domingo, 31 de outubro de 2010

Eleições 2010: O meio ambiente ruge

Eleição mostra que deputados identificados com o desmatamento perderam votos. É sinal de que o eleitor quer ver o meio ambiente debatido no segundo turno. Tom Jobim já dizia que o Brasil não é para principiantes. Enquanto os analistas se dedicam a explicar o resultado e a especular sobre o rumo que Marina Silva irá tomar diante da disputa entre Serra e Dilma no segundo turno, o Greenpeace acredita que é mais do que hora da questão ambiental – justamente a que catapultou a senadora no cenário político brasileiro – encontrar seu lugar entre os temas prioritários da agenda nacional, acabando com a síndrome de que político que fala em meio ambiente perde votos. Marina teve 20 milhões de votos. Dilma e Serra não podem mais fugir do tema. Para além do que fazer em saúde, educação, segurança e emprego, que são alvo das promessas dos candidatos, o Greenpeace defende que há assuntos dentro da pauta ambiental que precisam ser priorizados no plano de governo de um futuro presidente da República. O primeiro deles é a compatibilização entre a expansão da agricultura e a garantia da preservação das nossas florestas. Num país com mais de uma centena de milhões de hectares abandonados e outros tantos desmatados, dizer que é preciso desmatar mais para continuar plantando é repetir o velho mantra de que a destruição da natureza é o passaporte para o desenvolvimento. Assim, a tentativa de acabar com o Código Florestal no Congresso Nacional, que conta com o apoio de setores dos mais diferentes partidos, incluindo o PT e o PSDB, é o primeiro tema que exige da sociedade uma atenção imediata. Qualquer dos dois candidatos que não deixar clara a importância do código para a proteção de nossas florestas vai se comprometer não com o futuro, mas com um Brasil atrasado. Outro assunto fundamental é o que fazer para que o Brasil assegure o crescimento da sua economia sem sujar a nossa matriz de geração elétrica, baseada principalmente em fontes limpas e renováveis. Não bastasse o fato de estarmos aumentando a geração de energia a partir de fontes sujas, embarcamos na aventura do pré-sal sem medir os impactos ambientais e econômicos dessa opção. Ela vai dobrar as nossas emissões dos gases de efeito estufa e certamente atrasará o esforço que o país precisa fazer para não perder a corrida tecnológica pela busca do combustível limpo e renovável que vai fazer o mundo se mover no século 21. O candidato presidencial que decidir ignorar as questões ambientais daqui para a frente corre sério risco de entrar em choque com o eleitor. Se algum deles duvidar disso, basta estudar o que aconteceu na eleição para Câmara dos Deputados. Em todo o país, deputados identificados com a causa ruralista e que combateram o Código Florestal nos últimos meses, defendendo a anistia para desmatadores, viram emagrecer seu cabedal eleitoral ou simplesmente não foram eleitos, caso de Valdir Colatto (PMDB-SC). Aldo Rebelo (PCdoB-SP), líder da ofensiva contra o Código Florestal, angariou o dobro de fundos mas perdeu 47 mil votos em relação a eleição de 2006. Abelardo Lupion (PMDB-PR), outro ruralista empedernido, foi eleito. Mas não por seus próprios méritos. Teve que se valer da força eleitoral de sua legenda. Com os deputados identificados com a defesa de nossas florestas aconteceu exatamente o contrário. Rebeca Garcia (PP-AM) teve 64 mil votos a mais do que na eleição passada. Ivan Valente (PSOL-SP), de 83 mil votos em 2006, saltou para 189 mil em 2010. O eleitor deu um recado. Ficar a favor do crime ambiental, definitivamente, não compensa. (EcoDebate)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Rio quer Copa Mundial e Olimpíadas sem poluição

Rio quer Copa do Mundo Verde e Olimpíadas com carbono zero O workshop discutiu novas tecnologias e mudanças na legislação do Estado para reduzir emissões na indústria, construção civil e transportes até a Copa e as Olimpíadas de 2016. Começou em 07/10/10, no Rio, no Centro de Convenções RB1, o workshop “Carbono Zero – Rumo a Copa e as Olimpíadas”, reunindo empresas, executivos, órgãos ambientais, empresários, universidades e profissionais interessados nessa questão. O evento vai discutir as novas exigências legais para a sustentabilidade, antes e depois das Olimpíadas, na indústria, construção civil e no setor de transportes que tem um peso grande nas emissões de carbono. Já confirmaram presença o Vice-prefeito e Secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Alberto Muniz; e a Superintendente de Mudanças Climáticas em Mercado de Carbono da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro, Marcia Valle Real, que vai representar a Secretária do Ambiente, Marilene Ramos. Também esteve presentes o Diretor de Monitoramento e Informação Ambiental do INEA, Carlos Fonteles; o Presidente da Fetranscarga, Eduardo Rebuzzi; o gerente de Desenvolvimento de Negócios do Processo Aqua da Fundação Vanzolini, Bruno Casagrande; o Professor do Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ, Rogerio Valle; e o Gerente de Operações da Mobilidade Urbana da Federação das Empresas de Transportes do Rio de Janeiro (Fetranspor), Guilherme Wilson. A escolha do País para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, reforçou a necessidade de modernização tecnológica dos mecanismos de controle da poluição, principalmente na indústria, construção civil e transportes, de maneira a reduzir as emissões de CO2 e conseguir atingir as metas de realização da Primeira Copa Verde e de jogos neutros durante as Olimpíadas. Com isso, cresceu também a pressão dos órgãos de fiscalização ambiental. Para renovar suas licenças de operação ou evitar pesadas multas, empresas da área siderúrgica, petróleo e gás, geração de energia, metalurgia, petroquímica, produção de bens de consumo e de outros setores da cadeia industrial terão de investir na correção de problemas ambientais e para atender exigências de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) para se adequar aos avanços da legislação ambiental. Hoje, segundo a Coppe, muitas empresas do Estado têm plantas muito antigas, anteriores à legislação ambiental e precisam conhecer as novas exigências da lei para se modernizar. (EcoDebate)

Sociedade Provisória – Inferno à Vista

“Seu Cabral vinha navegando: inferno á vista…”. Tudo bem que não tenhamos sido descobertos de forma planejada – mas, que isso não deve ser desculpa; é vero. É preciso mudar nosso DNA cultural para atender á demanda da vida com qualidade, daqui em diante. Cá entre nós, a cultura de tornar definitivas as medidas provisórias é um flagelo a atormentar nossa vida particular, familiar, social e política. Nós temos alergia a tudo que seja planejado, definido, estudado – Metas de longo prazo são muito demoradas para quem gosta de levar vantagem em tudo. Nesta terra, nós vivemos como se a vida transitória fosse durar para sempre. No planejamento de nossa existência apenas investimos nas metas de curto prazo. - Nas finanças. Gastamos mais do que receberemos. O provisório uso do cheque especial e do crédito; torna-se um hábito financeiro definitivo. - No cultivo das relações afetivas. Ficar e fazer um test drive sexual e afetivo é uma forma de viver que chegou e ficou. Somos adeptos dos ditados populares práticos e fast food: Quem dá para os pobres: cria o filho só – responsabilidade é para otários. - Nos cuidados com a saúde. Somos os campeões do uso de sintomáticos. A sociedade do analgésico. Investir em prevenção de saúde é coisa para quem não tem o que fazer; o negócio é aproveitar a vida. - Na convivência social. As pessoas se buscam e descartam segundo os interesses do momento. - Horários foram feitos para serem descumpridos. - Regras para serem burladas. - Viver com ética não dá lucro; pois, exige investimentos educacionais de longo prazo. - Nas amizades. As rapidinhas não precisam de nome; não trazem problemas; vão e vem como ondas. - Na vida política. É sinal de esperteza não se definir. Princípios dão trabalho. Ética impede as amarrações. Programa de trabalho de longo prazo é entregar os dividendos para os sucessores. Tudo que ocorre no macro é a soma das individualidades. E no íntimo, também somos a somatória de nós mesmos. Para preencher esse vazio que começa a tomar conta do nosso peito e da mente; trazendo aquela sensação de inutilidade – o momento atual exige reflexão: O que em nossas vidas é provisório? O que é definitivo? Quais são minhas metas de curto, médio e longo prazo? Estão alinhadas num mesmo foco? Tenho um projeto de vida? Viver uma vida provisória é a principal razão das incertezas, conflitos, tristeza, depressão, pânico, angústia e seus filhotes: insônia, perda de memória, dores para todo lado, vontade de dormir para sempre. O estilo de viver sob a batuta do provisório e da gariba; vai nos levar, mais além, a um inferno já muitas vezes, por nós, navegado. Viver de forma provisória nos tira a dignidade; pois, perdemos o respeito por nós mesmos. E também por não estabelecermos uma vida regida pelos princípios da ética cósmica; no coletivo, são raras dentre milhões a conviver, as pessoas que se fazem respeitar por viver sob a guarida da simplicidade, honestidade, coerência. O que fazer para encontrar metas de vida, definitivas; imutáveis? Praticando o básico: Consulte permanentemente sua consciência, sem usar de desculpas nem justificativas, para saber se em cada momento fez o melhor possível. No trato consigo mesmo e com os outros adote a máxima: só faça aos outros; aquilo que gostaria de receber – a começar pelo pensamento. Se cada um de nós, deixar de ser um cidadão provisório; breve nós viveremos numa sociedade justa, ética, saudável, feliz, próspera, rica, amorosa. Quer se curar? Não garibe sua saúde com sintomáticos nem pseudo preventivos – planeje sua cura. Quer melhorar a vida social e política da sua terra – não se preocupe apenas em escolher o melhor candidato para esta eleição – atue politicamente o ano inteiro, o tempo todo; faça, cobre, exija, ponha, disponha e deponha se for preciso… (EcoDebate)

‘Cuidar da natureza é cuidar da vida’

