terça-feira, 29 de junho de 2021

FMI inclui mudança climática em critérios de análise para concessão de crédito

FMI passa a incluir mudança climática entre critérios de análise para concessão de crédito.
FMI anuncia clima como critério de financiamento no mesmo dia em que Ordem Executiva de Biden indica risco climático como critério obrigatório a investidores dos EUA.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), instituição à qual os países recorrem quando estão insolventes, passa a incluir o Clima entre os critérios a serem analisados para a concessão de crédito. Esta é a principal novidade apresentada na nova edição da Comprehensive Surveillance Review (CSR), que guiará as decisões e aconselhamentos do fundo para todos os seus membros nos próximos anos.

A Diretora Geral do FMI, Kristalina Georgieva, declarou muitas vezes que o Fundo agora vê a ação sobre a mudança climática como essencial para o crescimento global e a estabilidade econômica. O FMI também publicou no ano passado uma extensa análise de modelagem sobre políticas climáticas fortes em todo o mundo que apoiariam imediatamente o crescimento após a pandemia, impulsionando a expansão da economia em cerca de 0,7% ao longo dos próximos 15 anos.

A CRS só é realizada a cada 7 a 10 anos, por isso o FMI vinha ignorando o risco climático em seus últimos relatórios. Com a mudança, a instituição incluirá explicitamente a transição climática e os riscos de impacto, incluindo aqueles decorrentes de ajustes na economia global, causados por mudanças nos preços e nos impostos sobre a energia. Os novos critérios de vigilância também podem impedir o FMI de incentivar o desenvolvimento dos combustíveis fósseis nos países membros, particularmente nos países em desenvolvimento.

As diretrizes farão com que a mudança climática seja automaticamente considerada um “fator macrocrítico” nas avaliações regulares (geralmente anuais) do FMI sobre as economias dos países membros. A série central de relatórios, conhecida como revisões do Artigo IV, são peças de orientação política para os governos e ajudam a moldar a forma como os países são vistos pelo resto do mundo.

Malango Mughogho, Diretor Geral da ZeniZeni Finanças Sustentáveis, destaca que os relatórios do FMI sobre países em desenvolvimento são influentes entre investidores e instituições financeiras de desenvolvimento multilaterais e bilaterais. “Portanto, é imperativo que o FMI desenvolva a capacidade de levar em conta a mudança climática em suas avaliações e relatórios”, afirma o analista. “Mas para ser verdadeiramente eficaz, o Dashboard deve ser acompanhado por uma metodologia robusta e de fonte aberta para avaliar e gerenciar o risco climático”, conclui Mughogho.

“Embora o fundo esteja finalmente reconhecendo que existem ‘riscos de transição’, o lançamento no início desta semana do relatório da AIE mostrou que não apenas o carvão, mas também o gás representam um beco sem saída econômico que terá impacto em todas as nações, pois estas fontes insustentáveis de energia são aposentadas mais rapidamente do que o planejado anteriormente”, analisa Sargon Nissan, gerente do FMI e pesquisador do think thank Re-course.

“Uma vigilância eficaz do FMI deveria chamar a atenção para as ações governamentais que perpetuam um modelo de desenvolvimento econômico baseado em commodities de combustíveis fósseis que é insustentável em todos os sentidos do termo”, afirma Nissan. “O tratamento do clima como um elemento macrocrítico é bem-vindo e tardio, mas a forma como o Fundo irá operacionalizar isto permanece pouco clara e sugere que continuará sendo ad hoc e inconsistente”, completa.

Países em desenvolvimento

Apesar dessa nova sinalização, o relatório não demonstra que o FMI apoiará adequadamente os países para enfrentar a mudança climática. Ele não obriga os analistas a considerar os riscos relacionados ao clima em todos os países, e afirma que uma abordagem “ad hoc” será adotada para decidir quando os riscos climáticos devem ser investigados. Também não está claro como o conselho padrão do FMI para cortar gastos governamentais pode ser conciliado com a necessidade de investir na descarbonização.

“Particularmente no caso de economias emergentes e em desenvolvimento, o FMI precisará expandir seu conjunto de ferramentas de consultoria política para apoiar uma transição energética justa, inclusive assegurando que os países tenham espaço fiscal para assumir compromissos climáticos – e assim evitar os piores impactos da mudança climática”, defende Jon Sward, gerente de projetos ambientais do Projeto Bretton Woods, um sistema de vigilância do Banco Mundial e o FMI.

Estados Unidos

No mesmo dia em que o FMI apresentou sua nova revisão de vigilância, o Presidente Joe Biden emitiu uma Ordem Executiva exigindo que as agências federais levassem em conta os riscos climáticos impostos ao governo dos EUA, ao sistema financeiro e aos cidadãos americanos.

Apesar de os EUA largarem atrás de países como a França, a União Europeia, o Reino Unido e os reguladores asiáticos na divulgação dos riscos climáticos, esta Ordem dá início a um processo para encorajar os reguladores financeiros e vários departamentos federais a avaliar os riscos relacionados ao clima.
Entre as medidas indicadas pela Ordem, está a criação de uma estratégia para identificar e divulgar os riscos financeiros relacionados ao clima entre os ativos do governo federal, no valor de US$6T. A decisão também obriga o Departamento do Trabalho a proteger as poupanças e pensões dos trabalhadores americanos contra riscos financeiros relacionados ao clima, revogando as diretrizes da administração Trump de que as empresas poderiam ignorar fatores ambientais, sociais e de governança nas decisões de investimento.

Outra mudança trazida pela Ordem é que os principais fornecedores do governo dos EUA, desde empreiteiras militares até grandes empresas de contabilidade, precisarão identificar os riscos climáticos e estabelecer metas de redução de gases de efeito estufa com base em ciência revisada por pares. (ecodebate)

Mudança climática aumenta a demanda de energia para refrigeração

O ar condicionado pode ser responsável por até 40% das emissões globais de CO2 até 2050.

Os aumentos de temperatura relacionados ao clima aumentarão ainda mais a demanda de resfriamento dos edifícios. Uma projeção de pesquisadores da Empa com base em dados do edifício NEST e cenários climáticos futuros para a Suíça mostra que esse aumento na demanda de energia para refrigeração provavelmente será substancial e poderá ter um forte impacto em nosso futuro sistema de energia eletrificada.

Devido às mudanças climáticas, a temperatura média global aumentará nas próximas décadas. Isso também deve aumentar significativamente o número dos chamados graus-dias de resfriamento. Eles medem o número de horas, em que a temperatura ambiente está acima de um determinado limite, em que um edifício deve ser resfriado para manter a temperatura interna em um nível confortável. Os valores crescentes podem levar a um aumento da instalação de sistemas AC nas residências. Isso poderia levar a uma maior demanda de energia para refrigeração de edifícios, que já deve aumentar devido às mudanças climáticas e ao crescimento populacional.

Para obter uma melhor compreensão de quão grande será esse aumento na Suíça, os pesquisadores da Empa analisaram os requisitos de aquecimento e resfriamento do edifício de pesquisa e inovação da NEST. “Ao incluir a temperatura ambiente, pudemos fazer uma projeção da demanda futura de energia térmica dos edifícios com base nos cenários climáticos da Suíça. Além das mudanças climáticas, também levamos em conta o crescimento populacional e o uso crescente de dispositivos AC, “explica Robin Mutschler, pós-doutorado no laboratório de Sistemas de Energia Urbana da Empa.

