quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

2019 pode ser o ano mais quente já registrado

2019 pode ser o ano mais quente já registrado — entenda por quê.
Causado por um provável El Niño e pelas mudanças climáticas, há uma previsão de que o planeta aqueça ainda mais, advertem os cientistas.
Ondas de tempestade atingem as casas litorâneas de Mondos Beach, na Califórnia, em 12 de janeiro de 2016, durante um forte El Niño. Ele pode retornar em breve.
É muito provável que o fenômeno El Niño esteja a caminho, acentuando o clima extremo já agravado pelas mudanças climáticas e aumentando a chance de que 2019 seja o ano mais quente já registrado na história humana, alertam os cientistas.
Há uma chance de 80% de que um El Niño plenamente formado já tenha começado e dure ao menos até o fim de fevereiro de 2019, segundo o Centro de Previsões Climáticas da Administração Atmosférica e Oceânica Nacional.
Os impactos do El Niño foram mais severos nos últimos anos por causa do aquecimento global e esses impactos piorarão à medida que as temperaturas continuarem a subir, segundo um estudo recente da revista científica Geophysical Research Letters.
“Com um El Niño, é bem possível que 2019 seja o ano mais quente já registrado”, afirmou Samantha Stevenson, coautora do estudo e cientista climática da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.
Os quatro anos mais quentes foram os quatro últimos, de 2015 a 2018, em razão das crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) que aprisionam o calor—e que também alcançaram níveis recordes, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O clima da Terra está mais quente que a média do século 20 nos últimos 406 meses consecutivos, o que significa que ninguém que tenha menos de 32 anos já viveu um mês mais frio que a média.
“Cada fração de grau de aquecimento faz diferença à saúde humana e ao acesso a alimentos e água doce, à extinção de plantas e animais, à sobrevivência de recifes de corais e de animais marinhos”, afirmou Elena Manaenkova, Secretária-Geral Adjunta da OMM.
Conheça as causas e o impacto do aquecimento global e das mudanças do clima em nosso planeta.
Os perigos do aquecimento
Um mundo mais quente significa mais e maiores extremos climáticos destrutivos e perigosos, como ondas de calor, incêndios florestais, secas, enchentes e tempestades violentas. Ocorreram 70 furacões ou ciclones tropicais no Hemisfério Norte em 2018, em comparação a uma média de 53 em longo prazo. Tempestades poderosas, que fizeram história, trouxeram devastação às Ilhas Marianas, Filipinas, Vietnã, Coréia do Sul e Tonga. Nos Estados Unidos, os ciclones Florence e Michael causaram prejuízos econômicos enormes e considerável perda de vidas, observou a OMM em sua declaração climática anual.
Ondas de calor resultaram em uma estarrecedora perda de produtividade em 2018, porque frequentemente estava muito calor para trabalhar ou até mesmo ficar ao ar livre em segurança. No último ano, foram perdidas 153 milhões de horas de trabalho em razão das ondas de calor, um número surpreendente; quase três vezes mais que em 2000, segundo o relatório de 2018 da Lancet Countdown sobre saúde e mudanças climáticas divulgado em 28 de novembro.
O último fenômeno El Niño terminou em 2016 e foi associado ao catastrófico branqueamento de corais na Grande Barreira de Corais, às graves secas na África, América do Sul, partes do Pacífico e sudeste da Ásia, e aos incêndios florestais na Indonésia e no Canadá. Embora não se espere que o atual El Niño seja tão severo, ele ainda poderia trazer um clima rigoroso a áreas vulneráveis ao redor do mundo, advertem os cientistas.
Alergias e asma continuarão a aumentar. Prepare-se para um ar mais sujo. Espera-se que as mudanças climáticas aumentem o ozônio atmosférico - amplamente conhecido por levar à diminuição da função pulmonar - até dez partes por bilhão. Os casos de asma podem saltar até 10% em áreas urbanas, como a cidade de Nova York. As temporadas de pólen mais longas levarão a mais alergias relacionadas ao ar, dizem os cientistas, e com dióxido de carbono crescente, a contagem do pólen dobraria em 2000 níveis.
O envelhecimento das infraestruturas de transporte não se misturará bem às condições climáticas extremas. Grandes tempestades e condições meteorológicas extremas já mostraram sua força. O impacto nas redes de transporte não será bonito e o nível destruição da supertempestade Sandy em 2012 poderá se repetir. Cientistas esperam que cenários semelhantes aumentem em regiões que se tornarão mais vulneráveis à mudança do clima. Vários estados dos Estados Unidos, incluindo Vermont, Tennessee, Iowa e Missouri, já passaram por um clima severo que danificou estradas, pontes e ferrovias. Alguns engenheiros preocupam-se também com o envelhecimento da infraestrutura e as demandas crescentes, criando rotas não confiáveis para o transporte de produtos vitais, como alimentos, combustível e água.
As cidades podem se tornar ainda mais perigosas. Os conglomerados urbanos são considerados atraentes, principalmente pela proximidade às principais conveniências. Mas há uma grande desvantagem. Os desastres naturais causados pelas mudanças climáticas - como o aumento de furacões e tempestades mais severas - mostram que qualquer problema pode impactar a vida de milhões de pessoas. Apenas algumas cidades elaboraram planos para lidar com esses eventos. O fechamento do sistema de metrô de Nova York e a emissão de ordens de evacuação antecipada para algumas partes de Nova York e Nova Jersey antes da supertempestade Sandy, por exemplo, salvou milhares de vidas e lares.
"O planeta continua aquecendo. Especialmente nos Estados Unidos, onde o ano de 2012 foi o mais quente já registrado, de longe. Em ciclos de poucos anos, o governo federal envolve centenas de especialistas para avaliar os impactos das mudanças climáticas, agora e no futuro. Da agricultura e infraestrutura até o modo como os seres humanos consomem energia, o Comitê Consultivo para o Desenvolvimento da Avaliação Climática Nacional destaca como um mundo aquecido pode trazer perturbações generalizadas. Os agricultores verão declínios em algumas culturas, enquanto outros irão colher rendimentos aumentados. O carbono atmosférico não significará períodos de crescimento mais longos? Não exatamente. Ao longo das próximas décadas, o rendimento de praticamente todas as culturas no fértil Vale Central da Califórnia, do milho ao trigo, ao arroz e ao algodão, cairá em até 30%, dizem os pesquisadores.     A polinização apagada, impulsionada pelo declínio das abelhas em parte por causa da mudança do clima, é uma das razões. Cientistas do governo também esperam que o clima mais quente encurte a duração da temporada de geada necessária para muitas culturas crescerem na primavera. Além dos rendimentos, as mudanças climáticas também afetarão o processamento, o armazenamento e o transporte de alimentos - indústrias que exigem uma quantidade crescente de água e energia caras à medida que a demanda global aumenta - levando a preços mais altos dos alimentos.
