domingo, 29 de abril de 2018

Concentração recorde de microplástico no gelo marinho do Ártico

Pesquisadores medem uma concentração recorde de microplástico no gelo marinho do Ártico.
A composição e camadas de partículas de plástico encontradas no gelo do mar revelam suas regiões de origem.
Especialistas do Instituto Alfred Wegener, do Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha (AWI), encontraram recentemente quantidades maiores de microplástico no gelo marinho ártico do que nunca. No entanto, a maioria das partículas era microscopicamente pequena. As amostras de gelo de cinco regiões do Oceano Ártico continham até 12.000 partículas microplásticas por litro de gelo marinho. Além disso, os diferentes tipos de plástico mostraram uma pegada única no gelo, permitindo aos pesquisadores rastreá-los até possíveis fontes. Isso envolve a imensa mancha de lixo no Oceano Pacífico, enquanto, por sua vez, a alta porcentagem de tinta e partículas de náilon apontavam para a intensificação das atividades de transporte e pesca em algumas partes do Oceano Ártico. O novo estudo acaba de ser lançado na revista Nature Communications.
A equipe de pesquisadores da AWI reuniu as amostras de gelo durante três expedições ao Oceano Ártico a bordo do quebra-gelo de pesquisa Polarstern na primavera de 2014 e no verão de 2015. Elas provêm de cinco regiões ao longo do Transpolar Drift e do Estreito de Fram, que transporta gelo marinho do Ártico Central para o Atlântico Norte.
Espectrômetro infravermelho revela contaminação pesada com micropartículas
O termo microplástico refere-se a partículas de plástico, fibras, pellets e outros fragmentos com um comprimento, largura ou diâmetro variando de apenas alguns micrômetros – milésimos de milímetro – até menos de cinco milímetros. Uma quantidade considerável de microplástico é liberada diretamente no oceano pela deterioração gradual de pedaços maiores de plástico. Mas microplástico também pode ser criado em terra – por exemplo, lavando tecidos sintéticos ou abrasão de pneus de carros, que inicialmente flutuam no ar como poeira, e são soprados para o oceano pelo vento, ou encontram seu caminho através de redes de esgoto.
Para determinar a quantidade e distribuição exata de microplástico no gelo marinho, os pesquisadores da AWI foram os primeiros a analisar os núcleos de gelo camada por camada usando um espectrômetro infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), um dispositivo que bombardeia micropartículas com luz infravermelha e usa um método matemático especial para analisar a radiação que eles refletem de volta. Dependendo de sua composição, as partículas absorvem e refletem diferentes comprimentos de onda, permitindo que toda substância seja identificada por sua impressão digital óptica.
A deriva do gelo e a impressão digital química oferecem pistas sobre as regiões de origem dos poluentes
A densidade e composição das partículas variaram significativamente de amostra para amostra. Ao mesmo tempo, os pesquisadores determinaram que as partículas de plástico não estavam uniformemente distribuídas pelo núcleo de gelo.
A equipe de pesquisadores também aprendeu, por exemplo, que os blocos de gelo, que são conduzidos nas massas de água do Pacífico da Bacia do Canadá, contêm concentrações particularmente altas de partículas de polietileno. O polietileno é, acima de tudo, usado em material de embalagem. Como os especialistas escrevem em seu estudo, “Assim, supomos que esses fragmentos representam restos do chamado Great Pacific Garbage Patch e são empurrados ao longo do Estreito de Bering e no Oceano Ártico pelo influxo do Pacífico”.
Em contraste, os cientistas encontraram predominantemente partículas de tinta da tinta do navio e resíduos de nylon das redes de pesca no gelo dos mares marginais da Sibéria. “Essas descobertas sugerem que tanto a expansão das atividades de navegação quanto as de pesca no Ártico estão deixando sua marca. As altas concentrações de microplásticos no gelo do mar podem, portanto, ser atribuídas não apenas a fontes fora do Oceano Ártico. Em vez disso, eles também apontam para a poluição local no Ártico ”, diz Ilka Peeken.
Os pesquisadores descobriram um total de 17 tipos diferentes de plástico no gelo do mar, incluindo materiais de embalagem como polietileno e polipropileno, mas também tintas, nylon, poliéster e acetato de celulose, este último é usado principalmente na fabricação de filtros de cigarro. Em conjunto, estes seis materiais representaram aproximadamente metade de todas as partículas de microplástico detectadas.
Os pesquisadores ainda não sabem se as partículas de plástico liberadas subsequentemente permanecem no Ártico ou se são transportadas mais para o sul; na verdade, parece provável que a areia plástica comece a afundar em águas mais profundas com relativa rapidez. “Partículas microplásticas flutuantes são frequentemente colonizadas por bactérias e algas, o que as torna mais pesadas e pesadas. Às vezes eles se juntam com algas, o que os faz cair para o fundo do mar muito mais rápido ”, explica a bióloga e coautora da AWI, Dra. Melanie Bergmann.
As observações feitas por pesquisadores da rede de águas profundas da AWI HAUSGARTEN no Estreito de Fram dão um peso adicional a essa tese. Como Melanie Bergmann relata, “Recentemente registramos concentrações de microplásticos de até 6500 partículas por quilograma de fundo do mar; esses são valores extremamente altos”. (ecodebate)

