terça-feira, 31 de outubro de 2023

Por que o Sul do Brasil é mais suscetível à ocorrência de ciclones extratropicais?

Segundo pesquisador do Inpe, explicação está na diferença de temperatura e umidade entre o continente e as águas do mar próximas à costa. Estudos apontam aumento da intensidade do fenômeno.
Mapa apresenta anomalia de temperatura da superfície do mar em 11/09/2023.

Os ciclones extratropicais são fenômenos meteorológicos comuns que se formam sobre o oceano ou o continente e costumam provocar muitas ondas quando estão sobre os oceanos. Contudo, podem ser devastadores quando ganham intensidade e tocam o continente, especialmente pela força dos ventos. Desde junho, ao menos quatro atingiram o Sul do Brasil. Mas por que essa região é aparentemente mais suscetível a esses fenômenos?

“Toda vez que passa uma frente fria, ela está associada a um ciclone extratropical”, explica o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Manoel Alonso Gan.

Dedicado desde 1988 ao estudo de ciclones extratropicais e temas relacionados, o pesquisador explica que nem todo ciclone é intenso e provoca ventos fortes o suficiente para provocar destruição. Os mais intensos costumam ocorrer na costa da região Sul do Brasil no período entre maio e setembro. Isso decorre da diferença de temperatura e umidade entre o continente e as águas do mar próximas à costa, ou seja, o deslocamento do ciclone do continente mais frio e seco em direção ao oceano mais quente contribui para que haja transferência de calor e umidade do oceano para a atmosfera.

“Neste ano, a temperatura da superfície do mar está ligeiramente mais alta do que a climatologia desta época do ano. Isso contribui para que o oceano forneça mais energia em forma de calor e umidade para a atmosfera e, assim, os ciclones podem se tornar mais intensos”, analisa o pesquisador.

Manoel Alonso Gan explica que o calor oriundo do oceano aquece o ar próximo à superfície. Como o ar mais quente é menos denso que o ar frio, fica mais instável e adquire um movimento ascendente. A queda da densidade favorece também a queda da pressão do centro do ciclone. Quando esse mecanismo ocorre, o fenômeno pode ficar mais intenso. Além disso, o ar sobre o oceano mais quente consegue armazenar mais umidade, e ao ascender para níveis mais altos da atmosfera, o vapor d’água esfria e muda para a fase líquida. “Durante esse processo, há liberação de calor, conhecido como calor latente, que aquece mais atmosfera e a torna mais instável e, assim, a pressão em superfície cai mais um pouco”, detalha.

Mapas disponíveis no Inmet mostram a temperatura da superfície do mar ao longo da costa brasileira. Cada período dever ser comparado com a variação climatológica da época, para saber se as águas estão mais quentes ou não.

O pesquisador alerta que o fenômeno ocorrido no Rio Grande do Sul na semana passada não pode ser atribuído exclusivamente a um ciclone extratropical. “O ciclone não foi a única explicação para toda essa chuva”.

Segundo ele, concomitantemente, podem ter ocorrido o estacionamento de uma frente com ar quente e úmido vindo da região Amazônica e a formação de baixa pressão. Uma análise detalhada desse evento será feita pelo Inpe para avaliar todos os fenômenos e os fatores que ocorreram. “Faremos uma análise detalhada do caso para compreender com precisão os fatores que contribuíram para essa situação”, afirma Gan.

Não há dados disponíveis nos centros meteorológicos brasileiros que quantifiquem o número e a intensidade de ciclones extratropicais intensos que se formam ao longo do ano e passam pela costa da região Sul do Brasil. Contudo, de acordo com o pesquisador do Inpe, há variabilidade interanual, com anos com maior frequência e outros com menor formação de ciclones.

Ele acrescenta que alguns estudos têm mostrado tendência de redução na formação de ciclones extratropicais devido às mudanças climáticas. “No entanto, observa-se um aumento na frequência de ciclones mais intensos”, pondera o pesquisador.

A nota técnica emitida no fim de agosto conjuntamente por Inpe, Inmet e Funceme para os meses de setembro, outubro e novembro indica chuvas acima da média para o Sul do Brasil. Segundo a nota, a condição reflete a ação do El Niño. (ecodebate)

Reduzir 50% no consumo de carne e laticínios beneficia clima, biodiversidade e segurança alimentar

Redução de 50% no consumo de carne e laticínios pode beneficiar clima, biodiversidade e segurança alimentar.
Redução de 50% no consumo de carne e laticínios pode beneficiar clima, biodiversidade e segurança alimentar.

Estudo mostra que a substituição de 50% da carne e dos laticínios por alternativas alimentares à base de plantas pode reduzir as emissões globais da agricultura, salvar florestas e melhorar a nutrição de milhões de pessoas.

Substituir 50% da carne e dos produtos lácteos por alternativas à base de plantas até 2050 pode reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) relacionadas com a agricultura e o uso do solo em 31% e travar a degradação das florestas e dos solos naturais, de acordo com uma nova investigação.

De acordo com o estudo recém-publicado na Nature Communications, benefícios adicionais para o clima e a biodiversidade poderiam resultar do reflorestamento de terras poupadas da produção pecuária quando a carne e os produtos lácteos fossem substituídos por alternativas à base de plantas, mais do que duplicando os benefícios climáticos e reduzindo para metade futuros declínios na integridade do ecossistema até 2050.

A área restaurada poderá contribuir com até 25% das necessidades globais estimadas de restauração de terras no âmbito da Meta 2 do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming Montreal até 2030.

O estudo, realizado por pesquisadores da UVM, do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA), da Alliance of Bioversity International e do CIAT, é o primeiro a analisar a segurança alimentar global e os impactos ambientais do consumo de carne e leite de origem animal em grandes escalas que consideram a complexidade dos sistemas alimentares.

Os autores descobriram que um cenário de substituição de 50% reduziria substancialmente os impactos crescentes dos sistemas alimentares no ambiente natural até 2050. Em comparação com 2020, os impactos incluiriam:

• A área agrícola global diminui 12% em vez de expandir.