As secas serão mais comuns em toda parte. O mundo tem uma quantidade finita de água e a população crescente aumentará a necessidade do recurso. As bacias hidrográficas no sudoeste dos EUA, incluindo as Montanhas Rochosas e o Rio Grande (imagens), terão problemas de abastecimento como o escoamento. Talvez pior, secas mais longas em regiões anteriormente férteis significarão menos garantia de produção para os agricultores e indústrias dependentes da água.
Mais demanda de energia, preços mais altos, mais mudanças climáticas. A tendência mundial é impressionante. Desde 1970, a demanda global por aquecimento diminuiu, enquanto a demanda por resfriamento aumentou. Temperaturas mais elevadas durante a próxima década e uma crescente população global continuarão a aumentar a demanda de energia, acelerando o ciclo de emissões que causam mudanças climáticas, que causam mais emissões. Entretanto projeta-se que a chuva caia até 40% em alguns lugares. Menos água, um ingrediente-chave na produção de energia, restringirá os sistemas de geração de energia. Além disso, os analistas do governo antecipam que uma chance maior projetada de inundações em certas áreas arriscará inundar geradores de energia e interromper as rotas de transmissão.
O El Niño e o fenômeno oposto, a La Niña, formam um ciclo natural que pode durar de alguns meses a dois ou três anos. Quando eles ocorrem, os padrões climáticos ao redor do mundo podem ser afetados, provocando uma  série de impactos em plantações, escassez, demandas de aquecimento e resfriamento de residências e construções, riscos de incêndio, branqueamento de corais e climas extremos. Os pesquisadores dizem que os impactos dos fenômenos El Niño/La Niña se tornaram cada vez mais severos nos últimos 20 anos devido ao clima mais quente, como um jogador de beisebol que usa esteroides e toma estimulantes durante os jogos eliminatórios.
A combinação do aquecimento causado pelo homem com a elevação natural das temperaturas aumenta a chance de que qualquer ano futuro com a presença do El Niño seja o mais quente de todos, afirmou Michael Mann, cientista climático da Universidade do Estado da Pensilvânia.
Mann foi coautor de um estudo de 2018 que associa as mudanças climáticas ao recente e mais intenso ciclo de secas, incêndios florestais e enchentes no Hemisfério Norte. Esses extremos climáticos destrutivos aumentarão em média 50 por cento e esse número pode chegar a 300 por cento devido apenas às mudanças climáticas, a não ser que o mundo aja rapidamente para cortar as emissões de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis, concluiu o estudo.
Normalmente, os fenômenos El Niño trazem pesadas chuvas à Califórnia e, se isso ocorrer neste inverno, poderiam provocar enchentes repentinas e deslizamentos de terra após os incêndios florestais que queimaram quase 650 mil hectares no último outono, conta Stevenson.  Quase 14 mil casas foram destruídas nesses incêndios e agora as primeiras tempestades da temporada já causaram enchentes e deslizamentos de terra.
Tshering Om, de 43 anos, ordenha um iaque no acampamento de verão da família.  A geleira Masangang ergue-se ao fundo. A família passa cinco meses do ano aqui fora de sua cidade natal, Laya. Ultimamente, as geleiras têm derretido mais rápido e crescido menos, e a família está preocupada se enfrentarão recursos hídricos escassos no futuro.
Tshering, pastor de iaques de 50 anos, realiza um ritual mensal em que ele derruba iaques machos ao chão e despeja sal em suas gargantas. Acredita-se que a prática mantenha seus corpos fortes. Tshering tem 40 iaques, 20 deles machos.
O arco e flecha é o esporte nacional do Butão. O passatempo é desfrutado por jovens e idosos. Aqui, crianças atiram flechas com arcos feitos de bambu durante sua semana de férias em julho.
Três homens descansam durante uma competição local de arco e flecha em Paro. Da esquerda para a direita: Pema (seus amigos o chamam de “pedra”) trabalha em um hospital local, Bona trabalha no Museu Nacional do Butão, e Dawa trabalha no escritório florestal da região.
Estas bandeiras brancas representam as almas dos mortos em Gasa, Butão.
Em Gasa, Butão, monges jogam uma partida de vôlei contra a polícia local.
Karma Tenzin, de 15 anos, está no sétimo ano em Laya. Diferente de seus pais nômades e pastores de iaque, Karma que ser engenheiro e trabalhar na capital do Butão, Thimbu.
Abetos formam uma cobertura densa nesta floresta do Butão. A constituição do Butão garante que 60% das florestas do país permanecerão protegidas.
Duas fazendeiras pausam seu trabalho em um arrozal em Laya para fazer uma ligação. Laya foi ligada à eletricidade pela primeira vez no ano passado. A conexão foi bem-vinda uma vez que chegar à cidade mais próxima requer dias de caminhada.
Sonam, de 20 anos, tece uma trama feita de pelo de iaque e lã de ovelha. É uma habilidade tipicamente desempenhada pelas mulheres e passada de mãe para filha. Além de tecer para a família, Sonam vende seu artesanato.
Karma Yangchen, de seis anos, está apenas começando sua carreira de estudante.
A única loja de Laya é também um dos locais mais populares da cidade. Estudantes jogam um jogo chamado “carom”, da Índia.
Tshering prepara lenha em seu acampamento de verão perto da geleira de Masangang. Ele não sabe se seus filhos seguirão seu antigo estilo de vida nômade de pastoreio de iaques. A vida está mudando rapidamente em Laya, com alguns escolhendo trabalhar em escritórios e não no campo.
Uma mulher de Laya carrega sua filha em suas costas.
Embora o El Niño traga chuva e um clima mais ameno ao sul dos Estados Unidos, ele provoca calor e seca na Austrália, além de inverno seco no sudeste da África e norte do Brasil. Incêndios florestais catastróficos já irromperam  no leste da Austrália, juntamente com uma onda de calor com temperaturas acima de 44°C no fim de novembro.
Com a continuidade do aquecimento global, fenômenos futuros do El Niño estão propensos a resultar em condições ainda mais frias e úmidas nos Estados Unidos, aumentando os riscos de enchente. Por outro lado, os fenômenos La Niña aumentarão o risco de incêndios florestais e secas no sudoeste dos Estados Unidos, afirmou Stevenson.
Embora haja uma expansão dos efeitos dos fenômenos El Niño/La Niña em um mundo mais quente, não se sabe se as mudanças climáticas afetarão a ocorrência ou a intensidade desses fenômenos futuramente, conta ela.
O que causa os fenômenos El Niño?
A La Niña e o El Niño são, respectivamente, as fases fria e quente do ciclo El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que regula o calor no leste do Oceano Pacífico tropical. Em condições definidas pelos climatologistas como “neutras”, a pressão atmosférica alta predomina no leste do Pacífico, ao passo que a pressão baixa predomina no oeste. A diferença na pressão cria os ventos alísios, que sopram de leste a oeste sobre a superfície do Pacífico tropical, empurrando as águas quentes para o oeste. As águas mais frias e profundas então sobem à superfície no leste, substituindo as águas quentes.