WWF-Brasil lança o movimento ‘Cuidar da natureza é cuidar da vida’ Depois de um mês colhendo contribuições da população, organização inicia movimento com o objetivo de chamar atenção para a relação entre conservação da natureza e qualidade de vida da população. O WWF-Brasil lançou o movimento “Cuidar da natureza é cuidar da vida”, sobre a importância da conservação da biodiversidade, como um alerta às consequências que o descuido com a natureza pode provocar. Associada à meta do WWF-Brasil de contribuir para que a sociedade brasileira alcance o desmatamento zero até 2015, a iniciativa teve uma primeira etapa que, durante o mês de setembro, instigou a população a responder à pergunta “O que você precisa pra viver?”. Sem saber que o WWF-Brasil era o autor da campanha, foram enviadas respostas variadas. Hoje, ao lançar o movimento, a organização responde que “Para viver você precisa que a natureza também viva” e apresenta uma lista com 10 áreas prioritárias para a criação de novas unidades de conservação na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. Amor, amigos, sol, saúde e família foram as principais respostas da primeira etapa coletadas nas ruas, no Twitter, no Facebook e no Youtube. “A ausência da natureza nesse tipo de preocupação mostra a necessidade de valorização desse tema na opinião pública nacional”, afirma Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil. “Esse processo de conscientização sobre o papel que a biodiversidade tem na vida de todos nós é mais urgente do que nunca, pois não é exagero dizer que, vivemos uma crise de biodiversidade, que coloca em risco a nossa saúde e meios de subsistência. Podemos reverter essa situação, por isso a campanha pretende indicar soluções para a sociedade brasileira.” A resposta “Para viver você precisa que a natureza também viva” sustenta sua argumentação na manutenção dos serviços ecológicos, como o equilíbrio climático e a prevenção e recuperação de desastres ambientais; no uso direto da biodiversidade, como os recursos naturais que fornecem remédios, fibras e combustíveis para a garantia do nosso bem-estar; na segurança de estoques de alimentos naturais como peixes, frutas e verduras; e no uso público, pois as áreas protegidas também podem ser fonte de lazer e aprendizado. Sem esquecer os benefícios econômicos, pois a biodiversidade é um recurso do qual dependem famílias, comunidades e gerações futuras. A campanha de comunicação integrada foi criada pela agência Repense, e incluí ações on-line, com foco nas mídias sociais, propaganda e ações de mobilização urbana que serão implementadas nos próximos meses. Grandes empresas também aderiram à primeira etapa do movimento, apoiando a disseminação da mensagem. O Walmart Brasil veiculou a vinheta “O que você precisa para viver?” em quatro mil televisores em suas lojas por meio de seu canal TV Walmart; o Yazigi divulga em sua rede que conta com 420 escolas; a Seguros Unimed espalhou peças da campanha por sua comunicação interna; e os hotéis da rede Sol Meliá em Brasília prepararam uma comunicação especial para engajar os hóspedes no movimento, com cartazes nos elevadores e cartões-postais na recepção. A indústria farmacêutica Boehringer Ingelheim programou a distribuição de cartões postais da campanha e sementes para o público do Edifício Rochaverá, o primeiro empreendimento greenbuilding de São Paulo. WWF-Brasil propõe a criação de unidades de conservação em 10 áreas prioritárias Em tempos relativamente recentes, o mundo começou a perder espécies e habitats a uma velocidade alarmante. Na área de farmacologia, a estimativa é que entre 50 mil e 70 mil espécies vegetais sejam fontes de ativos para uso na medicina tradicional e moderna em todo o mundo. A poluição, o uso excessivo dos recursos naturais e a expansão urbana e industrial levam muitas espécies à extinção. A cada ano, aproximadamente 17 milhões de hectares de floresta tropical são desmatados. Avaliações sugerem que, se esse ritmo se mantiver, entre 5% e 10% das espécies que habitam as florestas tropicais poderão estar extintas dentro dos próximos 30 anos. Por isso, uma ação diretamente ligada ao movimento é a proposta de criação de unidades de conservação em dez áreas prioritárias. Estes espaços instituídos pelo poder público terão a finalidade de conservar as características naturais relevantes em cada área. A lista criada pelo WWF-Brasil é uma sugestão para o governo brasileiro alcançar, ainda em 2010, as metas de cobertura natural protegida por unidades de conservação estabelecidas pela Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas (CDB). Os focos são a Reserva Extrativista Baixo Rio Branco – Jauaperi (Amazonas), o Parque Nacional dos Lavrados (Roraima), o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (Goiás), o Parque Nacional Boqueirão da Onça (Bahia) e outras unidades no Cerrado do Amapá, no Tabuleiro do Embaubal (Pará), no Croa (Acre), no extremo Sudoeste do Pantanal e em Bertioga, São Paulo. No âmbito da CDB, o governo brasileiro se comprometeu a garantir a cobertura, por unidades de conservação, de 10% em cada bioma (conforme a área original) e de 30% na Amazônia. Hoje, somando todas as unidades existentes no País, ainda resta proteger aproximadamente 2,5% do território nacional em área terrestre e 8,5% em área marinha. Sobre o WWF-Brasil O WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira dedicada à conservação da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília, desenvolve projetos em todo o País e integra a Rede WWF, a maior rede independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários. (EcoDebate)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mudança na produção e consumo

Professor da UnB defende mudança no padrão de produção e consumo para preservar meio ambiente

O professor da Academia de Ciências da Universidade de Brasília (UnB) Oton Leonards disse que o tratamento que a humanidade dá ao meio ambiente é “o legado que vai ser deixado às gerações futuras”. Ele recomenda, por isso, mudança no padrão da produção e do consumo, “como foi receitado pela Carta da Terra”, assinada durante a Rio 92, encontro ambiental de que participaram 180 países no Rio de Janeiro. “É inevitável e imprescindível uma mudança de mentalidade para que a humanidade possa sobreviver”, afirmou. O professor fez palestra, na semana passada, na abertura do 1º Fórum sobre Resíduos Sólidos, organizado pela UnB para discutir a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto deste ano. A PNRS estabeleceu normas para a gestão do lixo, inclusive o tóxico, e prevê penalidades para quem não fizer a reciclagem correta. O fórum marcou a implantação do sistema de coleta seletiva de lixo na universidade, com a criação do programa Recicla UnB. “A forma de consumo do mundo está nos destruindo, por isso temos que dar vários passos para trás e seguir outros caminhos, baseados em princípios mais humanos, abolindo o sistema de competição e dando lugar à colaboração”, disse o professor. Para ele, no futuro, “a humanidade tende a ser entulhada em lixo”. Oton Leonards vê os aterros sanitários como “verdadeiras montanhas invertidas que estão poluindo os rios, por isso é preciso consciência sobre o que está sendo feito”. Ao falar sobre as transformações que a terra está sofrendo, ele destacou que são reações advindas dos processos geológicos, climáticos e biológicos. “Uma simples bactéria pode desequilibrar a terra”, disse o especialista. Ele citou o exemplo deixado pelos Guaranis, da época do descobrimento do Brasil, que enterravam os mortos de forma organizada, junto com seus objetos de arte. Para Leonards, as populações tradicionais têm muito o que ensinar no Brasil sobre o trato com o meio ambiente. A professora Mara Marchetti, do Núcleo da Agenda Ambiental da UnB, destacou que a universidade é signatária da Carta da Terra e que a iniciativa de implementar o programa de reciclagem é “para despertar a reflexão sobre o cuidado com os atos e o consumo” na comunidade acadêmica. Os funcionários vão ser capacitados para a coleta seletiva, com a mobilização também das cooperativas que trabalham nessa área com a UnB. (EcoDebate)

