sábado, 29 de junho de 2024

Decrescimento populacional da Bulgária

Decrescimento populacional da Bulgária com prosperidade econômica e ambiental.
O país europeu que ano após ano vê cidadãos emigrando e população diminuindo

Descubra como a queda na população búlgara está impulsionando o bem-estar e a sustentabilidade.

A Bulgária é um país do Leste Europeu que já apresenta decrescimento demográfico e vai ter uma das maiores reduções populacionais do mundo. É uma boa notícia, pois o menor número de habitantes está ocorrendo com aumento do bem-estar social e ambiental.

A população da Bulgária era de 7,2 milhões de habitantes em 1950 e atingiu o pico de 8,98 milhões em 1980. No ano 2000 o número de habitantes já tinha caído para 8,1 milhões e para 6,62 milhões em 2024. Portanto, a Bulgária já perdeu 2,36 milhões de habitantes entre 1980 e 2024, uma redução de 26% no período.

Mas a queda maior ocorrerá ao longo do atual século, pois o número de búlgaros deve cair para 2,94 milhões de habitantes em 2100. A redução populacional será de 3 vezes em 120 anos, conforme mostra o gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU (revisão 2022).

A Bulgária era uma nação predominantemente agrária, que fazia parte do Bloco do Leste europeu, aliado da União Soviética (URSS) durante a guerra fria e um membro do pacto de Varsóvia e do Comecon. Em 1980, segundo o FMI, era uma economia de renda média, com uma renda per capita, em poder de paridade de compra (ppp) de US$ 12,9 mil (cerca de 10% maior do que a renda per capita brasileira).

Com a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, a economia da Bulgária entrou em crise e a renda per capita caiu para US$ 10,6 mil no ano 2000 (abaixo da renda per capita brasileira). Porém, houve uma grande recuperação nos anos 2000 e a renda per capita búlgara chegou a US$ 28,7 mil em 2024 e deve alcançar US$ 33,9 mil em 2029 (o dobro da renda per capita brasileira), conforme mostra o gráfico abaixo. Ou seja, a Bulgária superou a “armadilha da renda média” exatamente enquanto havia decrescimento da população e envelhecimento da estrutura etária.

O gráfico abaixo compara as idades medianas da população brasileira e búlgara, que é um indicador do grau de envelhecimento de uma população. Nota-se que a idade mediana sempre foi maior na Bulgária. Em 1950, a idade mediana era de 17,5 anos no Brasil e de 26 anos na Bulgária. Em 2024, os números passaram para 34 anos e 45,1 anos. Para 2100, a Divisão de População da ONU estima uma idade mediana de 50,4 anos no Brasil e de 54 anos na Bulgária.

Em termos ambientais, a Bulgária está prestes a passar por uma situação inédita, saindo de um cenário de déficit para um superavit ecológico. Em 1961, a pegada ecológica da Bulgária era 19,7 milhões de hectares globais (gha) e a biocapacidade de 15,4 milhões de gha (havia um déficit de 4,3 milhões de gha. Em 1989, a pegada ecológica passou para 49,6 milhões de gha, para uma biocapacidade de 22,7 milhões de gha (um déficit de 26,9 milhões de gha). Mas, em 2022, a pegada ecológica ficou em 24,3 milhões de gha e a biocapacidade de 20,9 milhões de gha (o déficit diminuiu para 3,4 milhões de gha).

Os gráficos acima mostram que o decrescimento demográfico da Bulgária tem ocorrido de maneira alvissareira, concomitantemente ao aumento da renda per capita e à redução do déficit ambiental. Portanto, ao invés de uma crise populacional ou de “inverno demográfico”, a situação da Bulgária está mais próxima de uma primavera social e ambiental.

Isto ocorre, porque a queda da fecundidade abre espaço para o investimento na qualidade de vida das novas gerações, para a ampliação dos direitos de cidadania e para a melhor qualificação da força de trabalho. Por exemplo, em vez de investir em novas instalações escolares, a diminuição do número de potenciais estudantes permite se investir na melhoria da qualidade da educação e na expertise profissional. Em termos ambientais é uma notícia excelente, pois a redução da população diminui a demanda por serviços ecossistêmicos e reduz, inevitavelmente, a poluição gerada pelas atividades antrópicas.

O decrescimento demoeconômico com prosperidade social abre caminho para as políticas de mitigação e adaptação frente aos desafios da emergência climática e para o fortalecimento do meio ambiente, com a aceleração da restauração ecológica.

Sófia na Bulgária, cidade do Leste Europeu

A Bulgária vai servir de exemplo para outros países que estão avançados na transição demográfica e podem ter uma agenda de progresso social e ambiental. (ecodebate)

Mobilização juvenil e educação climática

Mobilização juvenil e educação climática: respostas aos eventos climáticos extremos.
As mudanças climáticas representam uma ameaça crescente e complexa para a sustentabilidade ambiental e a sobrevivência humana. Fenômenos como ondas de calor, inundações, secas, tempestades e incêndios florestais têm se tornado cada vez mais frequentes e intensos devido às atividades humanas que alteram os ecossistemas naturais (Nusche et al., 2024). Além de documentar e entender esses fenômenos, é crucial preparar as futuras gerações para enfrentá-los e mitigar seus impactos. Nesse contexto, a educação para as mudanças climáticas (EduClima) emerge como uma ferramenta indispensável, capacitando jovens a compreender e agir sobre as questões climáticas (Fletcher, 2023). Paralelamente, o ativismo juvenil tem se destacado como uma força significativa na luta global pela preservação do meio ambiente, exemplificado por figuras como Greta Thunberg e movimentos como Fridays for Future. Este artigo explora a interconexão entre eventos climáticos extremos, a importância da educação climática e o papel vital do ativismo juvenil, argumentando que uma abordagem integrada é essencial para enfrentar a crise climática.
Eventos climáticos extremos e mudanças climáticas

As mudanças climáticas representam uma das maiores ameaças à sustentabilidade ambiental e à sobrevivência humana. Fenômenos como ondas de calor, inundações, secas, tempestades e incêndios florestais, conhecidos como eventos climáticos extremos, têm se tornado cada vez mais frequentes e intensos, em grande parte devido às atividades humanas que alteram os ecossistemas naturais.

Os eventos climáticos extremos são caracterizados por desvios significativos das condições climáticas normais, ocorrendo em períodos curtos e específicos. As mudanças climáticas, por outro lado, referem-se às alterações de longo prazo nos padrões climáticos médios da Terra, incluindo temperatura, precipitação, ventos e correntes oceânicas (Nusche et al., 2024). Estas mudanças de longo prazo não só influenciam a frequência, mas também a intensidade dos eventos climáticos extremos.