Durante os episódios de La Niña, as diferenças de pressão são mais acentuadas, os ventos alísios sopram com mais força e as correntes de água fria no leste do Pacífico se intensificam. Por outro lado, durante o El Niño, a elevada pressão atmosférica na superfície no oeste do Pacífico e a menor pressão na região costeira das Américas fazem os ventos alísios enfraquecerem ou mudarem de direção, provocando temperaturas mais altas nas águas do leste do Pacífico.
Foram pescadores do Peru que batizaram o El Niño em homenagem ao nascimento de Cristo (“niño” significa “criança” ou “menino” em espanhol), pois os efeitos do aquecimento das águas da superfície do leste do Oceano Pacífico—como a chuva nos áridos desertos do Peru—ocorrem perto do Natal.
No decorrer de meses e, às vezes, de anos, o calor na camada superficial do Pacífico se dissipa e a água mais fria e mais profunda emerge à superfície, auxiliada pelas mudanças nos ventos alísios, o que resulta em um retorno às condições neutras ou ao surgimento da La Niña (“menina”, em espanhol), a “presenteadora”, por trazer água fria e rica em nutrientes propícia à vida marinha, alimentando uma população maior de peixes e aumentando a pesca na costa peruana. (nationalgeographicbrasil)

Como lidar com as mudanças climáticas sem sacrificar a qualidade da água

Podemos lidar com as mudanças climáticas sem sacrificar a qualidade da água?
As estratégias para limitar as mudanças climáticas devem levar em conta seu impacto potencial na qualidade da água por meio da sobrecarga de nutrientes, de acordo com um novo estudo de Eva Sinha e Anna Michalak, da Carnegie, publicado pela Nature Communications. Alguns esforços para reduzir as emissões de carbono podem, na verdade, aumentar o risco de prejuízos na qualidade da água.
Chuvas e outras precipitações levam os nutrientes das atividades humanas, como a agricultura, para os canais. Quando as vias fluviais ficam sobrecarregadas de nutrientes, pode ocorrer um fenômeno perigoso chamado eutrofização, que às vezes pode levar à proliferação de algas produtoras de toxinas ou zonas mortas de baixo oxigênio chamadas hipóxia.
Por vários anos, Sinha e Michalak vêm estudando os efeitos do escoamento de nitrogênio e os caminhos que esperavam mudanças nos padrões de precipitação devido às mudanças climáticas poderiam levar a graves problemas de qualidade da água.
Neste último trabalho, eles analisaram como uma série de decisões sociais sobre o uso da terra, desenvolvimento, agricultura e mitigação climática poderiam afetar a já complexa equação de projetar riscos futuros para a qualidade da água em todo o território dos EUA. Eles então consideraram como as mudanças climáticas relacionadas nos padrões de precipitação contribuiriam adicionalmente para este risco global de qualidade da água.
Eles descobriram que os esforços de mitigação da mudança climática que dependem fortemente de biocombustíveis poderiam ter a consequência não intencional de aumentar a quantidade de nitrogênio que entra nos cursos d’água dos EUA, causando problemas de qualidade da água. Cenários que exigissem uma grande expansão da produção doméstica de alimentos seriam ainda piores, aumentando tanto as emissões de combustíveis fósseis quanto os problemas de qualidade da água.
Já entramos no cheque especial ambiental.
Mas as soluções ganha-ganha também são possíveis.
“É inteiramente possível combater a mudança climática de maneiras que não tenham consequências não intencionais para a qualidade da água”, enfatizou Michalak. “Precisamos de uma abordagem que leve em consideração múltiplos benefícios no processo de planejamento.”
Talvez sem surpresa, os cenários mais bem-sucedidos considerados no estudo dependiam do crescimento e conservação sustentáveis.
Analisando as diferenças regionais dentro dos EUA, Sinha e Michalak descobriram que o impacto do excesso de nitrogênio devido a decisões de manejo da terra e mudanças na precipitação relacionadas a mudança climática seria o mais forte no Nordeste.
Globalmente, a Ásia estaria em maior risco de eutrofização devido aos aumentos projetados no uso de fertilizantes e aumentos antecipados de precipitação.
“Nossas descobertas mostram que é crucial considerar o potencial para deficiências na qualidade da água ao fazer escolhas sociais sobre como a terra é usada e desenvolvida, bem como sobre como trabalhamos para combater a mudança climática”, disse Sinha. “O acesso à água limpa é essencial para a sobrevivência humana, a produção de alimentos e energia e um ecossistema saudável. Preservar nossa capacidade de acessar água limpa deve ser uma prioridade máxima”.
Regiões altamente populosas no sul, leste e sudeste da Ásia estão sob alto risco de aumento da eutrofização devido ao grande e robusto aumento projetado nas taxas de aplicação de fertilizantes. Um uso de fertilizantes por unidade de área para o período histórico (1976-2005) em média ao longo dos 30 anos. b Mudança projetada no uso de fertilizantes por unidade de área no final do século (2071–2100) em relação ao período histórico, média dos 30 anos e seis cenários e mostrada apenas para regiões em que pelo menos cinco dos seis cenários concordam com a direção da mudança do período histórico para o final do século. Regiões mostrados em branco não têm uso de fertilizantes; b as regiões mostradas em branco não têm uso de fertilizantes ou não têm pelo menos cinco cenários com uma direção consistente de mudança. (ecodebate)

Estamos em uma situação de emergência planetária’

Mudanças Climáticas: ‘Estamos em uma situação de emergência planetária’.
Pesquisadores refletem sobre dez anos de pesquisa e discutem estratégias para avançar no conhecimento e no convencimento da sociedade sobre as ameaças do aquecimento global.
O recado da ciência é claro e já vem sendo dado há algum tempo: o aquecimento global é um problema real, causado pelo homem, com consequências climáticas gravíssimas, e que precisa ser atacado com urgência por todos os países, pelo bem da humanidade.
Mas nunca é demais repetir, o que muitos parecem não querer ouvir: “Estamos numa situação de emergência planetária, ponto”, diz o especialista Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e co-coordenador do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, que recentemente completou dez anos e agora busca renovar sua agenda de pesquisa para a próxima década.
Criado em agosto de 2008, o programa multiplicou por cinco os investimentos da FAPESP em pesquisas sobre mudanças climáticas, de uma média de aproximadamente R$ 4 milhões por ano até 2007, para mais de R$ 20 milhões anuais, desde 2008. O resultado foi um aumento igualmente expressivo da produção científica paulista sobre o tema, de aproximadamente 15 artigos publicados por ano em 2007 para 280 artigos, em 2018 (Figuras 1 e 2); grande parte deles feita em parceria com pesquisadores de outros Estados e países.