Prêmio classifica mais 4 estudantes

Autores dos textos desta página concorrem ao Prêmio Banco Santander Jovem Jornalista, bolsa de estudos em universidade espanhola. Da Redação Cássio Roberto Silva de Freitas Jr., Iuri Domarco Botão, Géssica Brandino Gonçalves e Jaime Pereira Lemes, alunos das Universidades Católica de Santos, Metodista de Piracicaba, de Mogi das Cruzes e de Taubaté, autores dos textos desta página, recebem nesta semana os computadores que conquistaram ao se classificarem para a fase final do Prêmio Santander Jovem Jornalista. Eles participaram da segunda etapa da Semana Estado de Jornalismo de 2010, de 21 a 24 de setembro. No primeiro seminário, quatro outros estudantes obtiveram classificação. Esse concurso, realizado em conjunto com as quatro etapas da Semana Estado, oferece ao vencedor, no fim do ano, uma bolsa de estudos na Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, em Pamplona, na Espanha. Nesta semana, 250 alunos participantes do terceiro seminário terão encontros com jornalistas e estudiosos do desenvolvimento sustentável, tema básico do programa em 2010. A quarta e última etapa da Semana Estado está programada para 9 a 12 de novembro. Em seguida, haverá a definição do vencedor do Prêmio Santander Jovem Jornalista, a ser escolhido entre os 16 classificados. Nas feiras do litoral, as hortaliças de Mogi Cássio Freitas Mesmo no inverno, os moradores de São Vicente, no litoral de São Paulo, conseguem comprar hortaliças frescas e viçosas nas feiras livres. Por conta do agricultor e feirante Akira Kudo. Segundo Kudo, dias muito quentes ou frios, aliados a tempo seco ou excesso de chuvas, são fatores que afetam a qualidade das verduras cultivadas na sua chácara em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo. "As mudanças climáticas causam prejuízos; por isso, precisamos encontrar formas de causar menos impacto na natureza", explica. O agricultor admite a importância da preservação ambiental, mas reconhece que ainda existem muitas dificuldades - principalmente para microempresários e pequenos produtores - para desenvolver atividades econômicas sustentáveis. Essas iniciativas, geralmente, estão associadas a grandes empresas, que possuem programas de responsabilidade social. Valéria Valadão, presidente da Agência Nacional de Desenvolvimento Ecossocial (Andes), que atua na Baixada Santista, destaca que sustentabilidade é um conceito a ser exercitado pela sociedade como um todo. "Não se trata de política governamental. A adaptação do atual modelo econômico só é possível quando se incorpora atitudes práticas no cotidiano", ressalta. No caso de Akira, a possibilidade de desenvolver uma produção com responsabilidade ambiental ainda parece pouco viável. Ele conta que não tem condição de monitorar totalmente as técnicas empregadas no plantio dos alimentos, pois também recebe produtos de chácaras e sítios vizinhos. Sua atenção é mais voltada para a organização e o transporte. Segundo ele, transportar alimentos é uma tarefa custosa e poluente. O seu caminhão Mercedes 1.218 consome cerca de 75 litros de combustível em cada viagem, o que significa quase R$ 190 de despesa e centenas de metros cúbicos de gases tóxicos liberados no meio ambiente. Além disso, os pedágios das Rodovias Índio Tibiriçá, Riacho Grande e Anchieta custam cerca de R$ 55. Para Maria Fernanda Britto, pesquisadora em Sustentabilidade e Gestão Ambiental da UniSantos, os processos menos poluentes, que despejam quantidades reduzidas de carbono na atmosfera, envolvem tecnologias ainda em desenvolvimento. No entanto, existem fontes de energia mais limpas, como o biodiesel. Vale lembrar que o gasto com combustível está diretamente ligado ao tipo de motor do veículo e à eficiência do motorista. A atenção ao dirigir o caminhão garante economia para Kudo, que faz questão de falar com os clientes de suas investidas a favor da sustentabilidade. A clientela fiel de São Vicente tem motivado o feirante a continuar acordando de madrugada e ir rumo às feiras para exercer uma atividade econômica cada vez mais limpa e responsável. Cássio Roberto da Silva de Freitas Júnior é aluno da Universidade Católica de Santos Um exemplo de como se preserva o verde Iuri Botão Desde que se mudou para um sítio no assentamento da Fazenda Três Marias, na zona rural de Porto Feliz, no interior de São Paulo, 13 anos atrás, o agricultor Osvaldo Celestrino de Andrade enfrentava problemas para lidar com a área de preservação permanente (APP) da propriedade. Por estar localizada nas proximidades do Rio Tietê, a fazenda deve manter intacta, com espécies nativas da região, uma área de 1 hectare. Mas, antes de ele se mudar para lá, a região já não tinha todo esse espaço preservado. Pelo contrário: a faixa de terra protegida não tinha nada além de um matagal seco e improdutivo, em terreno irregular. "Sofri muito com incêndios; cheguei a perder uma plantação de bananas inteira", conta o agricultor. A APP passou pelas primeiras mudanças há três anos, quando a Iniciativa Verde - uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), de São Paulo - viu no problema uma oportunidade. Hoje, a fazenda é parte do programa Carbon Free, selo que certifica empresas que compensam as emissões de carbono de seus processos produtivos plantando mudas de espécies nativas em APPs. Os responsáveis pelo plantio são trabalhadores rurais como Andrade, que recebem diárias de R$ 35 pelo trabalho. Além de plantar, eles fazem a manutenção, com podas e controle de pragas, durante 30 meses, período em que a floresta pode se desenvolver por conta própria. As famílias de outros 80 assentados nos 600 hectares da Três Marias também fazem parte do programa. Para participar, as empresas contratam a Oscip para fazer um inventário, que aponta as ineficiências e as emissões de carbono nos processos produtivos. O cálculo é feito por meio do internacionalmente reconhecido Protocolo de Gases de Efeito Estufa. "Hoje, a certificação é opcional. No futuro, porém, as emissões de carbono vão entrar na lista de exigências do mercado", avalia o presidente da Iniciativa Verde, Magno Castelo Branco. Na fazenda em Porto Feliz, quem compensa as emissões é a Suzano, fabricante de papel que, desde 2007, estampa o selo Carbon Free em uma de suas linhas de papel ecologicamente correto. Para cada 10 toneladas produzidas, 53 árvores são plantadas. "Uma árvore sequestra e armazena, enquanto estiver viva, cerca 190 quilos de carbono da atmosfera", conta Castelo Branco. Caminhando pela propriedade, Andrade mostra a área de preservação, que tem dez espécies nativas diferentes, entre elas cedro, embaúba e palmeira. Dois anos após o primeiro plantio, a área tem árvores de até 4 metros de altura. "Eles passaram máquina para nivelar o terreno. Então, posso plantar uma horta entre as árvores, com quiabo, beterraba e alface, por exemplo, e vender esses produtos", diz. "O reservatório de água, que uso para irrigar toda a plantação, fica mais cheio, porque a floresta ajuda a segurar essa água." O agricultor também reconhece a importância da ação para o meio ambiente. "Além das vantagens econômicas, sei que é uma coisa boa que eu estou fazendo para os outros. E isso não tem preço." Iuri Domarco Botão é aluno da Universidade Metodista de Piracicaba Biogás sai do lixo e combate a poluição Géssica Brandino O reconhecimento profissional foi uma conquista obtida por Rodrigo Chimenti Cabral, engenheiro civil e gerente técnico de biogás, ao trabalhar em aterros. Às 5 horas de um sábado, ele percorre cerca de 30 quilômetros do bairro paulistano de Santana, na zona norte, até Mauá, no ABC, para mostrar o trabalho da Lara Energia. A empresa gera de 1,4 mil a 1,5 mil créditos de carbono por dia, o que a coloca entre as maiores do Estado de São Paulo. Os créditos resultam da queima de metano, um dos gases causadores do efeito estufa. O biogás é produzido no aterro Lara, que ocupa 30 hectares e recebe, em média, 2,1 mil toneladas de lixo por dia dos municípios de Mauá, Ribeirão Pires, Diadema, São Bernardo do Campo, Rio Grande da Serra, São Caetano do Sul, Praia Grande e São Vicente. O sistema de tubulação conduz o biogás para a usina de combustão, onde o metano é queimado a uma temperatura controlada. Da sala de controle são emitidos relatórios sobre a queima. O processo é verificado por uma entidade operacional credenciada pela Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o relatório Caminhos Para uma Economia de Baixo Carbono, da McKinsey & Company, o metano polui 21 vezes mais que o gás carbônico. Com a queima, o gás deixa de entrar na atmosfera, diminuindo a poluição e gerando carbonos equivalentes, vendidos na Bolsa de Valores. O empreendimento começou em 2006. O aprimoramento do sistema de canalização, do qual Rodrigo foi um dos responsáveis, fez com que, nos últimos dois anos, a empresa aumentasse a extração de biogás. A iniciativa resultou em maior redução de emissões de metano, passando de 500 para 1,5 mil créditos de carbono por dia. A experiência gerou convites para minicursos nas universidades Mackenzie e Oswaldo Cruz. Em 2009, com o Projeto de Conversão de Gás de Aterro em Energia no Aterro Lara, a empresa recebeu o prêmio Dê Crédito ao Meio Ambiente, da Brazilian Carbon Bureau (BCB). "A implantação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) em aterros é um exemplo para a política de baixo carbono, pois gera contribuições para a saúde do ser humano, meio ambiente e sociedade", declara Sofia Jucon, responsável pela Comunicação da BCB. Para manter as atividades, a Lara Energia conta com 23 funcionários. Márcio Perette, hoje operador de biogás, há três anos trabalhava como vendedor e cursava a área química. A busca por experiência o levou à Lara: "É um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. É gratificante trabalhar por isso." Genivaldo Santos Almeida, operador de máquina, também veio do comércio. Ele buscava algo diferente e encontrou. "As pessoas não têm noção do que pode ser feito com o lixo doméstico. É possível gerar energia, tirar o metano da atmosfera e melhorar o meio ambiente. É uma lição de vida." Parte da receita da venda dos créditos de carbono é revertida para projetos sociais, como alfabetização de adultos, ensino profissionalizante, capacitação de professores e ajuda a entidades de caridade em Mauá. A empresa obteve credenciamento da ONU para produzir energia e aguarda investimentos para iniciar o processo. "O biogás pode ser um combustível alternativo, viabilizando cerca de 3% da redução global dos gases de efeito estufa em escala mundial", afirma Rodrigo. Géssica Brandino Gonçalves é aluna da Universidade de Mogi das Cruzes Quando garis viram agentes ambientais Jaime Lemes Quem anda pelas ruas de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, a 80 quilômetros da capital paulista, ou utiliza o Terminal Rodoviário Municipal, depara-se com o resultado do trabalho de pessoas como Edson Alves, de 55 anos, agente ambiental da Urbanizadora Municipal S.A. (Urbam), empresa que recolhe e trata todo o lixo do município, colaborando com a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera. Edson trabalha há nove meses no serviço de limpeza do Terminal Rodoviário Municipal e, junto com outros agentes, faz a coleta seletiva do lixo, limpando desde os banheiros até a parte externa do terminal, por onde circulam diariamente 10 mil pessoas. Este é o início de todo o processo de tratamento dos detritos, que são recolhidos por caminhões especiais e levados ao Aterro Sanitário Municipal. É lá que Marissol Aparecida Batista, de 26 anos, atua ao lado de outros agentes na Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos (ETRS), fazendo a triagem dos recicláveis, que são vendidos a empresas que fazem reciclagem. Criada há quase 40 anos como sociedade de economia mista, desde 2008 a Urbam tem uma central de tratamento do biogás, que é produzido pela decomposição dos resíduos jogados no aterro sanitário. O principal poluente produzido pelo lixo é o gás metano, 21 vezes mais ofensivo à atmosfera que o dióxido de carbono (CO2). Com o tratamento do biogás, a estimativa é de que, até 2014, São José dos Campos deixará de lançar 820 mil toneladas de CO2 na atmosfera, o que, comparativamente, corresponde à poluição gerada por toda a frota de automóveis da cidade durante 38 meses. André Braga, assessor de gerenciamento da Urbam, explica que a captação de gases no aterro sanitário representa uma ação concreta de proteção ao meio ambiente, além de conquistar recursos para o município, por meio da Redução Certificada de Emissão, conhecida popularmente como créditos de carbono, que tem respaldo no Protocolo de Kyoto. Segundo dados de 2009 do IBGE, São José dos Campos tem uma população estimada em 615.871 habitantes e produz cerca de 700 mil toneladas de lixo por dia. William Portela, diretor de gestão ambiental da prefeitura, vê como fundamental o investimento que o município faz na preservação do meio ambiente, por meio do tratamento do lixo. "Os benefícios recebidos pela cidade, com a comercialização de crédito de carbono, e pela população, com a melhoria da qualidade de vida, são resultado de um trabalho contínuo de educação ambiental", ressalta Portela. Para a engenheira ambiental Verônica Moraes, professora de Meio Ambiente do Senac-SJC, a participação conjunta de empresas, ONGs e setores públicos é indispensável na preservação do planeta, mas não se pode deixar de fora o ser humano, que está inserido nele, pois a população é também responsável por grande parte dos impactos ambientais. "Colaborar com a coleta seletiva, deixar o carro na garagem e oferecer carona, entre outras pequenas atitudes conscientes, podem trazer muitos ganhos ao meio ambiente", enfatiza a engenheira. Antes conhecidos como garis, Edson e Marissol são, hoje, agentes ambientais. Não é apenas uma mudança de conceito, é uma mudança de atitude, pois são também formadores de consciência ambiental. "Se cada um fizer a sua parte, o mundo fica melhor", diz Marissol, com a convicção de que conhece a importância de seu trabalho. Jaime Pereira Lemes é aluno da Universidade de Taubaté. (agenciasebrae)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Brasil investe pouco no setor agroalimentar

Para pesquisador, Brasil investe pouco em inovação no setor agroalimentar O Brasil transforma apenas 30% de sua cadeia produtiva, que é destinada ao exterior, enquanto outros países, como a China, exportam até 98% de seus produtos com alto valor agregado. Isso leva o país a exportar os grãos in natura a um valor muito abaixo do que se o produto recebesse beneficiamento. Para discutir esse tema, pesquisadores estão reunidos no 4º Congresso Internacional de Bioprocessos na Indústria de Alimentos (ICBF), realizado no início de outubro de 2010 em Curitiba. Eles concordam que essa situação ocorre em função da falta de investimento em pesquisas. No ICBF 2010 – que pela primeira vez é realizado em um país da América Latina -, organizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos Paraná (SBCTA), cerca de 1,3 mil participantes debatem estudos que vão trazer impacto para o consumidor final. Segundo o presidente do ICBF, Carlos Ricardo Soccol, o Brasil tem a possibilidade de se tornar celeiro do mundo desde que haja condições propícias de investimentos em pesquisa e inovação no setor agroalimentar. “Para se ter uma ideia, o quilo de soja exportado por meio dos portos brasileiros é vendido a R$ 0,20, enquanto o quilo da mesma soja enriquecido com hormônios bioativos, com amplos benefícios para saúde humana, alcança R$ 1 mil“, afirmou. Ele disse que há consenso entre os cientistas participantes de que o país dá prioridade “à exportação de produtos primários, deixando de gerar empregos, arrecadar impostos e colocando em risco a soberania tecnológica. Só em importações no setor farmacêutico, o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta cerca de R$ 5 bilhões ao ano”, alerta. De acordo com Soccol, os cientistas trazem patentes que poderão ser transferidas ao setor produtivo. “Nessa aproximação entre pesquisadores e indústria, somente os cientistas da UFPR vão disponibilizar cerca de 20 pesquisas patenteadas pela instituição, que podem representar melhorias para a saúde da humanidade, além de ajudar a combater a fome mundial”. Ao insistir que o Brasil ainda investe muito pouco em pesquisa científica e inovação tecnológica quando comparado aos países desenvolvidos, o presidente do ICBF lembra que as principais fontes de pesquisa no país são o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e mais recentemente as fundações de pesquisas estaduais. As empresas brasileiras não têm o hábito de investir parte de seu faturamento em pesquisa”, concluiu. (EcoDebate)

O direito a decidir aquilo que comemos

Frequentemente quando se fala do impacto da crise alimentar e da dificuldade para acessar uma alimentação sã e saudável olhamos para os países do Sul. Na atualidade, 925 milhões de pessoas no mundo passam fome e estas se encontram, majoritariamente, nos países empobrecidos. Estas circunstancias ocorrem em um período onde se produzem mais alimentos que nunca na história, com um aumento de produção de 2% nos últimos vinte anos enquanto que a população cresce a um ritmo de 1,14%. Portanto, comida existe, mas a crescente mercantilização dos alimentos têm feito que o acesso às mesmas se converta em praticamente impossível para amplas parcelas da população. Entretanto, mais além do impacto dramático destas políticas agrícolas e alimentares na geração da fome no mundo, ha que assinalar, também, suas consequências no aumento das mudanças climáticas, a deslocalização alimentar, a crescente descampesinação do mundo rural, a perda de agro-diversidade, etc…, especialmente nos países do sul global, mas também aqui. Na Catalunha, por exemplo, somente 2,46% da população ativa se dedica a agricultura e esta porcentagem se reduz ano após ano, uma vez que se constata um envelhecimento progressivo do setor, já que o relevo geracional é muito escasso. Se calcular que a incorporação de jovens no campo é dez vezes inferior ao de sete anos atrás. Se em 2001, 478 jovens se somaram a atividade camponesa catalã; em 2008, somente o fizeram 49, segundo dados do sindicato Unió de Pagesos. O empobrecimento dos camponeses é uma realidade inegável. A renda agrária na Cataluña caiu desde 2001 em 43,7%, situando-se muito abaixo da renda geral. O encarecimento dos custos de produção e a baixa remuneração que os camponeses recebem por seus cultivos seriam algumas das causas principais que explicariam essa tendência. O sistema agro-industrial têm gerado uma progressiva desvinculação entre produção de alimentos e consumo, favorecendo a apropriação por parte de um punhado de empresas, que controlam cada um dos componentes da cadeia agroalimentar (sementes, fertilizantes, transformação, distribuição), com a consequente perda de autonomia dos camponeses. Para descrever a estrutura do atual modelo de distribuição de alimentos se costuma utilizar a metáfora do “ relógio de areia”, onde umas poucas empresas monopolizam o setor gerando um gargalo da garrafa que determina a relação entre produtores e consumidores. Na atualidade, o diferencial entre o preço pago na origem, ao camponês, e o que pagamos no supermercado se situa em torno de uns 500% em média, sendo a grande distribuição quem fica com o maior lucro. Por esse motivo, os diferentes sindicatos campesinos reclamam uma Lei de Margens comerciais e que lhes pague um preço digno por seus produtos. Frente a este modelo agrícola, desde metade dos anos 90, diferentes movimentos sociais vêm reivindicando o direito dos povos a soberania alimentar. Uma demanda que implica recuperar o controle das políticas agrícolas e alimentares, o direito a decidir sobre aquilo que comemos, que os bens naturais (água, terra, sementes…) estejam em mãos dos camponeses. Uma proposta que é baseada na solidariedade internacional e que não tem que se confundir com os discursos chauvinistas partidários do “primeiro o nosso”. Na Catalunha, esta soberania alimentar implica o acesso a terra de quem quer incorporar-se a atividade agrícola, apostar por um banco de terras, e denunciar a crescente especulação com o território. É urgente, como reivindica a plataforma Catalã Somos o que semeamos, uma moratória de cultivo de transgênicos e deixar bem claro que a coexistência é impossível. Catalunha e Aragão são as principais zonas da União Européia onde se cultivam transgênicos, inclusive variedades proibidas em outros países. Faz falta uma nova Política Agrária Comum (PAC), enquanto soberania alimentar, priorizando uma produção, uma distribuição e um consumo de proximidade, um modelo agrícola vinculado a agroecologia, investimentos e serviços públicos e de qualidade no mundo rural e uma legislação sanitária adequada para a transformação artesã e a comercialização local. Sem um entorno rural e camponês vivo, outro mundo e outro consumo não serão possíveis. Como diz a Via Campesina, hoje “comer se converteu em um ato político” (EcoDebate)

