsídios aos combustíveis fósseis

O G7 avançou em algumas medidas para cortar subsídios aos combustíveis fósseis, incluindo ‘Promover uma definição comum de subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis no contexto do G20 e relatar em 2025 sobre o progresso em relação ao compromisso de eliminar os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis até 2025 ou antes”.
Planeta TERRA pede SOCORRO!!!

Financiamento da natureza

A seis meses da próxima COP16 da Biodiversidade, na Colômbia, o texto reafirmou o compromisso dos líderes de fornecer US$ 20 bilhões em financiamento para a natureza até 2025 para alcançar os objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica estabelecidos em 2022, em Montreal. (ecodebate)

A Índia vai enriquecer antes de envelhecer?

A Índia é um país com uma longa e rica história, tendo feito contribuições significativas para a humanidade ao longo dos séculos.

Tradicionalmente, ao longo de milhares de anos, a Índia manteve uma população numerosa, predominantemente jovem e com uma baixa proporção de idosos. No entanto, esse cenário começou a se transformar a partir da transição de fecundidade iniciada na década de 1970 e que foi acompanhada de uma mudança na estrutura etária.

O gráfico abaixo, com base na projeção média da Divisão de População da ONU, indica a evolução da população indiana a partir de quatro grupos etários entre 1950 e 2100. O grupo etário 0-19 anos tinha um montante de 171 milhões de crianças e adolescentes em 1950, representando 48% da população total. Com a queda da fecundidade, o grupo etário 0-19 atingiu o pico de 507 milhões em 2012, representando 40% da população total. Para o ano de 2100, a ONU estima 288 milhões de jovens, representando 19% da população total da Índia. Portanto, o número de jovens indianos de 0-19 anos vai ser maior do que em 1950, mas menor do que o pico de 2012.

Grupo etário 20-39 anos tinha 108 milhões de pessoas em 1950, representando 30% da população total e deve crescer até o pico de 493 milhões de pessoas 2033, quando representará 30,4% da população total. A partir de 2034 esse grupo de adultos jovens vai iniciar uma trajetória de declínio absoluto e relativo, devendo chegar em 2100 com 327 milhões de pessoas, representando 21% da população total.

Grupo etário 40-59 anos tinha 58 milhões de pessoas em 1950 (16% da população) e deve atingir um pico em 2053, com 468 milhões de pessoas, representando 28% da população. A partir de 2054 deve diminuir para 362 milhões de pessoas em 2100 (23,7% da população).

Já o grupo de idosos de 60 anos e mais de idade tinha somente 19 milhões de pessoas em 1950, representado meros 5,4% da população total. No século XXI, o número de idosos indianos vai disparar até atingir 500 milhões de pessoas com 60 anos e mais de idade em 2070, representando 30% da população total. As estimativas da ONU, para 2100, indicam um total de 552 milhões de idosos, representando 36% da população total da Índia, de 1,53 bilhão de habitantes.

Desta forma, a Índia passou de uma população jovem entre 1950 e 2012, para um país de jovens adultos entre 2013 e 2033, vai ser considerada uma sociedade adulta entre 2034 e 2053 e será uma sociedade plenamente envelhecida a partir de 2063.

Comparado com a China e o Brasil, a Índia tem uma estrutura etária muito mais rejuvenescida e ainda tem bastante tempo para aproveitar o 1º bônus demográfico, especialmente se conseguir aumentar as taxas de atividade da população feminina. De fato, na atual década, a Índia é um dos países com uma das maiores taxas de crescimento econômico.

Gráfico com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), em preços constantes, em poder de paridade de compra (ppp), mostra a renda per capita da Índia de 1980 a 2022, com projeções até 2028. Nota-se que a Índia tinha uma renda per capita de US$ 1,2 mil em 1980, passou para US$ 7 mil em 2022 e deve chegar a US$ 9,6 mil em 2028. Portanto, a Índia ainda é um país pobre, classificado como país de baixa renda. Mas tem apresentado taxas elevadas de crescimento do PIB e um crescimento anual de cerca de 5% na atual década.

