quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ministério do Meio Ambiente descobre o cerrado brasileiro

O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado parece o PAC, anuncia com estardalhaço coisas que o governo deveria estar fazendo calado há muito tempo. Trata como novidade o que não passa de velhas dívidas acumuladas na lerdeza da rotina. Mas ele tem, sobre o PAC, a vantagem de começar com algum resultado, em vez de sair inaugurando o que ainda é só promessa de campanha presidencial da ministra Dilma Rousseff. Sem falar que, ao contrário do outro, é a favor do meio ambiente. Estreou com a destruição de seis fornos de carvão em um assentamento da reforma agrária em Niquelândia. Com direito a cenografia de festa, até mesmo com o ministro Carlos Minc desfraldando o colete em cima do trator que consumou o "bota abaixo". E a um assentado reclamando que nunca apareceu em Niquelândia alguém para lhe dizer que não fica bem colher carvão vegetal de mata nativa em nome da reforma agrária. Ambos estiveram esplêndidos em seus papéis. Mas o assentado superou de longe o ministro em exagero. Disse que esses sustos só quem leva no Brasil é o pobre. Ledo engano. Se em alguma conta da população com o governo os pobres andam devendo cada vez mais ao País é na dos flagrantes de desmatamento. Como estava entendido no Ministério do Meio Ambiente que o pobre nunca desmata e sempre conserva, oficialmente as derrubadas dos assentamentos do INCRA, das reservas extrativistas, dos territórios indígenas, quilombos e outros santuários das populações tradicionais durante muito tempo deixaram de existir. O que até dá ao tal assentado uma certa razão ao dizer que nunca recebeu uma visita de autoridade para "instruí-lo". Na prática, a autoridade "instrui" é assim mesmo, com trator e multa. Mas Niquelândia fica em Goiás, um dos Estados que mais devastam o cerrado. E Goiás fica ao lado de Brasília, que até hoje não tinha visto o que vinha acontecendo há anos bem debaixo dos jatinhos que levam sem parar, de cá para lá, nossas excelências. Elas devem enxergar mal. Porque, ali mesmo, no começo da década, sobrevoando a região num monomotor para escolher a área em que implantaria uma reserva ambiental da fundação O Boticário, a engenheira florestal Verônica Theulen teve medo de perder a corrida para os fornos de carvão, que avançavam de todos os lados sobre a paisagem. Foi por essas e outras que Goiás perdeu 162 mil km² de cerrado. Em grande parte, nas barbas do governo Lula. O cerrado perdeu em poucas décadas 1 milhão de km² para pastos e plantações, num país que ainda ouve calado o ministro Reinhold Stephanes dizer que a agricultura brasileira está estrangulada pelo excesso de territórios protegidos. Tudo porque ele põe na conta a imensidão de hectares que o Brasil finge proteger, mas não protege, porque o Ministério do Meio Ambiente considerava as populações tradicionais e os assentamentos aliados naturais da política nacional de conservação. O Ministério da Agricultura e o do Meio Ambiente podiam em tudo. Mas nisso tinham acertado o passo e o ministro Carlos Minc está nos fazendo o favor de finalmente desacertá-los.

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