A fome de Marina é a mesma do povo brasileiro

Quando eu li na mídia que a Rita Lee havia dito que não votaria na Marina “porque ela tem cara de fome”, a princípio me revoltei, afinal de contas eu, também, sou do norte, como Marina, embora não tenha passado fome “de comida”, mas eu sei o que as pessoas sentem quando passam fome e conseguem vencer na vida. Não precisamos ir muito longe, mas até mesmo na capital da República, há muita “fome” por diversos motivos e muitos procurando seguir o exemplo de Marina Silva. Lendo a biografia de Marina, constatei a vida dura que ela levou para chegar até aqui e pude verificar que ela sente “muita fome”, fome essa que a Rita Lee não conhece. Marina tem cara de fome, sim, mas fome de lutar pelo seu povo e pela Amazônia, tentando preservar o pulmão do mundo, para que nós e a própria Rita Lee, possamos viver um futuro com qualidade vida. Marina sente fome, sim, de manter a “Ordem e Progresso” no Brasil, porém com sustentabilidade, porque é possível progredir economicamente e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. Marina tem cara de fome, mas de uma “fome” que a fez merecedora do prêmio Champions of the Earth (campeões da terra), maior reconhecimento das nações unidas para a área ambiental. Marina tem cara de fome, de tanto lutar para que nós brasileiros tenhamos a consciência de que não “existirá futuro” promissor, senão preservarmos as nossas florestas, os nossos rios e os nossos oceanos. Marina tem cara de fome, porque busca como poucos conscientizar os nossos governantes de que não podemos construir hidrelétricas, sem calcular todos os impactos ambientais e nem alterar a natureza arbitrariamente, porque ela se revolta e provoca os desastres naturais. Marina tem cara de fome, sim, mas de uma fome que somente as pessoas inteligentes e conscientes são capazes de entender e, mesmo com a “cara de fome”, Marina é uma mulher digna que não vive falando tolices para aparecer na mídia. Marina, mesmo com a cara de fome, “você já é bonita com o que Deus lhe deu”. Mesmo com a silhueta frágil, consigo ver a sua fortaleza diante das adversidades e que está preparada para vencer os desafios que o Brasil oferece, porque você tem o temor e o amor de Deus. Marina a sua ”fome” é a minha fome e de quase vinte por cento dos brasileiros. Eu admiro a sua fome para mudar o Brasil. (Ecodebate)

sábado, 23 de outubro de 2010

Os passos miúdos da dança global

Durante a Rio 92, que levou à aprovação das Convenções do Clima e da Diversidade Biológica, o secretário-geral do encontro, Maurice Strong, foi dramático: disse que era a última oportunidade de os governos encaminharem soluções para os gravíssimos problemas naquelas duas áreas e para a questão da miséria no mundo. Por isso, além de criarem as duas convenções, os chefes de Estado aprovaram a Agenda 21 Global. E ela fornecia um roteiro para enfrentar os dramas do subdesenvolvimento e da pobreza. Incluía a decisão de os países industrializados aumentarem de 0,36% para 0,70% de seu produto interno bruto (PIB) a contribuição anual para os países mais pobres. Com isso, doariam US$ 120 bilhões anuais, a que se somariam US$ 480 bilhões em recursos dos países receptores. E com US$ 600 bilhões anuais seria possível avançar em todas as áreas. Só a Suécia cumpriu a sua parte. Os demais países industrializados reduziram porcentualmente sua contribuição média para uns 0,3% do PIB anual. E passadas duas décadas, ao fazer a avaliação dos Objetivos do Milênio, diz a ONU que, embora tenha havido progresso, é “um escândalo” que 952 milhões de pessoas no mundo continuem a enfrentar a miséria e que morra uma criança a cada oito segundos por problemas relacionados com a desnutrição. Um quadro ainda tão grave que levou o presidente da França, Nicolas Sarkozy, a ressuscitar outra proposta da década de 90, do economista James Tobin, que sugeria criar uma taxa mundial sobre transações financeiras e destinar o resultado ao combate à pobreza. Porque esta ainda atinge 19% da população mundial, segundo a ONU; 1 bilhão de pessoas vive com menos de US$ 1,25 (pouco mais de R$ 2,10) por dia. Mesmo nos Estados Unidos, onde a crise econômica eliminou 5 milhões de empregos (a taxa de desemprego está em 14,3%), há 43,6 milhões de pobres, considerado o padrão de lá, que classifica como pobre quem tenha renda anual bruta de até US$ 10.830 (uns R$ 18,5 mil, pouco mais de R$ 1.500 mensais, mais do que a renda média de quem trabalha no Brasil, quase três salários mínimos nossos). Por aqui, a renda média do trabalho chegou a R$ 1.472. Ainda temos 28,8% dos que trabalham recebendo até meio salário mínimo mensal – sem considerar as graves condições de moradia e saneamento dos lugares que habitam. Sobre a situação da biodiversidade no mundo e no País duas décadas depois, este espaço já foi ocupado na semana passada com números estarrecedores. E quanto ao clima, avança-se para a reunião da convenção, daqui a poucas semanas, no México, sem vislumbrar acordo algum. Numa reunião preliminar de 17 países, em Nova York, o delegado norte-americano, Todd Stern, foi claro: sem a adesão da China, da Índia e de outros países “em desenvolvimento” (o Brasil incluído), não haverá, nem em Cancún nem depois, nenhum acordo “vinculante”, que obrigue as nações a reduzir suas emissões de poluentes. Já o delegado russo deixou claro que, se Estados Unidos e China não aderirem a uma nova etapa do Protocolo de Kyoto, este expirará. Nos mesmos dias, numa reunião da Clinton Global Initiative – que tenta romper impasses nessa área -, a nova secretária da Convenção do Clima, a costa-riquenha Christiana Figueres, foi surpreendentemente direta. As negociações não avançam por dois motivos, disse ela: 1) Tensões e desacordos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento; e 2) “business” (UN Dispatch, 22/9). O “business” porque fica à espera de que os governos criem marcos regulatórios. E os governos, “enquanto olham nervosos para os próprios pés, dizem que o business não os está pressionando. É uma espécie de dança, em que cada um diz: “Você primeiro! Você primeiro!”" Na opinião dela, as áreas de negócios deveriam assumir a iniciativa e a liderança, porque têm muito a perder. Não é muito diferente em qualquer lugar, inclusive no Brasil. Em meio ao fogo que tomou conta de metade do País, em meio à estiagem que secou rios na Amazônia, em meio à perda de parte das colheitas, continua-se a olhar passivamente o panorama. No lançamento de um programa de emergência para o fogo no Cerrado, na presença do presidente da República e da ministra do Meio Ambiente, por três vezes faltou energia no recinto, com os incêndios no Cerrado do Distrito Federal interferindo nas linhas de transmissão. Enquanto isso, dizia o boletim do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) (23/9) que desmatamentos e queimadas causam 75% das emissões de carbono no País. Que os problemas nessa área poderão levar a perdas consideráveis no produto bruto nacional. E que o aquecimento global “poderá elevar a temperatura no Norte e Nordeste até 8 graus, em consequência do desmatamento da floresta amazônica”. Há quem esteja perdendo a esperança. Um deles é o famoso cientista James Lovelock, autor da “Teoria de Gaia”. Há algum tempo, afirmou ele que não haveria tempo para esperar que acordos entre países levassem a uma redução de emissões, dada a gravidade da situação. Por isso, ele, que durante décadas se opusera à utilização da energia nuclear, passou a defendê-la, por não emitir poluentes que se concentram na atmosfera e por entender que o problema de resíduos por ela gerados é menor. Os resíduos de uma usina cabem num pequeno veículo, passou a dizer. Agora, Lovelock vai, perigosamente, ainda mais fundo. Como cita o ex-secretário do Meio Ambiente do Espírito Santo Luiz Prado (Portal do Meio Ambiente, 18/9), Lovelock agora diz: “Eu tenho a sensação de que mudanças climáticas são um evento tão grave quanto uma guerra; talvez seja necessário suspender a democracia por algum tempo.” (EcoDebate)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ignorando as mudanças climáticas