A Índia vai ser uma sociedade plenamente envelhecida a partir de 2063. Portanto, tem cerca de 40 anos para entrar no clube dos países de alta renda e de elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Ou seja, tem cerca de 4 décadas para enriquecer antes de envelhecer. A Índia pode atingir uma renda per capita de US$ 30 mil em 2063, se mantiver um crescimento da renda per capita de 3,5% ao ano durante os próximos 40 anos.

Mas além do envelhecimento populacional, a Índia terá um desafio ainda maior que é a crise climática e ambiental.

Os rios da Índia são totalmente poluídos e as cidades possuem uma péssima qualidade do ar. A Índia já é o terceiro país que mais emite gases de efeito estufa (atrás apenas da China e dos EUA). Em 2022 a Índia ultrapassou as emissões da União Europeia. Quando se mede as emissões por área, a Índia já está em segundo lugar. No ritmo dos últimos anos a Índia pode ultrapassar os EUA em emissões de gases de efeito estufa nos próximos 15 anos.

É certo que a Índia precisa reduzir a pobreza e a fome e avançar no bem-estar social. Mas também é certo que não há futuro sem uma melhora significativa em relação com o meio ambiente. Desta forma, a Índia tem muitos desafios para enfrentar antes de ser uma sociedade plenamente envelhecida. (ecodebate)

Aquecimento recorde do oceano é alerta global para a crise climática

Temperatura média do oceano bateu novo recorde em março, chegando a 21,07ºC, superando o pico global anterior, registrado em fevereiro.

Branqueamento de corais é uma das consequências diretas do aumento da temperatura, com riscos para a biodiversidade e possíveis impactos em espécies comerciais.
Ronaldo Christofoletti, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e professor do Instituto do Mar da Unifesp, afirma que aumento da temperatura no mar traz riscos que sequer foram projetados pela ciência.

Março foi o mês mais quente já registrado no planeta, com os maiores picos de temperaturas médias na superfície da Terra, de acordo com o Observatório Copernicus, serviço de monitoramento climático da União Europeia.

Foi o décimo mês seguido a bater o recorde de calor, atingindo 1,58°C acima do nível pré-industrial, ultrapassando o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris. Se na superfície terrestre as ondas de calor e eventos extremos, como tempestades, inundações e incêndios florestais, indicam a gravidade da crise climática, no oceano a situação é menos visível, mas pode ser ainda mais grave.

A média mensal da temperatura global da superfície do oceano também bateu recorde em março, 21,07°C, superando o recorde anterior de fevereiro (21,06°C), de acordo com dados do sistema Copernicus. “A temperatura do oceano está acima do esperado há 10 meses e, infelizmente, quase ninguém percebe a relevância disso. É como se o nosso corpo estivesse sistematicamente com febre, indicando que algo está muito errado, e continuássemos a viver da mesma forma, sem nos preocupar”, compara Ronaldo Christofoletti, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Grupo Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da UNESCO.

Como o oceano é fundamental para regular o clima do planeta, o especialista explica que o aquecimento recorde de suas águas deveria ser um sinal de alerta. “Vale lembrar que o oceano ocupa 70% da superfície da Terra. Quando ele está mais quente, significa que a circulação oceânica, responsável por transportar calor e energia pelo planeta, não está como deveria. Isso pode gerar um grande desequilíbrio, com graves consequências ambientais, econômicas e sociais”, explica o professor.

Mesmo com parte das temperaturas recordes relacionadas ao El Niño, devido ao aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, a origem dos picos de temperatura dos últimos meses é cumulativa, segundo o especialista. “Basta pensar que nunca foi registrado aquecimento tão alto no oceano em anos anteriores, mesmo sob a influência do El Niño. Ou seja, o quadro atual é realmente reflexo das mudanças climáticas causadas fundamentalmente pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera. Enquanto nos últimos 40 anos a temperatura média do oceano aumentou em torno de 0,6°C, em apenas um ano este aumento está em torno de 0,3°C a 0,4°C, consistentemente por um período consecutivo de um ano, um padrão sem precedentes na história”, afirma Christofoletti.

