quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A população do Haiti em 2100

O Haiti é o país mais pobre do Hemisfério Ocidental. O país ocupa cerca de um terço do lado ocidental da ilha Hispaniola (primeira terra das Américas visitada por Cristóvão Colombo, em 1492), enquanto a República Dominicana ocupa o lado oriental da ilha. O Haiti foi o primeiro país a acabar com a escravidão (em 1794) e o segundo país das Américas a conquistar a independência (depois dos Estados Unidos). Mas os duzentos anos de independência não foram fáceis.
No século XX o país foi ocupado por tropas americanas entre 1915 e 1934 e administrado por vários governos ditatoriais nas décadas seguintes. Para complicar, em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de grandes proporções, com magnitude de 7,0 na escala Richter, destruiu a maior parte da capital Porto Príncipe. Os desastres naturais aconteceram depois dos desastres políticos que retiraram toda a capacidade de governança estatal. O governo brasileiro tem mantido tropas militares de ajuda no território haitiano.
A população do Haiti era de 3,2 milhões de habitantes em 1950, cerca da metade do número de cubanos na mesma data. Em 2010, a população haitiana chegou a 10 milhões de habitantes e deve chegar a 11,3 milhões em 2020, ultrapassando o número da população de Cuba. Para 2050, a estimativa é de 14,2 milhões na projeção média, 16,3 milhões na projeção alta e 12,2 milhões na projeção baixa. Para 2100 a população do Haiti pode variar de 8,6 milhões a 23 milhões, dependendo do comportamento das taxas de fecundidade.
A taxa de fecundidade do Haiti caiu de 6,3 filhos por mulher em 1950-55 para 3,6 filhos em 2005-10. Mas o país ainda tem uma estrutura etária jovem e a atual taxa de fecundidade ainda é uma das mais altas da América Latina. O Haiti conseguiu reduzir a taxa de mortalidade infantil de 242 por mil em 1950-55 para 63,1 por mil e a esperança de vida subiu de 37,5 anos para 61 anos no mesmo período.
Mas a despeito da queda da mortalidade infantil e do aumento da esperança de vida o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Haiti estava 0,45 em 2010, pouco mais da metade do IDH de Cuba. Em termos ambientais, a pegada ecológica per capita do Haiti era de apenas 0,60 hectares globais (gha), porém a biocapacidade per capita era ainda menor 0,31 gha.
Desta forma, além de merecer a solidariedade internacional, o Haiti jamais poderá ser acusado de contribuir para o aquecimento global. Porém, mesmo com toda a ajuda estrangeira, no curto prazo o povo haitiano não deixará de sofrer as consequências da degradação ambiental provocada por pressões demográficas e econômicas que tem seus fundamentos no passado.
Evidentemente a pobreza do Haiti tem raízes históricas. Eduardo Galeano, por exemplo, considera que a tragédia do país tem causas estruturais e que falta apoio dos países ocidentais. Com certeza, o passado ajuda a explicar o alto grau de analfabetismo da população, a falta de emprego, as péssimas condições de saneamento e moradia, etc. A insegurança alimentar é enorme e o país em sido palco de constantes revoltas por causa da fome A população haitiana não tem acesso aos direitos básicos de cidadania e encontra-se em situação caracterizada como “armadilha da pobreza”.
A situação é agravada pela destruição da maravilhosa floresta encontrada intacta por Cristóvão Colombo, em 1492. Nas primeiras décadas do século XX, a floresta tropical do Haiti ainda cobria 60% do território nacional. Nos anos 1950 havia caído para 20% e hoje em dia restaram apenas 2% da cobertura vegetal do país. A floresta haitiana foi arrancada, pedaço a pedaço. Segundo estimativas da ONU, cerca de 30 milhões de árvores foram cortadas a cada ano, nas últimas décadas. Como resultado do desaparecimento da vegetação houve redução da fertilidade do solo, aumento da erosão e da desertificação. Assim, as chuvas e os ciclones tropicais (comuns naquela região) aumentam as torrentes de lama e a esterilidade do substrato natural.
Para 2100, as estimativas da população apontam para algo entre 8,6 milhões e 23 milhões de habitantes. Evidentemente, quanto maior for o acesso aos direitos de cidadania menor será o número da população no final do corrente século. Na situação atual, o Haiti sozinho não tem forças para superar suas dificuldades. O mundo precisa ajudar o país a achar o caminho para a transição demográfica, o crescimento econômico saudável, o desenvolvimento humano e a sustentabilidade ambiental. (EcoDebate)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

País fechará elo da reciclagem de eletrônicos

Com usina em Sorocaba, País fechará elo da reciclagem de eletrônicos
Atualmente, o processamento dos metais é feito no exterior; Brasil produz anualmente quase 100 mil toneladas de lixo eletrônico.
No primeiro semestre de 2013, a cidade de Sorocaba, em São Paulo, deve receber a primeira usina do País a realizar o último elo da reciclagem de eletroeletrônicos - o processamento dos metais, que atualmente é feito no exterior. Além de abrir caminho para a exploração da chamada mineração urbana, o projeto Sinctronics promete facilitar a reinserção na cadeia de consumo das quase 100 mil toneladas de lixo eletrônico anuais produzidos no País.
Brasil produz anualmente quase 100 mil toneladas de lixo eletrônico
Atualmente, quase todo o metal presente nesses resíduos é descartado incorretamente com os aparelhos ou acaba exportado para países como Bélgica, Grã-Bretanha e Alemanha, que dispõem de tecnologia avançada para fazer o processamento.
"O Sinctronics será o primeiro ecossistema integrado de soluções sustentáveis para o mercado eletroeletrônico no Brasil, atendendo a uma cadeia produtiva de ponta a ponta", diz Kami Saidi, diretor de operações e líder do Programa Integrado de Sustentabilidade da HP, cliente e parceira do projeto. A parte tecnológica fica a cargo da Flextronics, gigante de Cingapura do ramo de eletrônicos que possui fábrica em Manaus.
Segundo Saidi, inicialmente será possível fazer a reciclagem de 250 toneladas por mês de plástico - que representa 45% dos aparelhos celulares, um dos eletrônicos mais abundantes (quase 250 milhões de unidades no País) e de vida útil mais reduzida (22 meses, em média).
A novidade, no entanto, será mesmo a extração dos metais, cujo potencial não é revelado. De olho no alto valor dos minérios, as empresas envolvidas esperam lucrar com o lixo eletrônico. Estima-se que para cada tonelada seja possível extrair entre 200g e 300g de ouro (veja infográfico). Outros metais menos nobres, como o cobre, o bronze, o alumínio e o ferro, retornariam à cadeia produtiva.
"Em Sorocaba será possível reciclar todos os tipos e quaisquer marcas de eletrônicos", diz Saidi. "O produto que será mais reciclado dependerá da demanda de devolução do mercado."
Além da Flextronics, a Cimelia, outra empresa com sede em Cingapura, cogita fazer a extração de metais em território brasileiro. Atualmente, ela exporta até 400 toneladas de lixo eletrônico por mês para serem processadas no país asiático.
Estímulo. Empresas e entidades ligadas ao setor de eletrônicos esperam que iniciativas como essa tragam incrementos a toda a cadeia de reciclagem de eletrônicos, cujo maior problema é a falta de um ciclo constante - segundo dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente, cerca de 500 milhões de aparelhos sem uso no País estão guardados em residências.
A necessidade de exportar as partes metálicas para outros países apenas dificulta o processo. "Está faltando no País o fechamento do ciclo, pois ainda é muito caro para as empresas reciclarem", afirma Roberto Lucena, dono da Eco-Cel, especializada na coleta de celulares usados e encaminhamento para destinação adequada.
Com 400 urnas espalhadas em locais de grande circulação, como shoppings, farmácias e academias da cidade de São Paulo, a empresa de Lucena faz a coleta a cada 30 ou 35 dias e recolhe até 3 mil aparelhos por mês.
A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que há um ano lançou na capital um projeto permanente com oito pontos de descarte de lixo eletrônico, afirma que é preciso multiplicar esses locais.
"Há poucos pontos de descarte, e eles não abrangem toda a cidade. Ninguém fica rodando a cidade com lixo no porta-malas em busca de um local", diz o diretor executivo da Abrelpe, Carlos Silva Filho. Segundo ele, a entidade planejar ampliar para 30 os pontos de descarte até o fim de 2013. (OESP)