Nos últimos vinte anos, o número de desastres relacionados ao clima aumentou substancialmente, com inundações e tempestades sendo os eventos mais comuns. Recentemente, secas, incêndios florestais e temperaturas extremas também se tornaram mais frequentes e severas. Embora países de baixa renda sejam os mais impactados, os riscos climáticos estão crescendo também em países de alta renda. Em 2018, países desenvolvidos enfrentaram severas ondas de calor e secas, com a Europa vivenciando um aumento drástico na incidência de ondas de calor extremo, tornando esses eventos até 100 vezes mais prováveis do que há um século (Nusche et al., 2024).

Os impactos das mudanças climáticas são amplamente documentados e demonstram um padrão de aumento em eventos extremos. Por exemplo, espera-se que uma criança nascida em 2024 experimente um número significativamente maior de eventos climáticos extremos ao longo de sua vida em comparação com uma nascida em 1970, incluindo três vezes mais inundações fluviais, o dobro de ciclones tropicais e incêndios florestais, quatro vezes mais quebras de colheitas, cinco vezes mais secas e 36 vezes mais ondas de calor (Thiery et al., 2021).

Escolas e comunidades na mobilização por um futuro sustentável

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2023 foi o ano mais quente registrado nos últimos 174 anos. Além disso, os últimos nove anos, de 2015 a 2023, foram os mais quentes da história (Inmet, 2023). Este aquecimento é amplamente atribuído ao aumento das concentrações de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, que atingiram níveis recordes em 2022 e continuam a crescer em 2023 (Inmet, 2023).

O Brasil, em 2023, enfrentou 12 eventos climáticos extremos, dos quais 9 foram considerados incomuns e dois sem precedentes. Estes eventos incluíram cinco ondas de calor, três chuvas intensas, uma onda de frio, uma inundação, uma seca e um ciclone extratropical. Entre os eventos mais significativos estava uma onda de calor sem precedentes que atingiu a Amazônia em julho de 2023, contribuindo para uma das piores secas já registradas na região (ONU, 2024).

No final de agosto de 2023, temperaturas superiores a 41 °C foram registradas no Rio de Janeiro e São Paulo, causando um impacto significativo na saúde pública e no meio ambiente. A seca resultante na Amazônia levou à morte de mais de 150 botos cor-de-rosa no Lago Tefé e contribuiu para um recorde de 22.061 focos de incêndio na região em outubro, a maior quantidade desde 2008. A fumaça desses incêndios impactou severamente a qualidade do ar em Manaus (ONU, 2024).

O Rio Grande do Sul também sofreu gravemente com eventos climáticos extremos em 2023. Um ciclone extratropical causou chuvas volumosas e fortes rajadas de vento, resultando em 46 mortes, 46 desaparecidos e 340 mil pessoas afetadas. As enchentes subsequentes causaram destruição em várias cidades, especialmente na região do Vale do Taquari, onde 92 municípios declararam estado de calamidade pública (ONU, 2024).

Em maio de 2024, o estado ainda enfrentava as consequências de chuvas intensas que causaram mortes, desaparecimentos e um grande número de desabrigados. As aulas foram suspensas em 2.338 escolas da rede estadual, afetando mais de 338 mil alunos, com muitas escolas danificadas ou servindo de abrigo para os desalojados (Lima Neto, 2024). A situação no estado, até o dia 18 de maio de 2024, incluía 155 mortes, 94 desaparecidos, 806 feridos, 77.202 desabrigados e mais de 2 milhões de pessoas afetadas em 461 municípios do total de 497 (RS. Gov,2024)

O panorama global, como indicam os estudos de Poynting & Stallard (2024), sugere que o futuro será marcado por eventos climáticos ainda mais extremos e frequentes. O aumento da temperatura global está diretamente associado a chuvas mais intensas, secas prolongadas e ondas de calor mais severas, contribuindo para um ciclo vicioso de eventos climáticos que alimentam uns aos outros.

Esta realidade impõe desafios significativos aos sistemas educacionais, como preconizado por Nusche et al. (2024), onde é imperativo preparar as novas gerações para enfrentar e mitigar os impactos das mudanças climáticas. A educação para a sustentabilidade e a gestão de desastres torna-se uma peça fundamental na construção de uma sociedade mais resiliente e preparada para os desafios do futuro.

A crescente frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos ressaltam a importância de educar as futuras gerações sobre as mudanças climáticas e suas implicações. A atual situação climática evidencia a urgência de ações efetivas para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Os eventos extremos não são apenas mais frequentes, mas também mais severos, afetando milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo o Brasil. A resposta a esta crise deve ser abrangente, envolvendo mudanças rápidas e sem precedentes em todos os aspectos da sociedade, como destacado pelo Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (UNESCO, 2020). A adaptação dos sistemas educacionais e a preparação para futuras crises climáticas são cruciais para garantir a resiliência das comunidades e a sustentabilidade ambiental a longo prazo.

A educação para as mudanças climáticas torna-se fundamental para preparar jovens a compreenderem e enfrentarem os desafios ambientais. Compreender a ciência por trás dos fenômenos climáticos extremos permite que os jovens reconheçam a urgência da crise climática e se sintam empoderados a tomar medidas. Além disso, a educação climática pode inspirar a ação, promovendo a consciência sobre a importância de adotar práticas sustentáveis e de pressionar por políticas públicas que mitiguem os efeitos das mudanças climáticas. Portanto, a integração da educação climática nos currículos escolares é essencial para desenvolver uma geração que esteja preparada para enfrentar e mitigar os impactos ambientais, contribuindo para uma sociedade mais resiliente e consciente.
A educação para as mudanças climáticas

No contexto das mudanças climáticas, a educação surge não apenas como um direito fundamental, mas como uma ferramenta indispensável para capacitar as futuras gerações a enfrentarem os desafios ambientais iminentes. Fletcher (2023) destaca a necessidade urgente de integrar a educação ambiental nas escolas, ressaltando que uma formação sólida em questões climáticas prepara os jovens para proteger ecossistemas vulneráveis e mitigar os efeitos do aquecimento global. Essa necessidade é amplificada pela crise planetária descrita pela UNESCO (2022), que aponta as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição como ameaças diretas à sobrevivência humana.

A Educação para as Mudanças Climáticas é definida como um processo educativo que visa integrar o conhecimento sobre mudanças climáticas nos currículos escolares, promovendo uma compreensão holística das causas, impactos e soluções para esta crise global. Como Fletcher (2023) e UNESCO (2021a) sugerem, a EduClima não se limita à transmissão de fatos, mas engaja os alunos em aprendizagens que fomentam habilidades críticas, cívicas e problemáticas necessárias para transformar a sociedade.