Cientistas desenvolvem enzima que "come" plástico

Pesquisadores produzem por acidente proteína capaz de degradar plásticos PET e que pode ajudar a reduzir poluição causada pelo material. Mais de oito milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos por ano.
Enzima descoberta acidentalmente poderá facilitar reciclagem de plástico
Pesquisadores nos Estados Unidos e no Reino Unido produziram por acidente uma enzima que consomem plásticos, revelou um estudo divulgado em 16/04/18. A descoberta poderá ajudar a reduzir o grave problema da poluição causada pelo produto derivado do petróleo.
Cientistas da Universidade de Portsmouth e do Laboratório de Energias Renováveis do Departamento de Energia dos EUA decidiram concentrar seus esforços numa bactéria de ocorrência natural descoberta no Japão há alguns anos.
Pesquisadores japoneses acreditam que a bactéria Ideonella sakaiensis se desenvolveu nas últimas décadas num centro de reciclagem, uma vez até os anos 1940 o plástico ainda não tinha sido inventado. O organismo parece se alimentar exclusivamente de um tipo de plástico conhecido como Politereftalato de etileno (PET), amplamente utilizado na fabricação de garrafas.
Os cientistas buscavam compreender o funcionamento de uma das enzimas dessa bactéria, denominada PETase, analisando sua estrutura. "Eles acabaram avançando um passo à frente e acidentalmente desenvolveram uma enzima que consegue desmembrar ainda melhor os plásticos PET", afirma o relatório divulgado na publicação científica americana Procedimentos da Academia Nacional de Ciências (PNAS).
Pesquisadores encontram micropartículas de plástico em água engarrafada.
Utilizando um raio-X de brilho dez bilhões de vezes mais forte do que o Sol, eles conseguiram elaborar um modelo tridimensional de alta resolução da enzima.
Cientistas da Universidade de Campinas (Unicamp) e da Universidade do Sul da Flórida desenvolveram através de computadores um modelo que demonstrava que a PETase era bastante semelhante a outra enzima, a cutinase, encontrada em fungos e bactérias.
Uma área da PETase, porém, apresentava algumas diferenças, levando os cientistas a deduzir que esta seria a parte que permitiria a degradação do plástico. Ao modificar essa enzima, tornando-a mais semelhante à cutinase, os pesquisadores descobriram acidentalmente que a enzima mutante conseguia degradar o plástico com eficácia ainda maior do que a PETase.
Os cientistas trabalham agora em melhorias nessa enzima, para que possa, no futuro, ser desenvolvida em grande escala e utilizada no setor industrial. O objetivo ao quebrar o plástico em partes menores seria permitir que ele seja reutilizado de maneira mais eficiente.
Cientistas sintetizam enzima mutante que come plástico.
"O acaso muitas vezes tem um papel significativo na pesquisa científica fundamental, e nossa descoberta não é exceção", afirmou o autor do estudo, o professor John McGeehan, da Faculdade de Ciências Biológicas de Portsmouth.
"Ainda que modesta, a descoberta inesperada sugere que há espaço para desenvolver ainda mais essas enzimas, nos aproximando de uma solução para reciclar as montanhas de dejetos de plástico que não para de crescer", observou.
Enzima que come plástico foi desenvolvida quando pesquisadores estudavam bactéria descoberta no Japão.
Mais de oito milhões de toneladas de plástico são despejadas anualmente nos oceanos, enquanto aumenta a preocupação com os problemas causados à saúde humana e ao meio ambiente. Apesar dos esforços globais para reciclar essa matéria-prima, a maior parte dos produtos plásticos sobrevive durante centenas de anos. (dw)

sexta-feira, 27 de abril de 2018

A superpopulação é mito?

“É sempre bom lembrar, que o copo vazio, está cheio de ar” - Copo Vazio, de Chico Buarque.
Superpopulação é mito? Com essa pergunta o youtuber Pirula tenta responder a outra pergunta: Será que ocupamos apenas 3% da superfície do planeta?
O vídeo que Pirula disponibiliza no Youtube traz uma mensagem bastante simples e útil para mostra de forma didática como o globo está ocupado pelas atividades antrópicas. Ele explica que realmente as manchas urbanas ocupam apenas 3% da área habitável do Planeta. Mas, evidentemente, a humanidade não vive apenas dos recursos fornecidos pelas áreas das cidades.
Pirula mostra que a produção de alimentos ocupa 40% da área terrestre do Planeta. Mas os outros 57% dos continentes estão divididos em cerca de 20% de desertos, áreas geladas da Antártica, do Ártico, da Groenlândia, florestas, pântanos, etc. Ou seja, é ilusório pensar que a humanidade poderia ocupar 100% da superfície da Terra e que haveria espaço de sobra para a expansão humana.
Há seis anos, escrevi dois artigos tratando do mesmo assunto. No primeiro artigo “A população do mundo cabe na cidade de São Paulo?”, tentei mostrar que de fato São Paulo poderia abrigar toda a população mundial, mas apenas se colocarmos, teoricamente, 5 pessoas em pé em todos os metros quadrados da cidade. Mas evidentemente isto só seria possível se houvesse uma grande terraplanagem para eliminar toda a vegetação, as águas e os declives dos diversos terrenos (ou uma verticalização exponencial). Além disto, ninguém poderia se deitar para dormir, nem ir ao banheiro e todo mundo precisaria viver de brisa.
Ou seja, mesmo que coubesse, seria inviável colocar toda a população mundial em São Paulo. Primeiro porque cada pessoa precisa de uma cama para dormir, se possível um quarto, no mínimo, poderia compartilhar um banheiro, uma cozinha, uma sala, uma dispensa, etc. Ou seja, as pessoas precisam de moradia e toda construção ocupa espaço. Os indivíduos também precisam de escola, hospitais, mercadinhos ou supermercados, farmácias, lojas diversas, áreas de lazer, ruas, estradas, etc. Ainda tem a energia proveniente das refinarias, do carvão, dos lagos das hidrelétricas, dos insumos agrícolas para o biocombustível, etc. Portanto, o impacto das atividades antrópicas vai muito além do espaço urbano, mesmo que se adotasse uma grande verticalização.
No segundo artigo “Territórios vazios?”, tentei mostrar que um país não é feito só de gente, mas sim de toda uma riqueza natural e biológica. Os demais seres vivos deveriam ter direito à vida, mesmo porque nenhuma espécie consegue viver sozinha e a maioria das espécies da flora e fauna brasileira estão aqui no território brasileiro antes da chegada dos seres humanos. A humanidade vive em uma comunidade biótica e sem biodiversidade haveria um holocausto biológico que levaria ao colapso qualquer civilização. O ecocídio é também um suicídio.
Como mostrou Ron Patterson “Há 10.000 anos os seres humanos e seus animais representavam menos de um décimo de um por cento da biomassa dos vertebrados da terra. Agora, eles são 97 por cento”. Ao invés do crescimento populacional e da expansão da pegada civilizacional o que o mundo precisa é de reselvagerizar os territórios nacionais, preservando metade do Planeta para a vida selvagem (Alves, 2014).
Portanto, é sempre bom lembrar que o território vazio (de humanos) está, em geral, cheio de vida não humana. A economia é um subsistema da ecologia. Não é possível manter a sustentabilidade do Planeta com uma população humana crescendo indefinidamente, enquanto promove a 6ª extinção em massa das espécies. Só não haveria superpopulação humana se, ao mesmo tempo, fosse possível manter a população das demais espécies vivas da Terra.
A superpopulação e o superconsumo estão fazendo a Terra perder plantas, animais e água limpa em um ritmo alarmante. Quatro relatórios sobre a biodiversidade, divulgados pela ONU (em 23/03/2018), mostram que nenhuma região do planeta está em boas condições e que a tendência à destruição é causada, fundamentalmente, pela atividade humana. Durante três anos, mais de 500 especialistas de mais de 100 países, reunidos na Plataforma Intergovernamental sobre Serviços de Ecossistemas e da Biodiversidade (IPBES), analisaram o estado da fauna e flora no mundo e constaram: “A biodiversidade, a variedade essencial de formas de vida na terra, continua a diminuir em todas as regiões do mundo em ritmo alarmante”.
De acordo com o relatório, apenas 25% da superfície terrestre permanece livre de impactos substanciais causados por atividades humanas. E o índice deve cair para meros 10% até 2050, segundo a IPBES. Apenas algumas regiões nos polos, desertos e as partes mais inacessíveis das florestas tropicais permanecem intactas. Até o ano de 2014, mais de 1,5 bilhão de hectares de ecossistemas naturais foram convertidos em áreas agrícolas. Plantações e pastagens cobrem atualmente mais de um terço da superfície do planeta. Os processos mais recentes de desmatamento estão ocorrendo nas regiões do globo mais ricas em biodiversidade. A expansão não sustentável de áreas dedicadas à agricultura e à pecuária é apontada no relatório como uma das principais causas do problema, que tende a se agravar com a crescente demanda por alimentos e biocombustíveis. O uso de pesticidas e fertilizantes deve dobrar até 2050, agravando o processo de eutrofização.
Um evento real e simbólico da perda de biodiversidade, por exemplo, foi a morte do último rinoceronte-branco do norte macho, chamado Sudan, no Quênia aos 45 anos. Quando Sudan nasceu em 1973, em Shambe, no Sudão do Sul, havia quase 700 exemplares vivos. Em tese, a morte de Sudan significa a extinção dessa subespécie de rinoceronte.
Portanto, como mostrou Pirula, a superpopulação não é mito. Superpopulação e superconsumo é uma realidade arrasadora do meio ambiente no Antropoceno. Triste realidade que está provocando a 6ª extinção em massa das espécies. Não são apenas os grandes mamíferos que estão desaparecendo, também os insetos. Estudo publicado na revista científica Plos One (18/10/2017) revela queda de 75% no número de insetos voadores na Alemanha (Insectageddon). Os dados foram obtidos em áreas protegidas do país, mas o resultado têm implicações para todas as regiões onde a paisagem é dominada pela agricultura. De acordo com os autores da pesquisa, a constatação é preocupante, já que os insetos têm um papel crucial no funcionamento dos ecossistemas, polinizando 80% das plantas e fornecendo alimento para 60% das aves.
A Terra é finita e o crescimento da população, junto a sua insaciável gula por todos os tipos de alimentos e sua ambição por acumulação de consumo conspícuo, tem provocado um holocausto biológico. A humanidade precisa deixar de ser egoísta e reconhecer que as demais espécies vivas do Planeta também têm direito à vida e à liberdade. (ecodebate)