Os resultados preveem um aumento significativo na demanda por energia de resfriamento: em um cenário extremo em que toda a Suíça dependeria de ar condicionado, quase tanta energia seria necessária para resfriamento quanto para aquecimento em meados do século. Em números, isso corresponde a cerca de 20 terawatts-hora (TWh) por ano para aquecimento e 17,5 TWh para resfriamento. A energia de resfriamento necessária foi calculada independentemente da tecnologia. Se isso for fornecido pela reversão de um processo de bomba de calor, por exemplo, com COP 3 para resfriamento, a demanda de eletricidade para 17,5 TWh de energia de resfriamento é de cerca de 5,8 TWh.

A demanda de aquecimento das unidades residenciais da NEST é comparável à de um prédio de apartamentos moderno. Esses números são, portanto, representativos se for assumido que o edifício suíço médio é comparável ao edifício NEST. Quando será o caso depende da taxa de renovação. No entanto, mesmo em um cenário mais moderado, a demanda de resfriamento na Suíça aumentará significativamente. Os pesquisadores presumem uma demanda adicional de energia de cinco TWh por ano neste cenário.

Forte impacto no sistema de energia suíço

A demanda de energia dos edifícios suíços hoje é responsável por cerca de 40% da demanda total de energia. A parte principal é usada para aquecimento. Isso provavelmente permanecerá assim até pelo menos meados do século 21, enquanto se espera que a demanda de energia para resfriamento de edifícios aumente significativamente. Se a energia térmica for fornecida por bombas de calor que também podem resfriar, isso terá um impacto potencialmente forte no sistema de energia geral e, especialmente, na eletricidade como portadora de energia.

Presume-se que apenas uma pequena quantidade de residências suíças atualmente possui uma unidade ou sistema de CA. No entanto, o número de casas com bombas de calor está crescendo. Os pesquisadores da Empa estimam que o número de residências com sistemas de resfriamento pode aumentar para mais de 50% devido ao aumento nos graus-dia de resfriamento. Isso pode levar a picos de demanda significativos em dias quentes. Um adicional de cinco TWh de demanda de energia para resfriamento seria equivalente a cerca de 2% da demanda atual de eletricidade se o resfriamento fosse fornecido por bombas de calor. No cenário mais extremo, a demanda de eletricidade para resfriamento pode até chegar a 10% da demanda total de hoje. No entanto, isso não será distribuído uniformemente ao longo do ano, mas se correlacionará com períodos de calor, o que pode levar a picos de demanda. Em uma nota positiva, a demanda de resfriamento é relativamente bem correspondida pela produção de eletricidade a partir de sistemas fotovoltaicos. O impacto do resfriamento de edifícios residenciais será significativamente maior em comparação com edifícios de escritórios, pois eles representam cerca de ⅔ da área de construção.

Com base nesses achados, fica evidente para os pesquisadores que esses desenvolvimentos devem ser levados em consideração na construção de novos edifícios e que as possibilidades de refrigeração passiva devem ser totalmente exploradas. “A arquitetura de edifícios não deve mais se concentrar apenas na otimização das perdas de calor, especialmente no inverno, mas também na redução dos ganhos de calor no verão”, diz Mutschler.

Isso poderia ser alcançado, por exemplo, por meio de medidas de planejamento urbano para a adaptação climática a nível distrital, a implementação de programas de redução de calor ou a redução de envidraçamento em edifícios. “Além disso, é crucial que os formuladores de políticas também abordem esse desenvolvimento e investiguem maneiras de melhor atender à crescente demanda por energia de resfriamento, ao mesmo tempo que minimiza o impacto no futuro sistema de energia descarbonizada”, acrescenta Mutschler.

Compreender os padrões de calor nas regiões urbanas pode melhorar a qualidade de vida nas cidades.

Uma possível contribuição para o resfriamento de edifícios poderia vir de sistemas de resfriamento distrital, que já foram implementados com sucesso na Suíça – por exemplo, em Genebra. Outros estão surgindo, por exemplo, em Zug. (ecodebate)

Itaipu turbina mais água e garante navegabilidade da safra paraguaia

Itaipu vai turbinar mais água para garantir navegabilidade da safra paraguaia.

Mais de 125 mil toneladas de soja e derivados estão paradas há 50 dias. Medida deve durar 11 dias e não haverá desperdício, já que a água liberada será usada para gerar energia e não escoada pelo vertedouro.
A usina de Itaipu iniciou em 21/05/21 uma operação de 11 dias para garantir a navegabilidade do Rio Paraná a jusante da barragem (abaixo) e o escoamento da safra paraguaia de grãos, por meio de hidrovia. O Rio Paraná enfrenta uma das piores estiagens da história.

A medida, que atende ao pedido feito pelo governo do Paraguai, foi negociada pelas chancelarias do país vizinho e do Brasil. O transporte fluvial é responsável por aproximadamente 80% do comércio exterior do Paraguai.

A operação está sendo coordenada pela Itaipu, Operador Nacional do Sistema/ONS e Administración Nacional de Electricidad (Ande, estatal paraguaia). A vazão do Rio Paraná será regulada a montante (acima) da barragem e também com a contribuição do Rio Iguaçu, abaixo das Cataratas do Iguaçu. Portanto, não haverá desperdício de matéria-prima, já que a água liberada será turbinada e não escoada pelo vertedouro.

A estatal informou que não haverá desperdício de matéria-prima, já que a água liberada será usada para gerar energia e não escoada pelo vertedouro, mas a ação deve rebaixar o nível do lago. A liberação progressiva de água permitirá a elevação do nível do rio em quantidade suficiente para que os comboios de barcaças paraguaias, carregadas de grãos, possam atravessar a eclusa da usina binacional Yacyretá, a 480 km de distância.

São mais de 125 mil toneladas de soja e derivados paradas há 50 dias. “A janela (período de tempo) de água permitirá contar com a altura de um metro no hidrômetro de Ituzaingó (município argentino abaixo de Yacyretá), durante os dias 27 e 28 deste mês, suficiente para que os comboios carregados possam atravessar de maneira segura os pontos críticos identificados no Rio Paraná”, informou por meio de nota a chancelaria paraguaia. (canalenergia)

domingo, 27 de junho de 2021

Superfície da terra pode reter cerca de 1/4 da precipitação mensal

Para apoiar o crescimento da vida humana e animal, as fontes de água doce devem fornecer água continuamente. A água doce de lagos, rios e subterrâneos é recarregada principalmente pela chuva. Os reservatórios subterrâneos podem armazenar água da chuva ao longo do tempo, dependendo da capacidade de armazenamento do local.

No entanto, estimar a capacidade de armazenamento de água doce (FSC) ainda é um desafio devido às poucas oportunidades de observação e métodos para medir e quantificar o FSC.

Prof. YUAN Xing e seu Ph.D. o aluno ZHU Enda, do Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências, desenvolveu e aplicou uma nova métrica que caracteriza a “inércia” da água após a chuva. Este método permite uma melhor análise do FSC com base em dados de satélite do Experimento de Recuperação de Gravidade e Clima (GRACE). Os pesquisadores simularam seu novo algoritmo usando o Community Land Model versão 5 (CLM5) para 194 grandes bacias hidrográficas ao redor do mundo. Advances in Atmospheric Sciences aceitou o estudo, seus resultados e dados de apoio.
Distribuição global da capacidade total de armazenamento de água doce baseada na água terrestre.

“O FSC de bacias hidrográficas que mostra a proporção de precipitação que pode ser retida no solo está intimamente relacionado com a memória hidrológica.” disse o Prof. YUAN. “FSC maior significa memória hidrológica mais longa, o que terá impacto no clima e no clima local e regional por meio do par terra-atmosfera.”