“Uma característica dessa área é que ela envolve muita colaboração”, destacou o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, em entrevista ao Jornal da USP. Entre os resultados científicos de maior destaque do programa, segundo ele, estão as previsões de aumento do nível do mar no litoral paulista e a caracterização dos chamados “rios voadores” da Amazônia, que levam umidade da floresta para outras regiões do Brasil.
Figura 1: Valores contratados pela FAPESP para pesquisas sobre mudanças climáticas globais. Figura 2: Evolução da produção científica de autores baseados em São Paulo sobre o tema das mudanças climáticas globais. Em ambos os gráficos é possível notar o aumento a partir de 2008.
Ainda assim, mesmo após uma década de pesquisa, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas. Razão pela quais centenas de pesquisadores se reuniram na semana passada (dias 20 e 21), na sede da FAPESP, para fazer uma reflexão sobre a primeira década do programa e, em cima disso, iniciar um processo de revisão e planejamento de prioridades para os próximos dez anos.
Além da necessidade de aprofundar o conhecimento científico sobre diversos fenômenos naturais ligados às mudanças climáticas, um dos principais desafios identificados pelos pesquisadores na reunião foi a necessidade de uma melhor comunicação com a sociedade (e com seus atores econômicos e políticos) sobre os riscos e os impactos associados a essas mudanças — principalmente no que diz respeito aos impactos locais e sociais, que afetam diretamente a vida das pessoas.
“Vocês acham que alguém vai mudar seu estilo de vida por causa de urso polar?”, desafiou o médico Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) e professor da Faculdade de Medicina da USP. Segundo ele, a ciência precisa inovar na forma de se comunicar com a sociedade sobre o tema das mudanças climáticas, apostando em narrativas que combinem desafios globais com benefícios locais e individuais. Por exemplo, destacando os efeitos da poluição urbana sobre a saúde pública. “As pessoas mudam de comportamento mais quando vão para a UTI do que para a igreja”, disse. “Temos que fazer a mensagem chegar ao cidadão, se não vamos continuar sempre pregando para convertidos.”
Acima, as zonas noroeste (em verde) e sudeste (azul) de Santos serão as mais afetadas pela elevação do nível do mar, segundo pesquisa publicada em 2018.
Simulações de inundação por elevação do nível do mar em Santos.
“Precisamos de excelência na ciência e também na comunicação com a sociedade, que sofre os impactos desse fenômeno”, disse Brito Cruz, segundo a Agência FAPESP. “Não é questão de opinião, é uma questão comprovada por pesquisa, medição, teste e verificação há muitos anos por cientistas em todo o mundo. O que eu percebo é que nós brasileiros, mas também cientistas americanos, franceses e ingleses, não estamos conquistando os corações e mentes”.
Fator humano
Pesquisadores de diversas áreas, da biologia marinha à agricultura, exaltaram a necessidade de uma maior interação com as ciências sociais, no sentido de olhar não somente para a atmosfera, para os oceanos e as florestas, mas também para os seres humanos, e para a maneira como eles interagem com esses sistemas naturais — uma interação que muitas vezes passa despercebida, pelo fato da maior parte das pessoas viverem hoje nas cidades.
José Antonio Puppim de Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas, especialista em economia política do desenvolvimento sustentável, destacou que mais de 70% das emissões de carbono no mundo estão ligadas a atividades de produção e consumo nas cidades. O Estado de São Paulo, por exemplo, é o maior consumidor de madeira tropical do mundo, o que acaba contribuindo para o desmatamento da Amazônia e para as emissões de carbono resultantes desse desmatamento.

O enfrentamento do aquecimento global, portanto, passa obrigatoriamente por uma série de mudanças nos padrões de comportamento social, econômico e político, que equivalem a uma “revolução copernicana no funcionamento do mundo”, disse a pesquisadora Marta Arretche, professora do Departamento de Ciência Política e diretora do Centro de Estudos da Metrópole da USP. Mudanças estas que, segundo ela, costumam ocorrer num ritmo muito mais lento do que o necessário para responder ao desafio imediato das mudanças climáticas. “A literatura mostra que apenas em situações de guerra há mudanças estruturais de comportamento capazes de gerar respostas rápidas”, disse. A situação é agravada aqui pelo fato de que “a maior parte das cidades brasileiras ainda está no século 19”, destacou Marta, mostrando mapas do atraso nacional na universalização de serviços básicos, como coleta de esgoto e tratamento de água.
Torre Atto ajuda nos estudos sobre mudanças climáticas na Amazônia. Vários estudos feitos na torre são financiados pela FAPESP.

No ambiente rural também é preciso trabalhar com novas narrativas e novas abordagens de pesquisa, disse o pesquisador Giampaolo Pellegrino, coordenador do Portfólio de Pesquisa em Mudanças Climáticas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo ele, é importante que as pesquisas busquem não apenas identificar novos problemas, mas também apresentar soluções para os problemas que já são conhecidos e que impactam diretamente a vida do produtor rural.
“O que comove o agricultor não é baixar emissões de carbono, é se manter na atividade; é produzir”, disse Pellegrino, criticando o uso de narrativas que simplesmente jogam a culpa pelo aquecimento global na agricultura. Do ponto de vista técnico, ele cobrou o desenvolvimento de modelos climáticos mais customizados ao cenário brasileiro. “Somos muito prejudicados pelos modelos globais do IPCC que não refletem a realidade nacional”, disse, referindo-se ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas — colegiado internacional de cientistas que estuda o tema, vinculado às Nações Unidas.
Modelagem
A necessidade de melhorar a capacidade de modelagem nacional foi um dos tópicos prementes da reunião, que certamente aparecerá na lista de prioridades do programa para os próximos anos. “A ciência das mudanças climáticas está cada vez mais baseada em modelos”, disse o pesquisador Marcos Heil Costa, coordenador do Grupo de Pesquisa em Interação Atmosfera-Biosfera da Universidade Federal de Viçosa (UFV). “Hoje em dia tudo é modelagem”, afirmou. O termo refere-se ao uso de computadores para simular sistemas complexos e, dessa forma, fazer diagnósticos e previsões sobre o comportamento do clima e outras variáveis.
Costa também enfatizou a necessidade da busca de soluções. “A gente já sabe que o cenário é catastrófico”, disse. O desafio maior agora, segundo ele, é encontrar maneiras de evitar que essas mudanças catastróficas aconteçam, ou pelo menos se adaptar a elas. “Como desviar dessa bala? A gente ainda não tem essa resposta.”
Gases de combustão lançados por chaminés.
O físico José Goldemberg destacou a necessidade de zelar pela sustentabilidade da matriz energética brasileira, que teve sua reputação parcialmente manchada nos últimos anos pela “má gestão dos reservatórios” das hidrelétricas — forçando, por consequência, o acionamento de usinas termelétricas, movidas a combustíveis fósseis, com alta emissão de carbono. Algumas hidrelétricas recentes foram feitas de forma “desastrosa”, segundo ele, incluindo a de Belo Monte, na Amazônia. Para Goldemberg, o aumento da população e da demanda por energia elétrica representa uma encruzilhada para o País: ou melhora-se o planejamento e o gerenciamento das hidrelétricas (energia limpa), ou aumenta-se o uso de termelétricas (energia suja). “É um problema científico”, disse.