sábado, 27 de outubro de 2012

Florestas vulneráveis estão desprotegidas

A maior parte das florestas vulneráveis no mundo está completamente desprotegida
Procuram-se verbas para florestas em pé – E, embora um acordo internacional tenha definido que é necessário preservar 17% das áreas terrestres – o equivalente a duas Argentinas – falta financiamento, tanto do setor público como do privado, para manter a floresta de pé, ou, mais ainda, bancar uma transição para uma economia de baixo carbono.
O cenário faz parte do relatório “Planeta Protegido 2012 – Monitorando o progresso rumo a metas globais para as áreas protegidas” [Protected Planet Report 2012: Tracking progress towards global targets for protected areas], apresentado em 19/10/12 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), no encerramento da Conferência das Partes (COP 11) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB), que aconteceu na cidade indiana de Hyderabade. O relatório faz parte, também, das análises de especialistas sobre as negociações de biodiversidade no mundo.
Segundo o economista do meio ambiente Nick Oakes, integrante do programa Global Canopy, a situação ocorre porque as nações ainda não estão direcionando recursos para uma transição de modelo econômico. Sendo assim, frente à economia convencional, que explora a floresta, os escassos investimentos na conservação são completamente sobrepostos. Oakes lançou seu novo livro “Little Forest Finance Book”, ainda sem tradução para o português, durante a COP 11, que terminou na semana passada.
Nele, o economista aponta que os governos precisam canalizar investimentos para uma agricultura sustentável, no lugar de continuar apoiando os mercados tradicionais. “Na economia atual, uma opção é reflorestar áreas degradadas e usar essas árvores para vender madeira, desviando a extração de madeira das florestas nativas tropicais. Outra possibilidade é que usuários ou beneficiários da biodiversidade paguem por esses serviços. Isso pode incluir taxas de entrada ou impostos sobre áreas protegidas.”
“Turistas em Belize pagam uma taxa de aeroporto, que é usada para a conservação. Este tipo de imposição pode ser mediada por governos ou pelo setor privado”, disse Oakes.
Imagem ofuscada – A questão do financiamento foi o grande entrave da conferência para que os países fixassem planos para o cumprimento das metas de Aichi – que foram definidas na COP 10, na cidade de Nagoya, no Japão. Para impulsionar empresas e governos a dar suporte, seja financeiro, técnico ou humano, a CDB lançou na Índia a iniciativa Campeões da Biodiversidade. A ação é um convite para que governos, empresas e outros interessados façam suas propostas de apoio, por meio de um formulário, e as enviem por e-mail para o secretariado da CDB, o brasileiro Braulio Dias. Se aceita, ela é publicada na Lista dos Campeões da Biodiversidade, que revela à sociedade quem está empenhado em ajudar no cumprimento das Metas de Aichi. Até a última sexta-feira, apenas a Índia figurava na lista.
O Brasil saiu da COP11 com um troféu nada positivo. O País foi indicado, pela segunda vez, ao prêmio organizado por uma rede internacional de ONGs, que aponta nações que menos evoluíram nas negociações. O troféu tem o nome do pássaro Dodo – extinto a cerca de quatro séculos nas Ilhas Maurício. Entre as razões para o Brasil figurar na lista está o fato de o governo não levar em conta a biodiversidade nas negociações sobre o mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD+). O País foi a favor de salvaguardas que separem metas da biodiversidade daquelas estabelecidas pela Convenção sobre Mudanças Climáticas. Por fim, as ONGs apontam má relação do governo brasileiro com comunidades locais e tribos indígenas em áreas de relevância para a conservação de espécies.
Pouco mais de 12% das áreas terrestres do mundo são protegidas. A meta é 17%. Nas áreas marinhas, a situação é pior: apenas 1,6%, enquanto a meta é de 10%. Os compromissos são para o ano de 2020. (EcoDebate)

Desmate amazônico aumenta 154%

Em setembro de 2012, o Imazon detectou 431 km2 de desmatamento na Amazônia Legal, valor 154% maior do que em 2011
Boletim do Desmatamento (SAD) (Setembro de 2012) Martins, H., Fonseca, A., Souza Jr., C., Sales, M., & Veríssimo, A. 2012.
Boletim Transparência Florestal da Amazônia Legal (setembro de 2012) (p. 13). Belém: Imazon.
Em setembro de 2012, o SAD detectou 431 km2 de desmatamento na Amazônia Legal. Esse valor foi 154% maior do que o desmatamento detectado em setembro de 2011. Desse total, a maioria (68%) ocorreu no Pará e o restante no Mato Grosso (14%), Rondônia (12%), Amazonas (3%) e Tocantins (2%). Entre os municípios o desmatamento foi mais concentrado em Altamira (PA) e Cumaru do Norte (PA).
O desmatamento acumulado no período de agosto de 2012 a setembro de 2012, correspondendo aos dois primeiros meses do calendário atual de desmatamento, totalizou 663 km2. Houve aumento de 62% em relação ao ano anterior (agosto de 2011 a setembro de 2011) quando o desmatamento somou 410 km2.
As florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 283 km2 em setembro de 2012. Em relação a setembro de 2011 houve uma redução de 57% quando a degradação florestal somou 658 km2. A maioria (52%) ocorreu no Mato Grosso seguido pelo Pará (45%), e o restante no Amazonas e Rondônia.
A degradação florestal acumulada no período de agosto de 2012 a setembro de 2012 totalizou 343 km2. Em relação ao período anterior (agosto de 2011 a setembro de 2011) houve redução de 57%% quando a degradação florestal somou 789 km2.
Em setembro de 2012, o desmatamento detectado pelo SAD comprometeu 6,7 milhões de toneladas de carbono (com margem de erro de 505 mil toneladas) o equivalente a 24,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente
Em setembro de 2012, a cobertura de nuvens foi reduzida e com isso foi possível monitorar 80% da Amazônia Legal. (EcoDebate)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Cai o número de famélicos da Terra

Cai o número de famélicos da Terra: é o fim da fome?
“De pé ó vítimas da fome; De pé famélicos da terra” Hino da Internacional Socialista
A Organização para Alimentação e Agricultura da ONU (FAO) divulgou, em outubro, o relatório The State of Food Insecurity in the World 2012, onde mostra que o número de pessoas passando fome no mundo caiu de um bilhão (representando 18,6% da população mundial) de pessoas na média de 1990-92, para 868 milhões de habitantes (12,5%) na média de 2010-12. Uma em cada 5 pessoas estavam em situação de insegurança alimentar há 20 anos e, atualmente, as pessoas cronicamente desnutridas são uma em cada 8 habitantes do globo.
Contudo, a boa notícia da redução do número de pessoas passando fome no mundo deve ser relativizada. Isto porque a maior parte da queda aconteceu entre 1990 e 2008 e foi liderada pela China que puxou a média da Ásia para baixo.
De fato, o número absoluto de pessoas passando fome no mundo caiu de 1 bilhão (18,6%) em 1990-92 para 867 milhões (12,9%) em 2007-09, mas em 2010-12 subiu ligeiramente para 868 milhões (12,5%). A única região que apresentou quedas absolutos e relativas consistentes foi a Ásia (por conta da China), onde o número absoluto de pessoas passando fome caiu de 739 milhões (23,7%) em 1990-92, para 581 milhões (14,8%) em 2007-09 e para 563 milhões (13,9%) em 2010-12. Uma redução de 176 milhões de habitantes em insegurança alimentar.
A América Latina e Caribe (ALC) apresentou queda de 65 milhões (14,6%) para 50 milhões (8,7%), entre 1990 e 2009, mas ficou praticamente estagnada em termos absolutos em 2010-12, com 49 milhões (8,3%) de pessoas passando fome.
Os países desenvolvidos reduziram o número de pessoas passando fome de 20 milhões (1,9%) em 1990-92 para o recorde de baixa de 13 milhões (1,2%) em 2004-06. Mas desde meados da década passada estão apresentando tendência de alta com o número de desnutridos subindo para 16 milhões (1,4%) em 2010-12. Mas a pior situação continua na África, pois o número absoluto de pessoas passando fome aumentou em termos absolutos de 175 milhões (27,3%) em 1990-92 para 239 milhões (22,9%) em 2010-12. Ou seja, aumentou o número total, mas caiu o número relativo porque a população cresceu a nível acelerado no período.
Os dados do relatório da FAO indicam, portanto, que o ritmo de declínio no número e na percentagem de pessoas passando fome teve redução expressiva entre 1990 e 2008, mas houve desaceleração dos ganhos após a crise econômica mundial que se aprofundou depois da quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos.
A combinação do aumento do desemprego com o aumento do preço dos alimentos é uma armadilha que tende a aumentar o número de pessoas em situação de insegurança alimentar. O Fundo Monetário Internacional (FMI), em relatório divulgado também em outubro de 2012, indicou um menor crescimento econômico do mundo e, em especial, nos países desenvolvidos. Porém, o Índice de Preços de Alimentos da FAO tem mostrado tendência de alta devido aos problemas ambientais agravados pelas mudanças climáticas e ao encarecimento do preço da energia devido ao pico do petróleo.
Desta forma, um agravamento da crise econômica europeia, combinado com uma desaceleração da economia dos Estados Unidos e da China, pode prejudicar muito o desempenho econômico dos países em desenvolvimento, aumentando o desemprego e reduzindo a renda da parcelas da população que mais sofrem com os problemas de desnutrição.
O mundo conseguiu reduzir o número de pessoas passando fome de um bilhão em 1990-92 para 867 milhões em 2007-09. Mas houve um ligeiro aumento absoluto para 868 milhões de habitantes em 2010-12. A tendência dos últios 3 anos coloca dúvidas se o mundo vai conseguir ganhar a batalha pela redução da fome.
Segundo a Divisão de População da ONU o planeta apresenta um crescimento demográfico anual de cerca de 75 milhões de pessoas. Será que o mundo vai sair derrotado no desafio de alimentar adequadamente os seus novos habitantes? (EcoDebate)