Os resultados mostram que, em média, as superfícies globais da terra podem reter mais de um quarto da precipitação mensal com base na observação GRACE. A simulação CLM5 representa uma distribuição global semelhante. Usando esta nova métrica, pequenas áreas FSC têm condições mais úmidas e uma densidade de vegetação mais alta, enquanto grandes áreas FSC têm climas mais secos.

Esta métrica observa a evaporação usando observações de satélite. Comparado com o FSC mensal, a quantidade de água retida dentro da terra é maior em uma escala de tempo mais curta devido à menor evaporação em áreas com baixo FSC. Em várias escalas de tempo, a zona de raiz contribui com cerca de 40% do FSC global de terras.

Embora este estudo, publicado em Advances in Atmospheric Sciences , se concentre principalmente na chuva, a precipitação que cai como neve é importante, apesar da maior parte do conteúdo de água congelada estar acima da superfície do solo. A neve contribui com mais de 20% do FSC terrestre, especialmente em altas latitudes.
Captação da água das chuvas.

“Este trabalho merece mais atenções para a gestão de recursos hídricos e previsão hidrológica”, explicou o Prof. YUAN. (ecodebate)

Aquecimento ártico é 3 vezes mais rápido que a média global

Aquecimento ártico é três vezes mais rápido que a média global.

Novas observações mostram que o aumento na temperatura média da superfície do Ártico entre 1979 e 2019 foi três vezes maior do que a média global durante este período – maior do que relatado anteriormente – de acordo com o Arctic Monitoring and Assessment Program (AMAP).
Os impactos das mudanças climáticas nas comunidades, ecossistemas e espécies do Ártico, especialmente quando associados a eventos extremos, são consideráveis e estão acelerando.

A perda de gelo marinho, o recuo das geleiras e a redução da cobertura de neve remobilizam os contaminantes previamente depositados. Embora a mudança climática seja impulsionada principalmente pelas emissões de dióxido de carbono, as mudanças nas emissões de poluentes atmosféricos, como as forças climáticas de curta duração, também afetam o clima, bem como a saúde humana. Globalmente, essa poluição do ar é uma das principais causas de mortes prematuras e a redução da poluição do ar por partículas e ozônio poderia prevenir centenas de milhares de mortes prematuras em países membros do Conselho do Ártico e países observadores, disse o relatório.

The Arctic Climate Change Update 2021: Principais tendências e impactos. Um resumo para formuladores de políticas foi apresentado na reunião ministerial do Conselho do Ártico em Reykjavik, Islândia, em 20 de maio.

A reunião foi concluída com uma declaração ministerial e um plano estratégico que reafirma o compromisso do Conselho com uma região ártica pacífica, próspera e sustentável.

Objetivo 1 – Clima Ártico: monitorar, avaliar e destacar os impactos das mudanças climáticas no Ártico para encorajar o cumprimento do Acordo de Paris e apoiar medidas globais mais fortes para reduzir gases de efeito estufa e poluentes climáticos de curta duração, enquanto fortalece a cooperação circumpolar em: ciência do clima e observações ; redução de emissões; mitigação, adaptação e resiliência às mudanças climáticas; e intercâmbio de conhecimento e tecnologias inovadoras em apoio a esses esforços

Objetivo 2 – Ecossistemas Árticos Saudáveis e Resilientes : promover a prevenção da poluição, monitoramento, avaliação, conservação e proteção da biodiversidade Ártica, ecossistemas e habitats de espécies, com base na melhor ciência disponível e respeitando a importância do desenvolvimento sustentável para todas as gerações atuais e futuras do Ártico habitantes;

Objetivo 3 – Ambiente Marinho Ártico Saudável:  promover a conservação e o uso sustentável do meio ambiente marinho ártico para o benefício de todas as gerações atuais e futuras de habitantes do Ártico, incentivar a segurança no mar, prevenir a poluição marinha e cooperar para melhorar o conhecimento do ambiente marinho ártico , monitorar e avaliar os impactos atuais e futuros sobre os ecossistemas marinhos do Ártico, trabalhar em conjunto para melhorar a cooperação em questões marinhas e promover o respeito pelo Estado de Direito e pelas estruturas jurídicas existentes aplicáveis às águas do Ártico;

A sessão ministerial marcou o fim da presidência islandesa do Conselho do Ártico por dois anos e o início da presidência da Federação Russa para os anos 2021-2023.

A OMM tem status de observador no Conselho do Ártico, que é o fórum intergovernamental preeminente para a cooperação nos assuntos do Ártico. A reunião ministerial do Conselho é realizada a cada dois anos, dando aos Ministros das Relações Exteriores dos oito Estados Árticos e à liderança política dos seis Participantes Permanentes Indígenas a oportunidade de fortalecer a cooperação internacional na região e revisar o trabalho de qualidade produzido pelos Grupos de Trabalho do Conselho.

O Programa de Monitoramento e Avaliação do Ártico (AMAP) é o grupo de trabalho responsável por monitorar e avaliar o estado da poluição do Ártico e das mudanças climáticas, e por desenvolver recomendações baseadas na ciência para ações de apoio à formulação de políticas. Sua pesquisa informa o programa Global Cryosphere Watch e as atividades polares da OMM.

As principais descobertas incluíram:

• A mudança climática é um problema aqui e agora no Ártico. Indicadores-chave como temperatura, precipitação, cobertura de neve, espessura e extensão do gelo marinho e degelo do permafrost mostram mudanças rápidas e generalizadas em andamento no Ártico. Uma atualização importante é que o aumento na temperatura média anual da superfície do Ártico (terra e oceano) entre 1971 e 2019 foi três vezes maior (um aumento de 3,1°C) do que o aumento na média global durante o mesmo período. Isso é maior do que o relatado em avaliações anteriores do AMAP.

• O Ártico está experimentando um aumento na frequência e / ou intensidade de eventos de rápida perda de gelo do mar, eventos de derretimento da camada de gelo da Groenlândia, fortes precipitações, enchentes interiores, erosão costeira e incêndios florestais. Houve um aumento nas temperaturas extremas e um declínio nos eventos de frio extremo. Os períodos de frio que duram mais de 15 dias desapareceram quase completamente do Ártico desde 2000. O clima extremo e os eventos climáticos afetam os ecossistemas, a infraestrutura e as pessoas. Eles também podem empurrar as condições para além dos limites para mudanças potencialmente irreversíveis.

• O Ártico é o lar de aproximadamente 4 milhões de pessoas. A mudança climática está provocando mudanças rápidas no Ártico que afetam as pessoas – especialmente os povos indígenas – que vivem no Ártico e além. As mudanças nas condições ambientais e ecológicas estão causando impactos negativos sobre a saúde e o bem-estar, a segurança alimentar, o transporte, a subsistência, as indústrias, a infraestrutura e a disponibilidade de água potável.

• A mudança climática deve aumentar o acesso a recursos como petróleo, gás e minerais no Ártico. No entanto, o potencial de expansão dessas indústrias é atenuado pelos esforços para limitar as emissões de gases de efeito estufa e atingir as metas estabelecidas no Acordo de Paris. Além disso, as implicações ambientais de um grande derramamento de óleo no Ártico seriam significativas.

• Os ecossistemas em todo o Ártico estão passando por mudanças fundamentais, que afetam a mudança climática global por meio de feedbacks no sistema climático. A criosfera em rápida mudança está afetando os ecossistemas em toda a região, mudando a produtividade, a sazonalidade, a distribuição e as interações das espécies em ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos. Mudanças no tipo, extensão e sazonalidade do gelo marinho; cobertura de neve na terra e no gelo marinho; e a rápida perda de gelo perene e da camada de gelo da Groenlândia estão causando grandes mudanças nos ecossistemas que afetam o ciclo do carbono e dos gases de efeito estufa. Ecossistemas únicos, como aqueles associados ao gelo marinho de vários anos ou a plataformas de gelo milenares, estão em risco e alguns estão desaparecendo. Eventos extremos podem exacerbar as transições já em andamento, desencadeando novos impactos nos ecossistemas.