Ignorando mudanças climáticas, Brasil continuará sofrendo com ‘catástrofes naturais'
Durante a Copa do Mundo, o Brasil voltou a sofrer um duro choque de realidade em seu interior: com chuvas em níveis nunca registrados, o agreste de Pernambuco e Alagoas teve dezenas de cidades devastadas pelas enchentes decorrentes dos temporais, causando a morte de mais de 60 pessoas. Para analisar o que está por trás de mais uma chuva calamitosa, após fenômenos parecidos por todas as regiões do país nos últimos anos, o Correio da Cidadania entrevistou Philip Fearnside, especialista em clima do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e uma das maiores autoridades internacionais nos debates sobre o aquecimento global, fazendo parte também do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. De acordo com Fearnside, a tendência de ocorrências semelhantes se repetirem é crescente, já que as tempestades do Nordeste foram mais intensas que o normal por conta de uma maior temperatura das águas do Atlântico. O professor salienta que tal fenômeno se alinha ao El Niño (no Pacífico), levando aos mesmos efeitos de chuvas violentas e secas alternadas entre a Amazônia e o Nordeste, ameaçando, portanto, também a maior floresta tropical do mundo. Diante disso, o pesquisador do INPA alerta para a urgência de uma mudança radical na atitude do país nas discussões globais sobre o aumento da temperatura e concentração de gases na atmosfera, o que poderá ser feito na convenção climática marcada para o México, no final deste ano. No entanto, destaca que a aprovação de mudanças no Código Florestal a que assistimos é um temerário passo ao caminho oposto. Correio da Cidadania: Especialistas dizem que volume d’água em Pernambuco e Alagoas foi causado por uma frente de calor que provinha do Oceano Atlântico, a partir do aquecimento maior que o normal de suas águas. A que atribui as chuvas tão intensas ocorridas nas últimas semanas em várias cidades do agreste destes estados, que geraram uma enorme tragédia e cerca de 60 mortes? Philip Fearnside: Há uma marcha de água do Atlântico que faz parte de uma gangorra, com águas do Atlântico Norte mais frias e do Atlântico Sul mais quentes, o que por vezes se inverte. Trata-se de um fenômeno que tende a aumentar com o aquecimento global. Isso aconteceu pelo outro lado em 2005, com uma seca enorme na parte sul da Amazônia, com vários afluentes do Rio Amazonas quase ficando secos, causando uma calamidade humana, pois vários deslocamentos, para hospitais, por exemplo, eram feitos pelos rios e não podiam se realizar. É algo que acontece porque a Zona de Inter-convergência Tropical se desloca, o que teve relação com o acidente que derrubou o avião da Air France no meio do Atlântico. Havia uma parede de nuvens e massas de ar se misturando, causando chuvas mais fortes e turbulência. Um ano depois, em 2006, houve grandes chuvas no Nordeste brasileiro e na Amazônia, registrando, inclusive, recordes do nível de água no Rio Amazonas. Com a água mais quente perto da costa brasileira, a evaporação é maior e vão se formando nuvens de chuvas mais fortes. Os dois lados do ciclo devem se intensificar, tanto de chuva como de seca. Estamos acostumados com o El Niño, mas ele é causado por massas de ar quente no Oceano Pacífico, não no Atlântico. Em 2003, tivemos enchentes em Roraima, assim como em 1997-98; em 1982, também houve enchentes na Amazônia, que causaram muitas mortes. Naquela época, em 1982, o desastre foi apresentado ao mundo como se fosse um ato de Deus; ‘simplesmente aconteceu, não foi culpa de ninguém’. Não se falava em conseqüências do desmatamento. Na hora que o El Niño e este fenômeno são ligados ao aquecimento global, aí fica muito diferente. Porque o aquecimento global tem culpados, sim, dá pra saber da emissão de gases de cada indivíduo e país. No último Painel do Clima, em 2007, eu citei modelos que mostravam que, com mais aquecimento, vamos ter mais condições de ver o El Niño se manifestar, isto é, massas de ar quente no Pacífico. No caso do Atlântico, não há, digamos assim, uma teoria oficial. Há pesquisas que indicam ser mesmo fruto do aquecimento global, que tem aumentado a freqüência desse tipo de seca e chuva por conta da temperatura do Atlântico. Um artigo na Revista Science de 2008 dá conta de que, se as emissões de gás carbônico no ar ultrapassarem 400 ppm (partes por milhão), a probabilidade de aqueles tipos de seca de 2005 se repetirem, e também de chuvas como as vemos hoje, explode, pois fica muito mais pesada a concentração de gases na atmosfera. E já estamos em 389 ppm, com um aumento médio de 2 ppm por ano, ou seja, já estamos quase nesse nível apontado como temerário. Portanto, é muito importante, nas negociações no México no final do ano, se chegar a um acordo para manter um nível abaixo de 400 ppm. Porém, a questão não está resolvida, o número mais cogitado por aí é 450 ppm, e com esse acordo o Nordeste e a Amazônia enfrentarão eventos catastróficos novamente. É muito importante que se estabeleça, portanto, tal limite de 400 ppm. Correio da Cidadania: Esses desastres não se associam muito claramente também à falta de planejamento e de investimento em infra-estrutura, para fazer frente às intempéries naturais? Philip Fearnside: Estamos com muitos problemas no Nordeste e é possível mesmo ter planejamento melhor. Em Santa Catarina aconteceram danos mínimos. Em 1982 houve grandes enchentes em Blumenau, que causaram um dano muito grande, mas lá existem algumas medidas para que a população não fique tão exposta, não ficaram tantas casas destruídas. Por isso é importante ter um planejamento de verdade, para que se evitem tantas conseqüências. Correio da Cidadania: O volume de água acumulado na época das chuvas na região não deveria levantar um questionamento sobre a tão difundida ideia da falta de água que assola os nordestinos? Philip Fearnside: São coisas diferentes. Existem secas no Nordeste e a tendência é de que aumentem. Ao menos de acordo com previsões de modelos climáticos. Tanto o aumento do El Niño quanto esse novo fenômeno levam a seca ao Nordeste. Portanto, mesmo com enchentes, teremos anos com muitas secas. E essa é uma região que já está no limite, um lugar que já sofre tremendamente com o clima atual, imagine com o clima dos próximos anos… E não há como se aproveitarem essas chuvas hoje. Se caírem mais chuvas como essas, não se poderá armazenar a água para a sua utilização. Ou seja, joga-se fora o beneficio das chuvas, das quais o Nordeste precisa. Mas não dessa forma. Correio da Cidadania: Ficou evidente a má conservação das matas ciliares dos rios que alagaram as cidades nordestinas, do que decorreu um fluxo das águas muito mais descontrolado. Esse fato vai, a seu ver, se agravar com a possível aprovação das mudanças no Código Florestal Brasileiro, envolvendo questões como a redução das Áreas de Proteção Permanente, no projeto proposto pelo deputado Aldo Rebelo? Philip Fearnside: Esse era um dos pontos centrais do debate do Código Florestal, de abrir brechas para diminuir o tamanho das matas ciliares em margens, e realmente agora fica claro que é preciso conservá-las. Sem dúvidas a situação pode piorar com as mudanças no Código que estão sendo aprovadas. E o pior de tudo é que se abrem brechas à presunção de que haverá mais anistia no futuro para quem desmatou acima do permitido por lei até aqui; fica a idéia de que quem desmatar ilegalmente também será perdoado futuramente. Assim, ainda se verão muito mais problemas. O governo aceita os danos já praticados e coloca à disposição mecanismos para que ocorram outros mais, com as pessoas que respeitaram as leis sendo feitas de bobas, pois não desmatam, não cortam árvores, enquanto quem cometeu práticas ilegais é beneficiado. Logo, vão pensar em cortar também, e o hábito vai se perpetuando. Evidentemente, tudo termina tendo um custo muito alto para as pessoas que sofrem as conseqüências da falta de tais precauções, como em relação à preservação das matas ciliares em rios etc. Correio da Cidadania: É possível projetar os prejuízos ao país caso realmente se flexibilize o Código Florestal? Philip Fearnside: Não se pode saber quanto será legalizado em termos de desmatamento ilegal de hoje. Mas o que não há como mensurar é o custo futuro, com as pessoas presumindo que poderão cometer todas essas ilegalidades e depois serem perdoados. Isso é muito perigoso. Correio da Cidadania: Que medidas os governos estaduais, e o federal, deveriam adotar, a curto, médio e longo prazos, para evitar que futuramente se repitam os mesmos trágicos incidentes? Philip Fearnside: Acho que a primeira prioridade deve ser a Convenção do Clima, pois o Brasil não tem tido um papel muito positivo nessas negociações. Só em 1999 que o governo aceitou a marca de 2 graus Celsius como definição de mudança climática perigosa, levando em conta a média de aumento da temperatura até a revolução industrial. Porque a convenção do clima assinada na Eco 92, no Rio, estabeleceu como objetivo evitar que os gases do efeito estufa chegassem a níveis perigosos. A palavra chave é ‘perigoso’. O que está em discussão é quantas partes por milhão (ppm) de gás carbônico recebem tal consideração. É isso que está em negociação. Houve um acordo no ano passado de que 2 graus seriam a definição de perigoso, o que o Brasil só aceitou após o endosso de mais de 100 países. Mas agora é preciso traduzir isso em relação à concentração dos gases. Até hoje o país não tomou decisões, dando a entender de que pensa em adiá-las ao máximo, permitindo mais emissões, desmatamento… Isso tem um custo muito grande e é um perigo para o Brasil. Especialmente para o Nordeste e a Amazônia, que, se continuar perdendo sua vegetação, sofrerá com secas também. Por isso é importante o país não deixar as coisas ‘irem rolando’, de modo a deixar tudo mais confortável para os países ricos. Se o número escolhido for 450 ppm, haverá uma chance muito grande de se atingir o aumento da temperatura em dois graus. É jogar uma moeda no ar, com 50% de chances para cada possibilidade, colocando em risco a Floresta Amazônica, um desastre para o Brasil. E há outras medidas a tomar, como a preservação de acordo com a necessidade e leis atuais, cuidado com as matas dos rios, enfim, um trabalho de prevenção para que se evitem tantos danos. Enchentes acontecem mais freqüentemente quando não se conservam bem os rios, pois suas águas acabam sofrendo mudanças em seus cursos. Enfim, há muito o que fazer, e o que destaco é que, à frente de tudo, se coloca a discussão sobre os efeitos dos gases estufa. Correio da Cidadania: Acredita que haja vontade política para a tomada dessas decisões? Philip Fearnside: Não quero ser fatalista, de achar que vai dar tudo errado, mas acontece que ninguém faz nada. É preciso ver os custos e benefícios de cada possibilidade. Mas, se ficarmos mais uns cinco anos sem fazermos nada, teremos conseqüências muito graves. Mesmo que não exista uma vontade política mais visível, ela precisa aparecer. (EcoDebate)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