Os biocombustíveis também não poderiam ficar fora do cardápio. Um estudo publicado no ano passado estimou que o etanol de cana-de-açúcar brasileiro tem potencial para substituir cerca de 14% do petróleo consumido no mundo atualmente, sem competir por terras com a produção de alimentos ou a conservação ambiental. “Os biocombustíveis têm de ser considerados seriamente para uma transição rápida (da matriz energética)”, disse a pesquisadora Glaucia Souza, professora do Instituto de Química da USP e coordenadora do Programa FAPESP de Bioenergia (Bioen).
Planejamento

Ao final das apresentações, os cientistas se reuniram em cinco grandes grupos temáticos para a produção de relatórios, com recomendações, que serão discutidas numa série de workshops ao longo dos próximos dois meses, para a concepção do novo “plano científico” do programa.
Usina termoelétrica em Camaçari, Bahia.

A revisão ocorre num momento de mudanças significativas no posicionamento político do Brasil sobre o tema das mudanças climáticas, no sentido de minimizar ou até mesmo negar a gravidade do problema. Seguindo o exemplo de Donald Trump nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro criticou diversas vezes o Acordo de Paris (acordo internacional de combate ao aquecimento global) e, antes mesmo de tomar posse, retirou a oferta do Brasil de sediar a reunião deste ano da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 25). Uma atitude que repercutiu muito mal no cenário internacional, segundo Thelma Krug, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e vice-presidente do IPCC. “Foi uma sinalização muito negativa”, disse. “Agora temos que tentar melhorar nossa imagem lá fora. Não está fácil.”

Em contraponto a alguns de seus colegas de Esplanada, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse em entrevista ao Jornal da USP que as mudanças climáticas representam “um dos maiores desafios da humanidade” e que o Brasil não pode se dar ao luxo de ignorá-las. “Está claro para nós que esse problema vai muito além da questão ambiental”, disse o coordenador geral de Clima do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Márcio Rojas da Cruz, que acompanhou a reunião da FAPESP. O papel da ciência nesse processo, segundo ele, “é capital”. (ecodebate)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Antagonismo brasileiro, desperdício de alimentos e insegurança alimentar

Dois problemas antagônicos coexistem no Brasil, o desperdício de alimentos e a insegurança alimentar.
A fome não deixou de ser um problema no Brasil. A convivência mútua do desperdício de alimentos com a insegurança alimentar.
Apesar de o Brasil ter saído do Mapa da Fome, dois problemas ainda persistem quando se trata de analisar a situação alimentar do brasileiro: o desperdício e a insegurança alimentar. O alerta é feito por Gustavo Porpino, coordenador do projeto “Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil sobre desperdício de alimentos”, realizado a partir de uma parceria entre a Embrapa e a Fundação Getulio Vargas – FGV.
Segundo ele, cada brasileiro desperdiça em média 40 quilos de alimentos por ano, e o desperdício está associado a “fatores comportamentais, tais como planejar a compra e a refeição, não comprar alimentos em excesso, organizar bem a geladeira e a despensa, reaproveitar as sobras das refeições e, principalmente, substituir a cultura do ‘é melhor sobrar do que faltar’ por hábitos mais frugais”.
Nesse contexto, informa, outro problema chama atenção: a insegurança alimentar ainda atinge aproximadamente 22% da população brasileira. “Quando a análise passa a ser mais local, e não nacional, vemos que muitos municípios ou estados permanecem com mais de 5% da população em insegurança alimentar grave, o limite utilizado para o país constar ou não no Mapa da Fome. Em uma análise regional, se fossem considerados países, as regiões Norte e Nordeste ainda estariam no Mapa da Fome da última vez que a insegurança alimentar foi mensurada no Brasil”, adverte.
Ele diz ainda que os últimos dados sobre insegurança alimentar no país demonstraram que em “2013, 20% da população rural do Nordeste enfrentava insegurança alimentar moderada ou grave, um dado alarmante, ainda mais se levarmos em conta este aparente paradoxo de a insegurança alimentar ser maior para as famílias que estão mais próximas da produção de alimentos. Temos o caso do Maranhão, por exemplo, com índice de insegurança alimentar de 60%, percentual bem acima da média nacional, e estados do Sul, como Santa Catarina, com índices bem melhores”.
Perdas e desperdícios de alimentos: um desafio para o desenvolvimento sustentável.
Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail, Gustavo Porpino enfatiza que embora tenha havido uma melhora nos índices de segurança alimentar entre 2000 e 2013, não existe “um diagnóstico abrangente sobre segurança alimentar no Brasil há seis anos, o que é preocupante se considerarmos que somos um dos maiores players do setor agropecuário mundial”.
A seguir, o pesquisador comenta as metas e as propostas do Brasil para enfrentar o desperdício e a insegurança alimentar, e pontua que o maior desafio para combater esses problemas está atrelado à possibilidade de “conseguir posicionar o tema segurança alimentar na agenda político-institucional com a importância merecida. Também precisamos fortalecer a visão de longo prazo, com políticas de Estado que consigam perpassar as frequentes mudanças que ocorrem, por exemplo, nos ministérios”, diz. Esse tipo de medida, explica, ainda é mais urgente quando estudos demonstram que “o mundo caminha para o aumento do desperdício em vez da redução”.
Gustavo Porpino é graduado em Jornalismo e mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, e doutor em Administração pela Fundação Getulio Vargas – FGV-EAESP. Atualmente é analista da Secretaria de Inovação da Embrapa e liderou projeto dos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil sobre desperdício de alimentos. Foi pesquisador visitante da Universidade Cornell, onde realizou pesquisas sobre comportamento de consumo de alimentos, e durante o doutorado pesquisou o desperdício de alimentos em famílias de classe média baixa. É idealizador da iniciativa Sem Desperdício, uma parceria da Embrapa e WWF Brasil com apoio da FAO, lançada em 2016 para ampliar a consciência dos consumidores urbanos sobre o desperdício de alimentos.
A produção e o consumo sustentáveis de alimento não são apenas uma moda passageira, mas duas áreas que demandam a aplicação do conhecimento científico para ampliar a oferta de alimentos com menor impacto ambiental. Em um mundo que enfrenta mudanças climáticas e escassez de recursos naturais, e ainda convive com o flagelo da insegurança alimentar, a redução das perdas e do desperdício de alimento deve ser uma prioridade global.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como foi feita a pesquisa sobre o desperdício de alimentos no Brasil, a qual mostra que o brasileiro joga, em média, mais de 40 quilos de comida no lixo por ano?