870 milhões de pessoas passam fome

Relatório da FAO estima que quase 870 milhões de pessoas passam fome no mundo
A Ásia é o continente que lidera em número a quantidade de pessoas subnutridas e há um aumento na África.
No mundo, há aproximadamente 870 milhões de pessoas que sofrem de subnutrição, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A média de subnutridos representa 12,5% da população mundial. Mas os percentuais aumentam para 23,2% nos países em desenvolvimento e caem para 14,9% nas nações desenvolvidas.
Os dados estão no relatório denominado Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2012 (cuja sigla em inglês é Sofi), divulgado em Roma, na Itália, e se refere ao período de 2010 a 2012. A Ásia é o continente que lidera em número a quantidade de pessoas subnutridas e há um aumento na África.
Pelo relatório, 852 milhões de pessoas subnutridas estão em países em desenvolvimento, representando 15% da população. Mas há cerca de 16 milhões de pessoas que vivem em países desenvolvidos. No entanto, o documento avalia que houve melhoras nos números em comparação a dados das últimas duas décadas.
O relatório é uma publicação conjunta da FAO, do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) e do Programa Mundial de Alimentos (PMA). Segundo o documento, o número total de pessoas que passam fome caiu em 132 milhões comparando os períodos de 1990 a 1992 e 2010 a 2012.
A América Latina e o Caribe apresentaram progressos, segundo o estudo, mas ainda registram 49 milhões de pessoas com fome. No período de 1990 a 1992, eram 65 milhões de subnutridos. Os dados mostram queda 14,6% para 8,3%.
O diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano, alertou que é “inaceitável” o número de subnutridos no mundo, considerando os avanços tecnológicos conquistados pela humanidade. Graziano acrescentou que mais de 100 milhões de crianças com menos de 5 anos estão abaixo do peso. Segundo ele, a desnutrição infantil é responsável por mais de 2,5 milhões de crianças mortas por ano.
A crise econômica internacional e seus impactos ainda não causaram efeitos expressivos nas economias em desenvolvido, segundo o relatório. De acordo com o estudo, o impacto dos preços internacionais dos alimentos nos mercados domésticos foi menos acentuado do que o previsto inicialmente.
A tendência de redução no número de subnutridos, segundo o relatório, deve ser mantida até 2015. A meta das Nações Unidas é que a média mundial alcance 11,6% , dentro de três anos, referindo-se aos subnutridos.
No relatório, a sugestão é para os líderes políticos estimularem a agricultura. Segundo o documento, não há desenvolvimento global é necessária enquanto existe fomento mundo. “O crescimento agrícola é particularmente eficaz na redução da fome e desnutrição em países pobres”, diz o relatório.
O documento recomenda também que as políticas públicas garantam maior proteção social. O relatório menciona como alternativas programas de transferência de dinheiro, alimentação e garantias de seguro de saúde. A proteção social, segundo o relatório, pode melhorar a nutrição das crianças. (EcoDebate)

UE desperdiça quase 50% das frutas e legumes

Quase 50% das frutas e vegetais na UE não são consumidas – De acordo com um relatório da Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), as principais perdas estão ligadas à produção de produtos frescos (frutas e legumes).
20% dos produtos frescos são perdidos devido a, entre outros fatores, os danos acidentais durante a colheita ou coleta de frutas, danos por insetos, danos mecânicos durante a operação de colheita e, na fase pós-colheita, no processo de distribuição e na adequação aos requisitos de ‘qualidade’ das redes de. A falta de sintonia entre a oferta e a demanda é outra razão para as perdas
Durante manejo pós-colheita e processamento dos produtos frescos 5,5% se perdem, por exemplo, por más condições de armazenagem ou por falhas humanas e/ou mecânicas durante o processamento.
Na cadeia de distribuição e supermercados outros 7,5% são perdidos devido à degradação e falhas no gerenciamento do prazo de validade.
Nem todas as perdas são irreversíveis, porque um grande esforço tem sido cada vez mais colocado na valorização destes produtos, visando o seu aproveitamento, como, por exemplo, ao ser usado para fazer produtos derivados, como compota, sopa, etc.
Finalmente, 13% do que é produzido se perdem devido a comportamento dos consumidores ao descartar frutas e vegetais ainda comestíveis ou por perder o prazo de validade ou a segurança do produto pelo armazenamento em uma temperatura inadequada. (EcoDebate)