A importância da EduClima transcende a mera conscientização. De acordo com March (2024), ela é fundamental para preparar os jovens para tomarem decisões informadas e participarem ativamente na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A evidência é clara: sem uma educação robusta sobre o clima, os jovens permanecem vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas e menos equipados para contribuir para uma sociedade sustentável.

Vários países já reconheceram a importância da EduClima e incorporaram-na em seus sistemas educativos. A Itália, desde 2020/21, tornou obrigatório o tema das alterações climáticas e do desenvolvimento sustentável nas escolas. Na República da Coreia, desde 2007, o currículo nacional inclui educação climática em todos os níveis. Na pré-escola, crianças de 4 anos exploram o clima e, aos 5 anos, aprendem sobre padrões climáticos. Isso é apoiado pela Lei de Promoção da Educação Ambiental, visando o desenvolvimento sustentável (UNESCO, 2021a). A França anunciou que começaria a incluir lições sobre as alterações climáticas no início do ano letivo de 2020/21. Em 2020, a Nova Zelândia integrou estudos sobre mudanças climáticas no currículo do ensino secundário. Camboja, Argentina, México e Reino Unido também iniciaram ações preliminares para ampliar seus currículos, incorporando temas relacionados às alterações climáticas (March, 2024).

O Reino Unido tem adotado uma abordagem ambiciosa através da “Estratégia de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas” lançada em 2022 pelo Department for Education (DfE, 2022). Esta estratégia visa posicionar o setor educacional do Reino Unido como líder mundial em sustentabilidade e educação para as mudanças climáticas até 2030. A estratégia abrange desde a educação formal até experiências extracurriculares, englobando a gestão dos edifícios escolares e seus arredores, com o objetivo de melhorar o ambiente e inspirar a comunidade local (DfE,2023).

Estes exemplos, destacam o papel vital que os sistemas educacionais podem desempenhar na promoção de um entendimento profundo sobre a sustentabilidade e as mudanças climáticas.

Apesar desses avanços, a integração da educação sobre mudanças climáticas enfrenta desafios significativos. Conforme relatado pela UNESCO (2021b), quase metade dos currículos nacionais analisados não menciona as mudanças climáticas, e uma minoria de professores sente-se confiante para ensinar sobre o tema. Este cenário é exacerbado pelos impactos diretos das mudanças climáticas na educação, como escolas fechadas devido a desastres naturais, conforme destacado por Venegas Marin et al. (2024) e Nusche et al. (2024).

Em resposta, a UNESCO (2024) compromete-se a implementar estratégias nacionais de educação para enfrentar o risco climático e construir sistemas educacionais mais resilientes. O documento do Banco Mundial citado por Venegas Marin et al. (2024) também sugere medidas concretas, como a gestão da educação para a resiliência e a infraestrutura escolar adaptada ao clima, para proteger os sistemas educativos dos impactos climáticos.

Os jovens e as crianças estão entre os mais afetados pelas mudanças climáticas, não apenas em termos de saúde física e emocional, mas também em relação ao acesso à educação. March (2024) ressalta que eventos climáticos extremos, como inundações e ondas de calor, limitam significativamente o acesso à educação, perpetuando um ciclo de vulnerabilidade e pobreza. A UNICEF aponta que bilhões de crianças vivem em países com alto risco climático, muitas das quais poderão perder acesso à educação devido a desastres induzidos pelo clima (March, 2024).

A educação para as mudanças climáticas é mais do que um componente curricular; é uma necessidade urgente e uma ferramenta crucial para a sobrevivência e o desenvolvimento sustentável. Municípios e estados devem implementar a educação para as mudanças climáticas com urgência, principalmente nas regiões mais afetadas por eventos extremos, como ocorreu recentemente no Rio Grande do Sul e em municípios como Teresópolis e Nova Friburgo no Rio de Janeiro, ou São Sebastião em São Paulo. Beira a irresponsabilidade não discutir o problema com os jovens nas escolas, deixando-os à mercê de informações falsas e não baseadas em conhecimentos científicos sobre os eventos extremos.
Novo Regime Climático: já vivemos mudanças no planeta que podem ser irreversíveis

Mudanças curriculares são essenciais, assim como intensificar o acesso a sites que explicam o aquecimento global e as mudanças climáticas do ponto de vista científico. Não só as nações devem se envolver, mas principalmente o poder local, onde ocorrem as tragédias motivadas pelas mudanças climáticas. Os municípios podem e devem incluir a educação para mudanças climáticas nos currículos escolares, treinar professores de todas as disciplinas para estarem abertos à discussão do problema, incentivando os jovens à ação. As nações devem agir com rapidez e determinação para integrar a EduClima em todos os níveis de ensino, capacitando os jovens a serem agentes de mudança proativos na luta contra as mudanças climáticas. Como a crise climática não respeita fronteiras, a resposta educacional também deve ser global, com políticas, recursos e estratégias compartilhadas que transcendam as fronteiras nacionais para preparar uma geração verdadeiramente resiliente e capacitada.

A educação climática não apenas prepara os jovens para enfrentar os desafios ambientais, mas também catalisa o ativismo juvenil, que tem se mostrado uma força poderosa na luta contra as mudanças climáticas. Jovens bem informados e educados sobre as questões climáticas estão mais propensos a se envolverem ativamente em movimentos sociais e a liderarem iniciativas de mudança. O ativismo juvenil, exemplificado por figuras como Greta Thunberg e Txai Suruí, demonstra o impacto significativo que os jovens podem ter na conscientização pública e na pressão por políticas ambientais eficazes. Movimentos como Fridays for Future e o trabalho de ativistas indígenas mostram como a educação climática pode inspirar ações concretas e mobilizações globais. Assim, a ligação entre educação e ativismo é vital, pois uma base educacional sólida empodera os jovens a se tornarem líderes na luta pela justiça climática e pela sustentabilidade ambiental.

O ativismo juvenil no combate às mudanças climáticas

O ativismo juvenil contra as mudanças climáticas tem se destacado como uma força significativa na luta global pela preservação do meio ambiente. Um dos casos mais emblemáticos desse movimento é o surgimento de Greta Thunberg e o movimento Fridays for future. Em agosto de 2018, Greta, então com 15 anos, iniciaram uma greve escolar sentada em frente ao parlamento sueco com uma placa que dizia “Greve Escolar pelo Clima” (Igini, 2022). Esse simples ato de protesto solitário rapidamente ganhou atenção mundial, inspirando milhões de jovens a se unirem em uma causa comum contra a inação governamental diante da crise climática.