• Ninguém na Terra está imune ao aquecimento do Ártico. Os efeitos da mudança no Ártico são sentidos muito além do Ártico, incluindo os impactos do aumento do nível do mar global, as oportunidades e riscos associados à abertura de novas rotas de navegação e melhor acesso às reservas de combustível fóssil, e o potencial de feedbacks que afetam a atmosfera concentrações de gases de efeito estufa. Embora os estudos tenham demonstrado conexões entre as mudanças no Ártico e os padrões climáticos de latitudes médias, as ligações são complexas e inconsistentes.

O Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas, fez uma apresentação em vídeo ao ministro do Conselho do Ártico destacando o Relatório do Estado do Clima da OMM, que tinha uma seção especial sobre o Ártico, e o Ano da Previsão Polar, que visa melhorar as observações nos dados esparsos Ártico.

O Prof. Taalas também participou do 2ºC Arctic Met Summit 2021, organizado pela Organização Meteorológica da Islândia, e mostrando a importância de uma colaboração pan-ártica nas Observações e Modelagem do Sistema Terrestre. Ele apresentou os serviços árticos da OMM e participou de sessões sobre a importância de criar uma ponte entre a ciência e a comunidade.

Antes da sessão do Conselho do Ártico, uma Reunião Ministerial da Ciência do Ártico realizada em 09/05/21. Em sua declaração conjunta destacou a necessidade de “Encorajar a continuação do trabalho crítico dos grupos de trabalho e grupos de especialistas do Conselho do Ártico, Organização Meteorológica Mundial (OMM), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), IPCC, IPBES, Organização Marítima Internacional (IMO) , Comissão Oceanográfica Internacional (IOC) e outros grupos que estão produzindo importantes avaliações científicas e produtos de síntese que informam os planos de resposta. (ecodebate)

Aquecimento global aumenta a frequência e mortalidade das ondas de calor

Pico de mortes causadas por extremo de calor na França em 2003 foi superior ao registrado na primeira onda da COVID-19 no país europeu, apontou climatologista em palestra apresentada durante o 9º Diálogo Brasil-Alemanha sobre Ciência, Pesquisa e Inovação (mapa ilustra a anomalia climática durante a onda de calor que atingiu a França em 2003)

Aquecimento global aumenta a frequência e mortalidade das ondas de calor

Devido ao aquecimento global, as ondas de calor recordes aumentaram cinco vezes nas últimas décadas e se tornaram um dos desastres naturais mais mortais, com letalidade comparável à de pandemias.

O número de 70 mil mortes na França causadas pela onda de calor que assolou a Europa no verão de 2003, por exemplo, só foi superado no ano passado pelo gerado pela pandemia de COVID-19, que vitimou quase 130 mil franceses entre o início de março e o final de abril de 2020. O pico de óbitos causados pelo calor extremo na França naquele ano, contudo, foi superior ao registrado na primeira onda de infecção pelo SARS-CoV-2.

Entre março e abril de 2020, o número de mortes diárias causadas pela doença chegou a 2.691 no país europeu. Já em agosto de 2003, mais de 3 mil franceses morreram em um único dia em razão da onda de calor recorde, cuja duração, porém, foi menor que a da pandemia de COVID-19, de pouco mais de três semanas, comparou Stefan Rahmstorf, pesquisador do Instituto Potsdam de Pesquisa dos Impactos do Clima, durante palestra no primeiro dia do 9º Diálogo Brasil-Alemanha sobre Ciência, Pesquisa e Inovação, “Cities and Climate – The Multi-level Governance Challenge”, que a FAPESP e o Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH) São Paulo realizam de forma virtual até amanhã (20/05).

“À medida que o planeta aquece, mais teremos extremos de calor”, afirmou Rahmstorf, considerado um dos cientistas do clima mais influentes do mundo.

Estudo feito pela equipe do instituto de pesquisa alemão, em colaboração com colegas da Espanha, já apontava, em 2013, que os extremos mensais de temperatura tornaram-se muito mais frequentes em todo o mundo. Em média, há agora cinco vezes mais meses quentes recordes em todo o mundo do que se poderia esperar sem o aquecimento global de longo prazo.

Em partes da Europa, África e no sul da Ásia, o número de registros mensais aumentou por um fator de até dez, e 80% não teriam ocorrido sem a influência humana no clima, apontaram os pesquisadores em artigo publicado na revista Climatic Change.

“Os recordes de calor têm sido quebrados constantemente. Os verões mais quentes na Europa desde 1500 foram, na ordem decrescente, em 2018, 2010, 2003, 2016 e 2002”, afirmou Rahmstorf.

Já na região central da América Central, o último recorde de temperatura foi registrado em outubro de 2020, indicou estudo feito por pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres (Cemaden), cujos resultados foram submetidos para publicação.

“A onda de calor afetou tanto pequenas como grandes cidades nessa região”, afirmou José Marengo, pesquisador do Cemaden e coordenador do projeto.

Segundo Rahmstorf, atualmente, o número de dias de calor nas áreas urbanas das cidades é duas vezes maior do que nas áreas rurais próximas.

No futuro, entre 2081 e 2100, no cenário mais pessimista de emissões de gases de efeito estufa esboçado no quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a quantidade de dias muito quentes pode aumentar em até dez vezes também nas cidades, causando maior número de mortes em diversos países, incluindo o Brasil.

Ainda de acordo com o IPCC, duas vezes mais megacidades apresentam probabilidade de sofrer estresse térmico com um aumento de 1,5ºC na temperatura do planeta, o que exporia mais de 350 milhões de pessoas ao risco de morte por calor excessivo até 2050.

“Para conseguir limitar o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC e perseguir a meta de mantê-la em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, como estabelecido no Acordo de Paris, será preciso promover transições rápidas e de longo alcance em setores de infraestrutura urbana, o que inclui transporte, construção e também sistemas industriais. Isso exigirá ações no contexto das cidades”, avaliou Thelma Krug, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e vice-presidente do IPCC.

Essas ações no nível das cidades não poderão ser apenas ajustes ou melhorias em alguns setores porque o tipo de mudanças que têm sido imposto pela ameaça climática precisa ser encarado como transformação, ponderou Marc Wolfram, pesquisador do Leibniz Institute of Ecological Urban and Regional Development.

“A mudança deve ser realmente holística e abranger não só dimensões sociais, mas também culturais, econômicas e ecológicas. Isso significa que devemos nos perguntar o que isso implica em termos de estratégias que planejamos, se podemos responder de maneira semelhante a outros problemas no passado ou se precisamos de novas abordagens e como seria uma mudança urbana radical”, afirmou Wolfram.

Cooperação Brasil-Alemanha

Um dos objetivos do 9º Diálogo Brasil-Alemanha é fomentar a cooperação em pesquisa entre Brasil e Alemanha na área de cidades e clima, bem como na busca de soluções.

“Se por um lado as cidades estão implicadas na geração das mudanças climáticas, por outro também sofrem as consequências das alterações no clima. Por isso, é preciso torná-las mais resilientes”, avaliou Marco Zago, presidente da FAPESP, durante a abertura do evento.

“Nunca houve um tema dessa série de eventos com maior impacto na vida de todos nós, que habitamos cidades pequenas, médias ou grandes, como o clima”, disse Jochen Hellmann, diretor do DWIH São Paulo.