Gustavo Porpino – A pesquisa faz parte dos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil, um instrumento de cooperação entre os Estados-membros da União Europeia e o Brasil em temas de interesse mútuo e alinhados com desafios globais. A Embrapa e a Fundação Getulio Vargas planejaram a pesquisa e conseguimos ter um retrato representativo da população brasileira sobre o quanto se desperdiça nos lares brasileiros, quais os alimentos mais desperdiçados e quais fatores comportamentais contribuem para que o desperdício ocorra. O estudo foi dividido em três fases. Após a primeira fase qualitativa, na qual foram entrevistados consumidores em feiras livres e supermercados sobre hábitos de consumo de alimentos, aplicamos um questionário com 1.764 famílias e, dessa amostra, 686 preencheram um diário alimentar, no qual foi reportado ao longo de até uma semana quais alimentos eram desperdiçados. O interessante é que usamos uma plataforma móvel e os respondentes puderam fazer upload das fotos dos alimentos desperdiçados.
O fato de o Brasil ter saído do Mapa da Fome deve ser louvado, mas não significa que a fome deixou de ser um problema – Gustavo Porpino.
IHU On-Line – O que esse indicativo de 40 quilos de comida desperdiçada representa, especialmente considerando o quadro de desigualdades no país? Esse percentual é considerado elevado se comparado a outros países?
Gustavo Porpino – Se considerarmos que foi mensurado apenas o desperdício que ocorre nos domicílios, e não estamos computando os alimentos desperdiçados nas refeições feitas fora do lar, temos um indicativo de que a família brasileira típica desperdiça uma quantidade de comida semelhante às famílias dos países mais ricos da Europa, ou mesmo dos Estados Unidos, por exemplo. Para termos um índice de desperdício de alimentos global para comparar diferentes países, teríamos que utilizar a mesma metodologia de mensuração. Países europeus que utilizam análises do lixo domiciliar para quantificar o desperdício tendem a reportar desperdício acima de 40 Kg por habitante ao ano.
No Brasil, a aplicação desse método não é viável para uma pesquisa de abrangência nacional. Para o Brasil, mais do que sabermos com precisão o quanto é perdido ou desperdiçado nas diferentes etapas da cadeia agroalimentar, o mais relevante é pôr em prática ações para mudar positivamente os comportamentos que levam ao desperdício na etapa de consumo. A convivência mútua do elevado desperdício com a insegurança alimentar que persiste em algumas regiões brasileiras aponta para uma oportunidade perdida. Não necessariamente reduzir o desperdício de alimentos contribui com o combate à fome, mas ao ampliarmos a oferta de alimentos por meio da redução das perdas e do desperdício, surgem oportunidades de direcionarmos o excedente para a população mais necessitada. Aliar o combate ao desperdício de alimentos com as iniciativas de fortalecimento da segurança alimentar é o caminho a ser seguido e envolve ações ao longo de toda a cadeia produtiva, desde o campo até a mesa.
IHU On-Line – Quais são as razões que explicam esse desperdício de comida entre os brasileiros? Existe alguma correlação entre o desperdício, o poder aquisitivo e o nível de instrução das pessoas ou o desperdício independe desses fatores?
Gustavo Porpino – As famílias brasileiras tendem a valorizar a fartura na mesa. Podemos pensar na fartura como um ciclo que está presente em toda a jornada de consumo dos alimentos, desde a ida ao supermercado ou feira livre até o preparo da refeição, o modo de servir, e a administração das sobras das refeições. O mercado consumidor brasileiro é bastante segmentado, tanto em termos de renda e outras variáveis socioeconômicas quanto em termos comportamentais.
Comida para o lixo é gargalo na segurança alimentar.
Desperdício e hábitos comportamentais
A diferença entre as famílias que desperdiçam mais e as que desperdiçam menos comida é mais bem explicada pelos fatores comportamentais, tais como planejar a compra e a refeição, não comprar alimentos em excesso, organizar bem a geladeira e a despensa, reaproveitar as sobras das refeições e, principalmente, substituir a cultura do “é melhor sobrar do que faltar” por hábitos mais frugais. Mesmo no contexto da classe média baixa existem famílias com características comportamentais que levam ao desperdício de comida. O consumidor da base da pirâmide, em particular, está sempre preocupado em economizar com a compra de alimentos, mas algumas estratégias como comprar no atacado e manter a despensa sempre cheia com os alimentos mais consumidos, tais como arroz e feijão, podem gerar mais desperdício se a família não tiver boa capacidade de planejamento das refeições e não estiver disposta a reaproveitar as sobras.
O desperdício de comida nas famílias de maior poder aquisitivo tende a ser mais diversificado e inclui, além dos alimentos mais consumidos, frutas e hortaliças, por exemplo. Famílias de menor renda tendem a ter uma dieta menos diversificada e, por consequência, o desperdício também está concentrado em menor variedade de alimentos. De modo geral, nos diferentes segmentos, o problema está mais relacionado com cozinhar demais e não aproveitar as sobras das refeições. É um problema complexo que requer mudança cultural por meio de ações de longo prazo.
IHU On-Line – Quais diria que são os hábitos alimentares dos brasileiros, de modo geral, e que tipo de alimento costuma ser mais desperdiçado?
Gustavo Porpino – Os hábitos alimentares variam muito conforme a renda, estilos de vida e outros fatores comportamentais. O segmento mais pobre está preocupado em não voltar a passar fome e tende a valorizar a fartura, porque o alimento sinaliza dignidade e riqueza. Por vezes, o consumidor de menor renda desperdiça por fatores alheios à sua vontade, como não ter recipientes adequados para acondicionar as sobras das refeições na geladeira. Mas também há o segmento que mostra preconceito com o consumo das sobras, considera as sobras das refeições como sendo “comida dormida” e tende a jogar fora o que sobrou em vez de reinventar em novos pratos.
O segmento mais pobre está preocupado em não voltar a passar fome e tende a valorizar a fartura, porque o alimento sinaliza dignidade e riqueza – Gustavo Porpino.
As famílias mais ricas têm dietas mais saudáveis, valorizam modismos diversos na alimentação, mas também estão bastante segmentadas em termos de hábitos que levam ao desperdício. Captamos, na pesquisa, que os consumidores valorizam bastante o frescor dos alimentos, e, quando este hábito é combinado com a valorização da fartura, há maior propensão de descarte das sobras.
Alimentos mais desperdiçados
A pesquisa apontou que, de cada 1 kg desperdiçado pelas famílias, em média, 220 gramas são de arroz, 200 gramas de carne, 160 gramas de feijão e 150 gramas de frango. Estes são os mais desperdiçados na análise por quilogramas. Observamos que o desperdício de arroz e feijão tende a ser mais recorrente e o desperdício médio relativamente alto de proteína animal se dá por algumas eventualidades, tais como assar muita carne num churrasco de final de semana e não aproveitar as sobras. Hortaliças são uma categoria de alimentos na qual há relação entre renda e desperdício. As famílias de maior poder aquisitivo tendem a desperdiçar mais hortaliças, mas este resultado deriva do fato de o consumo de frutas e hortaliças no Brasil estar muito concentrado nos segmentos de maior renda. Temos aí um outro problema a ser combatido. Precisamos ampliar o consumo de frutas e hortaliças na população de baixa renda, que está mais sujeita a ser obesa e ter outras doenças derivadas da alimentação inadequada.