O impacto de Greta Thunberg foi imediato e impressionante. Em poucos meses, mais de 20 mil estudantes em todo o mundo aderiram às greves escolares semanais, culminando na Semana Global de Ação Climática de 2019, que mobilizou quase 6 milhões de pessoas (Igini, 2022). As demandas dos jovens eram claras e diretas: manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C, seguir as recomendações científicas e garantir justiça climática e equidade para todos. O movimento Fridays for future se tornou um símbolo poderoso do ativismo juvenil, demonstrando a capacidade dos jovens de influenciar a opinião pública e pressionar por mudanças políticas significativas.

Outro exemplo marcante de ativismo juvenil é o de Txai Suruí, uma jovem indígena brasileira que destacou a importância da proteção ambiental e dos direitos indígenas em foros internacionais. Txai foi a única brasileira a discursar na abertura da 26ª Conferência do Clima (COP26), em Glasgow, em 2021 (G1, 2021). Em seu discurso, ela destacou os problemas enfrentados pelos povos indígenas da Amazônia, incluindo o garimpo ilegal e a destruição de suas terras. Um trecho do discurso de Txai na COP26 faz um veemente apelo à ação em relação às mudanças climáticas, assim se expressando: “Devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores. Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo” (G1, 2021). Txai enfatizou a necessidade de medidas urgentes para frear as mudanças climáticas e a importância da participação dos povos indígenas nas decisões sobre o clima, dado seu papel crucial na proteção das florestas (Cruz, 2023).

O movimento liderado por Txai Suruí também reflete uma interseção entre ativismo ambiental e defesa dos direitos humanos. Desde muito jovem, Txai acompanhou a luta de seus pais pela proteção de suas terras em Rondônia e, em 2020, fundou o Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, que conta com mais de 1,7 mil membros (Unicef, 2023). Sua atuação destaca a importância da justiça climática não apenas como uma questão ambiental, mas também como uma questão de direitos humanos, enfatizando a necessidade de proteger comunidades vulneráveis que estão na linha de frente das mudanças climáticas.
Além das figuras individuais, há também importantes vitórias legais que refletem a crescente influência do ativismo juvenil no cenário climático. Um exemplo é o caso de Montana, nos Estados Unidos, onde um grupo de jovens processou o estado por não considerar os impactos climáticos ao aprovar projetos de combustíveis fósseis. Em agosto de 2023, um tribunal decidiu que a falha do estado em considerar as mudanças climáticas ao aprovar esses projetos era inconstitucional, baseando-se no direito constitucional a um ambiente saudável (Gelles & Baker, 2023). Essa decisão representa uma vitória histórica para os jovens ativistas e destaca a importância das ações judiciais como uma ferramenta para responsabilizar os governos pelas suas políticas ambientais.

Os demandantes do caso de Montana, com idades entre 5 e 22 anos, testemunharam sobre os impactos diretos das mudanças climáticas em suas vidas, incluindo secas, incêndios florestais e poluição do ar que agrava condições de saúde como a asma (Gelles & Baker, 2023). Eles também falaram sobre o impacto psicológico e emocional de crescer em um mundo ameaçado pelo colapso ambiental. Essa vitória legal não só reconhece os direitos constitucionais dos jovens a um ambiente saudável, mas também estabelece um precedente importante para futuros processos judiciais em outros estados e países.

O ativismo juvenil contra as mudanças climáticas não é apenas uma expressão de descontentamento com o status quo, mas uma demanda urgente por ações concretas e imediatas. A geração jovem, representada por figuras como Greta Thunberg e Txai Suruí, e fortalecida por vitórias legais como a de Montana, está mostrando ao mundo que a crise climática requer uma mobilização global e intergeracional. Eles estão exigindo não apenas uma mudança nas políticas, mas também uma transformação fundamental na maneira como a sociedade percebe e aborda o meio ambiente.

Em suma, o ativismo juvenil contra as mudanças climáticas tem sido uma força catalisadora para a ação global. Através de protestos, discursos poderosos e vitórias legais, os jovens estão pressionando por mudanças significativas e responsabilizando os governos por suas ações ou inações. Eles estão trazendo novas perspectivas e uma urgência renovada para a luta contra as mudanças climáticas, destacando a necessidade de justiça climática e proteção dos direitos humanos.
Conclusão

O enfrentamento das mudanças climáticas exige uma abordagem multifacetada que inclua a conscientização sobre eventos climáticos extremos, a implementação de uma educação climática robusta e o reconhecimento e apoio ao ativismo juvenil. A crescente frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos destacam a urgência de preparar as futuras gerações para lidar com esses desafios. A educação climática (EduClima) emerge como uma ferramenta essencial para equipar os jovens com o conhecimento e as habilidades necessárias para mitigar e adaptar-se às mudanças climáticas.

Simultaneamente, o ativismo juvenil continua a ser uma força poderosa na promoção de mudanças políticas e na conscientização pública, exemplificado por figuras como Greta Thunberg e Txai Suruí. Integrando essas abordagens, é possível construir uma sociedade mais resiliente e preparada para enfrentar a crise climática, garantindo um futuro sustentável para as próximas gerações. (ecodebate)

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Cidades e Mudanças climáticas: Desafios e Soluções

Você já parou para pensar como as mudanças climáticas afetam a vida nas cidades? Se você mora em uma área urbana, provavelmente já sentiu na pele os efeitos do aquecimento global, como o aumento da temperatura média, as ondas de calor mais frequentes e intensas, as chuvas torrenciais e as inundações.

Fenômenos climáticos extremos podem causar sérios danos à infraestrutura urbana, à saúde pública e à economia das cidades.

As cidades são grandes emissores de gases de efeito estufa, que contribuem para o agravamento das mudanças climáticas. Segundo a ONU, as cidades são responsáveis por até 70% das emissões globais de CO2. Por isso, as cidades têm um papel fundamental na redução das emissões de gases de efeito estufa e na busca por soluções sustentáveis para o desenvolvimento urbano.

Algumas medidas que as cidades podem adotar para mitigar as mudanças climáticas são:

• Incentivar o uso de energias renováveis, como solar, eólica e biomassa, que são mais limpas e menos poluentes do que os combustíveis fósseis;

• Promover a eficiência energética em toda a infraestrutura municipal, como iluminação pública, edifícios públicos e privados, sistemas de água e esgoto;

• Estimular o transporte público de massa, como metrô, trem e ônibus, que reduzem o número de veículos nas ruas e consequentemente as emissões de gases de efeito estufa;

• Planejar o crescimento urbano de forma sustentável, evitando a expansão desordenada e a ocupação de áreas verdes e de proteção ambiental;

• Reduzir o desperdício de alimentos, que representa uma grande fonte de emissões de metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes.