Problemas pelo desperdício do alimento

Os problemas causados pelo desperdício do alimento
Recentemente, escrevi um artigo sobre a dificuldade de acesso ao alimento saudável que hoje enfrentamos aqui no Reino Unido e no mundo em geral. Essa questão se torna mais grave, quando nos deparamos com a problemática do desperdício de alimentos. A todo momento, toneladas de alimentos saudáveis vão parar no lixo. Como isso é possível, quando temos milhares de pessoas famintas e que enfrentam dificuldades no acesso ao alimento? O que esse desperdício representa em termos sociais, ambientais e econômicos?
Todos os anos, no Reino Unido, 18 milhões de toneladas de alimentos comestíveis vão parar em aterros sanitários, o que representa um valor anual de 23 bilhões de libras. Aproximadamente, um terço desses 18 milhões de toneladas é proveniente da produção, um terço da comercialização e um terço é proveniente do lixo doméstico, ou seja, dos próprios consumidores. 60% do lixo doméstico descartado poderiam ser consumidos. Os britânicos ainda perdem cerca de um quinto de todos os alimentos comprados. A quantidade de lixo orgânico custa £680 libras por ano ou £50 libras por mês para uma família média com crianças. A palavra lixo, aqui, pode causar alguma confusão, se percebemos lixo como aquilo que não presta mais. Portanto, a expressão ‘resíduos orgânicos’ é mais adequada, pois estes englobam alimentos que não podem mais ser consumidos e alimentos que ainda poderiam ser mas foram descartados em perfeito estado para consumo humano.
Esses dados tornam-se surreais quando, aqui no Reino Unido, segundo uma recente pesquisa, descobriu-se que em cada escola britânica temos duas crianças famintas. Esses números representam um milhão de crianças famintas nas ruas britânicas. Para ter-se uma ideia concreta da problemática do desperdício de alimentos, todos os dias, aqui, são descartados 1.6 milhão de bananas inteiras e intocadas; 1.3 milhão de iogurtes fechados; 600.000 ovos inteiros; 1.2 milhão de salsichas intocadas; 20 milhões de fatias de pão; 860 mil toneladas de legumes frescos e saladas (o que representa £1,4 bilhões de libras); 500.000 toneladas de artigos para preparar massas, como farinha; 660.000 toneladas de refeições caseiras e pré-preparados, representando £2,1 bilhões de libras; £280 milhões de libras no valor correspondente ao leite jogado fora e £190 milhões de libras no valor de sucos de frutas. Esses são alguns exemplos de alimentos saudáveis, pois estão incluídos nessa lista sem fim os alimentos enlatados, refrigerantes, doces, etc.
Uma pesquisa realizada pela WRAP, organização social de visibilidade nacional, que trabalha com projetos de prevenção de resíduos, mostrou que nos últimos três anos, a quantidade de resíduos orgânicos domésticos diminuiu 13% (a estimativa dessa análise é feita com base na quantidade de lixo orgânico descartado por cada residência). Contudo, devemos considerar que essa queda sofreu uma influência da crise econômica. Para termos uma ideia dos números apresentados pela WRAP, em 2006/2007, a quantidade de resíduos orgânicos domésticos dispensados enchia 10 estádios de futebol. Na última pesquisa, esse número baixou para nove. Essa redução representou para as subprefeituras uma economia de £80 milhões de libras por ano, isso porque as subprefeituras pagam uma taxa altíssima por tonelada de resíduo destinado aos aterros sanitários. Com a diminuição de resíduos orgânicos, menos toneladas de resíduos urbanos foram parar nos aterros. Porem, durante esses anos, devido a políticas públicas de gestão de resíduos e reciclagem, mais materiais são reciclados, inclusive os resíduos orgânicos. O que antes era destinado ao aterro, hoje se transforma em adubo para os parques das cidades.
Economia a parte, no tocante ao impacto ambiental proveniente do descarte de resíduos orgânicos, um novo estudo realizado pela WWF em pareceria com a WRAP, lançado no começo desse ano, mostrou que o resíduo orgânico contribui com 3% das emissões nacionais de gases de efeito estufa. Além disso, o relatório constatou que a quantidade de água necessária para produzir alimentos, que são desperdiçados, corresponde a 6.2 bilhões de metros cúbicos, ou o equivalente a 6% da água que o Reino Unido necessita para abastecer sua indústria ou agricultura. Mais de 5% da água utilizada no Reino Unido é desperdiçada na forma de restos de comida.
Desperdiçamos o dobro da água que necessitamos, somente através da água utilizada para lavar os alimentos e preparar as refeições que serão descartadas. O quadro ainda e pior se considerarmos que a maioria dos alimentos consumidos no Reino Unido vem de países que sofrem com a escassez de água é escassa, ou seja, os alimentos que descartamos têm um impacto “oculto” no esgotamento dos valiosos recursos hídricos desses países. Ativistas ambientais vêm pedindo mais atenção para o desperdício da água “oculta” ou “incorporada” na produção de alimentos que são descartados, representando também um custo “escondido” sobre as exportações.
Hoje, devido as mudanças climáticas, mais países sofrem com a escassez de água e as exportações podem ainda esgotar seus recursos naturais e causar problemas ambientais como a salinização, causando a inutilização da terra já que a mesma torna-se imprópria para o cultivo. Gera também a elevação do preço da água, atingindo, principalmente os consumidores mais pobres. Estes números são surpreendentes e muito embora as emissões de gases de efeito estufa têm sido amplamente discutidas, a água utilizada para a produção de alimentos e bebidas desperdiçada, ate recentemente, vinha sendo ignorada.
No entanto, a crescente preocupação, com a disponibilidade de água no Reino Unido e a segurança do abastecimento de alimentos, significa ser vital entendermos as conexões entre o desperdício de alimentos, água e mudanças climáticas. De acordo com o relatório da WWF, essas quantidades estão diminuindo. Essa queda e resultado das políticas públicas de gestão de resíduos e reciclagem, além de fortes campanhas sociais que informam os consumidores sobre seus hábitos alimentares e os problemas ambientais que eles geram.
Contudo, somos nós consumidores que podemos fazer uma pequena, mas muito significativa, contribuição, evitando o desperdício do alimento e da água necessários para a sobrevivência de todos os seres que habitam o Planeta Terra. (EcoDebate)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mudanças no clima podem matar 100 mi até 2030

Relatório alerta que, sem ações concretas, mudanças no clima podem matar 100 mi até 2030
Custo para adotar uma economia de baixo carbono é estimado em cerca de 0,5% do PIB mundial
Mais de 100 milhões de pessoas vão morrer e o crescimento econômico global será reduzido em 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2030 se o mundo fracassar no combate às mudanças climáticas, alertou um relatório encomendado por 20 governos divulgado nesta quarta-feira.
À medida que as temperaturas médias globais sobem devido às emissões de gases de efeito estufa, as consequências sobre o planeta, tais como derretimento de calotas de gelo, condições meteorológicas extremas, secas e elevação dos mares, vão ameaçar populações e meios de subsistência, disse o relatório conduzido pela organização humanitária DARA (daraint.org/).
O órgão calculou que 5 milhões de mortes ocorrem a cada ano devido à poluição do ar, fome e doenças como resultado das mudanças climáticas e das economias com uso intenso de carbono, e esse número provavelmente vai subir para 6 milhões por ano até 2030 se os atuais padrões de uso de combustíveis fósseis continuar.
Mais de 90% dessas mortes ocorrerão nos países em desenvolvimento, apontou o relatório, que calculou o impacto humano e econômico da mudança climática em 184 países em 2010 e 2030. O documento foi encomendado pelo Fórum Clima Vulnerável, uma parceria de 20 países em desenvolvimento ameaçados pela mudança climática.
“Uma crise combinada carbono-climática deve custar 100 milhões de vidas entre agora e o final da próxima década”, disse o relatório.
O documento afirmou ainda que os efeitos da mudança climática tinham reduzido a produção global em 1,6% do PIB mundial, ou US$ 1,2 trilhão por ano. As perdas poderiam dobrar para 3,2% do PIB mundial até 2030 se for permitido que as temperaturas globais subam, ultrapassando 10% por cento antes de 2100.
O custo de mudar o mundo para uma economia de baixo uso de carbono é estimado em cerca de 0,5% do PIB nesta década.
Contando o custo
Em resposta ao relatório, a Oxfam Internacional disse que os custos de uma falta de ação política sobre o clima são “surpreendentes”.
“As perdas para a agricultura e a pesca sozinhas podem chegar a mais de US$ 500 bilhões por ano até 2030, fortemente concentradas nos países mais pobres, onde milhões dependem desses setores para ganhar a vida”, disse o diretor-executivo Jeremy Hobbs.
As temperaturas já subiram cerca de 0,8 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. Quase 200 nações concordaram em 2010 em limitar o aumento da temperatura média global a menos de 2 graus Celsius para evitar os impactos perigosos das mudanças climáticas.
Mas cientistas do clima alertam que a chance de limitar o aumento para menos de 2 graus está ficando menor à medida que as emissões globais de gases de efeito estufa aumentam devido à queima de combustíveis fósseis.
As nações mais pobres são as mais vulneráveis, pois enfrentam maior risco de seca, escassez de água, quebra de safra, pobreza e doenças. Em média, elas podem ver uma perda de 11% do PIB até 2030 devido às alterações climáticas, afirmou a DARA.
“Um grau Celsius de aumento da temperatura está associado com perda de 10% da produtividade na agricultura. Para nós, isso significa perder cerca de 4 milhões de toneladas de grãos de alimentos, representando em torno de US$ 2,5 bilhões. Isso é cerca de 2% do nosso PIB”, disse o primeiro-ministro de Bangladesh, xeique Hasina, em resposta ao relatório. (EcoDebate)