• O declínio das áreas florestais e de outras terras naturais foi quase completamente interrompido.

• As entradas de nitrogênio nas terras agrícolas representam quase metade das projeções.

• O uso da água diminui 10% em vez de aumentar.

• Sem ter em conta qualquer sequestro de carbono nas terras poupadas, as emissões de GEE poderão diminuir em 2,1 Gt CO2 eq ano -1 (31%) em 2050 (1,6 Gt CO2 eq ano -1 em média em 2020–2050).

• A subnutrição diminui globalmente para 3,6%, em comparação com 3,8% no cenário de referência (reduzindo o número de pessoas subnutridas em 31 milhões).

Os autores desenvolveram cenários de mudanças na dieta com base em receitas vegetais para carne bovina, suína, frango e leite. Estas receitas foram concebidas para serem nutricionalmente equivalentes aos produtos proteicos originais de origem animal e realistas para as capacidades existentes de produção de alimentos e ingredientes de produção disponíveis globalmente.

Para garantir a relevância e como potencial utilizador dos resultados, a equipa de investigação solicitou a colaboração da Impossible Foods, uma empresa que desenvolve substitutos vegetais para produtos à base de carne. A empresa forneceu receitas genéricas para os substitutos de carne vegetais utilizados na análise. A equipe científica teve controle total sobre a tomada de decisões para este estudo revisado por pares, e os dados não são específicos da Impossible Foods.

O benefício ambiental total das mudanças na dieta pode ser alcançado se as terras agrícolas poupadas à pecuária e à produção de rações forem restauradas através de uma florestação orientada para a biodiversidade. No cenário de 50%, os benefícios da redução das emissões provenientes do uso do solo poderiam duplicar em comparação com um cenário sem florestação – uma redução total de 6,3 Gt CO2 eq ano -1. O cenário de substituição de 50% reduziria os declínios previstos na integridade do ecossistema em mais de metade.

Embora os resultados apoiem o aumento da utilização de substitutos de carne à base de plantas, os autores reconhecem que o gado é uma valiosa fonte de rendimento e nutrição para os pequenos agricultores em países de baixo e médio rendimento, e tem papéis culturais significativos, reduz o risco e diversifica os pequenos agricultores, renda. Simultaneamente, as alterações climáticas ameaçam os meios de subsistência dos pequenos agricultores.

Serão, portanto, cruciais ações políticas e de gestão rápidas para evitar riscos ambientais e apoiar os agricultores e outros intervenientes na cadeia de valor da pecuária para uma transição do sistema alimentar socialmente justa e sustentável. Isto é particularmente importante tendo em conta os recentes reveses na consecução da segurança alimentar a nível mundial.

De acordo com o estudo, os impactos entre regiões podem diferir devido a diferenças no tamanho da população e nas dietas, à produtividade agrícola desigual e à participação no comércio internacional de produtos agrícolas. Os principais impactos na utilização de fatores de produção agrícolas ocorrem na China e nos resultados ambientais na África Subsaariana e na América do Sul. Estas diferenças regionais também poderiam ser utilizadas para conceber melhores intervenções. (ecodebate)

Mudanças climáticas afetam qualidade da água de rios

Mudanças climáticas afetam a qualidade da água dos rios no mundo.

Crise climática seca rios gigantes em três continentes.

O Rio Loire, o maior da França, com mais areia do que água no seu leito: alta temperatura e mudança nos padrões climáticos secam rios e ameaçam abastecimento de água.

Temperaturas recordes do verão no Hemisfério Norte ameaçam abastecimento de água e reduzem vazão dos caudalosos Loire, Danúbio, Yangtze e Colorado.

O ciclo da água está diretamente ligado ao clima. Assim, mudanças no clima que alterem o regime de chuvas podem provocar o aumento da ocorrência de eventos hidrológicos extremos, como inundações e longos períodos de seca. Esses eventos afetam a oferta de água, ameaçando o suprimento de recursos hídricos para todos.

A qualidade da água está se deteriorando nos rios em todo o mundo devido às mudanças climáticas e ao aumento de eventos climáticos extremos

As mudanças climáticas e o aumento das secas e das tempestades colocam sérios desafios à nossa gestão da água. Não só a disponibilidade da água está sob pressão, mas também a sua qualidade.

Contudo, de acordo com o relatório mais recente do IPCC, a nossa compreensão atual desta questão é inadequada. Para preencher esta lacuna, um grupo internacional de cientistas reuniu um grande conjunto de pesquisas sobre a qualidade da água nos rios em todo o mundo.

Mudanças climáticas podem mudar a dinâmica da água no mundo.

O estudo publicado na Nature Reviews Earth & Environment mostra que a qualidade da água dos rios tende a deteriorar-se durante eventos climáticos extremos. À medida que estes eventos se tornam mais frequentes e graves devido às alterações climáticas, a saúde dos ecossistemas e o acesso humano à água potável podem estar cada vez mais ameaçados.

A pesquisa liderada pela Dra. Michelle van Vliet, da Universidade de Utrecht, analisou 965 casos de mudanças na qualidade da água do rio durante condições climáticas extremas, como secas, ondas de calor, tempestades e inundações, bem como sob mudanças climáticas de longo prazo (multidecadais).

A análise mostra que, na maioria dos casos, a qualidade da água tende a deteriorar-se durante secas e ondas de calor (68%), tempestades e inundações (51%) e sob alterações climáticas de longo prazo (56%). Durante as secas, há menos água disponível para diluir os contaminantes, enquanto as tempestades e as inundações geralmente resultam em mais contaminantes que escoam da terra para os rios e riachos.

Melhorias ou respostas mistas na qualidade da água também são relatadas em alguns casos devido a mecanismos de neutralização, por exemplo, quando o aumento do transporte de poluentes é compensado por uma maior diluição durante eventos de inundação.

As alterações na qualidade da água são fortemente impulsionadas pelas alterações na vazão dos rios e na temperatura da água. O uso do solo e outros fatores humanos, como o tratamento de águas residuais, também determinam a forma como isto se desenrola.