No entanto, apenas mitigar as mudanças climáticas não é suficiente. As cidades também precisam se adaptar aos impactos das mudanças climáticas que já estão acontecendo e que tendem a se intensificar no futuro. As medidas de adaptação visam proteger a população e a infraestrutura urbana dos riscos das mudanças climáticas. Algumas medidas de adaptação são:

• Construir infraestrutura resiliente a eventos climáticos extremos, como pontes, viadutos, estradas, redes elétricas e hidráulicas;

• Elaborar planos de evacuação para áreas propensas a inundações e escorregamento de encostas, que podem ser afetadas por chuvas intensas;

• Implementar sistemas de alerta precoce para eventos climáticos extremos, como tempestades, ciclones, secas e incêndios florestais;

• Desenvolver programas de educação para a população sobre os riscos das mudanças climáticas e as formas de prevenção e adaptação.

As mudanças climáticas são um desafio global que exige ações locais. As cidades precisam se adaptar às mudanças climáticas para garantir a qualidade de vida da população urbana, em especial dos idosos e da população mais vulnerável. Ao mesmo tempo, as cidades precisam reduzir suas emissões de gases de efeito estufa para contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e evitar cenários ainda mais catastróficos no futuro.

Os impactos das mudanças climáticas estão colocando em risco a saúde da população urbana, em especial dos idosos e da população mais vulnerável.

O aumento da temperatura pode levar a um aumento da incidência de doenças cardiovasculares, respiratórias e neurológicas. As ondas de calor, por sua vez, podem causar morte súbita, desidratação, insolação e agravamento de doenças crônicas. Os eventos de precipitação extremos podem causar inundações, deslizamentos de terra e outros desastres naturais que podem levar a ferimentos, doenças e até morte. O aumento do nível do mar pode causar inundações costeiras, que podem deslocar pessoas e causar problemas de saúde relacionados à qualidade da água e da comida.

A população idosa e a população mais vulnerável são mais suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas na saúde pública. Os idosos, por exemplo, têm mais probabilidade de sofrer de doenças crônicas, como doenças cardíacas, pulmonares e diabetes, que podem ser agravadas pelo calor, pela poluição e por outros impactos das mudanças climáticas. A população mais vulnerável, por sua vez, pode ter menos acesso a cuidados de saúde e a recursos para se proteger dos impactos das mudanças climáticas.

Diante dos impactos na saúde pública, existem medidas que já se provaram eficazes:

• Criação de pontos permanentes de hidratação;

• Rede de bebedouros públicos de amplo e fácil acesso;

• Climatização de toda rede de transporte público;

• Políticas especiais de atendimento e acolhimento da população em situação de rua;

• Obrigatoriedade de bares e restaurantes oferecerem gratuitamente água filtrada para qualquer pessoa, cliente ou não;

• Pontos de ônibus cobertos;

• Uso de aplicativos de alerta e orientações para a população;

• Identificação e gerenciamento de locais com riscos de desastres, de inundações, escorregamento de encostas, etc.

• Climatização das instalações e salas de aula da rede pública de ensino;

• Climatização das instalações da rede pública de saúde;

• Plano de arborização urbana e incentivo aos telhados brancos;

• Investir em sistemas de drenagem e microdrenagem para as águas pluviais das áreas urbanas; etc.

As cidades que não agirem urgentemente para mitigar e adaptar-se às mudanças climáticas estarão sujeitas a danos cada vez mais graves. É fundamental que as cidades desenvolvam planos abrangentes de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, com metas claras e prazos definidos. (ecodebate)

Risco à Saúde de 246 Milhões de Idosos até 2050

Calor Extremo: Risco à Saúde de 246 Milhões de Idosos Até 2050.

Nos próximos 26 anos, até 246 milhões de pessoas, com mais de 69 anos, viverão em regiões de estresse térmico agudo, com sérios riscos à saúde. Habitantes da Ásia e da África sofrerão mais o impacto e podem não conseguir se adaptar, alerta estudo.
Regiões do mundo com maior risco de ondas de calor de alto impacto

Aumentos na intensidade, duração e frequência das ondas de calor representam ameaças diretas à saúde física, com consequências especialmente graves para adultos mais velhos

Até 2050, mais de 23% da população global com mais de 69 anos viverá em climas com exposição aguda ao calor maior do que o limiar crítico de 37,5°C, em comparação com 14% em 2020

Prevê-se que até 246 milhões de idosos em todo o mundo sejam expostos a calor agudo perigoso até o ano 2050, em comparação com os níveis atuais – com aqueles que vivem na Ásia e na África experimentando os efeitos mais graves – sugere uma pesquisa.

Os resultados da pesquisa podem ajudar a informar as avaliações regionais de risco térmico e a tomada de decisões em saúde pública. Um painel de visualização interativo exibe as mudanças demográficas atuais e projetadas e os riscos relacionados ao calor em todos os países do mundo.

23% dos idosos do planeta viverão expostos ao calor extremo em 2050

A população mundial está envelhecendo a um ritmo sem precedentes. Espera-se que o número de pessoas com mais de 60 anos duplique para quase 2,1 bilhões de pessoas até 2050, com mais de dois terços residindo em países de baixa e média renda, onde os eventos extremos impulsionados pelas mudanças climáticas são especialmente prováveis.

Aumentos na intensidade, duração e frequência das ondas de calor representam ameaças diretas à saúde física, com consequências especialmente graves para adultos mais velhos, dada a sua maior suscetibilidade à hipertermia e condições de saúde comuns agravadas pela exposição ao calor.

Apesar de uma extensa pesquisa confirmar os efeitos individuais do calor extremo no risco de saúde e mortalidade dos idosos, a exposição ao calor em nível de população mais velha recebeu menos atenção.

Uma equipe internacional de pesquisadores do Centro Euro-Mediterrâneo de Mudanças Climáticas, da Universidade de Boston e da Universidade Ca’ Foscari de Veneza, liderada por Giacomo Falchetta, quantificou a exposição crônica a altas temperaturas médias e a frequência e intensidade da exposição aguda a altas temperaturas extremas, para diferentes faixas etárias em todo o mundo.

Os autores sugerem que as áreas com o envelhecimento da população e o aumento das exposições ao calor provavelmente enfrentarão demandas consideráveis por serviços sociais e de saúde, exigindo novas intervenções políticas.

Calor extremo poderá matar 5 vezes mais até 2050, diz relatório divulgado pela OMS.

Os resultados podem ser úteis para avaliações relacionadas à saúde e planejamento de adaptação às mudanças climáticas. (ecodebate)

terça-feira, 25 de junho de 2024

Em RJ 1 em 5 Lares estão em áreas de inundação

1 em 5 Lares no Rio em áreas de inundação: Representação cobra ações contra negligência do Governo.