Mudanças Climáticas e os ‘céticos

Por incrível que pareça, estamos atravessando, neste início do século 21, uma onda de obscurantismo cultural e científico sem precedentes. Ela tem origem, principalmente, nos Estados Unidos, mas está se propagando pelo restante do mundo.
Ao mesmo tempo em que os físicos estão conseguindo desvendar os mistérios da natureza com a descoberta do bóson de Higgs – “a partícula de Deus” -, a cientologia avança nos Estados Unidos e a teoria da evolução de Darwin é questionada nas escolas de vários Estados daquele país.
Algumas dessas crenças têm origem em pequenos grupos religiosos retrógrados que exploram a boa-fé de pessoas de baixo nível educacional, mas outras têm, claramente, motivações mais perversas e até interesses comerciais. A cientologia, em particular, é considerada uma religião nos Estados Unidos, sendo, portanto, isenta do pagamento de impostos. Alguns de seus ensinamentos atingem o nível do absurdo ao afirmarem que bilhões de seres de outras galáxias se apossaram dos seres humanos há dezenas de milhões de anos, quando ainda nem havia seres humanos, e continuam neles até hoje.
O que elas todas têm em comum, contudo, é o completo desconhecimento do que é ciência. Isso é o que está ocorrendo no momento também com os “céticos” que questionam o fato notório de que a ação do homem está provocando o aquecimento do planeta.
As bases científicas do aquecimento da Terra são simples: desde o início da Revolução Industrial, no início do século 19, os seres humanos passaram a consumir quantidades crescentes de combustíveis fósseis – carvão mineral, petróleo e gás natural -, cujo resultado é a produção de um gás, o dióxido de carbono (CO2), que é lançado na atmosfera, onde permanece por um longo período de tempo. Sucede que esse gás é transparente e deixa a luz solar passar, atingindo o solo e aquecendo-o. O normal seria esse calor voltar para o espaço, porém isso não ocorre porque o dióxido de carbono não deixa o calor passar e voltar para o espaço. Com isso, todo o nosso planeta está ficando mais quente, como se verifica numa estufa onde se criam rosas ou vegetais no inverno.
Há muitas outras causas conhecidas para o aquecimento global, como as manchas solares, a inclinação do eixo da Terra, as erupções vulcânicas, etc. De fato, ao longo da existência do planeta – que se estende por bilhões de anos – houve grandes variações na temperatura e elas são bem entendidas pelos geólogos.
Acontece que, sobrepondo-se a essas causas naturais do aquecimento, existe a ação do homem, que consome combustíveis fósseis e lança gases na atmosfera. Esse fenômeno tem sido estudado por um grande número de cientistas há mais de 50 anos.
Para entender o que aconteceu até agora e tentar prever o que vai acontecer nas próximas décadas os cientistas construíram modelos de como o clima da Terra se comporta à medida que o tempo passa e a atmosfera se modifica com mais dióxido de carbono, originado da queima dos citados combustíveis fósseis. Nesses modelos, o que se faz é relacionar causa e efeito, que é a maneira como a ciência funciona. A causa é a presença de maiores quantidades de gases na atmosfera e o efeito, o aquecimento resultante do nosso planeta.
Há incertezas nas previsões científicas, mas com o passar do tempo elas estão ficando cada vez mais confiáveis e precisas. Por exemplo, James Lovelock, ídolo dos ambientalistas por suas ideias sobre a “hipótese Gaia” – que considera a Terra toda com características de um ser vivo -, não questiona a realidade do aquecimento global como resultado da ação do homem, mas sim a necessidade de mais pesquisa sobre o tema.
É contra essas evidências que se manifestam os “céticos”, cuja motivação não é clara. Alguns o fazem para atrair a atenção do público e outros podem estar sendo estimulados pelas indústrias que serão prejudicadas caso seja limitado o uso de combustíveis fósseis, que tem sido proposto por vários países.
Esses “céticos” não adotam o método científico ao fazerem as suas críticas. Eles simplesmente emitem opiniões e previsões esdrúxulas, como a de que a Terra estaria passando por um processo de resfriamento, em lugar de se aquecer, num futuro que eles não especificam. Cartomantes podem fazer isso, mas não cientistas.
Os “céticos”, a maioria deles sem formação científica na área de mudanças climáticas, conseguiram notoriedade nos Estados Unidos publicando artigos no Wall Street Journal (!). Alguns jornalistas mal informados frequentemente dão grande cobertura a essas pessoas porque elas provocam controvérsias que atraem os leitores. Para alguns, é considerado bom jornalismo que “se ouçam os dois lados”, o que é válido para muitos outros assuntos, como, por exemplo, a descriminalização da maconha ou as vantagens da introdução da pena capital para crimes hediondos, em relação aos quais existem opiniões divergentes.
Sucede que no caso do aquecimento global não há “dois lados”: o que existe são previsões científicas baseadas na ciência que conhecemos, que podem não ser perfeitas – como é todo o conhecimento científico -, mas têm avançado muito. O “outro lado”, de modo geral, utiliza informações pseudocientíficas, ou simplesmente dúvidas lançadas ao vento que não podem ser respondidas sem uma argumentação científica que não é adequada para programas populares.
Opiniões pessoais ou crenças religiosas devem ser respeitadas, mas argumentos incorretos que prejudicam a adoção de políticas públicas importantes – como as de prevenir o aquecimento da Terra reduzindo o consumo de combustíveis fósseis – são perniciosos e não atendem ao interesse público. (EcoDebate)

Mudança do clima fortalece parasitas

Exposição de anfíbios a variações bruscas de temperatura diminuiu resistência a infecções
A mudança climática pode tornar parasitas mais perigosos, segundo cientistas. É a conclusão de uma pesquisa que registrou maior incidência de infecção por fungos parasitários em pererecas expostas a mudanças bruscas de temperatura.
Por serem menores e crescerem mais rápido, os parasitas podem se adaptar com mais agilidade às mudanças climáticas que os seus hospedeiros, afirmam os pesquisadores.
"Um aumento na variação do clima provavelmente torna mais fácil para um parasita infectar seu hospedeiro. E achamos que pode também exacerbar os efeitos de algumas doenças", afirmou o biólogo Thomas Raffel, da Universidade de Oakland, na Califórnia. Ele é um dos autores da pesquisa, feita em colaboração com a Universidade do Sul da Flórida, publicada na edição de hoje da revista Nature Climate Change.
De acordo com especialistas ligados à Organização das Nações Unidas (ONU), o aquecimento global deve aumentar as variações bruscas de temperatura, além de causar problemas como ondas de calor, enchentes, tempestades, incêndios e secas.
"Poucos estudos consideraram os efeitos da variação do clima nas enfermidades, apesar de ser provável que tanto hospedeiros como parasitas apresentem respostas diferentes durante mudanças climáticas", escreveram os pesquisadores.
Em seu experimento, eles colocaram pererecas-cubanas (Osteopilus septentrionalis) em 80 incubadoras com temperaturas variáveis e as expuseram ao fungo Batrachochytrium dendrobatidis, que ataca a pele de anfíbios e geralmente é fatal.
Em um dos testes, eles observaram que pererecas mantidas por quatro semanas sob a temperatura de 25°C sofriam muito mais infecções quando eram transportadas para incubadoras a 15°C, em comparação com os anfíbios que já estavam acostumados a viver sob 15°C.
Em outra experiência, os animais foram expostos a variações diárias de 15°C a 25°C, comuns no Hemisfério Norte do dia para a noite. Observou-se que esses animais tinham uma resistência muito maior ao fungo.
Baseado em fatores como tamanho, expectativa de vida e metabolismo, os cientistas afirmam que as pererecas-cubanas demoram cerca de dez vezes mais tempo para se adaptar a mudanças inesperadas de temperatura que o fungo.
Segundo Raffel, mais testes com outros tipos de parasitas e hospedeiros são necessários para confirmar as descobertas. Mas ele especula que animais de sangue frio, como peixes, répteis e insetos, podem ser mais suscetíveis a parasitas durante mudanças de temperatura que os pássaros e os mamíferos, que têm sangue quente. (OESP)

Diagnósticos e recomendações sobre riscos

Extremos Climáticos: Pesquisadores fazem diagnósticos e recomendações sobre a gestão de riscos