Os resultados do estudo sublinham a necessidade urgente de uma melhor compreensão das mudanças na qualidade da água durante eventos climáticos extremos e dos mecanismos subjacentes a isto.

(ecodebate)

Perspectivas econômicas da América Latina e Caribe em 2023 e 2024

Segundo a Cepal, o baixo crescimento da América Latina e do Caribe (ALC) pode ser agravado pelos efeitos negativos do agravamento dos choques climáticos

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) divulgou, na primeira semana de setembro, seu relatório anual “Estudo Econômico da América Latina e do Caribe”, para 2023 e 2024. O relatório indica que os países da região continuarão enfrentando um cenário econômico de baixo crescimento. Estima-se que o produto interno bruto (PIB) regional cresça 1,7% em 2023 e 1,5% em 2024, números abaixo da média global.

Para 2023, a CEPAL projeta que todas as sub-regiões mostrarão menor crescimento em relação a 2022: a América do Sul crescerá 1,2% (3,7% em 2022), o grupo formado por América Central e México crescerá 3,0% (3,4% em 2022) e o Caribe (excluindo a Guiana) crescerá 4,2% (6,3% em 2022), conforme mostra a tabela abaixo.

A Argentina apresentará o pior desempenho em 2023, com queda do PIB de 3% no atual ano. Os outros dois países com recessão são o Haiti (-0,7%) e o Chile (-0,3%). Para o Brasil, a Cepal estima crescimento de 2,5% em 2023.

As projeções para 2024 indicam que o baixo dinamismo econômico na região será mantido. Prevê-se que o contexto internacional continue sendo pouco favorável, com crescimento do PIB e do comércio mundial muito abaixo das médias históricas. Internamente, o espaço de política fiscal permanecerá limitado, embora a redução da inflação na região abra mais espaço para a política monetária nos países.

Nessas circunstâncias, prevê-se um crescimento médio de 1,2% para a América do Sul, 2,1% para a América Central e México, e 2,8% para o Caribe (excluindo a Guiana), em 2024, conforme a tabela abaixo.

Na estimativa da Cepal, a Argentina terá nova recessão em 2024 (-1,6%) e o Brasil terá o pior crescimento do PIB da América do Sul (1,4%), à frente apenas da Argentina. O melhor desempenho nos dois anos é da Guiana.

Segundo a Cepal, o baixo crescimento da América Latina e do Caribe (ALC) pode ser agravado pelos efeitos negativos do agravamento dos choques climáticos, especialmente se não forem feitos investimentos em adaptação e mitigação das mudanças climáticas e investimentos na mudança da matriz energética.

Como mostrei no artigo “A Ásia emergente e a América Latina submergente” (Alves, 06/09/2023) a América Latina e Caribe tem apresentado uma trajetória submergente, pois cresce sistematicamente abaixo da média mundial.

Os países da Ásia emergente e, em especial, do Leste Asiático possuem maiores taxas de poupança e de investimento e maior competitividade nas exportações. Portanto, estão mais capacitados para aproveitar o 1º e o 2º bônus demográfico.

Tanto o Brasil quanto a ALC estão em rápido processo de envelhecimento e precisam acelerar o ritmo de avanço econômico para conquistar melhorias sociais e ambientais.

Os países da Ásia emergente estão conseguindo sucesso na redução da pobreza e no aumento da renda, enquanto a ALC está presa nas armadilhas da renda média e do baixo crescimento. É uma situação insustentável. (ecodebate)

domingo, 29 de outubro de 2023

Ondas de calor são cada vez mais prováveis

Ondas de calor extremas mais frequentes impactarão ainda mais o equilíbrio ecológico, bem como o desenvolvimento social e econômico sustentável.
“Se as medidas apropriadas não forem tomadas, a probabilidade de ocorrência de ondas de calor extremas aumentará e impactará ainda mais o equilíbrio ecológico, bem como o desenvolvimento social e econômico sustentável”.

31/07/23 foi o dia mais quente já registrado no Reino Unido, com temperaturas superiores a 40ºC cerca de 104ºF). A onda de calor serve como uma prévia do que os meteorologistas teorizam que será o clima típico de verão no Reino Unido em 2050. O calor continua em toda a Europa hoje, bem como nos Estados Unidos, onde mais de um terço do país está sob alertas de calor.

As temperaturas remontam a pouco mais de um ano atrás, quando quase 1.500 pessoas morreram durante uma onda de calor no final de junho que mais que dobrou as temperaturas médias nos Estados Unidos e no Canadá.

As temperaturas continuarão a subir, levando a eventos de calor extremo mais frequentes?

Sim, de acordo com a análise mais recente dos padrões de circulação atmosférica e emissões causadas pelo homem que levaram à onda de calor de 2021 na América do Norte. As descobertas, publicadas em 22/07/23 na Advances in Atmospheric Sciences, também podem explicar a atual onda de calor do Reino Unido.

A equipe de pesquisa descobriu que os gases de efeito estufa são a principal razão para o aumento das temperaturas no passado e provavelmente continuarão sendo o principal fator contribuinte, com simulações mostrando que eventos extremos de ondas de calor aumentarão mais de 30% nos próximos anos. A maior parte dessa probabilidade aumentada é resultado de gases de efeito estufa, de acordo com seus resultados.

“Uma onda de calor extraordinária e sem precedentes varreu o oeste da América do Norte no final de junho de 2021, resultando em centenas de mortes e uma morte massiva de criaturas marinhas na costa, além de terríveis incêndios florestais”, disse o principal autor Chunzai Wang, pesquisador do Laboratório de Engenharia e Ciência Marinha do Sul de Guangdong e chefe do Laboratório Estadual de Oceanografia Tropical do Instituto de Oceanologia do Mar da China Meridional, Academia Chinesa de Ciências (CAS).

“Neste artigo, estudamos os processos físicos de variabilidade interna, como padrões de circulação atmosférica, e forçamento externo, como gases de efeito estufa antropogênicos”.