Grupo apresenta representação no Ministério Público pedindo a ações de responsabilização do governo estadual. Uma pesquisa organizada pela Casa Fluminense apontou que, hoje, 1 a cada 5 lares na metrópole do Rio de Janeiro está em área de alto risco de inundação.
Alarmados com o alto índice de moradias em risco de inundação no Rio, ONGs e Frente Parlamentar pedem ao MP medidas contra o governo estadual.

Levantamento aponta que um em um a cada cinco lares da Região Metropolitana está em risco. Grupo apresenta representação no Ministério Público pedindo a ações de responsabilização do governo estadual

Uma pesquisa organizada pela Casa Fluminense apontou que, hoje, 1 a cada 5 lares na metrópole do Rio de Janeiro está em área de alto risco de inundação. O levantamento da ONG — que atua há 10 anos propondo políticas e ações públicas para a região metropolitana do Rio — também denuncia os riscos de deslizamentos em 1 a cada 100 domicílios particulares da região. O município de Magé se destaca por ter 66% dos seus domicílios particulares nesse risco, são mais de 73 mil lares nessas condições no município.

Os alertas integram a representação que foi entregue ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. O documento foi organizado pela Casa Fluminense, a Frente Parlamentar pela Justiça Climática, o escritório Hotta Advocacia e 71 outras organizações e movimentos da sociedade civil.

“As populações afetadas, que são vulnerabilizadas em virtude de questões sociais e geográficas, seguem em risco enquanto não houver políticas adequadas de mudanças climáticas e a implementação de medidas efetivas, especialmente de adaptação climática” aponta Larissa Amorim, Coordenadora Executiva da Casa Fluminense.

O objetivo da representação é que o Ministério Público inclua esses fatos no processo administrativo que avalia as irregularidades, para propor medidas efetivas. Foram destacadas ações urgentes, como a elaboração de planos de adaptação, mitigação e contingência, além da destinação de recursos para essas áreas.

“A denúncia busca responsabilizar a ausência do governo do estado frente às mudanças climáticas e a falta de suporte à população em momentos de estágio de emergência. Vamos apresentar dados sobre como essa negligência pode impactar a vida, a saúde, o orçamento e os direitos básicos das famílias”, explica Felipe Hotta, sócio e advogado do escritório Hotta Advocacia, responsável por garantir suporte técnico-jurídico à demanda das organizações.

O Deputado Estadual Flávio Serafini (PSOL), presidente da Frente Parlamentar por Justiça Climática da ALERJ, reforçou que moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro estão passando por perigos desnecessários devido à demora na implementação de políticas públicas mitigatórias. O diagnóstico sobre as leis para clima produzido pela Frente Parlamentar revela que 8 dos 10 instrumentos de execução da política para enfrentamento às mudanças climáticas (Lei nº 5690/2010) não estão sendo cumpridos, expondo famílias a riscos que poderiam ser evitados.

“O que ficou revelado com o diagnóstico que produzimos é que, apesar da legislação existir, o governo não cumpre e esse não cumprimento expõe pessoas, famílias e sonhos a riscos que poderiam ser diminuídos. Se tivéssemos um Plano Estadual para Mudanças Climáticas, com ações de adaptação robustas, as chuvas de janeiro e fevereiro teriam produzido um impacto menor na baixada e no Rio. É pública a previsão de chuvas mais intensas e ondas de calor e o governo estadual tem sido negligente e omisso em não cumprir a legislação. O estado precisa assumir sua responsabilidade”, alertou Serafini.

Rio em números

O estado do Rio de Janeiro atravessou mais de três grandes enchentes só no primeiro trimestre de 2024, que levaram a óbito 12 pessoas. Durante as fortes chuvas e enchentes, o atual governador estava na Disney. Nos últimos quatro anos, houve 140 mortes, 690 feridos, 1.942 enfermos, 8.813 desabrigados, 145.077 desalojados, 229 desaparecidos e pelo menos 3 milhões de outros afetados por desastres ambientais. Além disso, houve perdas de infraestrutura com 94.919 unidades habitacionais danificadas e outras 887 destruídas, totalizando um prejuízo estimado em R$ 1,1 bilhão, já os custos de perdas em estruturas públicas somam R$ 472 milhões.

E o impacto provocado pelas enchentes não termina depois que a água seca. O documento que foi entregue ao Ministério Público também denuncia atrasos na entrega do Cartão Recomeçar, o qual providencia auxílio emergencial às populações atingidas pelas chuvas, em pelo menos 5 municípios: São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis e Rio de Janeiro.

Além de trazer dados sobre o panorama da crise climática, a representação também traz dados sobre a má gestão do governo. Apesar de ter uma Política Estadual sobre Mudança Global no Clima aprovada desde 2010, até hoje o estado não apresenta diretrizes sobre o tema. A política previa a elaboração de uma série de instrumentos, mas das dez ferramentas requeridas em lei, apenas duas já foram executadas, segundo relatório de monitoramento produzido pelo mandato do Deputado Flávio Serafini. Outro destaque é o baixo percentual orçamentário que o governo Castro vem destinando à pasta do clima, mostrando que não é uma prioridade da gestão.

Trecho da Avenida Brasil inundado

Chuvas no RJ deixam mortos e desaparecidos, alagam hospital e fecham Avenida Brasil.

A representação foi entregue ao promotor, Dr. Vinicius Lameira. O objetivo do grupo é que o Ministério Público inclua esses fatos no processo administrativo relativo ao tema a fim de avaliar as irregularidades e propor medidas efetivas em face do Estado. Foram destacadas algumas ações urgentes como a elaboração de planos de adaptação, mitigação e contingência, além da destinação de recursos para essas áreas. (ecodebate)

Os avanços desiguais do IDH no Brasil, Venezuela e Tailândia

Os novos dados do IDH confirmam que a economia brasileira está presa na armadilha do baixo crescimento, a Venezuela está em retração economia e a Tailândia continua avançando.
IDH do Brasil fica abaixo do registrado antes da pandemia

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP na sigla em inglês) divulgou recentemente o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é um indicador sintético usado para estimar o grau de desenvolvimento humano de uma determinada sociedade com base na avaliação de três áreas fundamentais: saúde, educação e renda. O IDH é um indicador numérico que varia entre 0 e 1.

Quanto mais próximo de zero, menor é o nível de bem-estar e quanto mais próximo de 1, maior é o nível de bem-estar e progresso nacional. O ranking global de 2022 apresenta o nível do IDH por ordem decrescente de 193 países do mundo.