Nova Friburgo, 2011
Interface entre cientistas e governos é prioridade para gestão de desastres – A fim de aprimorar a gestão de riscos de extremos climáticos e desastres, é preciso aprimorar o diálogo entre cientistas e tomadores de decisão – especialmente com as autoridades locais – e obter participação mais ativa dos governos na avaliação de vulnerabilidades e em iniciativas de adaptação.
Essas recomendações fazem parte do diagnóstico produzido por cientistas e gestores durante o workshop “Gestão dos riscos dos extremos climáticos e desastres na América Central e na América do Sul – o que podemos aprender com o Relatório Especial do IPCC sobre extremos?”, realizado na semana passada na capital paulista.
O evento discutiu as conclusões do Relatório Especial sobre Gestão dos Riscos de Extremos Climáticos e Desastres (SREX, na sigla em inglês) – elaborado e recentemente publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – e as opções para gerenciamento dos impactos dos extremos climáticos, especialmente nas Américas do Sul e Central.
O workshop foi realizado pela FAPESP e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em parceria com o IPCC, o Overseas Development Institute (ODI) e a Climate and Development Knowledge (CKDN), ambos do Reino Unido, e apoio da Agência de Clima e Poluição do Ministério de Relações Exteriores da Noruega.
Depois de dois dias de debates, os participantes se dividiram em grupos de trabalho que sintetizaram as conclusões das discussões. Segundo o pesquisador do INPE José Marengo – coordenador do evento e membro do comitê organizador do IPCC-SREX –, um dos principais consensos entre os grupos foi a necessidade urgente de levar informação climática aos tomadores de decisão e à população.
“Ficou claro que a interface com os gestores e com as comunidades locais é um ponto crítico. Há muito ruído nessa comunicação. Apareceram discussões, por exemplo, sobre termos como ‘incerteza’, que é derivado da área de modelagem climática e cujo conceito nós cientistas compreendemos, mas que não foi traduzido adequadamente para o público”, disse Marengo à Agência FAPESP.
A necessidade de participação mais ativa dos governos em tomadas de decisão relacionadas a questões como vulnerabilidade e adaptação também foi destacada por Marengo.
“O papel do IPCC é produzir subsídios científicos, mas o Painel não pode interferir na realidade nacional, isso cabe aos governos. Entretanto, os governos se mostram pouco preparados e continuam sendo pegos de surpresa por eventos meteorológicos que estão aumentando em frequência e intensidade, como mostram os relatórios, e deverão aumentar ainda mais no futuro”, disse.
Segundo Marengo, muitas vezes há recursos para mapeamento de risco e remoção de população em áreas vulneráveis, mas eles acabam sendo transferidos para outras áreas.
“Isso mostra uma falha no nosso diálogo com os governos locais. Não é segredo que o clima está mudando e todos os anos pessoas morrem por conta de desastres que poderiam ser evitados se esses recursos fossem aplicados”, afirmou.
Marengo destaca que a ciência climática é fundamentalmente interdisciplinar e a elaboração do SREX mostrou que cientistas de áreas como física e meteorologia conseguem trabalhar de forma muito satisfatória em colaboração com os cientistas sociais.
“A elaboração do SREX teve a participação de mais de 1.500 cientistas de todas as áreas e mostrou que a interação com os cientistas sociais é viável e produtiva. Uma das conclusões é que os cientistas sociais são os que melhor conseguem transmitir a linguagem técnica e científica, de forma compreensível, para os tomadores de decisão e para as comunidades. Temos que aproveitar melhor essa competência”, disse.
Os grupos de trabalho concluíram também que é preciso integrar ações de governos locais e estados, melhorando a comunicação entre a comunidade científica e as autoridades locais, dando mais acesso às informações sobre o clima. “As comunidades locais muitas vezes necessitam de informações e não sabem onde procurar”, disse Marengo.
Os pesquisadores também detectaram a necessidade de aumentar o financiamento de estudos sobre mudanças climáticas, com apoio de instituições governamentais e não governamentais. Os grupos recomendaram ainda o fortalecimento das instituições locais de gerenciamento de risco. “Não é preciso criar novas instituições, mas fortalecer as que já existem”, afirmou.
Melhorar o sistema educacional e a formação de profissionais dedicados às questões relacionadas às mudanças climáticas foi outra recomendação. Outro aspecto diagnosticado é que os sistemas nacionais capazes de lidar com os desafios dos eventos extremos não estão integrados de forma adequada: há necessidade de se estabelecer diretrizes em diferentes níveis de governo.
Os grupos detectaram também que não há ações para estabelecer políticas, orçamentos e planos de longo prazo. A recomendação é que os orçamentos para lidar com desastres naturais deveriam ser desconectados de mandatos eleitorais curtos, a fim de estabelecer políticas de Estado, de longo prazo.
Os governos locais muitas vezes, de acordo com os especialistas, trabalham apenas com situações de emergência e não com prevenção de riscos e vulnerabilidades. Há falta de integração das instituições em diferentes níveis de governo. A falta de planejamento urbano também foi apontada como um problema crítico para a gestão de desastres.
Os especialistas recomendaram, ainda, que os conselhos regionais voltados para questões ambientais sejam integrados à defesa civil, ao sistema de saúde e à academia.
Foi detectada também a necessidade de fornecer às comunidades informação mais integrada – e menos fragmentada – sobre os riscos e vulnerabilidades. Foi sugerido também que os sistemas de defesa civil descartem o paradigma reativo existente e atuem mais na prevenção de situações emergenciais. (EcoDebate)

domingo, 21 de outubro de 2012

Concreto elaborado de reciclagem de materiais

Novo concreto é elaborado a partir da reciclagem de materiais descartados de indústrias e construções
O produto pode ser usado em guias, mobiliário urbano, contrapisos e calçadas
Concreto idealizado pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP em São Carlos substitui os materiais tradicionais que o compõem por componentes reaproveitados. A areia de fundição (utilizada em moldes nos processos de fundição de peças metálicas) substitui 70% da areia normalmente utilizada, e a escória de aciaria (resíduo que sobra da produção do aço) substitui 100% da pedra. “O produto se utiliza de resíduos sólidos industriais, fazendo uma reciclagem e dando uma nova utilização para eles, o que propicia a economia de recursos naturais”, diz o engenheiro de materiais Javier Mazariegos Pablos. O produto pode ser usado em guias, mobiliário urbano e na execução de contrapisos e calçadas.
Além disso, esses resíduos não poderiam sofrer descarte comum, pois são nocivos ao meio ambiente. Só podem ser dispostos em aterros industriais específicos, a um custo bastante elevado (cerca de R$200,00 a tonelada). “Essa nova finalidade evita o descarte dos materiais e, consequentemente, esse custo que as indústrias teriam.” Inicialmente, o novo concreto foi utilizado para a fabricação de peças para pavimentação.
O novo concreto começou a ser pensado por volta de 2008, quando Pablos se tornou professor do Departamento de Arquitetura, no IAU. Ele levou essa pesquisa para o Grupo de Estudos ArqTeMa – Arquitetura, Tecnologia e Materiais, onde conseguiu a parceria com os professores Osney Pellegrino e Eduvaldo Sichieri.
O material já tem um número provisório de patente. O registro é concedido pelo órgão governamental Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A partir de agora, eles vão verificar em todo o mundo se já existe algum outro produto com essas mesmas características. Se for verificado que não, o concreto receberá a patente definitiva. “Esperamos que ela saia em mais dois ou três meses”, diz o engenheiro.
Comercialização
A ideia do grupo é levar o concreto para a sociedade, torná-lo um produto comercial, indo além da concepção acadêmica. “Quando você faz uma patente, você tem uma responsabilidade. Não é só gerar o produto, mas viabilizar a aplicação dele no mercado”, diz Pablos, que ressalta a figura da universidade pública nesse processo. “Isso teve um custo para a universidade, além de haver um custo para a manutenção da patente. Para fazer isso valer, o produto tem de ser comercializado”.
Em casos que geram patentes, a USP fica com 50% de seu valor e os autores com os outros 50%. O grupo se articula para colocar o plano em prática, estabelecendo contato com empresas e indústrias que podem vir a se interessar em comprar o concreto na fabricação de elementos para a construção civil, como peças para pavimentação, guias, blocos para alvenaria de vedação, mobiliário urbano, além de poder ser aplicado na execução de contrapisos e calçadas. O preço do novo material é um atrativo, pois deve vir a ser menor do que os materiais similares já no mercado. Nesse processo, o grupo recebe a ajuda da Agência USP de Inovação, núcleo de inovação tecnológica da USP que visa promover a utilização do conhecimento científico e tecnológico produzido na universidade, levando-a para os mais diversos meios da sociedade.
O que diferencia esse concreto dos demais presentes no mercado é seu viés ecológico. Ele se utiliza de materiais reciclados, que teriam de ser descartados de maneira específica, porque podem ser nocivos ao meio ambiente. Com isso, esses produtos substituem as matérias-primas que seriam necessárias para a concepção do concreto, ou seja, há menos exploração de materiais naturais. “A questão da preservação do meio ambiente é muito importante e ela esteve presente na idealização desse novo produto”, finaliza Pablos. (EcoDebate)