COP16, Cancún

COP16, Cancún: Por que o fracasso da cúpula do clima poderia anunciar a catástrofe global – 3,5º C O mundo se encaminha para a próxima importante Conferência sobre a Mudança Climática, em Cancún, no final do ano, para enfrentar um aquecimento global de 3º C no próximo século, e isso sugere uma série de análises científicas. O fracasso da última Conferência sobre a Mudança Climática, realizada em dezembro do ano passado em Copenhague, significa que os cortes nas emissões de carbono prometidos pela comunidade internacional não serão suficientes para manter o aquecimento dentro de limites seguros. Duas análises do Acordo de Copenhague e suas promessas, feitas pelo Dr. Sivan Kartha, do Stockholm Environment Institute, e o sítio Climate Action Tracke, sugerem que com os cortes atualmente prometidos em Copenhague, o mundo terá se aquecido até 3.5º C em 2100. Provavelmente, esse crescimento terá efeitos desastrosos sobre a produção agrícola, a disponibilidade de água, os ecossistemas naturais e o crescimento do nível do mar no mundo, produzindo dezenas de milhões de refugiados. Há um mês, em seu relatório anual sobre o estado do clima, publicado conjuntamente pelo UK Met Office’s Hadley Centre e a America’s National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), se enumeram 10 indicadores diferentes relativos a um planeta em aquecimento, sete deles de crescimento – desde a temperatura do ar na terra até a umidade no mar – e outros três de redução: o gelo do Mar Ártico, as geleiras e a cobertura da neve na primavera. “A evidência científica de que nosso mundo está se aquecendo é inequívoca”, disseram na NOAA. Cancun, ou “COP 16”, como é conhecido oficialmente o evento, voltará a ver ministros e altos funcionários de 200 países abordar com escrúpulos as políticas do aquecimento global, mas ninguém acredita que poderão fechar uma fenda em contínuo alargamento nas defesas do mundo contra temperaturas que crescem perigosamente: a “brecha gigatônica”. Uma gigatonelada é um bilhão de toneladas de carbono, mas os cortes das emissões atualmente prometidos pelos países do mundo no Acordo de Copenhague – o acordo do último minuto posto como remendo depois da Conferência na capital dinamarquesa para que não viesse abaixo –, significará que para 2020, quando as emissões globais deveriam estar em uma firme tendência de queda, estarão várias gigatoneladas acima do necessário para limitar o aquecimento aos graus necessários acima do nível pré-industrial. Há um amplo consenso de que é o máximo que a sociedade humana pode suportar sem consequências graves. Entretanto, a comunidade internacional não parece estar mais próxima do consenso sobre a necessidade de novas reduções no carbono e na reunião de Cancún, que acontecerá de 29 de novembro a 10 de dezembro, no melhor das hipóteses se farão apenas alguns progressos em questões secundárias. Em 19 de setembro, o Ministro da Mudança Climática da coalizão, o liberal democrata Chris Huhne, viajou a Berlim para discutir com seus homólogos alemão e francês, Norbert Röttgen e Jean-Louis Borloo, o fortalecimento do objetivo climático da União Europeia de 20% a 30%, antes da reunião de Cancún. Huhne disse ao The Independent: “Há um duro trabalho por baixo para manter e fortalecer o nível de compromisso encarnado no Acordo de Copenhague, e para reconstruir a credibilidade da Convenção Marco das Nações Unidas para o processo de Mudança Climática”. “Na União Europeia, ainda temos que finalizar as nossas posições antes da COP 16, mas creio que há uma possibilidade real de que as negociações possam dar importantes passos adiante em Cancún, em particular para implementar partes do que se acordou em Copenhague e também para trabalhar pelo acordo global de que o mundo necessita”. E acrescentou: “O Reino Unido opina – e meus homólogos francês e alemão compartilham dessa opinião – que a UE deveria elevar suas ambições e que temos motivos econômicos de sobra pra isso”. “Reduzir as emissões em 30% até 2020 permitiria mudar os investimentos para novas tecnologias limpas, gerando empregos e crescimento das cadeias de abastecimento em nossas economias. O grande risco da Europa é acordar muito tarde para estas oportunidades e perder diante de outros grandes blocos que já estão fixando a vista nas cotas de mercado”. É difícil exagerar o nefasto impacto que o fracasso de Copenhague teve tanto para o próprio processo de negociação sobre a mudança climática como sobre a crença dos implicados no sentido de que poderia ser possível um acordo efetivo sobre o clima. Há um ano, muitos ambientalistas, cientistas e políticos acreditavam realmente que a reunião da Dinamarca poderia produzir um acordo vinculante que reduzisse globalmente o CO2 em cerca de 25%-40% até 2020, que é o que o Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) calculou ser necessário para manter o aquecimento abaixo de C. Hoje, esses otimistas desapareceram. A reunião dinamarquesa naufragou pelo desacordo entre os países desenvolvidos e os que estão em desenvolvimento sobre quem tinha que fazer quanto e quando para reduzir as emissões; o principal ponto de desacordo foi o Protocolo de Kyoto, tratado ainda em vigor, pelo qual os países desenvolvidos deverão fazer muito e os países em desenvolvimento nem tanto. O Tratado de Kyoto termina no final de 2012 e os países em desenvolvimento, liderados pela China e Índia, queriam que fosse renovado, ao passo que os países desenvolvidos, incluindo a Grã-Bretanha e o resto dos países da UE, queriam um tratado totalmente novo pelo qual se compartilharia a carga de reduzir o carbono. Em dezembro passado, em Copenhague, os líderes mundiais improvisaram um acordo que acabou por esvaziar qualquer objetivo de emissões de carbono vinculante (mesmo que pela primeira vez se renunciou que havia que manter-se abaixo de C). Em vez do tratado legalmente vinculante que se esperava, os países foram convidados a “registrar” objetivos voluntários, dizendo em quanto achavam que poderiam reduzir seu CO2 até 2020. A Grã-Bretanha faz parte do objetivo da UR de um corte de 20% em relação a 1990, que é possível que se eleve para 30% antes de Cancún. (O objetivo da Grã-Bretanha como país é um dos mais altos: reduzir o CO2 em 34% até 2020.) Outros objetivos incluem 25% para Japão, Austrália entre 5% e 25%, Estados Unidos 17% tomando como base os dados de 2005; mesmo que a legislação para consegui-lo esteja firmemente instalada no Senado. Entre os países em desenvolvimento, a China prometeu reduzir a intensidade energética de sua economia de 40% para 45% até 2020. Diversas análises destas promessas sugerem que conduzem a cortes totais de CO2 global de entre 11% e 19% até 2020, em vez dos 25%-40% que o IPCC considera necessário. Isto também se pode expressar em volumes reais de CO2, de que o mundo está emitindo anualmente aproximadamente 45 gigatoneladas: 45 bilhões de toneladas de carbono. Caso o mundo continuar com estes níveis de emissões, acredita-se que as emissões aumentarão entre 51 e 55 gigatoneladas até 2020. Lord Stern of Brentford, autor de um relatório decisivo sobre a economia da mudança climática, calculou que se, ao contrário, o CO2 global puder ser reduzido para 44 gigatoneladas até 2020, estaríamos num caminho de confiança para permanecer abaixo de um crescimento de carbono. Entretanto, há análises que sugerem que o Acordo de Copenhague deixará a cifra em 48-49 bilhões de toneladas: a brecha gigatônica que Cancún não vai conseguir fechar. O que a Conferência pode fazer é criar acordos em torno da arquitetura de novos e importantes fundos para o clima que ajudem os países em desenvolvimento com respeito ao acordo da Dinamarca: um fundo de “início rápido” de 30 bilhões de dólares em dinheiro novo para os anos 2010-2012, um fundo de 100 bilhões de dólares repartido anualmente até 2020. Se não houver novos fracassos, é possível que ao menos a reunião consiga restaurar a fé no processo do clima da ONU. “Ninguém pensa que Cancún será um momento big-bang”, afirma Keith Allott, diretor para a mudança climática do World Wide Fund for Nature. “Do que o mundo precisa é colocar novamente algumas rodas no caminho do clima”. (Ecodebate)

Reunião na China a caminho da COP16

A caminho da COP16: Reunião na China tenta salvar conferência da ONU sobre o clima A última rodada de negociações preparatórias para a conferência das Nações Unidas sobre o clima em Cancún (COP 16), prevista para começar no final de novembro, foi iniciada em outubro de 2010 na cidade de Tianjin, no leste da China. Muitos veem na reunião de seis dias como a última chance de se encontrar denominadores comuns e salvar os esforços internacionais por um acordo sobre o clima, fortemente abalados desde a COP 15, a reunião de 2009 em Copenhague. A própria secretária-executiva da convenção da ONU sobre o clima, a costa-riquenha Christiana Figueres, alertou para a urgência dessa necessidade. “Um avanço concreto em Cancún é uma necessidade crucial para restaurar a fé e a capacidade dos envolvidos de levarem o processo adiante, evitando que o multilateralismo seja visto como uma estrada sem fim”, disse Figueres em seu discurso de abertura em Tianjin. A conferência de Copenhague, que começou cercada de expectativas de um acordo que viesse a substituir o Protocolo de Kyoto (o tratado que prevê cortes nas emissões dos gases que provocam o efeito estufa e que expira em 2012), acabou sem qualquer acordo oficial assinado por todos os países. Apenas as maiores economias, entre elas, Brasil, China, Índia, Europa e Estados Unidos, assinaram uma carta de intenções, que estipula um teto de aquecimento global e prevê um fundo de emergência para países atingidos pelas mudanças climáticas. Obstáculos Ao longo do ano, o processo sofreu outro revés importante com a não aprovação da legislação climática americana pelo Senado. Os Estados Unidos, por serem historicamente os maiores poluidores – embora, em números absolutos anuais, tenham sido superados pela China – estão no centro dos principais impasses nas negociações. O país, a única grande economia que não ratificou o Protocolo de Kyoto, defende a criação de um novo tratado internacional, em vez de uma continuação de Kyoto. Paralelamente, o grupo de países em desenvolvimento apelidado de Basic – Brasil, África do Sul, Índia e China – tomou forma e realizou encontros ao longo do ano, tentando afinar uma posição conjunta. Risco Para alguns, o encontro em Cancún pode, em vez de restabelecer a confiança no processo internacional, acabar como a pá de cal dele. As reuniões anuais das Nações Unidas são caras e levam milhares de representantes de mais de 190 países, além de cientistas, ativistas a locais tão díspares como Bali, Nairóbi, Copenhague e Cancún. Sem avanços, as críticas sobre a quantidade de emissões e dinheiro empenhado no processo ganham força. Nos Estados Unidos, há cada vez mais gente defendendo acordos paralelos e legislações nacionais, em vez de um acordo internacional abrangente nos moldes de Kyoto. Em Tianjin, negociadores tentarão reduzir o texto negociado, que atualmente tem mais de 70 páginas. Problemas Entre os principais pontos de discórdia estão metas pós-2012 de emissões de gases que produzem o efeito estufa e como administrar as verbas de US$ 100 bilhões por ano do fundo de emergência já proposto pelos países ricos. No entanto, tampouco está claro de onde virão bilhões deste fundo. O chamado Acordo de Copenhague, adotado por alguns países em 2009, também estipula como teto para o aquecimento global 2ºC acima da temperatura pré-industrial. Este número também precisa ser aceito por outros países para que se possa começar a pensar em medidas que levem a manutenção deste limite. Cientistas afirmam que as atuais promessas de cortes de emissões apresentadas pelos integrantes da convenção do clima não evitariam um aquecimento mais catastrófico. (EcoDebate)

Aquecimento global prejudica a agricultura

Estudo aponta que até 2100 lucratividade do setor deverá ser reduzida em até 26%. Entre os impactos que o aquecimento global deve provocar nas próximas décadas está a redução da produtividade na agricultura. Um ambiente mais quente será prejudicial, principalmente nas regiões tropicais, onde as temperaturas já são mais elevadas. Estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) aponta que, mesmo não sendo percebida no médio prazo, até o ano de 2100 a lucratividade da agricultura no Brasil deve ser reduzida entre 9,4% e 26% – dependendo da quantidade de poluentes emitidos na atmosfera. A agricultura familiar – com menos acesso à tecnologia e a recursos – deve ser a mais afetada. Investimentos em pesquisa e tecnologia podem fazer as espécies de plantas se adaptarem melhor às temperaturas elevadas. Mesmo assim, as mudanças climáticas terão impacto no preço das propriedades rurais, em especial as localizadas no Norte e no Nordeste do país. Já no Sul e no Sudeste, o clima mais quente pode até contribuir para aumentar aprodutividade. Nas alternativas apontadas pelo Ipea para minimizar tais impactos estão a mudança das matrizes energéticas, com a prioridade para os biocombustíveis e fontes renováveis. Entretanto, mais do que diminuir os impactos, já iniciados, será preciso ajudar as pessoas a se adequarem às mudanças do clima. “Essas adaptações têm sido feitas desde sempre, pois as variações climáticas sempre aconteceram. A preocupação maior é com a velocidade das mudanças e na forma que os agricultores, principalmente da agricultura familiar, vão se adaptar para conviverem com um planeta mais quente e também buscando alternativas à uma provável queda na produtividade”, considera um dos autores do estudo do Ipea, o biólogo Diego Lindoso, da Rede Clima – formada por 10 instituições brasileiras, entre as quais a Universidade Federal de Brasília (UNB), onde desenvolve pesquisa sobre mudanças climáticas e desenvolvimento regional. Lindoso ressalta a importância coordenar investimentos em educação, estímulo ao associativismo e arealização de políticas públicas com foco na agricultura familiar como formas de permitir o acesso às informações e às políticas públicas. “No Nordeste, principalmente, há pouca tradição na organização de associações, que junto com a falta de regularização da posse da terra, dificulta o acesso a financiamentos”, lembra o biólogo, para quem só ações paralelas, em diversas áreas, poderão minimizar os impactos do aquecimento global para os mais pobres. “A maioria das pessoas que entrevistamos nunca ouviu falar em aquecimento global ou mudanças climáticas. Mas, à medida que elas têm acesso à instrução, acabam se apropriando das informações e criando alternativas. Não adianta estudar e atuar apenas em como o clima se comporta, se não existe atenção sobre como a população se comporta”, diz. Cultivo orgânico ganha mais força Quando o agricultor Severino Francisco Monteiro decidiu mudar o sistema de produção de sua plantação há quase 10 anos, tinha como objetivo uma qualidade de vida melhor. Não sabia exatamente os efeitos provocados por defensivos agrícolas, nem pensava em questões como aquecimento global. “Eu produzia banana e chuchu, vendia, mas não comia o que produzia porque não tinha coragem. Só os alertas que colocam nas embalagens já dão medo”, conta, lembrando que um terço do orçamento ia somente para comprar agrotóxicos, numa conta que não fechava. Morador da região do Mocotó, no cinturão verde de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata Norte do estado, Bio Chico, como é mais conhecido, migrou aos poucos para o cultivo orgânico, diversificou as lavouras e, antes desacreditado pelos vizinhos, hoje vive da venda dos alimentos que produz e que também servem de alimento para ele e para a família. A mudança de um sistema para o outro contou com o apoio de organizações não-governamentais, com promoção de cursos e introdução detécnicas e práticas agrícolas, e nos últimos anos, também com a assistência da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Pernambuco (IPA). Aos poucos, não apenas o sistema produtivo havia mudado, mas uma filosofia diferente de ver a natureza havia sido incorporada. Cultivando mais de 20 tipos de hortifruti, Bio Chico atualmente é presidente da Associação de Agricultores de Base Familiar e Cultivo Orgânico da Região de Mocotó (com 26 associados), concluiu o curso técnico de agricultura, no Instituto Técnico Federal de Vitória de Santo Antão e já pensa em fazer o curso de agronomia. “Quem achava que eu ia morrer de fome, hoje já está produzindo orgânico também. Acho que estudar abriu as portas para outras coisas. Uma pessoa pode fazer a diferença, desde que queira, né?”, fala, orgulhoso da produção variada, vendida em feiras de orgânicos em Vitória e no Recife. “A associação fez a gente deixar de ser dependente do atravessador. Agora, a gente pensa outras formas de escoar a produção”, explica. Maria Edvânia de Assis,técnica extensionista do IPA, explica como o acesso à informação muda a visão dos agricultores. “Todos tiveram uma melhoria na qualidade de vida. A produção orgânica diminui muito os custos. Mesmo o retorno da área sendo um pouco menor, no preço final eles conseguem até 50% a mais no valor”, explica. (EcoDebate)