Os padrões de circulação atmosférica descrevem como o ar flui e influencia as temperaturas do ar da superfície ao redor do planeta, as quais podem mudar com base no aquecimento natural do Sol e na variabilidade interna atmosférica, bem como na rotação da Terra. Essas configurações são responsáveis pelo clima diário, bem como pelos padrões de longo prazo que compõem o clima.  Usando dados observacionais, os pesquisadores identificaram que três padrões de circulação atmosférica ocorreram durante a onda de calor de 2021: o padrão do Pacífico Norte, o padrão do Ártico-Pacífico Canadá e o padrão da América do Norte.

“O padrão do Pacífico Norte e o padrão do Ártico-Pacífico Canadá co-ocorreram com o desenvolvimento e fases maduras da onda de calor, enquanto o padrão da América do Norte coincidiu com os movimentos de decadência e leste da onda de calor”, disse Wang. “Isso sugere que a onda de calor se originou no Pacífico Norte e no Ártico, enquanto o padrão da América do Norte inaugurou a onda de calor”.

Mas os padrões de circulação atmosférica podem ocorrer – e aconteceram antes – sem desencadear uma onda de calor extrema, então, quanto o evento de 2021 foi influenciado pelas atividades humanas? Wang e a equipe usaram os modelos internacionalmente selecionados, testados e avaliados do Programa Mundial de Pesquisa Climática, especificamente os modelos de Comparação de Modelos de Atribuição de Detecção da Fase 6 do Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados (CMIP6).

“A partir dos modelos CMIP6, descobrimos que é provável que o aquecimento global associado aos gases de efeito estufa influencie essas três variabilidades do padrão de circulação atmosférica, o que, por sua vez, levou a um evento de onda de calor mais extremo”, disse Wang. “Se as medidas apropriadas não forem tomadas, a probabilidade de ocorrência de ondas de calor extremas aumentará e impactará ainda mais o equilíbrio ecológico, bem como o desenvolvimento social e econômico sustentável”.

(ecodebate)

Impactos climáticos avançam na América Latina e Caribe

Mega seca, derretimento de geleiras, chuvas extremas e desmatamento estão impactando fortemente a América Latina e Caribe.

O relatório “Situação do Clima na América Latina e no Caribe 2021”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), mostra que a mega seca, derretimento de geleiras, chuvas extremas e desmatamento estão impactando fortemente a região.

Em 2021, as geleiras andinas chegaram à marca de 30% de redução em comparação com a sua área em 1980. A mega seca na região central do Chile também foi considerada a mais longa em pelo menos mil anos.

No Brasil, o relatório mostra que as chuvas extremas na Bahia e Minas Gerais– além de causarem centenas de mortes e o deslocamento de centenas de milhares de pessoas– provocaram inundações e deslizamentos que levaram a uma perda estimada de US$ 3,1 bilhões. O desmatamento na floresta amazônica brasileira também dobrou em relação à média de 2009-2018, atingindo seu nível mais alto desde 2009. A floresta perdeu no ano passado 22% a mais de área florestal do que em 2020.

Clima extremo e impactos das mudanças climáticas como mega secas, chuvas extremas, ondas de calor terrestres, ondas de calor marinhas e o derretimento de geleiras estão afetando a região da América Latina e do Caribe, da Amazônia aos Andes e das águas do Pacífico e Atlântico às profundezas nevadas da Patagônia.

A informação é do relatório “Situação do Clima na América Latina e no Caribe 2021”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que destaca as repercussões de longo alcance das mudanças do clima para os ecossistemas, para a segurança alimentar e hídrica, para a saúde humana e para a pobreza.

Relatório publicado aponta que as taxas de desmatamento na região foram as mais altas desde 2009, em um golpe tanto para o meio ambiente quanto para a mitigação das mudanças climáticas. As geleiras andinas perderam mais de 30% de sua área em menos de 50 anos e a mega seca na região central do Chile é a mais longa em pelo menos mil anos.

“O relatório mostra que os riscos hidrometeorológicos, incluindo secas, ondas de calor, ondas de frio, ciclones tropicais e inundações, infelizmente levaram à perda de centenas de vidas, danos graves à produção agrícola, à infraestrutura local e ao deslocamento humano”, afirmou o secretário-geral da OMM, professor Petteri Taalas.

“Espera-se que o aumento do nível do mar e o aquecimento dos oceanos continuem a afetar os meios de subsistência costeiros, turismo, saúde, alimentação, energia e segurança hídrica, particularmente em pequenas ilhas e países da América Central. Para muitas cidades andinas, o derretimento das geleiras representa a perda de uma fonte significativa de água doce, atualmente usada para uso doméstico, irrigação e energia hidrelétrica. Na América do Sul, a contínua degradação da floresta amazônica ainda está sendo destacada como uma grande preocupação para a região e também para o clima global, considerando o papel da floresta no ciclo do carbono”, completou Taalas.

Conferência – O relatório foi divulgado durante conferência técnica regional da OMM para países da América do Sul, promovida pela organização em Cartagena, na Colômbia. Este é o segundo ano em que a OMM produz este tipo de relatório regional, que fornece aos tomadores de decisão informações focadas em suas regiões, para fundamentar seus planos de ação. A publicação é acompanhada por um mapa interativo.

“O agravamento das mudanças climáticas e os efeitos agravantes da pandemia de COVID-19 não apenas impactaram a biodiversidade da região, mas também paralisaram décadas de progresso contra a pobreza, a insegurança alimentar e a redução da desigualdade na região”, ressaltou o representante da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Mario Cimoli.

“Enfrentar esses desafios interconectados e seus impactos associados exigirá um esforço interconectado. Não importa como seja tomada, a ação deve ser baseada na ciência. O relatório ‘Situação do Clima na América Latina e no Caribe’, o segundo desse tipo, é uma fonte importante de informações científicas para a política climática e a tomada de decisões. A CEPAL continuará desempenhando um papel ativo na disseminação de informações meteorológicas e climáticas para promover mais parcerias, melhores serviços climáticos e políticas climáticas mais fortes na América Latina e no Caribe”, acrescentou.