Esta imagem mostra a tendência da temperatura do Ártico entre agosto de 1981 e julho de 2009. Devido ao aquecimento global, que é exacerbado no Ártico, vemos um aquecimento significativo ao longo deste período de 28 anos.

Brasil vai estar entre mais afetados por mortes em ondas de calor.

Pesquisa sugere que Brasil, Colômbia e Filipinas terão mais mortes por fenômeno que crescerá com mudança climática.

Para participar do evento, o público pode se inscrever pelo canal do DWIH São Paulo no Youtube. A íntegra do primeiro dia de discussões pode ser conferida em https://youtu.be/mKA5elf9zik. (ecodebate)

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Desmatamento causado por mineração ilegal aumenta 90% entre 2017 e 2020

Amazônia – Desmatamento causado por mineração ilegal aumenta 90% entre 2017 e 2020.

Mineração clandestina, em especial de ouro, contamina rios, afeta vida aquática e traz riscos à saúde das comunidades ribeirinhas e populações indígenas.
A taxa de desmatamento ilegal em áreas de mineração aumentou mais de 90% na Amazônia entre 2017 e 2020, revela artigo escrito por pesquisadores da Escola Politécnica (Poli) da USP e publicado na revista Mudança Ambiental Regional.

De acordo com o trabalho, o avanço da mineração clandestina, especialmente de ouro, além de desmatar áreas de floresta que não são recuperadas, contamina os rios próximos, afeta a vida aquática e causa riscos à saúde das comunidades ribeirinhas e populações indígenas. Os pesquisadores recomendam o rastreio da produção mineral por meio de certificação, ações locais e nacionais para controle do desmatamento, e alertam para os riscos da simplificação da legislação ambiental.

“O artigo procura entender tendências de avanço no desmatamento da mineração nos últimos anos, analisando tanto as taxas anuais em áreas de mineração industrial como alertas anuais de desmatamento resultantes de mineração ilegal”, conta a pesquisadora Juliana Siqueira-Gay, uma das autoras do artigo. O trabalho é parte de uma pesquisa de doutorado que busca investigar os impactos da mineração das florestas. “Os motivos que influenciam no aumento da mineração ilegal, principalmente de ouro, vão desde fatores globais, como a demanda global pelo metal, a fatores locais, como incentivos para expansão das atividades garimpeiras.”

O artigo aponta que a taxa de desmatamento ilegal cresceu mais de 90% de 2017 a 2020, atingindo mais de 100 km² no ano de 2020 em comparação com 52 km² em 2017. “A mineração ilegal opera sem compromissos ou regulações ambientais, portanto, não há responsabilização pelos danos causados por essas atividades. O desmatamento e degradação florestal resultantes dessas atividades ocorrem desenfreadamente, sem qualquer comprometimento com a recuperação das áreas afetadas”, relata Juliana. “Além da perda de floresta em si, corpos d’água são contaminados, afetando a vida aquática e ameaçando a saúde de comunidades ribeirinhas e povos indígenas que vivem nas proximidades dessas áreas.”

De acordo com a pesquisadora, para a implantação e operação de projetos de mineração industrial são necessárias licenças ambientais, para as quais são elaborados estudos e são propostas medidas mitigadoras para os impactos significativos. “Dessa forma, busca-se evitar, minimizar e compensar os impactos resultantes dessas atividades”, relata. As licenças são emitidas pelo órgão ambiental responsável que faz o acompanhamento do processo de licenciamento”, relata.

Legislação ambiental

“Atualmente há uma tendência de simplificação da legislação ambiental que vai justamente na contramão de todas as necessidades atuais de devida avaliação das consequências ambientais dos projetos”, alerta Juliana. “A discussão no Congresso do Projeto de Lei 3729, que propõe o fim do licenciamento ambiental, é uma das tentativas de extinguir um dos principais instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente.”

O artigo propõe dois caminhos para o controle do desmatamento decorrente da mineração ilegal, explica a pesquisadora. “Primeiramente, evidenciamos a necessidade de rastreamento do ouro por meio de esquemas de certificação. A rastreabilidade permite que a origem do ouro seja certificada e apenas ouro produzido de forma lícita seja comercializado”, destaca. “Assim, a pressão de compradores para consumo de produtos que tenham sido produzidos de acordo com padrões sociais e ambientais tem potencial de minimizar e coibir o comércio de ouro originado de garimpos ilegais”.
Área de garimpo antigo abandonada no Jari.

Além das iniciativas relacionadas especificamente ao comércio de ouro, estratégias locais e nacionais para controle do desmatamento precisam ser fortalecidas. “Estas estratégias, como a criação e manejo de áreas protegidas bem como criação e implementação de instrumentos regulatórios, têm papel fundamental para controle do desmatamento na Amazônia”, conclui a pesquisadora.

Juliana relata que, embora o artigo trate da Amazônia brasileira como um todo, para a pesquisa de doutorado houve visitas em área ameaçada pela mineração ilegal na região do Jari, nos Estados do Amapá e do Pará. “Apesar dos locais de mineração visitados não estarem ativos, o Jari é uma região com altíssimos valores de biodiversidade e com diversas áreas protegidas que permanecem ameaçadas caso a mineração avance na região”, afirma.

O artigo foi elaborado por Juliana Siqueira-Gay, doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral da Poli, com supervisão do professor Luis Enrique Sánchez, do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Poli. (ecodebate)

Incêndios florestais desencadeiam impactos em cascata nas bacias hidrográficas

Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade do Novo México descobriu que os incêndios florestais – que têm aumentado em frequência, gravidade e extensão ao redor do mundo – são um dos maiores causadores de danos aquáticos no oeste dos Estados Unidos, ameaçando o abastecimento de água.

A pesquisa, “Wildfires increasingly impact western US fluvial networks”, foi publicada recentemente na Nature Communications. Os autores incluem os ex-alunos de graduação da UNM Grady Ball (agora no Serviço Geológico dos EUA) e Justin Reale (agora no Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA); ex-pesquisador de pós-doutorado Peter Regier (agora no Pacific Northwest National Laboratory); professor associado Ricardo González-Pinzón (Departamento de Engenharia Civil, Construtiva e Ambiental) e professor assistente de pesquisa David Van Horn (Departamento de Biologia).

O estudo descobriu que cerca de 6% do comprimento de todos os riachos e rios no oeste dos EUA foram diretamente afetados por distúrbios de incêndios florestais (definidos por estarem localizados em áreas queimadas) entre 1984 e 2014, e que a cada ano existem cerca de 342 novos quilômetros deles diretamente afetados.

Quando os pesquisadores contabilizaram a propagação longitudinal dos distúrbios da qualidade da água dentro e através das bacias hidrográficas, estimou-se que os incêndios florestais afetam cerca de 11% do total do riacho e do comprimento do rio.

Os autores disseram que há poucos estudos sobre o impacto dos incêndios florestais nas redes fluviais (bacias hidrográficas), então este estudo é significativo porque foi a primeira análise em grande escala a utilizar o sensoriamento remoto do perímetro e severidade das queimadas, qualidade da água in-situ monitoramento e modelagem longitudinal para determinar estimativas do comprimento do riacho e do rio impactado por incêndios florestais em escala continental.

Embora o impacto direto de incêndios florestais em lugares como a Califórnia tenha sido amplamente relatado, particularmente em termos de vidas e estruturas perdidas (a temporada de incêndios florestais de 2018 na Califórnia custou 100 vidas, danificou 24.000 estruturas e resultou em US $ 2 bilhões em indenizações de seguros, relata o estudo), os impactos diretos e prolongados dos incêndios florestais não foram totalmente quantificados.