Cenários da queda da fecundidade e o futuro da população mundial

A população mundial acelerou o crescimento desde o início da Revolução Industrial e Energética, ocorrida no final do século XVIII, quando passou de 1 bilhão de habitantes por volta do ano 1800 para 2 bilhões em 1930, 3 bilhões em 1960 e 4 bilhões em 1974. Entre 1800 e 1930 o crescimento natural da população mundial foi de 0,5% ao ano; passou para 1,4% ao ano entre 1930 e 1960; e para 2,1% aa entre 1960 e 1974, quando atingiu as maiores taxas de crescimento da história humana. Entre 1974 e 1987 o crescimento anual caiu para 1,6% aa, para 1,4% aa entre 1987 e 1999 e para 1,29% aa entre 1999 e 2011.
O gráfico acima mostra que o pico das taxas de crescimento da população mundial ocorreu no quinquênio 1965-1970. Os países menos desenvolvidos (aqueles de renda média) acompanharam a tendência da população mundial, mas em um ritmo um pouco mais elevado. Os países mais desenvolvidos (aqueles de alta renda) apresentam ritmos declinantes de crescimento desde o quinquênio 1955-60 e estão com a população praticamente estabilidade desde o início do século XXI. Mas são os países muito menos desenvolvidos (aqueles de renda baixa) que apresentam grande crescimento demográfico, chegando a apresentar taxas de quase 3% ao ano na década de 1980 e, embora tenha desacelerado um pouco, ainda possuíam taxas de crescimento em torno de 2,5% ao ano no quinquênio 2010-15.
O gráfico abaixo mostra que as taxas de fecundidade da Europa e América do Norte ficaram abaixo do nível de reposição (TFT = 2,1 filhos por mulher) a partir da década de 1970. A Ásia e a América Latina tiveram uma grande queda da fecundidade depois de 1970, mas ainda estão acima do nível de reposição. E a TFT da África só começou a cair nos anos de 1980 e ainda estão em níveis bastante elevados, significando alto crescimento demográfico.
As taxas de fecundidade total (TFT) do mundo subiram ligeiramente entre 1950 e 1965, mas tiveram uma queda expressiva entre 1970 e o ano 2000, quando caíram de cerca de 5 filhos por mulher para 2,7 filhos por mulher. A TFT foi reduzida quase pela metade em 30 anos. Contudo, a queda se desacelerou nos anos 2000 e estava em 2,52 filhos por mulher no quinquênio 2010-15. Ou seja, em 15 anos o declínio foi de somente 0,2 filhos por mulher, enquanto no período 1970-2000 o declínio foi de 2,3 filhos por mulher. 
A divisão de população da ONU (revisão 2017) indica que a TFT vai continuar caindo em ritmo lento, na hipótese média de projeção, e deve ficar em 2 filhos por mulher em 2100. Nesta trajetória, a população mundial vai continuar crescendo durante todo o século XXI. Porém, se a TFT acelerar o ritmo de queda (como mostra a projeção baixa da ONU), alcançando 1,5 filho por mulher em 2100, então haveria um declínio da população mundial. Nota-se que a diferença entre a projeção média e as projeções baixa e alta é de apenas 0,5 filhos (meio filho em média).
Pequenas diferenças na TFT podem parecer irrelevantes, mas possuem um grande impacto sobre o volume da população no longo prazo, como mostra o gráfico abaixo. Se a TFT seguir a projeção alta (ficando com 2,5 filhos por mulher em 2100) então a população mundial será de quase 17 bilhões de habitantes em 2100. Se a TFT seguir a projeção média (2 filhos por mulher em 2100) então a população mundial será de 11,2 bilhões de habitantes no final do século. Mas se o declínio da TFT se acelerar, seguindo a projeção baixa (do gráfico acima) e atingir 1,5 filhos por mulher em 2100, então a população mundial subiria até o pico de 8,8 bilhões de habitantes em 2053 e depois decresceria para 7,2 bilhões em 2100. Portanto, uma diferença de apenas 0,5 filho por mulher pode fazer a população mundial variar de algo em torno de 17 bilhões (na projeção alta) a 7 bilhões de habitantes no final do atual século (na projeção baixa).
Estes dados das projeções demográficas da Divisão de População da ONU mostram que não existe nenhum determinismo sobre o futuro da população mundial. Se a queda das taxas de fecundidade se acelerarem nos próximos anos e décadas, a população mundial pode ter um volume em 2100 menor do que o número atual de habitantes do globo.
A queda da TFT pode ocorrer totalmente dentro dos marcos dos direitos reprodutivos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, no mundo, existem mais de 225 milhões de mulheres em período reprodutivo sem acesso aos métodos de regulação da fecundidade. O número de gravidez indesejada é alto. A meta # 5B dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) dizia: “Alcançar, até 2015, o acesso universal à saúde reprodutiva”. Esta meta não foi alcançada. Agora, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) também colocam como meta a universalização dos serviços de saúde sexual e reprodutiva até 2030. Evidentemente, esta procrastinação não é boa para a saúde das mulheres e nem para os bebês que nascem de uma gravidez indesejada e vão correr riscos cada vez maiores diante dos desafios econômicos, sociais e ambientais. Por exemplo, o surto dos casos de microcefalia no Brasil, diante da epidemia de zika, poderia ser evitado se houvesse bons serviços de saúde reprodutiva no país.
O ser humano tem livre arbítrio e pode construir o futuro com mais ou menos gente. A humanidade pode escolher o caminho do maior ou do menor crescimento demográfico, desde que haja respeito aos direitos sexuais e reprodutivos e a regulação da fecundidade seja uma escolha livre dos casais e das pessoas.
Qualquer que seja a decisão será preciso levar em consideração as condições ambientais do Planeta, a sobrevivência das demais espécies, a manutenção da biodiversidade e a saúde dos ecossistemas. O progresso civilizacional tem ocorrido às custas de um holocausto biológico. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. A redução das taxas de fecundidade – que levariam a uma redução da população até o ano 2100 – pode ser um passo importante para a sobrevivência da vida no Planeta.
Mas não basta apenas o decrescimento demográfico. É preciso também decrescer as atividades econômicas mais danosas ao meio ambiente e colocar a Pegada Ecológica em equilíbrio com a biocapacidade da Terra. No Holoceno havia estabilidade climática. No Antropoceno, depois da grande aceleração das atividades antrópicas, as condições de vida na biosfera se degradaram e, no ritmo atual, as futuras gerações de humanos e não humanos podem receber de herança um habitat inabitável e inóspito. (ecodebate)