O gráfico abaixo mostra o IDH do Brasil, Venezuela e Tailândia de 1990 a 2022. Nota-se que, em 1990, a Venezuela tinha o maior IDH (0,657), seguido pelo Brasil (0,620) e pela Tailândia (0,581) em terceiro lugar. Nos 25 anos seguintes, em 2015, a Venezuela (0,766) continuava à frente do Brasil (0,752), mas a Tailândia (0,789) já havia passado os dois países sul-americanos. Entre 2015 e 2019, a Venezuela caiu para um IDH de 0,720 e a Tailândia (com 0,801) entrou na categoria de muito alto IDH.

Entre 2019 e 2022 a Venezuela teve uma grande queda do IDH, que caiu para a categoria média, com valor de 0,699. O Brasil também teve queda durante a pandemia da covid-19, recuperou um pouco em 2022, quando registrou um IDH de 0,760, mas não ultrapassou o valor pré-pandêmico. Já a Tailândia também apresentou queda em 2021, mas teve um IDH de 0,803 e conseguiu ultrapassar o nível anterior à pandemia. Entre 1990 e 2022 o IDH da Venezuela cresceu apenas 6%, do Brasil cresceu 23% e o IDH da Tailândia cresceu 38%.
Os novos dados do IDH confirmam que a economia brasileira está presa na armadilha do baixo crescimento, a Venezuela está em retração economia e a Tailândia continua avançando. A Tailândia era muito mais pobre do que a Venezuela e o Brasil, mas já atingiu a categoria de cima do ranking global do IDH.

O gráfico abaixo, com base nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), mostra a evolução da renda per capita, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp), para os 3 países entre 1980 e 2024. Nota-se que, em 1980, a Venezuela tinha uma renda per capita de US$ 20,3 mil, quase o dobro dos US$ 11,4 mil do Brasil e 5 vezes maior do que os US$ 3,9 mil da Tailândia. Mas nas duas últimas décadas o ritmo de avanço foi desigual. Em 2024, o FMI estima uma renda per capita de US$ 19,2 mil na Tailândia, de US$ 15,4 mil no Brasil e de somente US$ 6,9 mil na Venezuela. O país de Simon Bolívar tem hoje em dia uma renda per capita 3 vezes menor do que a da Tailândia, que, inclusive, está deixando também o Brasil para trás.

O avanço da renda per capita e do IDH da Tailândia ocorreu paralelamente ao avanço da transição demográfica. O gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU, mostra que a Tailândia tinha a maior taxa de fecundidade total (TFT) no início dos anos de 1970, mas promoveu uma transição da fecundidade muito rápida. Em 1950, a TFT era de 6,64 filhos por mulher na Venezuela, de 6,34 filhos na Tailândia e de 6,12 filhos por mulher no Brasil. Mas em 224, a TFT ficou em 1,31 filho por mulher na Tailândia, 1,62 no Brasil e 2,15 filhos por mulher na Venezuela.

A queda mais rápida da fecundidade na Tailândia possibilitou uma mudança na estrutura etária e o país asiático conseguiu aproveitar o 1º bônus demográfico para alavancar o seu desenvolvimento econômico e social. Concomitantemente houve avanços na longevidade. Em 2024, a expectativa de vida ao nascer está estimada em 73,1 anos na Venezuela, 76,4 anos no Brasil e 80,1 anos na Tailândia. Portanto, o país asiático possui melhores indicadores demográficos.

Mas somente a demografia não explica o melhor desempenho da Tailândia. O gráfico abaixo, também com dados do FMI, mostra que a Tailândia tem taxas de investimento, consistentemente, superiores ao apresentado pelos 2 países latino-americanos. Na média do período, a Tailândia teve uma taxa de investimento próxima a 30% do PIB e o Brasil e a Venezuela abaixo de 20% do PIB. O investimento é o motor da geração de emprego, renda e avanços tecnológicos.

Sem dúvida, para vencer a pobreza e avançar no IDH é preciso aproveitar o 1º bônus demográfico, como mostrei no artigo “Os países com menor fecundidade possuem maior IDH” (Alves, 11/03/2022), publicado aqui no Ecodebate. Todos os países com IDH muito alto ou alto avançaram na transição da fecundidade e passaram por uma mudança na estrutura etária com redução da razão de dependência demográfica.

Mas não basta a mudança na estrutura etária, para haver desenvolvimento é necessário que os países mantenham taxas de investimento acima de 25% do PIB, para garantir empregos de qualidade e maior produtividade da força de trabalho. A Tailândia conseguiu manter taxas de investimento além daquela necessária para a simples reposição da depreciação produtiva.

A combinação da transição demográfica com a maior complexidade do modelo de produção tem garantido que a Tailândia ofereça melhor qualidade de vida para a sua população do que o Brasil e a Venezuela. (ecodebate)

domingo, 23 de junho de 2024

Gestão da Água para um Futuro Sustentável

Gestão da Água para um Futuro Sustentável: Aprendendo com a Fúria da Água.
Fac-símile do “Mapa Hidrogeológico do Aquífero Guarani”.

Sem inteligência social e com a infraestrutura natural destroçada, temos pela frente um longo caminho para adquirirmos condições de enfrentar a emergência climática e ambiental que estamos atravessando

O município de Ribeirão Preto, localizado na região Nordeste do Estado de São Paulo, com uma população de mais de 600 mil habitantes, é abastecido totalmente pelas águas subterrâneas do Aquífero Guarani. Porém, essa região outrora chamada de a “Califórnia Brasileira” devido, principalmente, pela sua pujança no agronegócio também apresenta seus crônicos problemas relativos a água.

Será que os questionamentos feitos há quase duas décadas atrás continuam atuais? O gerenciamento desse reservatório subterrâneo melhorou ou piorou?

“Nos últimos dias de hoje, muito tem se falado de que as águas superficiais seriam a saída para suprir o déficit do abastecimento populacional por causa do comprometimento das águas subterrâneas, seja pela elevada retirada provocando rebaixamento dos níveis d’água ou pela sua qualidade colocada em xeque, como consequência das possíveis fontes de contaminação. É aí que começa a aparecer, como uma tábua de salvação para alguns grupos, o decantado Rio Pardo.

As águas do Rio Pardo, de qualidade duvidosa, não são a solução como alguns lobbies preconizam, principalmente em época de crise ou de falta de água para o abastecimento público. Muito embora despoluir e preservar nossos rios deva ser também nossa preocupação constante, Ribeirão Preto já se abastece das águas subterrâneas do Aquífero Guarani há várias décadas. Este sistema sim, que faz parte do metabolismo urbano de Ribeirão Preto, é que deve ser mais bem compreendido e, consequentemente, gerenciado.