Média diária da temperatura da superfície do mar (ºC) sobre o oceano global extrapolar (60°S–60°N) para 2016 (laranja), 2023 (vermelho) e 2024 (linha preta). Todos os outros anos entre 1979 e 2022 são mostrados com linhas cinzas. Fonte de dados: ERA5. Crédito: Serviço de Alterações Climáticas Copernicus/ECMWF.

Temperaturas médias globais da superfície do mar de março de 2023 (laranja) a março de 2024 (preto) quebraram recordes diários todos os dias durante um ano e estabeleceram novos recordes históricos várias vezes. Fonte: (Universidade do Maine / Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos Estados Unidos

Impactos conhecidos e desconhecidos

Uma das primeiras consequências do aumento da temperatura no oceano é o branqueamento dos recifes de corais. “Estamos diante de uma nova epidemia de branqueamento de corais, inclusive no Brasil, onde os pontos de branqueamento já foram registrados no Nordeste e no Sudeste”, afirma Christofoletti. O processo é causado pelo aquecimento e acidificação do oceano, entre outros fatores. “O tecido desses organismos fica translúcido, revelando o esqueleto de carbonato de cálcio da espécie. Isso provoca a diminuição da capacidade reprodutiva e pode provocar a morte dos corais, causando impactos negativos em diversas espécies que utilizam esses ambientes para alimentação e abrigo”.

Além da relevância ecológica, os recifes de corais possuem importância econômica ainda pouco conhecida. Um estudo inédito realizado pela Fundação Grupo Boticário mostra que os recifes de corais geram até R$ 167 bilhões ao Brasil em serviços de proteção costeira e turismo. Para cada quilômetro quadrado de recifes, R$ 941 milhões são economizados em danos evitados, já que os recifes reduzem em até 90% a força das ondas, protegendo as regiões costeiras de tempestades, ressacas e erosões. Além disso, destinos com recifes de corais no Nordeste geram receitas com atividades de lazer e recreação de R$ 7 bilhões por ano. “Tudo isso fica ameaçado com o aquecimento do oceano”, alerta o professor.

Christofoletti explica que existem impactos que sequer foram dimensionados pelos cientistas. “A ciência ainda não consegue estimar o que deve acontecer se a temperatura do oceano ficar 0,4°C acima da média por tanto tempo. No entanto, é possível imaginar impactos no processo reprodutivo de muitos organismos, inclusive de espécies marinhas de interesse econômico e comercial”, afirma o professor.

Espécies de pescado podem ter reprodução acelerada, reduzida ou até interrompida. “Realmente, uma das grandes questões sociais é saber como esse aquecimento do oceano vai refletir nos recursos pesqueiros a médio e longo prazos. Poderemos ter impacto na segurança alimentar de milhões de pessoas”, frisa o membro da RECN. (ecodebate)

sábado, 25 de maio de 2024

Poluição do ar aumenta os riscos cardíacos em moradores de São Paulo

Publicado na revista Environmental Research, a pesquisa aponta que a exposição prolongada à poluição, especialmente ao carbono negro, está intimamente ligada ao desenvolvimento de fibrose cardíaca em moradores de São Paulo.
Pesquisa da USP fornece evidências sobre os impactos da poluição do ar na saúde cardiovascular e destaca a necessidade de medidas eficazes para reduzir a exposição da população a esse mal

A relação entre viver em uma cidade poluída como São Paulo e doenças pulmonares ou câncer é bem conhecida. Os problemas, no entanto, vão além. Uma pesquisa inédita aponta que a exposição de longo prazo à poluição atmosférica está diretamente ligada ao aumento dos riscos cardíacos em moradores da capital paulista. Para indivíduos hipertensos o perigo é maior.

Publicado na revista Environmental Research, o estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com o apoio da FAPESP (projetos 13/21728-2, 16/23129-7 e 19/06435-5). A investigação mostra que a fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração, está relacionada ao tempo de exposição às partículas de carbono negro, um indicador de poluição atmosférica.

Os pesquisadores fizeram a análise das autópsias de 238 pessoas e de dados epidemiológicos para mensurar essa relação. Eles também entrevistaram familiares das vítimas para recolher informações sobre fatores de risco, como histórico de tabagismo e hipertensão. A partir da observação macroscópica do tecido pulmonar estabeleceram a presença e quantidade da fração de carbono negro nos pulmões. Amostras de miocárdio revelaram a fração de fibrose cardíaca.