Renda e fecundidade na América Latina

A América Latina e Caribe (ALC) tinha um taxa de fecundidade total (TFT) elevada e próxima de 6 filhos por mulher no período 1950-65. O início da transição começou no quinquênio 1965-70, quando a TFT baixou para 5,5 filhos por mulher. Três quinquênios depois, a TFT tinha caído para 3,96 filhos em 1980-85. No atual quinquênio (2015-20) a TFT está em 2,04 filhos e deve ficar abaixo do nível de reposição, com 1,9 filhos, em 2025-30.
Em todos os países, a queda das taxas de fecundidade acontece depois da queda das taxas de mortalidade, especialmente da mortalidade infantil. Quando aumenta a proporção de filhos sobreviventes as mulheres (e os casais) atingem o número ideal de filhos antes do fim do período reprodutivo e passam a limitar o tamanho da prole, fazendo uma regulação da fecundidade por terminação (reduzindo os nascimentos de ordem superior).
Em geral, este processo acontece em todas as classes sociais e em todos os espaços geográficos. Mas, com mais intensidade, a liderança da queda da fecundidade acontece entre os estratos populacionais mais ricos, mais escolarizados, mais urbanizados e com maiores informações sobre saúde sexual e reprodutiva e que possuem maior acesso aos serviços de saúde pública.
Desta forma, a liderança da transição da fecundidade também cabe aos países com as mesmas características. O gráfico acima mostra a correlação entre renda per capita e fecundidade. Observa-se que os países com menor renda per capita (em poder de paridade de compra) são aqueles com maiores taxas de fecundidade. Ou seja, a TFT tende a cair com o aumento da renda.
Por exemplo, Porto Rico é o país da ALC com a maior renda anual per capita (US$ 38,9 mil) e a menor TFT (1,47 filhos), enquanto o Haiti – o país mais pobre do continente – tinha uma renda per capita anual de somente US$ 1,9 mil e a maior TFT (2,85 filhos), conforme pode ser observado pelos valores apresentados na tabela abaixo.
Mas embora exista uma alta correlação entre renda e fecundidade, três países pobres, com renda per capita anual abaixo de US$ 10 mil, se destacam com TFT próxima ou abaixo do nível de reposição: Jamaica (1,99 filho), El Salvador (2,05 filho) e Nicarágua (2,16 filhos).
No outro espectro, a Argentina, com renda per capita de US$ 21,4 mil, tinha uma TFT de 2,27 filhos. Ou seja, a despeito de ter uma renda per capita mais de 3 vezes superior do que a Nicarágua, a Argentina tinha uma TFT superior do que o país mais pobre da América Central.
O Brasil – o país mais populoso da ALC – tinha uma renda média (de US$ 16 mil) e a segunda menor TFT da região. Já o Chile tinha a segunda maior renda per capita e a terceira menor TFT da região.
O que estes dados mostram é que a América Latina e Caribe está realmente passando pela transição demográfica (primeiro caíram as taxas de mortalidade e agora as de fecundidade) e passando por grandes transformações na dinâmica populacional e na estrutura etária.
Num primeiro momento estas mudanças são benéficas para o aumento da renda per capita devido ao bônus demográfico. Isto quer dizer que o aumento da renda ajuda no declínio das taxas de fecundidade e, de forma recíproca, a queda da TFT ajuda no aumento da renda.
A ALC está passando pelo seu melhor momento demográfico (menor razão de dependência) e tem que saber aproveitar esta ocasião, pois no futuro haverá um forte envelhecimento populacional e a razão de dependência demográfica voltará a subir. Portanto, o desafio para a região é enriquecer antes de envelhecer. (ecodebate)

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Sinais que antecederam a maior extinção em massa do nosso planeta