Principais conclusões:

• Temperatura: A tendência de aquecimento seguiu a mesma na América Latina e no Caribe em 2021. A taxa média de aumento da temperatura foi em torno de 0,2°C/década entre 1991 e 2021, comparado a 0,1°C/década entre 1961 e 1990.

• As geleiras nos Andes tropicais perderam 30% ou mais de sua área desde a década de 1980, com uma tendência de balanço de massa negativo de -0,97m equivalente de água por ano, durante o período de monitoramento, entre 1990-2020. Algumas geleiras no Peru perderam mais de 50% de sua área. O recuo das geleiras e a correspondente perda de massa de gelo aumentaram o risco de escassez de água para a população e os ecossistemas andinos.

• O nível do mar na região continuou a subir em um ritmo mais rápido do que a média global, principalmente ao longo da costa atlântica da América do Sul, ao sul do equador (3,52 ± 0,0 mm por ano, de 1993 a 2021), e no Atlântico Norte subtropical e no Golfo do México (3,48 ± 0,1 mm por ano, de 1993 a 1991). O aumento do nível do mar ameaça uma grande proporção da população, que está concentrada nas áreas costeiras – contaminando aquíferos de água doce, erodindo as linhas costeiras, inundando áreas baixas e aumentando os riscos de tempestades.

• A “mega seca na região central do Chile” continuou em 2021. Com 13 anos até o momento, esta constitui a seca mais longa nesta região em pelo menos mil anos, exacerbando uma tendência de seca e colocando o Chile na linha de frente da crise hídrica da região. Além disso, uma seca de vários anos na Bacia Paraná-La Plata, a pior desde 1944, afetou o centro-sul do Brasil e partes do Paraguai e Bolívia.

• Os danos à agricultura causados pela seca da bacia Paraná-La Plata levaram à redução na produção de culturas, incluindo soja e milho, afetando os mercados globais desses produtos. Na América do Sul em geral, as condições de seca levaram a um declínio de -2,6% na safra de cereais 2020-2021 em comparação com a temporada anterior.

• A temporada de furacões no Atlântico em 2021 teve o terceiro maior número de tempestades nomeadas já registrado, 21, incluindo sete furacões, e foi a sexta temporada consecutiva de furacões no Atlântico acima do normal. Algumas dessas tempestades impactaram diretamente a região.

• Chuvas extremas em 2021, com volumes recordes em muitos lugares, levaram a enchentes e deslizamentos de terra. Houve perdas substanciais, incluindo centenas de mortes, dezenas de milhares de casas destruídas ou danificadas e centenas de milhares de pessoas deslocadas. Inundações e deslizamentos de terra nos estados brasileiros da Bahia e Minas Gerais levaram a uma perda estimada de US$ 3,1 bilhões.

• O desmatamento na floresta amazônica brasileira dobrou em relação à média de 2009-2018, atingindo seu nível mais alto desde 2009. 22% a mais de área florestal foi perdida em 2021 em relação a 2020.

• Um total de 7,7 milhões de pessoas, na Guatemala, El Salvador e Nicarágua, experimentaram altos níveis de insegurança alimentar em 2021, com fatores contribuintes incluindo impactos contínuos dos furacões Eta e Iota no final de 2020 e impactos econômicos da pandemia de COVID-19.

• Os Andes, o nordeste do Brasil e os países do norte da América Central estão entre as regiões mais sensíveis às migrações e deslocamentos relacionados ao clima, fenômeno que aumentou nos últimos oito anos. A migração e o deslocamento populacional têm múltiplas causas. As mudanças climáticas e os eventos extremos associados são fatores amplificadores, que exacerbam os fatores sociais, econômicos e ambientais.

• A América do Sul está entre as regiões com maior necessidade documentada de fortalecimento dos sistemas de alerta precoce. Tais sistemas são ferramentas essenciais para uma adaptação eficaz em áreas em risco de eventos climáticos extremos.

Motivos de preocupação e lacunas de conhecimento – O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC mostra como os padrões de precipitação estão mudando, as temperaturas estão subindo e algumas áreas estão passando por mudanças na frequência e gravidade de extremos climáticos, como chuvas fortes.

Os dois grandes oceanos que ladeiam o continente americano – o Pacífico e o Atlântico – estão aquecendo e se tornando mais ácidos como resultado do aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, enquanto o nível do mar também aumenta.

Infelizmente, impactos ainda maiores estão reservados para a região, pois tanto a atmosfera quanto os oceanos continuam a mudar rapidamente. O abastecimento de alimentos e água serão afetados. Cidades grandes e pequenas, assim como a infraestrutura necessária para sustentá-las, estarão cada vez mais em risco.

A saúde e o bem-estar humanos também serão afetados negativamente, junto aos ecossistemas naturais. A Amazônia, o nordeste do Brasil, a América Central, o Caribe e algumas partes do México provavelmente vão ver maiores condições de seca, enquanto os impactos dos furacões podem aumentar na América Central e no Caribe. As mudanças climáticas ameaçam sistemas vitais da região, como as geleiras dos Andes, os recifes de corais da América Central e a floresta amazônica, que já se aproximam de condições críticas sob risco de danos irreversíveis.

Além dos impactos da pandemia de COVID-19, o Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres registrou na região da América Latina e Caribe um total de 175 desastres durante o período 2020-2022. Destes, 88% são de origem meteorológica, climatológica e hidrológica. Esses perigos foram responsáveis por 40% das mortes registradas relacionadas a desastres e 71% das perdas econômicas.

Para reduzir os impactos adversos dos desastres relacionados ao clima e apoiar as decisões de gestão de recursos, são necessários serviços climáticos, sistemas de alerta precoce de ponta a ponta e investimentos sustentáveis, mas tais serviços ainda não estão adequadamente implantados na região da América Latina e do Caribe.