Resultados revelaram associação significativa entre a fração de carbono negro nos pulmões e a fibrose cardíaca nos indivíduos estudados.

Isso significa que, quanto mais tempo uma pessoa é exposta à poluição, maior a probabilidade de desenvolver a fibrose. “Esse dado ressalta o papel crucial da autópsia na investigação dos efeitos do ambiente urbano e dos hábitos pessoais na determinação de doenças”, afirma um dos autores da pesquisa, o patologista e professor da USP Paulo Saldiva.

Além disso, foi constatado que o risco é aumentado para indivíduos hipertensos. Entre eles, a presença do marcador de doenças cardíacas cresce com o aumento da presença do indicador de exposição à poluição, tanto em fumantes quanto em não fumantes. Entre os não hipertensos, os maiores riscos foram observados principalmente nos tabagistas.

A hipertensão, ou pressão alta, é uma doença que pode ser silenciosa e não apresentar sintomas. De acordo com o Ministério da Saúde, em dez anos a taxa de mortalidade passou de 11,8 óbitos para 100 mil habitantes, em 2011, para 18,7 em 2021. Cerca de 60% dos idosos que vivem no Brasil têm hipertensão.

Se a hipertensão é silenciosa, a poluição nem sempre está tão à vista de todos. Em alguns casos, no entanto, é possível saber onde ela é mais prejudicial. A exposição à poluição dentro da mesma cidade depende de fatores como hábitos e deslocamentos das pessoas. “Podemos dizer que existem dois indicadores de poluição, um medido pela rede da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], que é objetivo. E outro relacionado a quanto cada indivíduo é exposto a ela”, afirma. “Ou seja, o nível de concentração de poluição ambiental não significa a mesma dose recebida por todos. Se você está em um corredor de tráfego por horas, recebe uma dose maior porque a concentração daquele ambiente é particularmente mais elevada”.

Saldiva explica que diversos fatores, como a própria hipertensão, influenciam no desenvolvimento da fibrose cardíaca e que, agora, fica provado que a poluição é um deles. “A pergunta era ‘a poluição tem tamanho suficiente para aparecer nessa foto’ Ela tem e foi a primeira vez que foi demonstrado no mundo em humanos. Essa é a diferença do trabalho”, pontua.

Segundo o médico, o estudo só foi possível graças ao trabalho realizado pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) na cidade, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Ele afirma que o apoio da Faculdade de Medicina da USP e da FAPESP, em convênios estabelecidos no passado com o SVO, construiu um vasto conjunto de processos e informações que resultam hoje em novas possibilidades científicas.

Como a poluição de SP afeta o risco cardíaco de seus moradores?

A pesquisa da USP fornece evidências sobre os impactos da poluição do ar na saúde cardiovascular e destaca a necessidade de medidas eficazes para reduzir a exposição da população a esse mal. A implementação de medidas como a redução das emissões de veículos, o incentivo ao transporte público sustentável na cidade e o incentivo de fontes de energia limpa são estratégias eficazes na mitigação dos impactos da poluição atmosférica na saúde pública. (ecodebate)

A Índia terá mais idosos do que a China em 2067

A proporção de idosos estava em torno de 6% da população dos dois países na década de 1960. Em 2023, a proporção de idosos na China passou para 19,5% e na Índia para 10,7%. Em 2067, a proporção de idosos será de 43,2% na China e de 28,6% na Índia.
O envelhecimento populacional será muito mais rápido na China, mas a Índia terá um maior número absoluto de idosos nas últimas 3 décadas do século XXI

A demografia mundial protagonizou uma marca histórica em abril/2023, quando a Índia ultrapassou a China como o país mais populoso do mundo. Ambos os países atingiram 1,425 bilhão de habitantes em abril, mas em 01 de julho a Índia já apresentou cerca de 3 milhões de habitantes a mais, segundo as estimativas da Divisão de População da ONU. No final do atual século, a Índia terá uma população de 1,53 bilhão, o dobro dos 767 milhões de chineses estimados em 2100.