Estamos vendo os mesmos sinais agora que antecederam a maior extinção em massa do nosso planeta.
De acordo com uma nova pesquisa alemã, diversos sinais de alerta que ocorreram antes do maior evento de extinção em massa da história estão se repetindo nos dias atuais.
Cientistas alertam: podemos estar repetindo a pior extinção em massa da história
A Terra já passou por cinco eventos de extinção em massa, sendo que o maior deles foi a extinção do Permiano-Triássico, 252 milhões de anos atrás.
Esse evento marcou o fim do período Permiano e o início do Triássico, matando 96% de toda a vida marinha e até 70% de toda a vida terrestre.
Enquanto as extinções em massa não acabam com a vida totalmente, elas alteram o curso de como ela se desenvolve. Sem a extinção dos dinossauros, por exemplo, a ascensão dos mamíferos – incluindo nós, seres humanos – poderia nunca ter ocorrido.
Sinais
A maior extinção em massa que conhecemos foi provavelmente causada por uma atividade vulcânica maciça na Sibéria, que alterou a atmosfera em todo o mundo e levou ao colapso parcial de muitos ecossistemas, devido ao efeito que teve sobre a camada de ozônio, afinando-a e interrompendo os ciclos de vida das plantas.
Os cientistas pensavam que esse evento tinha acontecido de repente e sem aviso prévio.
Agora, uma equipe de pesquisa da Universidade Friedrich-Alexander Erlangen-Nürnberg e do Museum für Naturkunde, na Alemanha, defende que houveram indícios da extinção que se seguiria.
Nós sobreviveremos a esta extinção em massa?
Examinando fósseis anteriormente não pesquisados no Irã, eles encontraram sinais de alerta datados de 700.000 anos antes do evento.
Evidências
Por exemplo, os pesquisadores descobriram que várias espécies de amonites, que são moluscos marinhos, desapareceram na época e as espécies que sobreviveram ficaram cada vez menores e menos complexas.
Nos últimos milhões de anos do período Permiano, os tamanhos de braquiópodes estavam diminuindo em terra; no mar, protozoários chamados radiolários também estavam em declínio.
Há evidências de que animais marinhos estejam encolhendo em tamanho hoje. No ano passado, pesquisadores revelaram que o nível do Oceano Atlântico diminuiu em 15% nos últimos 65 anos, provavelmente como resultado direto da mudança climática.
Outro estudo de 2015 descobriu, em uma análise do registro geoquímico, que houve uma deterioração ambiental progressiva levando à extinção do Permiano-Triássico. E mais um artigo do mesmo ano encontrou altos níveis de atividade de magma antes, durante e após o evento.
Além disso, já naquela época haviam muitas evidências de um aquecimento global severo, acidificação dos oceanos e falta de oxigênio. “O que nos separa dos eventos do passado é a extensão desses fenômenos. Por exemplo, o aumento atual da temperatura é significativamente menor do que há 250 milhões de anos”, disse o principal autor do estudo, Wolfgang Kießling.
O chamado “Jardim de Ediacara” foi um período de tranquilidade no qual os primeiros organismos multicelulares complexos da Terra prosperaram. Depois de durar milhões de anos, chegou ao fim como resultado da primeira extinção em massa do planeta, cerca de 540 milhões de anos atrás.
Sim, nós estamos no começo de uma extinção em massa
Não podemos perder os alertas
A nova pesquisa se junta a um crescente corpo de evidências de que estamos à beira do sexto evento de extinção em massa da Terra.
“O aumento da taxa de extinção em todos os habitats que estamos atualmente observando é atribuível à influência direta dos seres humanos, como a destruição do habitat, a pesca excessiva e a poluição”, disse Kießling. “No entanto, o nanismo das espécies animais nos oceanos em particular pode ser claramente atribuído à mudança climática. Devemos levar esses sinais muito a sério”.
Temos 20 anos, no máximo, para prevenir extinção em massa.
As descobertas do estudo foram publicadas na revista científica Geology. (hypescience)

Extinção em massa com aviso prévio

Cientistas sugerem que os sinais de alerta para a extinção em massa existem, ao contrário dos pressupostos anteriores.
Extinções em massa ao longo da história da Terra foram bem documentadas. Os cientistas acreditam que eles ocorreram durante um curto período de tempo em termos geológicos. Em um novo estudo, os paleobiólogos da FAU e seus parceiros de pesquisa mostraram agora que os sinais de que o maior evento de extinção em massa na história da Terra estava se aproximando se tornaram aparentes muito antes do que se acreditava anteriormente, e apontam que os mesmos indicadores que podem ser observados hoje.
Extinções em massa são eventos raros que têm consequências catastróficas. Esses eventos muitas vezes mudam completamente o curso da evolução. Por exemplo, o surgimento de mamíferos – e, portanto, de humanos – provavelmente não teria sido possível se os dinossauros não tivessem se extinguido há 65 milhões de anos. Um meteorito atingiu a Terra mergulhando-o na escuridão e causando uma enorme queda de temperatura. A crise de fome subsequente acabou com mais de 70% de todas as espécies de animais. Os ancestrais do homem estavam entre os sobreviventes.
As consequências da extinção de espécies que ocorreram há cerca de 250 milhões de anos, no limite permiano-triássico, foram ainda mais catastróficas. Gigantescas erupções vulcânicas e as emissões de gases causadores do efeito estufa causaram a extinção cerca de 90% de todas as espécies de animais, de acordo com estimativas. Por mais de vinte anos, a opinião dominante na pesquisa foi que essa “mãe de todos os desastres” aconteceu abruptamente e sem aviso prévio, quando vista em escala de tempo geológica – as estimativas sugerem um período de apenas 60 mil anos.

Em um novo estudo publicado na edição de março da revista ‘Geology’, uma equipe de pesquisadores da Alemanha e do Irã provaram que esta crise aconteceu por um longo período de tempo. Sob a liderança do Prof. Dr. Wolfgang Kießling, presidente da Palaeoenviromental Research na FAU, que também foi recentemente nomeado como principal autor do sexto World Climate Report, e do Dr. Dieter Korn do Museum für Naturkunde em Berlim, os cientistas examinaram fósseis em perfis geológicos em grande parte não pesquisados no Irã.
Seus resultados mostram que os primeiros indicadores de uma extinção em massa eram evidentes a partir de 700.000 anos antes do evento real. Várias espécies de amonóides foram mortas naquela época e as espécies sobreviventes tornaram-se cada vez menores em tamanho e menos complexas quanto mais próximo o evento principal se tornava.
Os sinais de alerta de extinção em massa também são visíveis hoje.
Os fatores que levaram à extinção em massa no final do Período Permiano nos lembram muito hoje, diz o professor Wolfgang Kießling. ‘Há muitas evidências de aquecimento global severo, acidificação oceânica e falta de oxigênio. O que nos separa dos eventos do passado é a extensão desses fenômenos. Por exemplo, “o aumento atual da temperatura é significativamente menor do que há 250 milhões de anos”.
No entanto, os sinais de alerta que a equipe de Wolfgang Kießling encontrou no final do Período Permiano já podem ser vistos hoje. “O aumento da taxa de extinção em todos os habitats que estamos atualmente observando é atribuível à influência direta dos seres humanos, como a destruição do habitat, a pesca excessiva e a poluição”. No entanto, o nanismo de espécies animais nos oceanos em particular pode ser claramente atribuído à mudança climática. Devemos levar esses sinais muito a sério.
O artigo original intitulado ‘Pre–mass extinction decline of latest Permian ammonoids’ por Wolfgang Kiessling, Martin Schobben, Abbas Ghaderi, Vachik Hairepatan, Lucyna Leda e Dieter Korn foi publicado na revista ‘Geology’ (doi: 10,1130 / G39866.1) .

O trabalho foi realizado pela unidade de pesquisa TERSANE, que é baseada na FAU (FOR 2332). Neste projeto interdisciplinar, oito grupos de trabalho investigaram em que condições as emissões naturais de gases de efeito estufa podem atingir níveis catastróficos e como elas estão conectadas a crises na biodiversidade. (ecodebate)

Atividades humanas já impactaram 75% da superfície terrestre

Relatório revela que as atividades humanas já impactaram 75% da superfície terrestre.
Número deve chegar a 90% até 2050, segundo o novo relatório sobre degradação e restauração de áreas degradadas divulgadas pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
Apenas 25% da superfície terrestre permanece livre de impactos substanciais causados por atividades humanas. E o índice deve cair para meros 10% até 2050, segundo projeções da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
“Apenas algumas regiões nos polos, desertos e as partes mais inacessíveis das florestas tropicais permanecem intactas”, afirmou o sul-africano Robert Scholes, um dos coordenadores do relatório temático sobre Degradação e Restauração de Terras Degradadas divulgadas pela IPBES em 26/03/18, em Medellín, na Colômbia.
O documento na íntegra e um sumário para tomadores de decisão foram aprovados pelos 129 países-membros da entidade durante a 6a Reunião Plenária, que ocorreu entre os dias 17 e 24 de março.
Segundo o texto, até o ano de 2014, mais de 1,5 bilhão de hectares de ecossistemas naturais foram convertidos em áreas agrícolas. Plantações e pastagens cobrem atualmente mais de um terço da superfície do planeta. “Os processos mais recentes de desmatamento estão ocorrendo nas regiões do globo mais ricas em biodiversidade”, afirmaram os autores no texto.
De acordo com Scholes, pode ser definido como degradação o processo que leva um ecossistema terrestre ou aquático a sofrer um declínio persistente das funções ecossistêmicas e da biodiversidade. “É quando uma determinada região tem sua capacidade de sustentar a vida – humana ou não – persistentemente reduzida”, explicou.