IHU On-Line – Desde o ano passado, algumas ONGs têm alertado para o risco de o Brasil retornar ao Mapa da Fome da ONU. Qual é o nível de insegurança alimentar no país hoje e quais são os riscos de o país voltar a fazer parte do Mapa da Fome?
Gustavo Porpino – O Brasil precisa passar a mensurar a insegurança alimentar com mais frequência e delinear planos de ação levando em conta as diferenças regionais. O último levantamento do IBGE, realizado em 2013, mostrou que 22,6% da população estavam em algum nível de insegurança alimentar: leve, moderada ou grave. As diferenças regionais são significativas. Em 2013, 20% da população rural do Nordeste enfrentava insegurança alimentar moderada ou grave, um dado alarmante, ainda mais se levarmos em conta este aparente paradoxo de a insegurança alimentar ser maior para as famílias que estão mais próximas da produção de alimentos. Temos o caso do Maranhão, por exemplo, com índice de insegurança alimentar de 60%, percentual bem acima da média nacional, e estados do Sul, como Santa Catarina, com índices bem melhores.
Em 2013, 20% da população rural do Nordeste enfrentava insegurança alimentar moderada ou grave – Gustavo Porpino.
Verduras e frutas mal aproveitadas jogadas no lixo.
O problema da fome
O fato de o Brasil ter saído do Mapa da Fome deve ser louvado, mas não significa que a fome deixou de ser um problema. Quando a análise passa a ser mais local, e não nacional, vemos que muitos municípios ou estados permanecem com mais de 5% da população em insegurança alimentar grave, o limite utilizado para o país constar ou não no Mapa da Fome. Em uma análise regional, se fossem considerados países, as regiões Norte e Nordeste ainda estariam no Mapa da Fome da última vez que a insegurança alimentar foi mensurada no Brasil.
De modo geral, houve melhora significativa dos índices de segurança alimentar entre 2000 e 2013, mas até onde eu sei não temos um diagnóstico abrangente sobre segurança alimentar no Brasil há seis anos, o que é preocupante se considerarmos que somos um dos maiores players do setor agropecuário mundial. Quer dizer, produzimos alimentos para o mundo, exportamos mais de 100 bilhões de dólares em 2018, mas parece faltar um olhar mais cuidadoso para as injustiças sociais dentro do próprio país. Parece-me que a nova gestão do Ministério da Agricultura está mais atenta à necessidade de delinearmos soluções para o Semiárido e contribuirmos, dessa forma, com a redução da desigualdade que é uma das características mais salientes do setor agropecuário brasileiro.
insegurança alimentar não deriva da falta de capacidade de produzir alimentos, isso o Brasil tem de sobra, mas resulta da distribuição ineficiente. Para delinearmos políticas públicas mais eficazes, precisamos investir mais em censos e pesquisas abrangentes sobre temáticas relevantes, tais como segurança alimentar.
IHU On-Line – Em que consiste a Estratégia Intersetorial para a Redução de Perdas e Desperdício de Alimentos no Brasil? Qual é a função do Comitê Técnico de Perdas e Desperdício de Alimentos – CT PDA e da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional – Caisan nesse processo?
Gustavo Porpino – A Estratégia é resultado do trabalho conjunto de instituições públicas e setor privado. Contamos, por exemplo, com a participação da EmbrapaAssociação Brasileira de SupermercadosCeagespConabWWF Brasil e vários técnicos de ministérios. O Comitê Técnico, liderado pelo antigo Ministério do Desenvolvimento Social – MDS, delineou uma estratégia que leva em conta a complexidade do sistema agroalimentar brasileiro. Enquanto nos países europeus as iniciativas estão mais voltadas para as etapas de varejo e consumo, no Brasil precisamos implementar soluções envolvendo também cooperativas de produtores e centrais de abastecimento, e ainda avançar com os projetos de Lei e políticas públicas alinhados com o tema. A Caisan é um núcleo muito importante para um país com nossa diversidade, complexidade e desigualdades, e nosso temor é que perca importância com as recentes mudanças ocorridas no antigo MDS. A Estratégia em si precisa entrar em implementação e, para tanto, precisamos de vontade política. Sem vontade política, não conseguiremos avançar também no ambiente legislativo. A Política nacional de combate às perdas e ao desperdício de alimentos, por exemplo, agrega diversos PLs que estavam em tramitação há vários anos, mas é uma pauta que concorre com várias outras no Congresso e não creio que será aprovada no curto prazo.
IHU On-Line – Quais são as linhas de ação para atingir os objetivos da estratégia para a redução de perdas e desperdícios de alimentos no país?
Gustavo Porpino – Temos quatro eixos de ação na Estratégia: Pesquisa e Inovação; Comunicação, educação e capacitação; Promoção de políticas públicas; e Legislação. As ações envolvem distintos públicos de interesse, mas ressalto a importância de mudarmos o comportamento do consumidor. O consumidor tem capacidade de influenciar os outros elos da cadeia, e, quando há maior consciência sobre o desperdício de alimentos, todos saem ganhando. Delinear estratégias ganha-ganha é um dos desafios. Por exemplo, não adianta implementar uma ação ou aprovar um Projeto de Lei que soluciona um problema em determinado elo, mas gera outro para a etapa seguinte da cadeia produtiva. Há casos no exterior que facilitam o processo de doação de alimentos por parte dos supermercados, mas se não for acompanhado do fortalecimento das redes de bancos de alimentos e se os bancos não estiverem nas áreas com maior incidência de insegurança alimentar, o desperdício que ocorreria no varejo tradicional será apenas postergado para a etapa seguinte. Do mesmo modo, em outro exemplo hipotético, penalizar financeiramente os supermercados que desperdiçam alimentos não ajuda a solucionar o problema.
Brasil dispõe de mais de 200 bancos de alimentos, e essa rede é importante tanto para o enfrentamento do desperdício quanto para o combate à fome. O atual Ministério da Cidadania, em parceria com o Sesc e o WWF Brasil, está realizando uma pesquisa para avaliar a situação dos bancos de alimentos. Esse esforço é relevante porque possibilitará identificar quais bancos de alimentos precisam ser incrementados, onde há maior demanda, e direcionar intervenções para o fortalecimento da rede nacional de bancos de alimentos.
O Brasil dispõe de mais de 200 bancos de alimentos, e essa rede é importante tanto para o enfrentamento do desperdício quanto para o combate à fome – Gustavo Porpino.
Soldado caminhando sobre um depósito de lixo com grande quantidade de pão desperdiçado.
De modo geral, para enfrentarmos o desperdício de alimentos, é preciso levar em conta a complexidade das interações entre os elos da cadeia produtiva e implementar ações alinhadas com o enfrentamento da insegurança alimentar.