domingo, 17 de outubro de 2010

Holanda se previne contra alta das marés

País, suscetível a alagamentos, preocupa-se com mudanças no clima e investe em obras. Há 57 anos, uma enchente devastou a Holanda e matou 1,8 mil pessoas - número de vítimas semelhante ao de New Orleans com o furacão Katrina. O país nunca esqueceu a tragédia - vários diques não conseguiram conter as águas de uma tormenta associada à maré alta - e todos falam dela como se tivesse acontecido há apenas alguns meses. Talvez seja por isso que, apesar de as negociações para um tratado climático entre os países avançar muito lentamente, os holandeses tenham decidido não esperar por uma definição global. Optaram por se preparar e se adaptar para as mudanças que inevitavelmente virão com o aumento médio da temperatura do planeta nas próximas décadas. A maior preocupação é com a subida dos mares: a Holanda tem 25% de seu território abaixo do nível do mar e outros 25% suscetíveis à alagamento. A cidade de Roterdã, por exemplo, tem como meta cortar suas emissões de gases-estufa em 50% até 2025 e criou um programa para ficar "à prova do clima" até essa data. Paula Verhoeven, que cuida das questões climáticas no município, conta que por muitos anos as pessoas não precisaram se preocupar com o fato de estarem 5 ou 6 metros abaixo do nível do mar. "É importante que daqui a cem anos os moradores também consigam usar a cidade sem ter de pensar se choveu muito, se os túneis alagaram, se está muito quente ou seco", explica. Um dos planos é erguer no distrito de Stadshavens 13 mil casas "resilientes às mudanças climáticas" até 2040. Dessas, 1,2 mil serão feitas sobre a água. A área não tem a proteção de diques e era ocupada por atividades portuárias que agora se mudaram para o oeste. Apesar de parecer loucura, não se trata de um projeto utópico. Num país com pouca terra disponível e que convive tanto com a água, transformar barcos em moradias permanentes é algo relativamente comum - hoje, existem 6 mil barcos-casa. Mais recentemente, porém, houve um boom de casas flutuantes. Segundo o arquiteto Koen Olthuis, um dos mais reconhecidos no setor, há 300 delas em diferentes partes da Holanda e muitas outras em projeto. São realidade também uma prisão, uma estufa, um conjunto de escritórios e restaurantes flutuantes. A prefeitura de Roterdã fez também como projeto-piloto um pavilhão flutuante perto de cartões-postais da cidade - a ponte Erasmus e o Hotel New York. São três semiesferas que podem abrigar exposições. Na cidade de Maasbommel há uma vila de casas flutuantes. Por questão de segurança, os donos só passam oito meses por ano no local. Elas custam 20% a mais que uma moradia comum, possuem jardins e possibilitam que os moradores nadem e pesquem com facilidade. Outros países também aderiram à ideia das estruturas flutuantes: as Ilhas Maldivas querem construir um campo de golfe e, em Dubai, há projeto de fazer uma praia flutuante. Barreira. A Inglaterra, a Rússia e a Holanda construíram barreiras contra tempestades. Com as mudanças climáticas, elas serão fundamentais. Atualmente, a barreira em Hoek van Holland, que protege Roterdã, precisa ser usada em média a cada dez anos, quando o tempo está realmente ruim e o nível da água sobe mais de 3 metros. Porém, a expectativa é que, em 50 anos, a barreira passe a ser usada a cada cinco anos. Os números mostram que a obra compensa. Reforçar os diques existentes custaria 820 milhões, enquanto o gasto com a barreira foi de 660 milhões. (OESP)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cidades sem limites

Constituição Federal de 1988 deu mais poder aos municípios, mas pouco contribuiu para avançar nas discussões sobre as questões metropolitanas. Basta um olhar na fotografia de uma noite brasileira captada por satélite. O território nacional surge como um espaço formado por ilhas de luzes cercadas de vasta escuridão. Pode-se, visualmente, entender parte dos desafios lançados pelas metrópoles aos governantes. Os pontos iluminados revelam a distribuição das cidades pelo mapa do Brasil. Clarões com brilhos que se interligam nas partes Sul e Sudeste do País, estendendo-se ao longo do litoral nordestino rumo ao Norte. O breu avança pelo interior. Traduzindo essa imagem em números, os grandes clarões de luz representam as 15 regiões metropolitanas brasileiras. São 311 cidades (no Brasil há 5.561 municípios), onde vivem 69 milhões de pessoas (37% da população nacional). Essas metrópoles são formadas por cidades superpovoadas, que se interligam a municípios vizinhos de menor porte, sem serem interrompidas por fronteiras. Um primeiro desafio apresentado aos gestores estaduais e nacionais é a escala do problema. Nessas 15 metrópoles estão concentradas as melhores oportunidades profissionais, amplas redes de contato, inteligência e dinamismo. Abrigam 79% das 500 maiores empresas brasileiras, 67% dos empregos em atividades de ponta, 74% do movimento de passageiros de tráfego aéreo. Ao mesmo tempo, os habitantes dessas áreas vivem uma realidade social caótica, típica também das metrópoles. Reduto das moradias precárias, 70% da população das favelas brasileiras está nesses agrupamentos de luzes. Cerca de 40% de seus habitantes vivem em condições sanitárias ruins. “A alta concentração populacional e econômica em torno das metrópoles pode trazer vantagens ou criar transtornos. A concentração favorece investimentos em escala. Caso o potencial seja bem aproveitado, as metrópoles podem virar turbinas do desenvolvimento nacional. Se isso não acontece, além de sofrer a maioria da população, o problema se irradia para todo o País”, analisa o professor Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador do Observatório das Metrópoles da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O segundo grande desafio metropolitano é a administração dos problemas comuns das cidades dessas regiões. São rios sujos, poluição de ar, congestionamentos, transporte público, moradias, segurança, entre outros dramas coletivos dos municípios da área, que acabam sendo enfrentados individualmente pelo prefeito. Apesar de contemplar o conceito de região metropolitana, a Constituição de 1988 deu mais poder de ação aos prefeitos e, com esse perfil municipalista, pouco avançou nas questões práticas que envolvem cidades conurbadas. Caberia a criação de uma nova instância metropolitana para intermediar os interesses do prefeito? É suficiente oferecer financiamentos que estimulem o compromisso entre as cidades? Cooperação. Coordenadora do Centro de Estudo das Metrópoles da USP, a cientista política Marta Arretche defende que a solução dos dramas concentrados das metrópoles passe pelo princípio da “solidariedade territorial”. “Conseguir pensar maneiras de coordenar a cooperação entre prefeitos é uma necessidade urgente. Não faz sentido limpar um rio em São Paulo quando o vizinho não faz nada. As cidades são problemas que vão além das responsabilidades de um prefeito”, afirma. Enquanto novos instrumentos de gestão não surgem para uma melhor cooperação entre os governantes, a intermediação das demandas e projetos em comum pode ser feita a partir do Ministério das Cidades, na opinião do ministro Marcio Fortes de Almeida. Fortes aponta os trabalhos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que envolve diálogo entre diferentes esferas de governo, como uma amostra de parcerias. “É o começo. Mesmo não desempenhando o papel de uma autoridade metropolitana, o ministério tem buscado direcionar por meio dos financiamentos políticas voltadas ao interesse de mais de uma cidade”, afirma. (EcoDebate)

As cidades têm solução?