A expansão não sustentável de áreas dedicadas à agricultura e à pecuária é apontada no relatório como uma das principais causas do problema – que tende a se agravar com a demanda crescente por comida e biocombustíveis. Segundo os autores, o uso de pesticidas e fertilizantes deve dobrar até 2050.
“Esses produtos químicos em excesso contaminam não apenas o solo como também os sistemas aquáticos, terminando por afetar a zona costeira. Já temos centenas de áreas mortas em regiões como o Golfo do México e isso ocorre por causa da forma que manejamos a terra. Portanto, esta é também uma questão de segurança hídrica e de preservação da costa”, disse Robert Watson, presidente da IPBES.

Outro fator importante que tem contribuído para a degradação de ecossistemas, de acordo com os cientistas da IPBES, é o estilo de vida de alto consumo dos países desenvolvidos – bem como o consumo crescente observado nos países em desenvolvimento.
O combate ao problema, afirmam, deve necessariamente incluir a adoção de uma dieta mais sustentável, com menos produtos de origem animal e maior preocupação com os métodos usados na produção dos alimentos e demais produtos consumidos.
“Não estamos dizendo para as pessoas pararem de comer carne, mas para se preocuparem com o modo com que ela foi produzida. E, acima de tudo, acabar com o desperdício de comida. Hoje, entre 35% e 40% do que é produzido nos países desenvolvidos não é aproveitado”, disse Watson.
Para o italiano Luca Montanarella, outro coordenador do relatório, é necessário um esforço de comunicação que ajude moradores das áreas urbanas a se reconectarem com a terra que os alimenta.
“Esperamos que a solução para problemas como esse venha de fora, mas nós, como consumidores, temos nossa carga de responsabilidade. Estamos dispostos a pagar caro por celulares ou computadores, mas queremos que a comida seja barata. E não percebemos os impactos de nossas escolhas alimentares porque, muitas vezes, eles se manifestam em regiões distantes”, disse.
Para Montanarella, a degradação da superfície terrestre é um problema que precisa ser resolvido localmente, mas em um contexto global. Na avaliação de Scholes, os subsídios oferecidos pelos governos aos produtores rurais tendem a promover uma expansão não sustentável da produção, pois permitem que corram mais riscos.
“É possível aumentar a produção sem avançar sobre áreas naturais e sem abusar de produtos químicos. Intensificação é uma grande parte da resposta, mas por meio de uma melhora das práticas de manejo da terra, promovendo a ciclagem de nutrientes, por exemplo”, afirmou.
Para Scholes, o Brasil está em uma posição favorável para lidar com essas questões por ter fortalecido ao longo dos últimos anos sua capacidade de realizar pesquisas científicas e por ter especialistas capazes de orientar soluções.
“Há um clamor político pelo fim do desmatamento e da destruição de áreas alagáveis. Temos uma oportunidade de começar a fazer as coisas de um jeito melhor. Há espaço no mercado para isso. As pessoas cada vez mais vão se questionar se os produtos que compram do Brasil são bons ou ruins [do ponto de vista ambiental]”, disse Scholes.
Watson reconhece que a produção de biocombustíveis, soja e carne é hoje a base da economia brasileira e afirma ser valiosa para muitos outros países. “O desafio é produzir esses bens de maneira mais sustentável. Avançar em direção das boas práticas. Há um jeito mais esperto de fazer isso e seria uma grande contribuição do Brasil”.
Três faces do mesmo problema
De acordo com o relatório da IPBES, os processos de degradação da terra já comprometem o bem-estar de dois quintos da humanidade – 3,2 bilhões de pessoas. Isso tem sido uma das principais causas de migração humana – o que, por sua vez, está relacionado com a intensificação de conflitos entre os povos e empobrecimento de populações, na avaliação de Watson.
“A degradação da superfície terrestre está nos conduzindo para a sexta extinção em massa de espécies”, alertou Scholes.
Para os autores do relatório, processos de degradação, perda de biodiversidade e mudanças climáticas são três faces de um mesmo problema – um fator intensifica o outro e não pode ser combatido isoladamente.
Segundo o documento, os processos de degradação contribuem fortemente para a mudança climática, tanto pelas emissões de gases-estufa resultantes do desmatamento como pela liberação do carbono anteriormente armazenado no solo. Foram liberados 4,4 bilhões de toneladas de CO2 somente entre os anos de 2000 e 2009, segundo a IPBES.
“Dada a importância da função de sequestro e armazenamento de carbono pelo solo, reduzir e reverter os processos de degradação da terra podem oferecer mais de um terço das atividades de mitigação da emissão de gases estufa necessárias até 2030 para manter a elevação da temperatura média da Terra abaixo de 2oC, como propõe o Acordo de Paris, além de aumentar a segurança alimentar, hídrica e reduzir conflitos relacionados à migração”, disseram os cientistas.
Outro objetivo do relatório temático foi avaliar processos de restauração de terras degradadas já concluídos ou em andamento. Como explicou Scholes, foi definida como restauração qualquer iniciativa intencional de acelerar a recuperação de ecossistemas degradados.
“Fizemos uma diferenciação entre restauração e reabilitação. Esta última corresponde a iniciativas voltadas a recuperar algumas das funções críticas da terra e criar condições para que talvez ela seja recuperada. Mas retornar ao que era antes da degradação pode não ser possível em muitos lugares”, explicou.
Segundo Scholes, a restauração de áreas agrícolas degradadas, por exemplo, pode significar devolver ao solo sua qualidade original – bem como promover a integração de culturas agrícolas, criação de animais e silvicultura.
Iniciativas bem-sucedidas em áreas alagáveis incluem controle de fontes poluidoras e reinundação de áreas úmidas danificadas por drenagem. Para áreas urbanas as opções são planejamento espacial, replantio de espécies nativas, desenvolvimento de “infraestrutura verde” (parques e rios), remediação de solos contaminados e cobertos (sob asfalto, por exemplo), tratamento de águas residuais e restauração de canais fluviais.
Para os cientistas, a solução do problema requer a integração das agendas agrícola, florestal, energética, hídrica e de infraestrutura e serviços. Isso, por sua vez, necessita de políticas coordenadas entre os diferentes ministérios para, simultaneamente, incentivar práticas mais sustentáveis de produção e de consumo de commodities.
Os benefícios obtidos por meio da restauração de áreas degradadas excedem em mais de 10 vezes o custo dessas iniciativas, segundo a IPBES.
“Implementar as ações adequadas pode transformar a vida de milhões de pessoas no planeta, porém, quanto mais demoramos para agir mais difícil e cara se torna a reversão do problema”, afirmou Watson.
O caso brasileiro
De acordo com Carlos Alfredo Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP e da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), a degradação está presente em todos os biomas e regiões brasileiras. É mais intensa, porém, em áreas onde a ocupação humana é mais antiga, como é o caso da Mata Atlântica.
Segundo dados do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Brasil tem 200 milhões de hectares de áreas degradadas.
Exemplos bem-sucedidos de restauração também estão presentes no país, ressaltou Joly, sendo um dos mais antigos da época do Império, no século 19.
“A restauração da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi ordenada por D. Pedro II por recomendação do Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, para recuperar e proteger as nascentes que abasteciam a cidade. O imperador mandou desapropriar terras de fazendeiros e nobres nas encostas do maciço que divide a cidade ao meio para recompor a área que, já no século 19, estava quase totalmente ocupada por fazendas, pastos e lavouras de café. Poucos turistas que visitam o Parque Nacional da Tijuca sabem que estão caminhando em uma área restaurada”, disse Joly.
Outro bom exemplo em pleno desenvolvimento é o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica – do qual o BIOTA participa por meio de pesquisadores como Ricardo Ribeiro Rodrigues e Pedro Brancalion.
Dados do BIOTA também embasaram a norma baixada pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo para regulamentar a restauração ambiental na região (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/4773/).
Rodrigues e Brancalion – ambos membros do BIOTA e da BPBES – estão entre os brasileiros que integraram a equipe de cientistas que elaborou o relatório divulgado nesta segunda-feira pela IPBES, assim como Jean Paul Metzger. Também contribuíram Marina Morais Monteiro (Universidade Federal de Goiás), Geraldo Wilson Fernandes (Universidade Federal de Minas Gerais), Simone Athayde (University of Florida, Estados Unidos) e Daniel Luis Mascia Vieira (Embrapa).
Para produzir o documento, mais de 100 autores de 45 países revisaram mais de 3 mil fontes de informação – que incluem artigos científicos, relatórios de governos e reuniões com representantes de comunidades indígenas e locais.
“O texto passou por um extenso processo de revisão por pares e foi melhorado com mais de 7,3 mil comentários de revisores externos. Além disso, o sumário para tomadores de decisão foi amplamente debatido com os representantes dos países que integram a IPBES. O objetivo desse debate é aumentar a relevância do conteúdo para a formulação de políticas públicas”, explicou Anne Larigauderie, secretária executiva da IPBES. (ecodebate)