O estudo alerta que há evidências crescentes de que incêndios florestais desencadeiam impactos em cascata nas redes de rios. Embora os incêndios florestais não sejam especificamente mencionados na Avaliação de Água Limpa da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, os distúrbios dos incêndios florestais contribuem para pelo menos 10 dos 20 distúrbios mais críticos listados na avaliação, como sedimentos elevados, enriquecimento de nutrientes, enriquecimento orgânico e esgotamento de oxigênio, elevado temperatura, concentrações elevadas de metal, alterações de habitat, turbidez elevada, alterações de fluxo, salinidade elevada e / ou sólidos dissolvidos totais e alterações de pH e condutividade. Como as bacias hidrográficas florestais fornecem água potável para cerca de dois terços das pessoas que vivem no oeste dos Estados Unidos, o impacto é enorme, tanto em termos econômicos quanto de segurança hídrica.

Os autores apontam que os incêndios florestais impactam o fluxo e a qualidade da água, pois se originam nas encostas e causam diminuição da capacidade de infiltração e recarga das águas subterrâneas, redução drástica da capacidade de crescimento da vegetação em terrenos impactados e maior frequência de deslizamentos e avalanches. Além disso, substâncias perigosas, incluindo metais em níveis que excedem os padrões de água potável da Organização Mundial da Saúde, são encontradas em águas superficiais muito depois que os incêndios florestais são extintos.

Van Horn disse que uma das motivações para este estudo foi testemunhar os impactos do incêndio florestal de Las Conchas em 2011, o segundo maior incêndio florestal da história do Novo México, resultando em inundações rápidas e massivas na área queimada e uma diminuição mensurável na qualidade da água do Rio Grande, perto do local queimado, centenas de quilômetros à jusante.

Houve uma diminuição dramática do oxigênio na água, bem como o transporte de grandes quantidades de cinzas e sedimentos que forçou a paralisação de dois meses da única tomada de água superficial da cidade de Albuquerque, que fornece cerca de 70% da água potável para a área.

Em um futuro próximo, sua equipe se concentrará na criação de equipes de resposta rápida que possam conduzir pesquisas com segurança, sob demanda, logo após os incêndios florestais serem contidos. Essa pesquisa se concentrará em responder até que ponto à jusante os distúrbios de incêndios florestais podem se propagar nas redes fluviais e quais são os principais fatores de controle. Devido às mudanças climáticas e às práticas atuais de manejo florestal, que permitiram que os combustíveis se acumulassem em vez de queimar naturalmente em incêndios menores, os incêndios florestais só devem piorar no futuro.

O estudo recomenda alguns itens de ação que podem ser realizados para mitigar os efeitos:

Investir financiamento na preparação e prontidão para o incêndio. Eles aconselham que os impactos de incêndios florestais em riachos e rios precisam ser priorizados para financiamento local, estadual, federal e internacional e ser incluídos como um componente dos planos de preparação para incêndios florestais. Uma vez que os incêndios florestais se comportam de maneira imprevisível e evoluem rapidamente, equipes de resposta rápida precisam ser estabelecidas e financiadas para lidar de forma adequada com as questões de bacias hidrográficas após os incêndios.

Aumentar o foco na captura do comportamento longitudinal. Mais recursos devem ser dedicados à questão da propagação à jusante dos impactos dos incêndios florestais. Pesquisas adicionais são necessárias, especialmente para o que a equipe chama de abordagens de monitoramento ‘dinâmicas’ que se concentram na coleta de dados longitudinais que complementam as estratégias tradicionais de monitoramento ecológico estacionário.

Incorporar dados de alta frequência no monitoramento ambiental. Como os distúrbios da qualidade da água relacionados aos incêndios florestais ocorrem rapidamente e por um curto período, dados de alta resolução e em tempo real são essenciais. A equipe aconselha o uso de ferramentas de alta tecnologia para monitoramento aquático, sensores e aprendizado de máquina entre os métodos que podem coletar e interpretar dados de alta frequência quase em tempo real.

O financiamento para este estudo foi fornecido pela National Science Foundation e pelo Modelo de Operações Hídricas do Alto Rio Grande do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA. (ecodebate)

Poluentes degradáveis se infiltram rapidamente na água subterrânea

Todo o ecossistema do planeta, incluindo os humanos, depende de água limpa. Quando a rocha carbonática sofre erosão, áreas cársticas são formadas, das quais cerca de um quarto da população mundial obtém sua água potável.

Os cientistas têm estudado a rapidez com que os poluentes podem chegar ao abastecimento de água subterrânea em áreas cársticas e como isso pode afetar a qualidade da água potável. Uma equipe internacional liderada pelo Professor Júnior Dr. Andreas Hartmann, da Cadeira de Modelagem Hidrológica e Recursos Hídricos da Universidade de Freiburg, comparou o tempo que a água leva para escoar da superfície para a subsolo com o tempo que leva para os poluentes se decomporem em regiões de rochas carbonáticas na Europa, Norte da África e Oriente Médio. Os pesquisadores publicaram seus resultados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

As aplicações anteriores de modelos hidrológicos continentais ou globais enfocaram principalmente a ocorrência de enchentes ou secas e a disponibilidade geral de água potável. No entanto, os cientistas têm negligenciado predominantemente a qualidade da água como um fator importante para a potabilidade da água nessas grandes escalas, em particular a rapidez com que os poluentes podem vazar da superfície da terra para o lençol freático através de rachaduras ou fissuras.

Os resultados da pesquisa atual de Hartmann e sua equipe mostram que em regiões cársticas, que são caracterizadas por um aumento na ocorrência de rachaduras ou fissuras, o risco de poluição por poluentes degradáveis como pesticidas, produtos farmacêuticos ou patógenos é significativamente maior do que o esperado anteriormente. Embora os poluentes sejam considerados de curta duração, até 50% deles ainda podem atingir as águas subterrâneas, dependendo do período de sua decomposição. A principal razão para isso, mostram os pesquisadores, são as vias de infiltração rápidas que permitem que grandes quantidades de água infiltrada atinjam as águas subterrâneas em um curto período.

Particularmente em regiões com solos finos, como a região do Mediterrâneo, os poluentes na superfície podem se infiltrar rapidamente e em altas concentrações na subsolo durante grandes eventos de chuva.

Os pesquisadores de Hartmann demonstraram as consequências usando o exemplo do pesticida degradável Glyphosate. De acordo com seus cálculos, o transporte rápido de glifosato para as águas subterrâneas pode fazer com que exceda seus valores permissivos por um fator de até 19.

O aumento do risco de poluição da água potável ou dos ecossistemas que dependem das águas subterrâneas é particularmente relevante para regiões onde a agricultura depende de fertilizantes degradáveis e pesticidas.

Esta pesquisa foi financiada pelo Programa Emmy Noether da Fundação Alemã de Pesquisa (DFG) no âmbito do projeto de Andreas Hartmann “Avaliação Global do Estresse Hídrico em Regiões Cársticas em um Mundo em Mudança”. (ecodebate)

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Telhados brancos e áreas verdes atenuam os efeitos de calor em cidades

Telhados brancos e áreas verdes atenuam os efeitos das ondas de calor nas cidades.
Um estudo do ICTA-UAB avalia a eficácia de diferentes soluções urbanas para reduzir a temperatura na Área Metropolitana de Barcelona.

A frequência e a intensidade das ondas de calor nas cidades estão aumentando devido às mudanças climáticas, com grande impacto negativo na saúde e nas taxas de mortalidade da população.