Cientista diz que precisamos conhecer a natureza e respeitar as culturas locais para conseguirmos lidar com os problemas ambientais. Estamos distantes da natureza e cegos, confiamos excessivamente na ciência e acreditamos que a tecnologia pode resolver todos os problemas que as cidades enfrentam hoje. Esse é o diagnóstico do professor Rualdo Menegat, geólogo e doutor em Ecologia de Paisagem, sobre a sociedade atual. Ele propõe algumas mudanças que podem soar estranhas, como a instalação de chiqueiros nas cidades e a manutenção dos carroceiros. O ideal consiste na integração com o ambiente natural e a manutenção das diferentes culturas, no caminho inverso da homogeneização e urbanização em um “xadrez perfeito”. A temática ambiental ficou popular recentemente no Hemisfério Sul. Na década de 90, países do Hemisfério Norte já sofriam com catástrofes ambientais agravadas pelo aquecimento global já anunciado pelos cientistas. No Hemisfério Sul, Menegat diz que a atenção às mudanças climáticas começou no início do século 21, especialmente com o ciclone Catarina, que atingiu os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul em março de 2004. O fenômeno vitimou e feriu dezenas de habitantes, destruiu casas e causou prejuízos à agricultura. Por Danuza Facco Mattiazzi, do Portal Vida Orgânica. – Foi o mais importante evento climático da década, pois de fato mostrou algo em ação no clima da Terra para o Hemisfério Sul – esclarece o doutor. Ao citar eventos ambientais do último ano – como fortes nevascas na Inglaterra, deslizamentos de terra em Santa Catarina e inundações pelo Brasil – o pesquisador defende que a população esquece muito rápido dos desastres. “Os humanos não estão sabendo ter a leitura do mundo em que vivem. Não conseguem mais interpretar a paisagem”, diz ele, ao mostrar uma foto em que mãe e filho caminham indiferentes aos destroços de uma cidade destruída por enchentes. Outra imagem que ilustra a falta de compreensão da sociedade sobre os desastres ambientais é a foto de dezenas de pessoas sendo alcançadas pelo tsunami que atingiu a ilha de Sumatra, na Indonésia, vitimando 230 mil pessoas em dezembro de 2004. Segundo Menegat, muitas pessoas assistiram à invasão da onda gigante até o momento em que foram engolidas pela força da água. “Tiravam fotos, gravavam. Achavam que não seriam atingidas? As pessoas não têm consciência da força da natureza. O tsunami de Sumatra é o signo da cegueira da atual civilização perante a natureza”. Natureza e cultura Menegat discute a relação entre a natureza e a cultura dos povos, ou seja, de que forma a humanidade se insere no meio natural. Com a construção das cidades, foram criados grandes centros urbanos que limitam a visão de mundo de seus habitantes. “Quem mora aqui dentro [em referência a uma grande cidade], está enclausurado, encapsulado por esses centros urbanos. A cidade não oferece ao cidadão informações fundamentais para que ele olhe a paisagem e a leia”. As metrópoles já evoluíram para mega-cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. E, para que consigamos viver sem o caos do ritmo acelerado e da poluição nesses espaços, o doutor diz que é necessário tornarmos as cidades mais sustentáveis e buscarmos o contato com o meio natural e o respeito aos limites que a natureza impõe. Para exemplificar a idéia, ele cita o problema enfrentado pela cidade de Arequipa, no Peru. Com 850 mil habitantes, a cidade se expandiu até a saia de um vulcão. O prefeito pediu a ajuda de Menegat para solucionar o problema. “A ciência pode desenvolver uma enorme rolha e tapar o vulcão, que tal?”, brinca o cientista. A colocação irônica ilustra a maneira com que os seres humanos confiam na ciência. Ocupam territórios propensos à ocorrência de acidentes ambientais sem se preocupar com os riscos e, assim, se prevenir. Mas, depois, querem que a tecnologia solucione a questão. “Nosso problema não é o vulcão, e sim, a cidade. É o peso urbano sobre nós, é a cidade que nos pesa, não a natureza”. Por isso, a resposta do cientista ao governante peruano foi a sugestão de reunir as comunidades, esclarecer sobre os riscos de se morar próximo a um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento e desenvolver estratégias segundo a cultura local e consenso da população. Presos no xadrez urbano Um dos principais problemas das megalópoles, segundo Menegat, é a geometria urbana. A imposição do desenho de um “xadrez perfeito” para as cidades compromete a integração com o ambiente natural. O modelo predominante desde a era das colonizações pôs fim ao ideal de cidade ecológica – posto em prática na cidade Ur, da antiga Mesopotâmia. Ur foi construída segundo o curso do rio Eufrates, respeitando o caminho da água e tentando somente proteger os habitantes das enchentes. Com o estabelecimento do modelo de tabuleiro, não se pensou mais na natureza. “Segundo o ‘xadrez perfeito’, o rio não pertence à geometria da cidade. Ele só atrapalha. Aí todo mundo larga o lixo ali, já que aquilo não pertence ao tabuleiro urbano perfeito. O mesmo acontece com algum morro que impede a linha reta das ruas. O que fazer? Destruir o morro. Nada pode atrapalhar a geometria urbana”, aponta o pesquisador. Menegat – que realiza um trabalho voluntário de educação ambiental com crianças do Morro da Cruz, em Porto Alegre – defende ações locais para inclusão de atitudes ecológicas e ampliação da visão de mundo das pessoas. A proposta é unir cientistas, estudantes, políticos e habitantes das comunidades para discutir soluções inteligentes e que respeitem a cultura de cada grupo. Chiqueiros urbanos Uma das alternativas para uma cidade sustentável é a criação de animais no meio urbano. Menegat defende que chiqueiros e aviários podem contribuir com o metabolismo das cidades – ao consumirem os restos de comida da população – e gerar renda a famílias que sofrem com o desemprego. Outra proposta de Menegat é a manutenção das favelas. “Temos que criar condições de vida nesses locais e não removê-los”, defende ele, ao dizer que os moradores de áreas pobres construíram uma sociedade organizada segundo seus padrões culturais, só precisam de saneamento, segurança e boas escolas para que vivam com qualidade. “Remover um grupo de catadores de materiais recicláveis, por exemplo, e colocá-los em apartamentos é um grande erro. Eles precisam de casas, um galpão onde possam guardar os materiais que recolhem e um estábulo para cuidar dos cavalos que puxam suas carroças”. A retirada dos carroceiros das ruas de Porto Alegre – ação que deve ser concluída pela prefeitura até 2011 – é condenada pelo cientista. “Essas pessoas, excluídas do mercado de trabalho, criaram uma profissão por elas mesmas. E, agora, vamos tirar isso delas?”. Menegat defende que os catadores precisam de uma política pública que respeite o ritmo de trabalho que construíram, sem retirar deles o que têm de mais genuíno, uma profissão que criaram segundo a sua cultura e suas necessidades. Assim, em vez de alterar a rotina desses trabalhadores, o ideal é oferecer melhores condições de trabalho. Uma alternativa pode ser a doação de carroças elétricas aos catadores, já em funcionamento em Curitiba, no Paraná. Tanto o desenvolvimento urbano, quanto a correção das “imperfeições do tabuleiro” devem, acima de tudo, respeitar a cultura de cada grupo e os limites impostos pelo ambiente natural. O ideal brasileiro de cidades melhores, por exemplo, precisa considerar as particularidades sociais do país. “Não somos a Europa e nunca seremos. Temos que lidar com os nossos problemas”, avalia o geólogo. (EcoDebate)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Reúso da água chega à cafeicultura

Sistema baseado em tanques de decantação permite que água volte pelo menos três vezes à lavagem dos grãos. Você tem ideia de quanta água é usada na lavoura para garantir, lá na ponta, uma xícara de café de qualidade? Pois vai muita. De acordo com estimativas de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (MG), o processamento do café por via úmida, método utilizado para obtenção do café cereja descascado, considerado especial, consome, para cada litro de fruto processado, cerca de 3 a 5 litros de água limpa. Trocando em miúdos, se para obter uma saca de 60 quilos de café é necessário um volume aproximado de 480 litros de frutos, a produção de uma única saca do grão beneficiado, pronto para ser torrado, pode consumir até 2.400 litros de água. Ampliando a conta para o volume total de café cereja descascado produzido no Brasil (equivalente a cerca de 15% da safra de grãos, ou 7,05 milhões de sacas), o número ficaria próximo dos 17 bilhões de litros de água. Mas uma técnica de manejo desenvolvida pelo pesquisador Sammy Soares, da Embrapa Café, em parceria com pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), e com o Consórcio de Pesquisa do Café, vem sendo testada com sucesso por produtores da região de Viçosa (MG) e Venda Nova do Imigrante (ES) e promete reduzir drasticamente esses números. Trata-se de um sistema com estrutura baseada em caixas d"água, peneiras e tubos de PVC, que permite o reúso, por várias vezes - e não apenas uma utilização, como acontece normalmente -, da água empregada na unidade de processamento do café para fazer a lavagem e descascamento dos grãos. Por decantação O funcionamento é relativamente simples, segundo explica Soares. Após lavar e descascar o café em equipamentos próprios, toda a água é bombeada para três caixas d"água, que funcionam, uma após a outra, como tanques de decantação. "Nessas caixas ficam depositados no fundo os resíduos sólidos maiores. Já livre desses resíduos, a água passa por uma peneira e está pronta para ser reutilizada na própria lavagem dos graõs." Na fazenda do cafeicultor Waldir Mol, no município de Paula Cândido (MG), região de Viçosa, eram gastos por dia, no método convencional de lavagem e retirada da casca, entre 20 mil e 25 mil litros de água para processar 12 mil litros de fruto. Atualmente, após investir R$ 8 mil para instalar o sistema de reúso, esse consumo caiu para menos da metade. Para processar a mesma quantidade de café, Mol gasta agora entre 7 mil e 8 mil litros. A média de gasto, que estava entre 3 litros de água para cada litro de fruto, baixou para 1,5 litro. De acordo com ele, após entrar na unidade de processamento, a água é reutilizada por mais três vezes. E há quem acredite que essa economia pode ser maior. É o caso do chefe da fazenda experimental do Incaper em Venda Nova do Imigrante (ES) - onde o sistema foi testado pela primeira vez -, Aldemar Moreli. Ele está concluindo sua tese de mestrado sobre o assunto e afirma que é possível, por meio da reutilização, reduzir o consumo para um pouco mais de meio litro de água. Ou seja, quase um décimo da média atual. Investimento Em Venda Nova do Imigrante, o produtor Pedro Carnielli afirma ter atingido esse nível, mas com investimento de R$ 20 mil, maior do que o feito por Mol. Com a utilização de filtros industriais, Carnieri conta que conseguiu economizar em três quartos o consumo de água necessário para processar 20 mil litros de café por dia. Hoje, no lugar de gastar 40 mil litros diariamente, sua unidade de processamento consome 10 mil litros de água para o mesmo volume de café. Apesar dos bons resultados, os pesquisadores envolvidos na pesquisa, iniciada há cinco anos, dizem que ainda são poucos os produtores que fazem o reuso da água no processamento do café. Para Moreli, mais do que a falta de costume, já que existe mesmo um intervalo de tempo entre a criação de uma nova tecnologia e sua efetiva aplicação, é preciso continuar investindo no aprimoramento do sistema para torná-lo cada vez mais eficiente e também de baixo custo. "Este ponto é crucial, já que a maioria das unidades de processamento está nas mãos de pequenos e médios produtores." Entretanto, ele não ignora a importância de se baratear ainda mais o sistema para que grandes produtores também se interessem em adotá-lo. (OESP)

Água de chuva e reuso

A diminuição da água disponível, nos próximos anos, vai exigir que os condomínios, shopping centers e outros estabelecimentos adotem novos sistemas para otimizar o uso.
Confira abaixo explicações sobre os dois sistemas que possivelmente serão os mais utilizados. Aproveitamento de chuvas
O que é: Coleta e armazenamento de água de chuva, para uso em lavagens de pisos e irrigação do jardim.
Como funciona:
A água de chuva, coletada pelas calhas no telhado do prédio, é armazenada em uma cisterna no térreo ou subsolo.
Pode-se instalar um equipamento para filtrar esta água, se for necessário. Instala-se um sistema de recalque (bomba d'água + encanamento), para enviar a água para as torneiras do térreo e subsolo.
Cuidados a tomar:
O telhado concentra grandes impurezas, principalmente quando há um longo período de escassez de chuva.
Como opção, pode-se instalar um sistema de filtragem mecânica no reservatório.
O reservatório também pode ser um risco para a saúde dos moradores e funcionários, caso não adote uma manutenção periódica de limpeza e conservação.
A construção de um reservatório para a captação da água da chuva necessita de um sistema de recalque, deve ter um projeto de engenharia para que não desperte riscos de saúde e acidentes.
Além de gerar economia de água, o sistema também contribui para diminuir o problema das enchentes.
Na Europa, o sistema já é bastante usado em construções novas.
No Brasil, inúmeras construções já utilizam vários métodos de reutilização de água, assim como, a utilização da água das chuvas.
Vários shoppings já utilizam o reuso de água, o Shopping D. Pedro em Campinas/SP, um dos maiores da América, é um exemplo a seguir da conscientização ecológica.
O Parque Hopi Hari, um dos maiores da América, situado na rodovia dos Bandeirantes em Vinhedo/SP, também tem esta preocupação ambiental.
Outros shoppings também deveriam tem uma consciência mais ampla e abrangente, pensando sempre nas gerações futuras, estes sim, são os consumidores reais e fieis, que geram receitas constantes e de grandes valores.
Também já existem postos de gasolina e escolas adotando o aproveitamento da água das chuvas, para lavagem de carros e para descarga nos banheiros.
Em Florianópolis (SC) e São Paulo (SP), já há projetos de lei para tornar obrigatório o aproveitamento das águas de chuva em edifícios.
Custo para o condomínio: cerca de R$ 6.000,00, incluindo equipamento e tanque de 3 mil litros.
Não inclui instalação.
Empresas que implementam o sistema: 3P Tecnik - Tel.: (0xx21) 2284-9440 ou 3872-2345
Reuso de água
Trata-se da implementação de uma pequena estação de tratamento de águas de uso "nobre" (banho e pias) para reutilização em fins "menos nobres", como descargas, lavagens de pisos e outros.
No Brasil, o sistema está sendo bastante utilizado por indústrias, e começa a ser utilizado em novos condomínios.
Na Índia, em função da escassez de água, alguns edifícios comerciais têm estações próprias de tratamento de esgoto, e reutilizam a água tratada para alimentar o ar-condicionado, economizando até 250 m³ por dia.
Em São Paulo (SP), está sendo implementado no Aeroporto de Cumbica um sistema para tratar a água usada na lavagem de aviões e hangares, e reutilizá-la nos banheiros.
Empresas que implementam o sistema:
General Water - Tel.: (0xx11) 3621-5999
Proquim - Tel.: (0xx11) 6953-7030 (sindiconet)

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