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Declínio da fecundidade nos diferentes países do mundo

A velocidade do declínio da fecundidade nos diferentes países do mundo.
A transição demográfica (queda das taxas de mortalidade e natalidade) é um fenômeno único na história e acontece de forma sincrônica ao desenvolvimento econômico. O avanço da urbanização, da educação e o aumento do padrão de vida reduzem primeiro, as taxas de mortalidade e, um tempo depois, as taxas de natalidade.
Existe um consenso, uma vontade geral e um esforço conjunto da população mundial em reduzir as taxas de mortalidade. O mesmo não acontece em relação às taxas de fecundidade. Durante milênios a sociedade se organizou para que o número de nascimentos superasse o número de óbitos. A sociedade criou, explicita ou implicitamente, “escoras culturais pronatalistas” para garantir o crescimento vegetativo da população.
Desta forma, a transição da fecundidade é um dos fenômenos de comportamento de massa mais fundamentais da história humana. Por isso, é especialmente surpreendente o quão rapidamente essa transição ocorreu, especialmente ficando em nível abaixo do nível de reposição.

O gráfico acima mostra a velocidade do declínio das taxas de fecundidade, partindo de mais de seis filhos por mulher para menos de 3 filhos. Nota-se que os países que iniciaram a transição precocemente, também foram aqueles que demoraram mais tempo para reduzir pela metade as taxas de fecundidade. O Reino Unido iniciou a queda em 1815 e chegou abaixo de 3 filhos por mulher em 1910. Gastou 95 anos. A Polônia iniciou a transição da fecundidade em 1870 e reduziu pela metade em 1960. Gastou 90 anos. Os Estados Unidos (USA) fizeram a transição em 82 anos, de 1844 a 1926. A Grécia fez a transição em 70 anos, de 1850 a 1920.
A taxa de fecundidade está em constante declínio.

Já os países de transição mais recente (após 1960) foram mais rápidos no processo. A Malásia promoveu a queda de mais de 6 filhos para menos de 3 filhos por mulher em 37 anos, de 1962 a 1999. O Brasil fez a transição em 26 anos (de 1963 a 1989). A China fez em apenas 11 anos, de 1967 a 1978, antes, portanto, da implantação da draconiana política de filho único (que começou em 1979). Mas o país que fez a transição da fecundidade mais rápida do mundo foi o Irã que, entre 1986 a 1996, gastou apenas 10 anos para reduzir de mais de seis filhos por mulher para menos de 3 filhos.
No mundo, a taxa de fecundidade total (TFT) estava em torno de 5 filhos por mulher entre 1950 e 1965 e caiu para 2,5 filhos por mulher no quinquênio 2010-15. Houve uma diminuição de 2,5 filhos na TFT em meio século. Porém, o ritmo da transição global da fecundidade se reduziu a partir do quinquênio 2010-15. A resistência à continuidade da transição da fecundidade ainda é suficientemente grande para inviabilizar uma taxa abaixo do nível de reposição, o que seria necessário para garantir o decrescimento demográfico de longo prazo. (ecodebate)

Gráficos mostram avanço espetacular da humanidade em 2 séculos

Os gráficos que mostram o avanço espetacular da humanidade nos últimos dois séculos.
“Há 130.000 pessoas a menos em situação de pobreza extrema do que ontem”

Tudo está melhor?