A Índia já é o país mais populoso do mundo e é também a maior democracia em número de eleitores. O atual pleito, que começou em 19 de abril, vai até 1º de junho, será o maior já realizado na história do país, com 969 milhões de pessoas aptas a votar. O atual primeiro-ministro, Narendra Modi, tenta o seu terceiro mandato consecutivo. Mas, em número de idosos, a China continua e continuará na liderança até 2066. A Índia só terá o maior número de idosos a partir de 2067.

O gráfico abaixo mostra que, em 1950, a China tinha 44 milhões de idosos de 60 anos e mais de idade e a Índia tinha 19 milhões de idosos. Em 2023, os números passaram para 278 milhões na China e 153 milhões na Índia. A ultrapassagem acontecerá em 2067, quando a Índia com 484,5 milhões de idosos superará a China que terá 483,9 milhões de pessoas com 60 anos e mais de idade. Em 2100, o número de idosos será de 362 milhões na China e de impressionantes 552 milhões de idosos na Índia.

O gráfico abaixo mostra a percentagem de idosos (60 anos e mais de idade) na China e Índia entre 1950 e 2100. A proporção de idosos estava em torno de 6% da população dos dois países na década de 1960. Em 2023, a proporção de idosos na China passou para 19,5% e na Índia para 10,7%. Em 2067, a proporção de idosos será de 43,2% na China e de 28,6% na Índia. No final do atual século, as proporções de idosos serão de 47,2% na China e de 36,1% na Índia.

Os dados acima mostram que o envelhecimento populacional será muito mais rápido na China, mas a Índia terá um maior número absoluto de idosos nas últimas 3 décadas do século XXI. O mundo tem em 2023 cerca de 1,1 bilhão de idosos de 60 anos e mais de idade e terá 3,1 bilhões de idosos em 2100, sendo que algo como 30% de todas as pessoas idosas estarão nos dois gigantes da Ásia.

A Índia tem atualmente uma estrutura etária mais rejuvenescida e ainda tem vários anos para aproveitar as vantagens do 1º bônus demográfico e, sendo um país de renda baixa, pode ampliar a proporção da população ocupada para se tornar um país de renda média. Mas na segunda metade do atual século, a Índia também será uma sociedade envelhecida, embora em menor proporção quando comparada com a vizinha China. Nas próximas décadas, os dois países terão que contar com o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade).

Os jovens de hoje serão os idosos do final do século. Apesar das dificuldades, a China está mais bem posicionada economicamente do que a Índia para oferecer maior qualidade de vida para sua população como um todo e, em especial, para garantir um envelhecimento ativo e saudável, com um meio ambiente sustentável. Ninguém vive sem um meio ambiente saudável e crianças, jovens, adultos e idosos precisam se unir para garantir a sustentabilidade dos frutos da generosa biocapacidade do Planeta.

A China já é o maior emissor de gases de efeito estufa e a Índia caminha para ocupar o segundo lugar. Os dois titãs populacionais são também colossais poluidores.

Ambos os países, assim como todas as nações do mundo, terão que lidar com os desafios da degradação ambiental e do aquecimento global, fenômenos que se agravam ano após ano e década após década. Só existe um Planeta pleno de vida e todas as gerações serão afetadas se houver um colapso ambiental.

Por conseguinte, não custa relembrar que as pessoas nos extremos da pirâmide etária (crianças e idosos) são as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Em 2100, a expectativa de vida ao nascer está estimada em 90 anos na China e de 86 anos na Índia. Indubitavelmente, a perspectiva é que haverá mais idosos e idosos mais longevos.

A Índia só ultrapassará a China em número de idosos em 2067.

Mas, independentemente da idade, a humanidade só terá uma melhor qualidade de vida se a biodiversidade da fauna e da flora e a saúde dos ecossistemas forem preservadas e se houver paz e harmonia em toda a comunidade biótica. (ecodebate)

Ondas de calor intensa pressionam a infraestrutura elétrica

Ondas de calor em fevereiro/25 pressionaram a infraestrutura elétrica no país. Em 17/02/25 Sudeste e Centro Oeste bateram recorde na deman...