Atividades antrópicas e materiais urbanos afetam o acúmulo de calor nas cidades, e a radiação solar armazenada ao longo do dia no asfalto e edifícios é liberada lentamente durante a noite, gerando um estresse térmico significativo. Para enfrentar esse problema crescente, as cidades devem estabelecer estratégias eficazes de mitigação que permitam reduzir a temperatura durante as ondas de calor.

Estudo realizado por pesquisadores do Institut de Ciència i Tecnologia Ambientals da Universitat Autònoma de Barcelona (ICTA-UAB) avalia a eficácia de soluções como a criação de coberturas cool (brancas) nas edificações e a ampliação de áreas verdes urbanas na Área Metropolitana de Barcelona (AMB). Os resultados, recentemente publicados na revista científica Urban Climate, mostram que a aplicação combinada dessas duas estratégias permitiria atingir os maiores índices de redução de temperatura durante esses episódios de verão.

Para a realização do estudo, os pesquisadores utilizaram um modelo meteorológico que incluiu onze diferentes tipologias de áreas urbanas da AMB e simularam a onda de calor registrada em julho de 2015, quando as temperaturas diurnas atingiam entre 35ºC e 40ºC e as noturnas ultrapassavam 25ºC.

O estudo simulou diferentes cenários de mitigação com base em soluções como a criação de coberturas frias em edifícios residenciais e industriais, ou o aumento de áreas verdes de acordo com as metas estabelecidas pelo Plano Diretor Urbano (PDU) da AMB. Os telhados frescos podem ser obtidos pintando os telhados de branco para aumentar o albedo, ou seja, a porcentagem de radiação que reflete da superfície e que não é absorvida pela construção. Por sua vez, o PDU prevê a adição de 6 parques urbanos e áreas verdes com um total de 255,64 ha até 2030, o que significa aumentar a vegetação de 32,54% para 35,92%.

Os quatro cenários analisaram os efeitos do aumento do albedo de certos telhados para 0,85 pintando-os de branco, de preferência telhados planos e acessíveis; aumentar as áreas verdes urbanas com uma rega diária de 2 l/m2, e com uma rega superior de 5 l/m2. O último cenário combinou a opção de telhados frios com a criação de áreas verdes adicionais com irrigação de 5 l/m2.

Os resultados mostram que o cenário que combina as duas estratégias é o de maior impacto, com redução média da temperatura de 1,26ºC. A redução chega a 4,73ºC durante o dia (às 15h) e a 1,88ºC à noite (21h). Essa diminuição do calor também tem efeitos positivos no consumo de energia, com gastos 26% menores com ar-condicionado.

O primeiro cenário com telhados frios permite que a temperatura média seja reduzida em 0,67ºC, mas é mais eficaz durante o dia, atingindo uma redução máxima de 3,83ºC às 15h00, em comparação com a redução máxima de 1,63ºC à noite (7h). A estratégia de aumentar as áreas verdes reduz a temperatura em menor grau, embora ofereça melhores resultados no cenário com maior irrigação (diminuição de 0,15ºC em média para irrigação de 2 l/m2, comparada a uma diminuição de 0,61ºC no cenário com rega de 5 l/m2). “Vimos que quando a irrigação é aumentada, a redução da temperatura diurna melhora notavelmente graças ao efeito de resfriamento causado pela evapotranspiração”, diz Joan Gilabert, principal autora do estudo.

Apesar da redução da temperatura em todos os cenários estudados, a regulação térmica resultante da combinação das duas estratégias (telhados brancos e áreas verdes) é a de maior impacto.

“Combina os benefícios da redução da temperatura noturna devido a mais áreas verdes urbanas, com a redução do calor diurno devido ao aumento do albedo e da irrigação, amenizando os efeitos das ondas de calor em um período de 24 horas”, explica Sergi Ventura, coautor do estudo. Ele acrescenta que os telhados brancos reduzem a temperatura nas áreas centrais e urbanas mais densas, enquanto os parques ajudam a reduzir o calor nas áreas mais próximas.

Este estudo exemplifica como esses esforços de modelagem urbana podem ajudar os tomadores de decisão em nível de cidade na melhor estratégia de planejamento urbano para neutralizar os impactos das ondas de calor, que devem aumentar devido às mudanças climáticas globais e à intensificação das taxas de urbanização. (ecodebate)

Maior iceberg do mundo se solta na Antártida e equivale a 3 cidades de SP

Maior iceberg do mundo se solta na Antártida e equivale a 3 cidades de São Paulo/SP.

O gigantesco bloco de gelo A-76, que flutua no Mar de Weddell, tem uma área de 4.320 km2; já a capital paulista tem aproximadamente 1.521 km².

O iceberg A-76 é o maior do mundo e mede cerca de 4320 km2; ele se soltou de sua plataforma de gelo na Antártida.

Um bloco de gelo gigante se deslocou de sua plataforma e tornou-se o maior iceberg do mundo agora que está flutuando no Mar de Weddell, na Antártida. O acontecimento foi divulgado pela Agência Espacial Europeia (ESA) em 19/05/21.

Chamado de A-76, o iceberg tem três vezes o tamanho da cidade de São Paulo, com cerca de 170 quilômetros de comprimento, 25 quilômetros de largura e uma área de 4.320 km2.  A capital paulista tem aproximadamente 1.521 km².

A-76 ultrapassou o gigante antecessor, A-23A, que tem aproximadamente 3,8 mil km² e também fica no Mar de Wenddell. O 2º maior iceberg partiu da plataforma de gelo Filchner-Ronne em setembro/1986 e encalhou no sul de Weddell em novembro/1991.

Segundo a Agência France-Presse (AFP), o mais novo iceberg se separou do lado oeste, também da plataforma Filchner-Ronne, e foi originalmente localizado pelo órgão britânico de pesquisa British Antarctic Survey (BAS).

Fotos do atual maior iceberg foram captadas pela missão Sentinel-1, do programa de observação Copernicus, da ESA. A empreitada consiste em dois satélites de órbita polar que dependem de imagens de radar para retornar dados de dia e de noite, permitindo visualização durante todo o ano.

De acordo com a CNN, os cientistas não estão atribuindo o deslocamento do iceberg A-76 às mudanças climáticas e acreditam que o fenômeno faz parte do ciclo natural de formação de blocos de gelo na região.

O iceberg A-23A, que costumava ser o maior do mundo, partiu da plataforma de gelo Filchner em setembro de 1986 e encalhou no sul do mar de Weddell em novembro de 1991.

Após o derretimento, A-76 não vai elevar o aumento do nível do mar, justamente por ter feito parte de uma plataforma de gelo flutuante. O processo lembra o que ocorre com um cubo de gelo quando ele derrete e não aumenta o nível do copo.

Acontece que icebergs como A-76 são diferentes de geleiras ou mantos de gelo, que se encontram em terra e elevam o nível do mar quando quebram ou derretem. Se todo manto congelado da Antártida derreter, a estimativa é que esse nível possa aumentar em cerca de 58 metros.

Isso preocupa os cientistas, já que algumas plataformas de gelo ao longo da península Antártica sofreram rápida desintegração nos últimos anos, um fenômeno atrelado ao aquecimento global, de acordo com o centro de estudos polares US National Snow & Ice Data Center.

Maior Iceberg do mundo se desprende na Antártica.

Desde o século 19, a temperatura média da superfície da Terra aumentou 1ºC, o que fez com que crescesse o número de secas, ondas de calor e ciclones tropicais. No continente antártico, o ar aqueceu mais que o dobro nesse mesmo período, segundo a agência AFP. (revistagalileu.globo)

Gigantes do agro compram "soja pirata" que acelera desmatamento

Gigantes do agro compram "soja pirata" que acelera desmatamento da Amazônia.
De um lado regras rígidas blindam a Amazônia contra o avanço da soja, por outro, imagens de satélite e documentos mostram uma realidade diferente: uma floresta que segue sendo destruída pela a demanda global do grão e com a participação de gigantes do agronegócio.