O lixo atrapalha, mas não é o vilão das enchentes

O lixo urbano irregularmente lançado ou disposto tem sido apontado por um sem número de vozes como o responsável maior pelas enchentes. Essa tese tem sido insistentemente sustentada por autoridades públicas, com acrítica aceitação por boa parte da mídia e, pasmem, pela própria população de nossas cidades.
No entanto, como veremos, é uma tese perigosa e equivocada que, ao espertamente jogar à população, por conseqüência de uma sua eventual falta de educação, a culpa pelas enchentes, desvia o foco das atenções, subtrai a importância das verdadeiras maiores causas e alivia a responsabilidade dos seguidos governos que não as atacam devidamente.
As enchentes urbanas são explicadas pelo incrível aumento do volume de águas de chuva que aflui, em tempos sucessivamente menores, para um sistema de drenagem (córregos, rios, bueiros, galerias, canais…) progressivamente incapaz de lhe dar a devida vazão.
Esse aumento do volume de água e a redução do tempo em que chega às drenagens são promovidos essencialmente pela impermeabilização do solo urbano e pela cultura de canalização e retificação de drenagens naturais.
Como um enorme agravante a esse quadro, considere-se ainda o fantástico grau de assoreamento dessas drenagens por sedimentos provenientes dos intensos processos erosivos que ocorrem particularmente nas faixas periféricas de expansão da cidade. Esse assoreamento acaba por reduzir ainda mais a já comprometida capacidade de vazão de toda a rede drenagem.
Ou se ataca essa questão, através de medidas que recuperem ao máximo a capacidade da cidade em reter as águas de chuva, seja por infiltração, seja por acumulação (pequenos reservatórios domésticos e empresariais, calçadas, valetas e pátios drenantes, bosques florestados e arborização intensa, etc,), ou nunca nos livraremos do flagelo das enchentes. As bilionárias obras de alargamento e aprofundamento das calhas de nossos rios principais são necessárias, mas a realidade mostra que são insuficientes e já se aproximam de seu limite de benefícios.
O lixo? Claro que o lixo é um fator complicante, e seu lançamento irregular deve ser combatido de todas as formas. Mas seus efeitos principais são para um tipo de enchente muito localizado, junto às proximidades de um bueiro obstruído ou em uma situação que exija o funcionamento de bombas de sucção, por exemplo. Vejam que nas cenas televisadas de enchentes é muito mais comum ver-se água jorrando dos bueiros e bocas de lobo do que sendo impedida de entrar. Essas águas que jorram são o retorno das águas para as quais as galerias e córregos não conseguem dar a devida vazão.
Por outro lado, é importante considerar que do volume total do material de assoreamento das drenagens 90% são constituídos por sedimentos provenientes dos processos erosivos nas frentes de expansão das cidades, e apenas 10% são constituídos por lixo urbano e entulho de construção civil.
Note-se ainda que muito provavelmente apenas uma pequena parte do lixo disperso nas drenagens da cidade seria proveniente do ato deseducado de se lançá-lo irregularmente, há problemas ainda bem sérios de deficiências de recolhimento do lixo doméstico, especialmente em áreas habitacionais irregulares de baixa renda.
Enfim, o sucesso de um programa de combate às enchentes exige, antes de mais nada, a compreensão exata de toda a dinâmica causal do fenômeno, assim como a corajosa decisão das autoridades públicas e privadas em assumir suas intrínsecas responsabilidades. O que não condiz com a comodidade de se jogar às costas da população a culpa pelos problemas. (EcoDebate)

Reciclagem brasileira é menos de 2% do potencial

Especialista diz que reciclagem no Brasil alcança menos de 2% de todo o potencial
O Brasil ainda tem 4 mil lixões e apenas 30% a 40% do lixo total coletado no país são dispostos em aterros sanitários adequados. Além disso, a reciclagem é muito baixa no Brasil, segundo avalia o secretário da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), Antonio Simões Garcia. Ele informou que os serviços de aproveitamento de material descartado não transformam no país sequer 2% do volume que pode ser reciclado.
À Agência Brasil, Garcia disse que estão “muito próximos da realidade” os números divulgados em 14/09/12 na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo os quais apenas 40% do lixo separado dentro de casa pelos brasileiros são coletados seletivamente ao chegarem na rua.
Alex Cardoso, da coordenação nacional do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), acrescentou que, do total de lixões ainda existentes no Brasil, 1,7 mil estão na Região Nordeste. “Chega a ter cidades com dois lixões”, informou. O MNCR avalia que há grande mobilização da sociedade em torno da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que exige a coleta seletiva para municípios com mais de 30 mil habitantes.
Na avaliação de Cardoso, no entanto, esse processo ainda é “tímido” no Brasil, “porque a política já tem dois anos e cerca de 40% dos municípios brasileiros ainda têm lixões e não dispõem de sistema de coleta seletiva”. O integrante do MNCR lembra que, até 2014, os lixões terão que ser desativados. Segundo ele, com a implantação da coleta seletiva e a desativação dos lixões, haverá também a inclusão dos catadores.
O MNCR está preocupado com a disposição de alguns municípios de incinerar os resíduos para geração de energia. Alex Cardoso avaliou que essa é uma atividade negativa. Além de ser uma tecnologia cara, não inclui os catadores e é prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente, na medida em que libera gases causadores do efeito estufa.
Rita Sairi Kogachi Cortez, técnica do Instituto Gea, disse à Agência Brasil que o avanço do país em coleta do lixo “é muito pequeno em relação ao número de resíduos gerados”. Ela ponderou, contudo, que o “despertar” da população está ocorrendo, porque as pessoas se mostram interessadas em participar cada vez mais do processo de separar o seu lixo.
Segundo ela, é necessário que se criem mais coletas e mais cooperativas de catadores, “para que a coisa possa caminhar melhor no Brasil”. O Instituto Gea é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que tem entre as finalidades assessorar a população a implantar programas de coleta seletiva de lixo e reciclagem.
A defesa dessa estratégia é compartilhada por André Vilhena, diretor do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), associação sem fins lucrativos dedicada à promoção da reciclagem com base no conceito de gerenciamento integrado do lixo. Disse que, nos últimos dois anos, desde a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, “houve um incremento significativo [das atividades de reciclagem], mas ainda muito longe do desejado”.
Vilhena comentou que, nesse período, cresceu o número de prefeituras oferecendo serviço de coleta seletiva ou ampliando o serviço onde já existia. O problema para a desativação dos lixões, segundo ele, é que a população brasileira se concentra nos grandes centros, em especial próximos ao litoral. “Se nós conseguirmos avançar nessas regiões de maior densidade populacional, com certeza nós vamos equacionar boa parte do problema”.
O diretor do Cempre disse que, para ter todo o território com a situação equacionada, existe a possibilidade de os municípios serem apoiados, por meio de financiamento do governo federal, para a formação de consórcios que vão elaborar os planos de resíduos e construir os aterros sanitários.
Segundo o diretor do Cempre, se forem formados 450 consórcios no Brasil, a questão será resolvida, “porque, em alguns estados, um aterro sanitário pode atender até 150 municípios”. Para ele, a solução é a melhor também pelo ponto de vista econômico. “Não faz sentido você ter um aterro sanitário para municípios com 10 mil ou 15 mil habitantes”. (EcoDebate)

Lixo brasileiro não é separado de forma seletiva

Grande parte do lixo separado pelo brasileiro não é coletada de forma seletiva
Praticamente três entre dez domicílios brasileiros (29,7%) separam o lixo biodegradável do não degradável. No entanto, apenas 40% desse lixo separado dentro de casa são posteriormente coletados de forma coletiva quando chega à rua. Isso mostra que muitos brasileiros separam seus resíduos dentro de casa, mas depois grande parte deles é misturada ao lixo comum.
Os dados constam na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 – Perfil das Despesas do Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Região Sul é aquela que apresenta os melhores indicadores. Lá, 59,9% dos domicílios separam o lixo e 55,6% desses resíduos são coletados de forma seletiva. “A Região Sul está bem acima da média nacional, de 29,7%”, explica o pesquisador do IBGE José Mauro Freitas.
Em outro extremo, aparece a Região Norte, onde 6,6% dos domicílios separam o lixo biodegradável do não degradável e 16,8% desse resíduo são coletados seletivamente, segundo a pesquisa do IBGE.
O IBGE também observou a quantidade de lixo que é coletada, queimada ou enterrada no próprio terreno da família. No Brasil, a média do lixo coletado chega a 80,7%; os restos queimados ou enterrados, a 10,2%.
A discrepância é grande entre a cidade e o campo. Na área urbana, 91,1% do lixo são coletados e 1,5%, queimados ou enterrados na propriedade. Na área rural, os percentuais são, respectivamente, 24,4% e 57,7%.
Entre os estados, o Maranhão é o que tem o menor índice de lixo coletado (51,1%) e o com maior percentual de resíduos queimados ou enterrados (33,4%). Já São Paulo tem o perfil oposto: 94,5% do lixo são coletados e 1,7% são queimado ou enterrado.
A pesquisa mostrou ainda a quantidade de domicílios que têm água encanada aquecida. Três em cada quatro residências contam com algum tipo de aquecimento. Além disso, 70% das casas com água encanada recorrem à energia elétrica para aquecer a água. (EcoDebate)