Muito poucas pessoas acreditam que o mundo está cada vez melhor. Uma delas é o economista Max Roser, da Universidade de Oxford. Seis gráficos publicados em seu site no fim de dezembro mostram como melhoramos, e muito, nos últimos 200 anos em seis aspectos: pobreza extrema, educação, alfabetização, democracia, vacinas e mortalidade infantil.
Então, por que muitos continuamos com a ideia de que tudo está cada vez pior ou, pelo menos, ruim como sempre? Como explica Roser ao El País por telefone, “as mudanças positivas precisam de muito tempo”, já que as tendências se constroem ao longo de décadas ou mesmo séculos. Por outro lado, nossa psicologia nos faz dar mais atenção aos eventos negativos, que poderiam ser um perigo. Além disso, a mídia costuma focar menos nas tendências de longo prazo e mais em acontecimentos, que frequentemente são negativos, como crises econômicas, atentados, acidentes…
Roser não apresenta esse trabalho para que sejamos complacentes. “Não há razão para pensar que essa evolução continuará e que não pode mudar”, observa, antes de acrescentar que “evidentemente, devemos focar no que continua ruim para tentar melhorar”. De fato, ver o que está indo bem “nos anima a continuar” e nos faz perceber que podemos contribuir para melhorar as coisas, embora não pareça. De fato, a principal mudança nos últimos 200 anos é que “nos demos conta de que esses problemas têm solução”. Há dois séculos “nem mesmo sabíamos que havia um problema”.
(Se estiver lendo no celular, talvez não visualize os gráficos adequadamente. Clique aqui para acessar a versão completa).
1. Pobreza
"Há 130.000 pessoas a menos em situação de pobreza extrema que ontem”. Poderíamos ter dado esse título a cada dia desde 1990, diz Roser em um artigo que acompanha os gráficos no seu site, fornecendo dados e contexto. “Em 1820 só uma pequena elite desfrutava de padrões de vida elevados, enquanto a ampla maioria vivia em condições que hoje qualificaríamos como pobreza extrema” (menos de US$ 1,90/dia). Em 1950, eram três quartos dos habitantes do planeta e em 2016 a porcentagem tinha caído para 10%. Tudo, diz, graças ao crescimento da produtividade, que compensou o fato de a população ter se multiplicado por sete nos últimos 200 anos.
POPULAÇÃO MUNDIAL VIVENDO EM EXTREMA POBREZA (EM VERMELHO).
2. Alfabetização
Em 1820, apenas uma em cada 10 pessoas maiores de 15 anos sabia ler e escrever. Em 1930 era uma em cada três. Hoje, a porcentagem chega aos 85% no mundo todo.
POPULAÇÃO ALFABETIZADA (EM AZUL).
3. Saúde
Há apenas 200 anos, 43% das crianças morriam antes de chegar ao quinto aniversário. Desde então, houve melhoras na dieta, nos lares e na higiene, além de uma saúde pública cada vez mais abrangente e do desenvolvimento de antibióticos e vacinas. Roser admite que a crise afetou os sistemas de saúde pública dos países ricos, mas não se notou tanto nos pobres. Apesar disso, alerta: “Houve menos ajuda ao desenvolvimento nos últimos anos”.
MORTALIDADE INFANTIL GLOBAL. EM VERMELHO, A PERCENTAGEM DE CRIANÇAS QUE MORRE ANTES DOS CINCO ANOS.
4. Liberdade
O gráfico mostra a população mundial que vive em democracias e em ditaduras. No meio estão as chamadas anocracias abertas e fechadas, sistemas caracterizados pela mistura de práticas democráticas e autocráticas. Também se pode ver, em lilás, o número de pessoas que vive (ou vivia) em colônias. Atualmente, metade da humanidade vive em uma democracia (em verde no gráfico).
Essa área mostra uma melhora menos espetacular. Roser recorda que a consolidação da democracia leva mais tempo que outros aspectos, “já que é uma mudança cultural, enquanto outras inovações, como vacinas e antibióticos, têm uma aplicação mais direta”.
Além disso, é preciso levar em conta um fator importante: 80% das pessoas que vivem sob uma ditadura estão na China, que tem 1,3 bilhão de habitantes.
NÚMERO DE CIDADÃOS VIVENDO SOB DIFERENTES REGIMES POLÍTICOS. EM CINZA, SEM DADOS OU EM TRANSIÇÃO; EM LILÁS, COLÔNIAS; EM VERMELHO, AUTOCRACIAS; EM LARANJA, ANOCRACIAS FECHADAS; EM AMARELO, ANOCRACIAS ABERTAS; EM VERDE, DEMOCRACIAS.
5. População
A população mundial experimentou seu máximo crescimento entre os anos 1900 e 2000, quando passou de 1,5 para 6,1 bilhões de pessoas. Aos agoureiros que temem uma superpopulação do planeta, Roser recorda dois fatores. Primeiro, que o crescimento da população é consequência da manutenção da fertilidade e da queda da mortalidade graças às melhoras em saúde e qualidade de vida. Segundo, que quando a economia melhora, as pessoas têm menos filhos. Isso quer dizer que a população pode parar de crescer em 2075, ficando em torno dos 11 bilhões de pessoas.
É verdade que, com menos nascimentos, há o risco de a média de idade aumentar: “Certamente é um desafio, mas não é insolúvel — diz Roser. Antes que a população mundial envelheça, temos algumas décadas nas quais a maioria das pessoas estará em idade ativa. Tendo em conta a experiência de muitos países, sabemos que essa mudança (conhecida como “dividendo demográfico”) frequentemente leva a um bom desenvolvimento”.
6. Educação
Os jovens recebem mais e melhor educação que os mais velhos há gerações. Se essa tendência continuar, em 2100 haverá mais de 7 bilhões de pessoas com, pelo menos, educação secundária.
A educação é um dos principais motivos para sermos otimistas com relação ao futuro, diz Roser: “Influi na melhora da economia e, portanto, na redução da pobreza. Também na difusão de ideias democráticas e na saúde, já que se conhecem melhor os benefícios de práticas como as vacinas”.
PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL SEGUNDO O NÍVEL DE ESCOLARIDADE. EM AZUL, SUPERIOR; EM VERDE, SECUNDÁRIO (ENSINO FUNDAMENTAL II E MÉDIO); EM LARANJA, PRIMÁRIO (ENSINO FUNDAMENTAL I); EM AMARELO, PRIMÁRIO INCOMPLETO; EM VERMELHO, SEM EDUCAÇÃO FORMAL, E EM CINZA, MENORES DE 15 ANOS.
Nem tudo está melhor que 200 anos atrás, claro. “O meio ambiente é o exemplo óbvio”, observa Roser. Não só por causa do aquecimento global, mas também devido à extinção de espécies e à menor biodiversidade. “Mas não há só aspectos negativos”, afirma, lembrando que o desmatamento diminuiu nos últimos anos e que, mais em longo prazo, a substituição de combustíveis sólidos por líquidos e pela eletricidade reduziu a poluição nos lares.
Seu texto não fala das guerras, mas concorda com a tese do cientista cognitivo Steven Pinker: “Vivemos uma época de paz extraordinária”, tanto no que se refere a conflitos bélicos como a homicídios, e não só na Europa. Mas ressalta algo que pode valer para as demais áreas: “Por melhores que sejam as estatísticas, sempre é preciso lembrar que a situação atual não é aceitável”. O fato de muitas coisas estarem melhores que há dois séculos não significa que podemos nos conformar. Pelo contrário, tem de servir estímulo para continuar trabalhando. (brasil.elpais)

Como a fumaça de incêndios florestais afeta a saúde humana

Dentre os sintomas de doenças e doenças observados relatam infecções do sistema respiratório superior, asma, conjuntivite, bronquite, irrita...