Mudanças climáticas podem afetar finanças da América Latina e Caribe.

É vital fortalecer a cadeia de valor dos serviços climáticos em seus diferentes componentes – incluindo sistemas de observação, dados e gerenciamento de dados, melhor previsão, fortalecimento dos serviços climáticos, cenários climáticos, projeções e sistemas de informações climáticas. (ecodebate)

G20 aumentaram as emissões relacionadas ao carvão desde 2015

Os países do G20 aumentaram as emissões relacionadas ao carvão desde 2015.
Os países-membros do G20 são responsáveis por mais de 80% das emissões globais e um esforço cumulativo do grupo para descarbonizar é crucial na luta global contra o aquecimento global

“Os líderes do G20 podem impedir o colapso climático” - António Guterres, Secretário-geral da ONU (setembro de 2023)

A cúpula do G20 em Nova Déli, na Índia, de 9 e 10 de setembro de 2023, aprovou a entrada da União Africana, que reúne 55 países, como membro permanente do grupo que reúne as maiores economias do mundo e contava apenas com a África do Sul como o único integrante do continente africano.

Agora o G20 conta com 19 países e dois blocos: a União Europeia e a União Africana. O G20 reforça sua representatividade como o fórum econômico mais abrangente da governança global. O Brasil assumiu a presidência do bloco no período dezembro de 2023 a novembro de 2024.

No seu discurso de abertura na Cúpula do G20, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, cobrou dos países ricos financiamentos para o combate contra as mudanças climáticas, especialmente para os países classificados como em desenvolvimento. Ele lembrou que desde a COP de Copenhague, os países ricos deveriam garantir 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático. Mas essa promessa nunca foi cumprida. Lula lembrou que o mundo tem gastado mais de US$ 2 trilhões em despesas militares e metade deste montante de recursos seriam suficientes para promover a transição enérgica e diminuir as emissões de gases de efeito estufa.

De fato, a questão climática está ganhando proporções catastróficas. Pouco antes de começar a Cúpula do G20 em Nova Delhi, em 08/09/23 a ONU, por meio da UNFCCC (sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) publicou, o primeiro inventário global das ações contra a crise climática (Global Stocktake).

Segundo o relatório, mesmo se os compromissos de longo prazo de neutralidade climática, apresentados na COP27 (que ocorreu ano passado, no Egito), forem totalmente implementados, o mundo não conseguirá limitar o aquecimento abaixo de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial.

Ou seja, o mundo não está conseguindo limitar o aquecimento planetário segundo as metas do Acordo de Paris. A humanidade caminha para ultrapassar as metas e ficar entre 2,4°C e 2,6°C. Portanto, a ambição de mitigação das NDCs não é coletivamente suficiente para alcançar a meta de temperatura do Acordo de Paris.

O documento da UNFCCC diz que é necessário reduzir as emissões de gases-estufa em 43% até 2030, 60% até 2035 (em comparação a 2019) e finalmente chegar ao chamado “net zero” global em 2050. Para tanto é preciso aumentar a eficiência energética e escalar o uso de energia renovável, eliminando todos os combustíveis fósseis além dos elementos indispensáveis para uma transição energética justa em direção à neutralidade climática.

Mas, na contramão do Acordo de Paris, os países do G20 aumentaram as emissões relacionadas ao carvão em 9% desde 2015, segundo publicação do Instituto Ember (05/09/2023). O gráfico abaixo mostra que pouco mais da metade dos países do G20 reduziram as emissões de carbono com base no uso do carvão mineral. Os países que reduziram as emissões per capita foram: Austrália, Coreia do Sul, África do Sul, EUA, Alemanha, União Europeia, Canadá, Itália, México, Reino Unido e Brasil. Os países que aumentaram as emissões foram: China, Japão, Turquia, Rússia, Índia e Indonésia.

Nota-se que os dois países com a maior emissão per capita são a Austrália e a Coreia do Sul e as menores Brasil, França e Argentina. Mas cabe lembrar que no uso total de carvão mineral a China se destaca com grande margem, seguido de longe pela Índia e pelos EUA.

A responsabilidade histórica pelas alterações climáticas está no centro dos debates sobre a justiça climática. A quantidade cumulativa de dióxido de carbono (CO2) emitida desde o início da revolução industrial está intimamente ligada ao aquecimento de 1,2ºC que já ocorreu até 2021 e que está na iminência de ultrapassar 1,5ºC. No total, os seres humanos lançaram cerca de 2.500 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2) na atmosfera desde 1850, deixando menos de 500 GtCO2 do orçamento de carbono restante para permanecer abaixo de 1,5ºC de aquecimento.

Isto significa que, até o ano de 2021, o mundo queimou 86% do orçamento de carbono. Artigo do Carbon Brief (EVANS, 05/10/2021) analisou a responsabilidade nacional pelas emissões históricas de CO2 de 1850 a 2021 e, pela primeira vez, a análise inclui as emissões de CO2 provenientes do uso do solo e da silvicultura, além das provenientes dos combustíveis fósseis, o que altera significativamente o ranking dos países mais poluidores.

O gráfico abaixo mostra que, em primeiro lugar na classificação, os EUA libertaram mais de 509 GtCO2 desde 1850 e são responsáveis pela maior parte das emissões históricas, com cerca de 20% do total global. A China ocupa um segundo lugar relativamente distante, com 11%, seguida pela Rússia (7%), Brasil (5%) e Indonésia (4%). Esta última dupla está entre os 10 maiores emissores históricos, devido ao CO2 proveniente do uso da terra, ou seja, devido principalmente ao desmatamento. Portanto, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking das emissões acumuladas de CO2.

A maioria dos países do gráfico acima pertencem ao G20, com exceção da Ucrânia, Polônia, Tailândia e Irã. Portanto, entre os países que mais poluíram em termos históricos, 16 fazem parte dos 19 países do G20. As responsabilidades entre o “Norte global” e o “Sul global” não são assim tão claras.