Como de certa forma esse gerenciamento já vem sendo feito, para que suas ações sejam levadas a um bom termo necessariamente devem passar pelo incentivo de alguns pontos cruciais: uma política de manejo, incluindo a recuperação de poços abandonados e adaptação de poços para observação do nível d’água; a otimização do tempo de bombeamento dos poços profundos; um plano de preservação para águas captadas do Aquífero Guarani; a diminuição das perdas na rede de distribuição e uma estratégia de implantação de hidrômetros, com bônus para os usuários do sistema que não ultrapassem um limite máximo necessário”.

Consumo consciente da água é base para um futuro sustentável

E com relação aos diferentes atores que atuam na gestão do aquífero, em que cenário trabalham hoje? É muito diferente de quase vinte anos atrás?

“Mas, nos dias de hoje, não é preciso ser um Kafka para que se tenha conflito interior diante do cenário complexo e muitas vezes nebuloso, quando se trata da proteção e da utilização sustentável das águas subterrâneas desse reservatório. Os prognósticos relacionados ao rebaixamento dos níveis destas águas pelo excesso de retirada por meio dos poços e aos riscos devido à fragilidade das rochas, frente às cargas de contaminantes potenciais existem há algum tempo. São trabalhos técnicos que necessitam de uma ação política, mas que na maioria dos casos terminam ”esquecidos’’ nos escaninhos da burocracia. Nestes casos, pode até acontecer que alguns documentos técnicos, produzidos por instituições de pesquisa e mesmo pelas universidades, acabem “engavetados” por causa dos conteúdos existentes.

Isso tudo é um prato cheio para que ONGs chapa-branca e consultoras de plantão atuem com certa desenvoltura nas lacunas dos espaços institucionais, sempre correndo atrás do lucro fácil e imediatista. Assim, o absurdo ou a loucura que parece ser inicialmente de um universo particular Kafkaniano (termo baseado no escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924) classificando uma situação desesperadora, claustrofóbica e traumática, a qual não se visualiza uma possível solução ao final), começa a ganhar força e determinadas ações específicas no sentido da gestão pública do recurso hídrico começam a perder posições importantes. Para um cidadão comum talvez fique difícil entender os diversos atores que atuam neste ambiente cada vez mais difuso, com princípios éticos nitidamente indefinidos nas relações pessoais do dia a dia”.

Saindo desse ambiente ribeirão-pretano, quase sempre com muito calor, baixa umidade do ar no dia a dia e muitas vezes extremamente seco, distante cerca de 1.400 km dessa região, o município de Porto Alegre no Estado do Rio Grande do Sul, com a quase totalidade dos outros municípios gaúchos, vivem a tragédia das enchentes por causa das chuvas excepcionais que desabaram no território estadual nesse mês de maio de 2024.
Técnicas inovadoras de gestão da água para um futuro sustentável

As áreas dos territórios municipais que foram arrasadas totalmente, muitas delas situadas em área de transbordamento natural dos rios da bacia hidrográfica onde estão assentadas e ocupadas, devem ser vistas como áreas de risco hoje e facilmente mapeadas em função do grau de destruição causado pelas chuvas em tempos de aquecimento global. Se existirem mapeamentos de áreas de risco e planos diretores municipais anteriores são documentos que devem servir de referência e acrescidos dos limites das áreas inundadas para futuras tomadas de decisões.

A realocação de bairros e vilas, embora dura e complexa para a população, deve ser levada em conta para não serem recuperados ou reconstruídos setores que fatalmente podem estar sujeitos a novos episódios climáticos catastróficos. Obviamente que não devem ser descartadas obras de engenharia, onde forem possíveis, como diques, barragens de contenção, equipamentos de bombeamento, entre outros. Pode ser que o município de Porto Alegre, principalmente no setor que existe o dique que margeia o Rio Guaíba, construído nos anos 70 do século passado, ainda consiga contar com essa imensa obra de engenharia desde que seja reavaliada a sua função e redimensionada para esses novos tempos climáticos.

As áreas limpas dos resíduos da construção civil poderiam servir como áreas de amortecimento de cheias, auxiliando na recarga dos aquíferos de pouca profundidade, como também ter esse material processado em usinas de beneficiamento e reutilizado no erguimento de novas moradias.

Gestão adequada da água garantirá um futuro sustentável

“Por outro lado, as tragédias das enchentes não são de agora, mas as atuais são mais graves, comprovadamente, por causa das mudanças climáticas que o Planeta Terra vem passando. Algumas das causas, principalmente as que provocam enchentes no meio urbano, são conhecidas como: o acúmulo de lixo em vias públicas, a impermeabilização inadequada do solo, a deficiência do sistema de macrodrenagem, a duplicação oportunista de pavimentação asfáltica recobrindo a preexistente (geralmente de paralelepípedos) e a ocupação desordenada do território municipal pela especulação imobiliária”.

Assim, nesse fubá climático instalado, a comunidade científica tem sido ou foi pouco ouvida ou as atenções de parte da sociedade e da classe política acabam por ouvir mais os negacionistas climáticos para que o caos perdure a seu favor?

Sem inteligência social e com a infraestrutura natural destroçada, temos pela frente um longo caminho para adquirirmos condições de enfrentar a emergência climática e ambiental que estamos atravessando. Temos que ter em mente que isso é apenas um começo. Temos que agir estrategicamente se quisermos encorajar a sociedade a enfrentar os tempos que estão aí e os que advirão.

As universidades são instituições fundamentais para isso. Representam a inteligência estratégica que sobrou em um Estado que está sendo desmontado peça por peça. Sem inteligência social, a sociedade não só fica muito mais vulnerável frente aos impactos adversos dos tempos severos, mas também fica refém da ação de forças externas, sobre as quais não tem controle, como o Exército e empresas privadas.

Tudo conduz para a ideia que nada podemos fazer enquanto sociedade, cada vez mais submetida à inclemência da natureza e ao horror de políticas autocráticas e ignorantes. A Universidade é a esperança possível para desenvolver uma inteligência social que encoraje a sociedade a enfrentar a emergência climática-ambiental do século XXI”.
Futuro da água: soluções hídricas criativas e sustentáveis

Para concluir, lembrando que o sistema água subterrânea e água superficial está interligado (a água vem do céu!), a água em fúria, seja porque é mal gerenciada como no caso do Aquífero Guarani em Ribeirão Preto, ou seja porque não foram respeitadas as várzeas de inundação natural, como aconteceu com boa parte dos municípios gaúchos, tem mandado seus recados e há tempos. Será que não estamos sabendo ouvi-la? (ecodebate)

Brasil tem 47 GW em solar evitando emissão de 57 milhões de toneladas de CO2

Com 47 GW instalados no Brasil, solar já evitou a emissão de 57 milhões de toneladas de CO 2 no país. De acordo com a Absolar, setor foto...