IHU On-Line – Quais são os maiores desafios para atingir os objetivos propostos pela estratégia intersetorial?
Gustavo Porpino – O caso do Brasil é complexo pela necessidade de ações em várias frentes, desde investimentos em agrologística a iniciativas para melhorar a gestão da cadeia agroalimentar. Temos, por exemplo, que incrementar a capacidade do país de escoar a safra, substituirmos as embalagens inadequadas para acondicionar frutas e hortaliças por novas tecnologias, fortalecer a transferência de tecnologias para pequenos e médios produtores rurais, aproximarmos o consumidor urbano da produção de alimentos, e ainda conseguirmos elevar a importância da pauta segurança alimentar no ambiente legislativo e entre os formuladores de políticas públicas.
Talvez o maior desafio seja conseguir posicionar o tema segurança alimentar na agenda político-institucional com a importância merecida. Também precisamos fortalecer a visão de longo prazo, com políticas de Estado que consigam perpassar as frequentes mudanças que ocorrem, por exemplo, nos ministérios.
Brasil é muito complexo, as cadeias produtivas não estão bem organizadas, em algumas delas diferentes atores defendem seus interesses e falta atuação conjunta entre elos importantes, tais como varejistas e produtores rurais, mas ao mesmo tempo vivemos um momento propício para fortalecer as conexões entre instituições de C&T, como a Embrapa, e o setor produtivo, na busca por soluções para problemas complexos. Há vários exemplos positivos de como esta interação entre a pesquisa e empreendedores pode impactar positivamente na geração de inovações. A iniciativa Ideas for Milk, por exemplo, une startups, pesquisadores e o setor produtivo e por meio dessa aproximação tem gerado soluções inovadoras para a cadeia produtiva do leite.
IHU On-Line – Como fomentar inovações que contribuam com a redução das perdas e do desperdício de alimentos?
Gustavo Porpino – A metodologia deste exemplo positivo que citei, o Ideas for Milk, pode ser utilizada também para a construção coletiva de novos modelos de negócio e soluções tecnológicas para a redução das perdas e do desperdício de alimentos. Há um crescente movimento global de agritechs e startups sendo lançadas para contribuir com a produção sustentável de alimentos, entre outros desafios. O Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo, temos um setor agro com DNA inovador e se conseguirmos fortalecer as interações entre academia, instituições de C&T e mercado certamente avançaremos na adoção de novas tecnologias. O SEBRAE, por exemplo, é um importante parceiro da Embrapa e também tem expertise no desenvolvimento de desafios para startups. Recentemente, a Embrapa teve uma experiência muito positiva atuando juntamente com investidores e aceleradoras de startups na chamada Pontes para Inovação, uma iniciativa de fomento a empresas que adotam tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e parceiros. São esses novos modelos de incentivo à inovação no setor agro, com união de esforços de diferentes elos da cadeia produtiva, que irão ajudar o Brasil a enfrentar grandes desafios como o desperdício de alimentos.
Se levarmos em conta as projeções de estudos do Boston Consulting Group, por exemplo, o mundo caminha para o aumento do desperdício em vez da redução – Gustavo Porpino.
Cartaz da 1ª Guerra Mundial com os dizeres Comida é munição, não desperdice.
IHU On-Line – Quais são as metas do Acordo de Paris, da Agenda 2030 e do Plano da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome 2025 acerca da redução dos desperdícios de alimentos?
Gustavo Porpino – A Agenda 2030 das Nações Unidas tem como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis, e a meta 12.3 estabelece reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, nos níveis de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita. No âmbito da América Latina e do Caribe, a redução do desperdício também está presente nos planos de fortalecimento da segurança alimentar. A FAO, por exemplo, coordena ação importante entre os países da América Latina para a implementação de ações conjuntas e compartilhamento de boas práticas, e vemos um movimento recente de união de esforços para a implementação do Pacto de Milão sobre Política de Alimentação Urbana na América Latina. A Embrapa também está engajada nestas discussões entre os países latinos. Recentemente, participamos da Semana da Alimentação e Agricultura, realizada pela FAO em Buenos Aires, e podemos conhecer melhor o programa nacional para redução do desperdício de alimentos em execução na Argentina. Por lá, o Senado aprovou uma Lei para desburocratizar a doação de alimentos e o dia 29 de setembro foi estabelecido como dia nacional das perdas e do desperdício de alimentos. A campanha “Valoremos los alimentos”, uma iniciativa da Secretaria de Agroindústria da Argentina, também está sendo fortalecida. Essas ações podem ser criadas pelos governos e impulsionadas com a participação do setor produtivo.
Atingir a meta do ODS 12.3 é um desafio imenso, e se levarmos em conta as projeções de estudos do Boston Consulting Group, por exemplo, o mundo caminha para o aumento do desperdício em vez da redução. E por que isso pode ocorrer? Temos tendências consolidadas de aumento da classe média global, novos padrões de consumo de alimentos derivados de um mercado mais exigente, e essas mudanças comportamentais e econômicas são acompanhadas de transformações do clima, e ainda crises humanitárias em regiões de conflito.
IHU On-Line – Considerando o atual índice de desperdício de alimentos no Brasil, quais são as possibilidades de o país alcançar os objetivos da Agenda 2030 e o Plano da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome 2025?
Gustavo Porpino – É difícil fazer essa projeção porque depende de fatores múltiplos. Volto ao ponto da vontade política. Por vezes, ficamos com a impressão de que o Brasil caminha em círculos. É feito um enorme esforço de construção de política pública, mas a morosidade do Legislativo somada ao desinteresse de alguns altos gestores, tanto do poder público quanto da iniciativa privada, prejudica a capacidade do país de avançar.
Embrapa tem buscado fazer a sua parte. Temos representantes na Caisan, participamos das discussões no Congresso, atuamos em parceria com o WWF BrasilFAO e outras instituições, e várias Unidades de pesquisa já desenvolveram soluções tecnológicas que contribuem com a redução das perdas e do desperdício de alimentos. O Ministério do Meio Ambiente realizou, em 2018, um levantamento de boas práticas para o combate às perdas e ao desperdício de alimentos. A Embrapa foi uma das instituições reconhecidas e também atuamos em conjunto com o MMA no lançamento da Semana Nacional de Conscientização sobre o Desperdício de Alimentos, iniciativa que foi lançada no ano passado com a intenção de ser anual.
Fome e insegurança alimentar aumentam no Brasil, diz ONU.
Em 2017, 821 milhões de pessoas foram dormir sem comer o mínimo necessário no mundo. Deste total, 5,2 milhões são brasileiros.
O combate à fome estancou nos últimos anos no Brasil, o número de pessoas que vão dormir sem ingerir o mínimo necessário, que estão desnutridas e se sentem fracas para as atividades do dia a dia, aumentou de 4,9 milhões para 5,2 milhões, entre 2010 e 2017. (ecodebate)

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