Os países-membros do G20, em conjunto, são responsáveis por mais de 80% das emissões globais e um esforço cumulativo do grupo para descarbonizar é crucial na luta global contra o aquecimento global. Mas, sem dúvida, é urgente que todos os países contribuam para abandonar o uso dos combustíveis fósseis, eliminar o desmatamento e recuperar as áreas degradadas.

Na direção correta, as maiores economias do mundo, reunidas em Nova Delhi, concordaram em triplicar a capacidade de energia renovável até 2030. Porém, não fizeram progressos na eliminação progressiva do carvão, petróleo e gás.

Contudo, o relatório da UNFCCC deixou claro a necessidade de eliminar progressivamente os combustíveis fósseis, pois há uma “janela cada vez mais estreita” para os governos agirem mais rapidamente.

As emissões globais de gases com efeito de estufa devem atingir o seu pico até 2025, o mais tardar, e ser rapidamente reduzidas a partir daí, para limitar os aumentos de temperatura a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.

Painel solar turbina eólica.

Países do G20 estão substituindo carvão por energia solar e eólica.

Brasil sediará G20 no próximo ano e tem a maior parcela de eletricidade limpa.

Não há mais espaço para procrastinações e o G20 precisa promover a rápida transição energética e a restauração dos ecossistemas. (ecodebate)

Metade das geleiras desapareceriam com 1,5°C de aquecimento

Imja Tsho é um lago composto de água de degelo da geleira Imja-Lhotse Shar, no leste do Nepal, e um dos lagos de crescimento mais rápido no Himalaia.

Estudo descobriu que com 1,5°C de aquecimento, 50% das geleiras do mundo desapareceriam e contribuiriam com 9 centímetros (3,5 polegadas) para o aumento do nível do mar até 2100.

No Himalaia, não muito longe da base do Monte Everest, fica a geleira Imja-Lhotse Shar, onde David Rounce conduziu sua pesquisa de doutorado. De 2013 a 2017, Rounce e a sua equipe visitaram o Nepal para medir o glaciar à medida que recuava rapidamente – e à medida que o lago na sua base crescia.

“Ir ao mesmo lugar e ver o lago se expandir e ver como a geleira estava diminuindo rapidamente foi bastante revelador, para dizer o mínimo”, disse Rounce, hoje professor assistente na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh.

Rounce é o autor principal de um estudo de janeiro de 2023 publicado na revista Science que projeta que as geleiras do mundo poderão perder até 40% de sua massa até 2100. Os pesquisadores modelaram geleiras ao redor do mundo – sem contar os mantos de gelo da Groenlândia e da Antártida - para prever como serão afetados pelos aumentos da temperatura global de 1,5º a 4ºC (2,7º a 5ºF) acima dos níveis pré-industriais.

O estudo descobriu que com 1,5ºC de aquecimento, 50% das geleiras do mundo desapareceriam e contribuiriam com 9 centímetros (3,5 polegadas) para o aumento do nível do mar até 2100.

Se o mundo atingir 2,7ºC de aquecimento – o aumento de temperatura estimado com base no clima promessas feitas na Conferência das Partes (COP26) da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas — quase todos os glaciares da Europa Central, oeste do Canadá e dos EUA (incluindo o Alasca) terão derretido.

Metade das geleiras do mundo está condenada a desaparecer, aponta novo estudo.

Se o aquecimento atingir os 4ºC, 80% dos glaciares do mundo desaparecerão e contribuirão com 15 centímetros (6 polegadas) para a subida do nível do mar.

“Independentemente do aumento da temperatura, as geleiras sofrerão muitas perdas”, disse Rounce. “Isso é inevitável”.

O trabalho de Rounce e colegas marca o primeiro estudo de modelagem que utiliza dados de mudança de massa derivados de satélite que descrevem todas as 215 mil geleiras do mundo. O modelo sofisticado da equipe usou “novos conjuntos de dados derivados de satélites que não estavam disponíveis em nível global antes”, disse Regine Hock, professora de glaciologia da Universidade do Alasca e da Universidade de Oslo. Radiometer (ASTER) no satélite Terra da NASA, bem como nos satélites USGS-NASA Landsat 8 e Sentinel da ESA.

O modelo levou em conta a cobertura de detritos glaciais, que inclui rochas, sedimentos, fuligem, poeira e cinzas vulcânicas encontradas na superfície da geleira. Os detritos glaciais são normalmente difíceis de medir devido à sua espessura variável, mas desempenham um papel importante porque podem influenciar o derretimento glacial: uma fina camada de detritos pode aumentar o derretimento, enquanto uma camada espessa pode isolá-lo e reduzi-lo.

Paisagens tomadas de gelo, como a Antártida, podem sofrer severas mudanças de acordo com a evolução do aquecimento global.

Os pesquisadores alertam para a importância de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, que provocam as alterações climáticas.

Os glaciares em regiões remotas — longe das atividades humanas — são indicadores particularmente poderosos das alterações climáticas. O rápido derretimento dos glaciares tem impacto na disponibilidade de água doce, nas paisagens, no turismo, nos ecossistemas, na frequência e gravidade dos perigos e na subida do nível do mar.

“A subida do nível do mar não é um problema apenas para alguns locais específicos”, disse Ben Hamlington, líder da Equipe de Mudança do Nível do Mar da NASA. “Está aumentando em quase todos os lugares da Terra”.

“Não estamos tentando enquadrar isso como uma visão negativa da perda dessas geleiras, mas sim como temos a capacidade de fazer a diferença”, disse Rounce. “Acho que é uma mensagem muito importante: uma mensagem de esperança”.

Metade das geleiras do mundo estão condenadas a desaparecer, aponta estudo.

Este estudo foi financiado pela NASA e conduzido em conjunto com a equipe de mudança do nível do mar da NASA e a equipe de High Mountain Asia da NASA.

Placas de gelo parecem formar um quebra-cabeça sobre um lago de Quelccaya. Fuligem e poeira formam uma película escura sobre a geleira, que absorve calor e acelera o derretimento.