Resíduos Sólidos de Shoppings Centers

O Shopping do Méier no RJ inaugurado em 1963 foi o primeiro no Brasil, seguido pelo Shopping Iguatemi de SP em 1966. No entanto, há uma controvérsia sobre qual foi o primeiro com as características próprias destas organizações. Em 2010 existiam 766 shoppings centers em operação e mais 124 em construção no país. As regiões Sudeste e Sul são as que concentram mais empreendimentos, sendo os estados de São Paulo com 96, Rio de Janeiro com 78, Minas Gerais com 51 e Rio Grande do Sul com 49 os quatro primeiros. Nas capitais, São Paulo com 53, Rio de Janeiro com 31, Belo Horizonte com 20 e Porto Alegre com 15 são as principais sedes. No Distrito Federal existem 33 unidades, sendo 12 em Brasília. A organização que representa estes estabelecimentos é a Associação Brasileira de Shoppings Centers – Abrasce que informa a inauguração em 2011 de 22 unidades no país.
A ampliação constante dos shoppings no Brasil está relacionada com as comodidades de acesso a vários ramos de atividades concentrados em um mesmo local com amplos estacionamentos, áreas de lazer, alimentação e segurança para os consumidores. Esta concentração de atividades diversificadas e pessoas circulando gera resíduos com diversas origens: cargas e descargas, recebimento das mercadorias pelas lojas, administração, oficinas e manutenção, construções e reparos, substituição de equipamentos, embalagens de produtos de limpeza, estacionamentos, áreas de circulação, comercialização de produtos e serviços, áreas de alimentação. Quanto mais diversificadas as atividades, maior a heterogeneidade dos resíduos sólidos gerados. Quanto aos tipos de resíduos, também existe uma ampla variedade: plásticos diversos (PEAD, PEBD, PP, PS, PET, PVC, etc), papelões e papéis, resíduos orgânicos, metais, vidros, resíduos de construção civil, resíduos de limpezas, varrição, podas e capinas, embalagens e restos de tintas e solventes, equipamentos eletrônicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes e outros de acordo com as características específicas de cada empreendimento.
Com a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010 e Decreto 7.404/2010) os shoppings centers precisam adequar-se e adotarem o planejamento da gestão e gerenciamento dos seus resíduos através da elaboração de plano de gerenciamento de resíduos sólidos que possibilitem a redução, reutilização, reciclagem e destino final ambientalmente adequado, inclusive dos resíduos perigosos e/ou sujeitos aos processos de logística reversa. Para que os planos de resíduos sejam adequados e funcionais é indispensável que considerem além das especificidades próprias, a integração, capacitação e treinamento dos recursos humanos responsáveis. A identificação das atividades geradoras e da composição gravimétrica dos resíduos, assim como sua classificação em acordo com a NBR 10004/2004 (resíduos perigosos: Classe I; resíduos não perigosos: Classe II-A – não inertes; Classe II-B – inertes) é essencial ao planejamento adequado.
O diagnóstico e a identificação da composição gravimétrica dos resíduos gerados possibilita identificarem-se quais as adaptações necessárias na infraestrutura para facilitar a disposição temporária, recolha interna, acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte e destino finais adequados. De modo geral são indispensáveis investimentos em mobiliários internos e externos, contêineres de vários tamanhos e usos, adequações espaciais, reformas dos cais de armazenamento, organização do transporte interno, câmaras frias, capacitação e treinamento de recursos humanos, assim como uma rigorosa análise da conformidade do destino final dos resíduos. Uma observação indispensável é que a maioria dos shoppings centers e supermercados não foram planejados com uma infraestrutura adequada para o gerenciamento eficiente dos resíduos sólidos produzidos, porque suas construções são anteriores aos instrumentos de gestão institucionalizados atualmente no país como a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, diversas normatizações da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, instruções normativas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA.
A composição gravimétrica também vai depender do tipo de shopping center analisado, já que existem diversas formas em que esta atividade se organiza: tradicionais, fabricantes, temáticos, rotativos, atacados, comunitários. A área ocupada também é outro fator que interfere, pois logicamente a produção é maior nos empreendimentos mais amplos, com maior número de atividades ou concentração de atividades específicas em grande escala. A caracterização é importante também para a avaliação das possibilidades econômicas e da instalação de uma central de triagem dos resíduos recicláveis que podem ser comercializados e desta forma contribuir para os recursos financeiros da administração. Outra alternativa é a formação de parcerias com associações ou cooperativas de trabalhadores com materiais recicláveis que efetuam o recolhimento periódico dos resíduos recicláveis armazenados. Os resíduos orgânicos podem ser encaminhados para compostagem em empresas ou associações que realizem esta atividade, assim como os óleos usados podem ser comercializados para a fabricação de combustíveis ou sabões.
A padronização do mobiliário é essencial e deve ser adequada às características do estabelecimento, principalmente nas áreas de circulação de consumidores e no interior das lojas. O treinamento dos funcionários e lojistas no início e no final da implantação dos planos de gerenciamento de resíduos é indispensável. É importante também a previsão de revisões periódicas para avaliações e adequações ou quando for realizada a implantação de novas atividades. Outra questão importante é o desenvolvimento de programas de educação ambiental e de informações claras aos consumidores, inclusive com a identificação dos diversos tipos de resíduos e seus recipientes respectivos de forma clara e objetiva, instalados em lugares visíveis e de fácil acesso.
Certamente, a adequação dos shoppings centers aos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS e outros instrumentos legais relacionados com a gestão ambientalmente adequada dos resíduos de suas atividades é um investimento com retorno garantido, inclusive com a possibilidade de comercializar os materiais recicláveis e deste modo contribuir com a sustentabilidade financeira do empreendimento, impactando de modo positivo para a sustentabilidade ambiental e a organização dos espaços internos e externos adjacentes ao estabelecimento, incorporando diferenciais de mercado e de competitividade que podem atrair mais consumidores e fidelizar os que já frequentam e consomem no local. (EcoDebate)

Descarte consciente de eletrônicos. Você pratica?

Nunca é demais repetir: o descarte incorreto do lixo eletrônico pode trazer danos ao meio ambiente. Em contato com o solo, podem contaminá-lo, chegando até os lençóis freáticos que abastecem as residências. Ou seja: não podemos simplesmente jogá-los no lixo comum.
Objetos como pilhas, computadores e baterias, por exemplo, caso sejam queimados, poluem o ar e causam danos a médio e longo prazo à natureza. São muitos os empecilhos e parece não haver uma maneira segura de nos livrarmos desses objetos. Mas, na verdade, há.
A preocupação quanto aos problemas ligados à gestão de resíduos sólidos é mundial e o governo brasileiro vem tomando atitudes a respeito dessa situação. Após 21 anos de tramitação no congresso nacional, finalmente, no dia 02 de agosto de 2010, foi sancionada a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS – (Lei 12.305/2010).
Essa lei se transformou em um marco histórico para o país, pois, agora existe uma referência a ser seguida pelos órgãos públicos e iniciativas privadas que buscam aplicar uma gestão sustentável para os resíduos sólidos.
Em função da PNRS, municípios, órgãos públicos, empresas e empreendimentos privados tentam se adequar à nova legislação, já que o prazo limite para a elaboração dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é até agosto de 2012, com prazo para a eliminação dos lixões até 2014.
Pensando nisso, a Porto Seguro tem uma parceria com a Descarte Certo (http://www.portoseguro.com.br/descartecerto) para os segurados do Porto Seguro Equipamentos Portáteis.
Funciona assim: a empresa vai até a sua casa, retira seu equipamento velho ou sem condição de uso e faz a separação para a reciclagem correta de todo o material, de graça. E você elimina seu equipamento sem custos, sem trabalho e sem agredir a natureza, além de proteger o seu novo eletrônico.
Conhecer outros métodos do descarte de eletrônicos é imprescindível. O usuário de tecnologia deve ser um consumidor responsável, ciente das consequências que esses produtos causam. Tendo isso em mente, será possível eliminar hábitos ruins e tomar atitudes que minimizem o impacto do lixo eletrônico.
* Benefício para seguros de equipamentos portáteis novos e já vigentes em todo o Estado de São Paulo e cidades do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Paraná. Limite de uma utilização de até dois produtos por vigência. (atitudespositivas)

Como a fumaça de incêndios florestais afeta a saúde humana

Dentre os sintomas de doenças e doenças observados relatam infecções do sistema respiratório superior, asma, conjuntivite, bronquite, irrita...