É o que revela uma investigação conjunta da Repórter Brasil, do Bureau of Investigative Journalism e do Unearthed, que descobriu que três multinacionais compraram soja de revendedoras que foram abastecidas por uma produtora rural multada em R$ 12 milhões por desmatar e incendiar a floresta amazônica. Trata-se da sojeira Alexandra Aparecida Perinoto, de Marcelândia/MT, que vendeu para a chinesa Fiagril e para a russa Aliança Agrícola do Cerrado – duas intermediárias que, por sua vez, forneceram para as gigantes Cargill, Bunge e Cofco.

Usando imagens de satélite, registros de fiscalização e outras evidências, a investigação descobriu como a soja foi plantada ilegalmente por Perinoto em terras embargadas pelo IBAMA por terem sido desmatadas – o que é proibido segundo a legislação ambiental. As descobertas expõem como a soja "pirata" – plantada de forma irregular e ligada ao desmatamento da Amazônia – pode entrar em cadeias de abastecimento internacionais supostamente "limpas", apesar da existência da Moratória da Soja, mecanismo criado em 2006 para deter a destruição da floresta amazônica.

Assinada por todas as principais empresas do agronegócio, incluindo Fiagril, Aliança, Cargill, Bunge e Cofco, a moratória proíbe a compra ou exportação do grão cultivado em áreas na Amazônia que foram desmatadas depois de julho/2008. Estima-se que o acordo tenha evitado, em dez anos, o desmatamento de cerca de 1,8 milhão de hectares – o equivalente a quase a extensão de Israel.

Contudo, nossa investigação revela brechas no sistema de monitoramento da moratória, que permite que as empresas continuem comprando soja de agricultores ligados ao desmatamento ilegal. Satélites detectaram uma série de grandes incêndios, ocorridos em junho do ano passado, em uma faixa de terra usada para plantação de soja e para a pecuária nas fazendas de Perinoto. Imagens mostram fumaça e chamas destruindo a vegetação.

Não foi a primeira vez. Além das queimadas, pelo menos 1.500 hectares de suas propriedades foram embargados em abril de 2019 pelo IBAMA, após terem sido desmatados ilegalmente. Os embargos proíbem atividades econômicas na área – uma forma de punir os desmatadores e possibilitar a recuperação da mata nativa.

Perinoto também foi alvo de outro embargo, desta vez do órgão ambiental estadual (Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso), aplicado em 2016. Somadas, as multas da sojeira totalizam R$ 12 milhões.

Usando a análise de satélite da plataforma de dados ambientais MapBiomas, a Repórter Brasil flagrou a soja sendo cultivada ilegalmente nesta porção de terra em 2018 e 2019, violando os embargos.

Além disso, Perinoto está em uma lista da Moratória da Soja que reúne fornecedores acusados de desmatamento ilegal, divulgada a empresas do setor para ajudar os comerciantes a evitar a compra da 'soja pirata'. A relação é compilada anualmente por órgãos da indústria e pelo Greenpeace, que foi fundamental para estabelecer a moratória em 2006.

Apesar disso, o Bureau apurou que a soja produzida por Perinoto entrou nas cadeias de abastecimento de pelo menos duas grandes empresas: Fiagril e Aliança, que compraram quantidades significativas de Perinoto em 2019.
No caso de Perinoto, suas fazendas formam uma teia complexa de registros de terras, divididas em três propriedades separadas, que ficam a menos de 20 km uma da outra. As fazendas estão registradas em nome de Alexandra Perinoto e de seus 3 filhos. Como nem todas as fazendas da sojeira estão embargadas, a soja é plantada em uma área "suja", mas pode ser vendida pela fazenda "limpa". Um dos mecanismos usados por desmatadores para burlar a moratória, conhecido como "triangulação da soja", ou "lavagem da soja".

Uma das brechas do sistema de monitoramento da Moratória da Soja é considerar somente a propriedade rural onde o desmatamento ocorreu, ignorando, por exemplo, fazendas vizinhas do mesmo proprietário. Especialistas e ativistas dizem que esta situação deixa a porta aberta para a "lavagem da soja".

Procurada, Alexandra Perinoto se recusou a responder as perguntas. "Não tenho nada a declarar. O que você publicar vai ter que provar", disse a fazendeira por telefone.

A Aliança não negou ter comprado o grão de Perinoto e afirmou que passa, regularmente, por auditoria independente. "Não há fatos ou decisões oficiais que mencionem, conectem ou de qualquer outra forma se refiram à Aliança em quaisquer violações ambientais". A empresa disse ainda que "negócios fora do controle da Aliança permanecem sob a responsabilidade exclusiva do agricultor/produtor".

A Fiagril disse que "não adquiriu soja de áreas proibidas devido a danos ambientais", mas não negou ter comprado da desmatadora. E acrescentou que "em fevereiro/2021, após auditoria da safra 2019/20, a Fiagril recebeu declaração oficial assinada pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove) e Greenpeace atestando o cumprimento integral da moratória da soja".

O Greenpeace disse, no entanto, que a afirmação da Fiagril é imprecisa, já que a auditoria da safra 2019/2020 foi "incompleta e inconclusiva" e solicitou mais informações aos comerciantes. "As conclusões desta investigação ligando a Fiagril à soja potencialmente ilegal são extremamente preocupantes e iremos garantir que sejam investigadas e que sejam tomadas as medidas adequadas", afirmou a organização.

O Greenpeace reconheceu que o sistema de monitoramento da moratória "não é perfeito" e que está "pressionando por melhorias, incluindo maior transparência e escrutínio adequado de fornecedores indiretos e estratégias para evitar a triangulação da soja".

Da floresta desmatada para o mundo

O consórcio investigativo analisou documentos de transporte e dados de comércio internacional e averiguou que a Fiagril e a Aliança exportaram pelo menos 2,5 milhões de toneladas de soja brasileira desde agosto/2015.

Registros obtidos pelo Bureau mostram que a Bunge comprou soja da Fiagril, enquanto a Cargill e Cofco adquiriram da Aliança. As revendas para as três gigantes ocorreram após as duas empresas terem negociado o grão com Perinoto em 2019, segundo documentos obtidos pelo Bureau.

Procurada, a Bunge informou que não compra soja da Aliança desde 2017 e que a Fiagril não fornecia soja de Marcelândia. "Como signatária da Moratória da Soja na Amazônia, as compras da Fiagril são auditadas por entidades independentes", disse a empresa sobre uma de suas fornecedoras.

A Cargill disse que não comprou soja "diretamente" de Perinoto, mas, mesmo assim, afirmou que irá investigar Fiagril e Aliança do Cerrado. "Temos mantido firmemente a Moratória da Soja Brasileira na Amazônia desde 2006. Vamos investigar Fiagril e Aliança do Cerrado de acordo com nosso processo de reclamação da soja".

A Cofco afirmou que realiza auditorias internas mensais, "bem como auditorias externas anuais sobre o cumprimento da Moratória por parte dos fornecedores. A auditoria de 2019 confirmou que todos os nossos fornecedores cumpriram os requisitos da Moratória na temporada passada". (biodieselbr)

Degradação florestal na Amazônia afeta área três vezes maior que desmatamento

Entre março de 2023 e de 2024, INPE detectou aviso de degradação para 20,4 mil km², maior que os 18 mil km² do período anterior. É necessári...