No gelo dos Andes, o passado da Amazônia. (ecodebate)

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Mantos de gelo marinho antártico a caminho do colapso?

Novos estudos analisam derretimento do manto de gelo na Antártica.

As vastas massas de gelo da Antártica parecem distantes, mas armazenam água suficiente para elevar o nível global do mar em vários metros.

Uma equipe de especialistas de institutos de investigação europeus realizou agora a primeira inspeção sistemática da estabilidade do estado atual da camada de gelo. O seu diagnóstico: embora ainda não tenham encontrado nenhuma indicação de recuo irreversível e auto reforçado da camada de gelo na Antártida Ocidental, o aquecimento global até à data já pode ser suficiente para desencadear a lenta, mas certa perda de gelo ao longo das próximas centenas a milhares de anos.

“Com a perda cada vez maior de gelo na Antártica nos últimos anos, surgiram preocupações sobre se um ponto de inflexão já foi ultrapassado e se um colapso irreversível e de longo prazo do manto de gelo da Antártida Ocidental já foi iniciado”, explica Ronja Reese do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK) e da Universidade Northumbria, Newcastle. “Os resultados dos nossos estudos transmitem duas mensagens: primeiro, embora vários glaciares na Antártida estejam a recuar neste momento, ainda não encontramos nenhuma indicação de um recuo irreversível e auto-reforçado, o que é tranquilizador. No entanto, os nossos cálculos também indicam claramente que o início de um recuo irreversível da camada de gelo na Antártida Ocidental é possível se o estado atual do clima for sustentado”.

A principal causa da perda de gelo na Antártica Ocidental é a água oceânica relativamente quente, que amplifica o derretimento sob as plataformas de gelo, que são as extensões flutuantes da camada de gelo aterrada. O derretimento dessas plataformas de gelo pode aumentar a perda de gelo, pois acelera as seções aterradas da camada de gelo.

É por isso que a margem antártica com as suas linhas de aterramento – a zona onde o gelo aterrado e o gelo flutuante estão ligados – é um indicador chave da saúde do manto de gelo. Um recuo acelerado das linhas de aterramento poderia indicar um colapso próximo de grandes regiões marinhas do manto de gelo da Antártica Ocidental – aquelas partes do manto de gelo que estão ancoradas abaixo do nível do mar.

Correntes da Antártida podem entrar em colapso e causar 'desastre' no clima, alertam cientistas.

Evoluindo ao longo de 10.000 anos, desencadeada hoje: perda irreversível de gelo e aumento do nível do mar

Utilizando modelos de manto de gelo de última geração, os pesquisadores não apenas realizaram uma inspeção minuciosa dos sinais de recuo irreversível dos setores marinhos do manto de gelo da Antártida no momento, mas também realizaram simulações para investigar como o manto de gelo evoluiria ao longo dos próximos 10.000 anos se as condições atuais permanecessem inalteradas.

Estas experiências hipotéticas indicam que mesmo sem aquecimento adicional além do que já experimentamos hoje, é possível um colapso irreversível de algumas regiões marinhas da camada de gelo da Antártida Ocidental. Como o gelo reage às mudanças de temperatura muito lentamente, os autores descobriram que o colapso ocorre nas suas simulações, no mínimo, dentro de 300 a 500 anos a partir de agora, sob as atuais forças climáticas. Um colapso total levaria séculos ou milênios.

“O que acontece com a subida do nível do mar na Antártida não é que as mudanças aconteceriam da noite para o dia como uma ameaça imediata às comunidades costeiras. O processo de derretimento aconteceria ao longo de centenas ou milhares de anos. No entanto, a causa poderia ser ações humanas atuais, uma vez que têm o poder de desencadear e comprometer um futuro de 10.000 anos com vários metros de subida global do nível do mar. E um aquecimento mais forte no futuro aceleraria mesmo este processo”, sublinha Julius Garbe, do PIK.

As mudanças na descarga de gelo da Antártica continuam a ser uma das maiores incertezas nas projeções futuras do aumento global do nível do mar. “O gelo da Antártida é a nossa última herança do passado, com milhões de anos e muitas vezes denominado gelo ‘‘eterno’’. Mas o nosso trabalho mostra: embora a atual perda de gelo possa ainda ser reversível, uma desestabilização dos sectores marinhos da camada de gelo poderia iniciar uma perda de gelo a longo prazo que é lenta, mas certa. As alterações climáticas hoje já podem ser suficientes para fazer pender a balança, o que é preocupante. No entanto, com a Antártica Ocidental ainda não desestabilizada, ainda há uma oportunidade de mitigar pelo menos parte do risco através de uma ação climática ambiciosa”, conclui Ricarda Winkelmann do PIK.

Evolução a longo prazo das atuais linhas de aterramento da Antártica sob condições climáticas atuais constantes. Começando nos dias atuais, após o forçamento histórico de 1850 a 2015, as simulações continuam com o clima atual constante durante 10.000 anos. As cores vermelhas mostram regiões sobre as quais a linha de aterramento recua. Quanto mais escuro o vermelho, mais as configurações do modelo mostram o recuo da linha de aterramento sobre a respectiva região (o recuo é traçado em comparação com uma simulação de controle). O contorno preto mostra a posição inicial média da linha de aterramento do conjunto em 2015. A inserção mostra a evolução do volume de gelo relevante ao nível do mar para todos os membros do conjunto (m SLE, metros equivalentes ao nível do mar, em relação à deriva no estado inicial durante esse período). Os pontos nas áreas de recuo indicam regiões nas quais o afinamento modelado atual é inconsistente com as observações (nomeadamente para as plataformas de gelo Filchner-Ronne e Ross). Castanho claro indica rocha acima do nível do mar atual; áreas brancas indicam rocha abaixo do nível do mar. (ecodebate)

Degradação florestal na Amazônia afeta área três vezes maior que desmatamento

Entre março de 2023 e de 2024, INPE detectou aviso de degradação para 20,4 mil km², maior que os 18 mil km² do período anterior. É necessári...