sábado, 29 de abril de 2023

Crise climática e a resistência às mudanças

A crise climática e suas consequências dividem a população mundial. Parcela significativa desconhece ou não se interessa pelo assunto, outra porção não acredita na crise ou não a acha potencialmente forte e, finalmente, existe uma proporção, talvez menor, mas crescente, que aceita e considera muito grave o assunto.

Os analistas que alertam sobre a gravidade das atuais questões climáticas, especialmente os ecossocialistas, postulam da necessidade de mudanças robustas na sociedade, nos comportamentos e hábitos de produção, de consumo e culturais.

Interessante que mesmo entre os que creem na problemática ambiental da crise, muitos relutam em aceitar as modificações propostas por serem, talvez, desnecessárias, inoperantes ou, e principalmente, por serem fortes, radicais e de muito difícil adaptação.

Essa questão de aceitação e adaptabilidade foi brilhantemente discutida em artigo da escritora e historiadora Rebecca Solnit, publicado no Wasghinton Post de 15/03/2023. Alguns fragmentos desse importante e recomendável artigo, traduzidos, são transcritos a seguir.

Um frade me disse uma vez que a renúncia pode ser ótima se significar desistir de coisas que o tornam infeliz. Essa visão é o que falta quando falamos sobre a crise climática – e como devemos responder a ela.

Grande parte da relutância em fazer o que a mudança climática exige vem da suposição de que isso significa trocar abundância por austeridade e trocar todas as nossas coisas e conveniências por menos coisas, menos conveniência. Mas e se isso significasse desistir de coisas das quais ficaremos melhor livres delas, de emissões mortais a sentimentos irritantes de destruição e cumplicidade na destruição? E se a austeridade for como vivemos agora – e a abundância puder ser o que está por vir?

Este é o mundo em que vivemos com combustível fóssil, cuja queima nos torna mais pobres de várias maneiras. Sabemos que a indústria de combustíveis fósseis corrói nossa política. Sabemos que, em todo o mundo, respirar ar contaminado por combustível fóssil mata mais de 8 milhões de pessoas por ano e causa muitos danos, principalmente bebês e crianças. Sabemos que, à medida que o combustível fóssil enche a atmosfera superior com dióxido de carbono que desestabiliza a temperatura e o clima, aumenta o desespero e a ansiedade.

[…] Na verdade, estamos lidando com um sentimento mais amplo de desamparo e até de culpa – o impacto na psique de testemunhar ou se sentir cúmplice de algo errado.

[…] A boa notícia é que o conhecimento de que não estamos separados da natureza, mas dependentes dela, já está muito mais presente do que há algumas décadas. Em todos os lugares, vejo pessoas repensando como trabalham e vivem, transformando esse conhecimento em realidade.

[…] Precisamos de uma mudança de perspectiva em grande escala. Para reformular a mudança climática como uma oportunidade – uma chance de repensar quem somos e o que desejamos.

[…] “Ganhando e gastando, desperdiçamos nossos poderes”, escreveu William Wordsworth alguns séculos atrás. O que significaria recuperar esses poderes, ser rico em tempo em vez de coisas? (ecodebate)

A China deve ultrapassar os EUA nas emissões históricas de CO2 até 2050

A China já emite aproximadamente praticamente mais do dobro de EUA e a Europa juntos e deve manter esta situação até meados do atual século. Em termos per capita, a China está abaixo dos EUA.

“Todas as muito mais possíveis e prováveis atividades humanas, principalmente as que são através da emissão de todos os gases de efeito estufa/ GEE, inequivocamente, têm causado um maior e pior  aquecimento global em todo o planeta TERRA” - Synthesis Report (SYR) of the IPCC Sixth Assessment Report (AR6).
A humanidade já ultrapassou toda a maior capacidade de carga de todo o planeta TERRA e que já está desestabilizando todo o equilíbrio climático que prevaleceu nos 12 mil anos do Holoceno. O perigo atual é a civilização ficar presa em um intenso ciclo de catástrofes. Como disse o Secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da COP27: “Estamos na autoestrada rumo ao inferno climático e com o pé no acelerador”.

O crescimento desregrado trouxe benefícios, mas também muitos custos. De 1773 a 2023, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. O crescimento demoeconômico dos últimos 250 anos foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens. O ritmo acelerado de dominação e exploração humana sobre a natureza só foi possível graças ao uso dos combustíveis fósseis (primeiro o carvão, depois o petróleo e o gás). O “ouro negro” promoveu o sucesso civilizacional e o fracasso ambiental.

Indubitavelmente, os hidrocarbonetos turbinaram o progresso humano. A expectativa de vida ao nascer da população mundial, que girava em torno de 25 anos antes da Revolução Industrial e Energética, está chegando aos 75 anos, triplicando em 250 anos. A extrema pobreza global caiu de 94% em 1820 para 10% em 2015. Houve significativos avanços na educação, nas condições de moradia e no acesso aos mais diferenciados bens de consumo. Tudo isto realizado às custas do retrocesso dos ecossistemas, da perda de biodiversidade e da poluição.

O marco inicial do uso generalizado dos combustíveis fósseis se deu a partir do desenvolvimento da máquina a vapor de James Watt (1736-1819), que foi patenteada em 1769. As emissões globais de CO2 eram de apenas 12 milhões de toneladas em 1770 e estavam concentradas, quase que exclusivamente, na Grã-Bretanha. Em 1850, as emissões de CO2 subiram para 200 milhões de toneladas (estando concentradas na Europa Ocidental e na América do Norte). Em 1900, as emissões globais de CO2 chegaram a 2 bilhões de toneladas (com os EUA se igualando à Europa Ocidental).

Em 1950, as emissões alcançaram 6 bilhões de toneladas, com os EUA respondendo por mais de 40% do total. No ano 2000, as emissões atingiram 25 bilhões de toneladas, com os EUA representando 25% e a Europa Ocidental representando 15%. Os países asiáticos e do Oriente Médio aumentaram muito a participação nas emissões. Em 2021, as emissões globais de CO2 atingiram 37 bilhões de toneladas, sendo a China responsável por 31%, os EUA por 13,5%, a Índia e a Europa Ocidental 7,5% cada e o restante distribuído pelo resto do mundo.

Portanto, as emissões de CO2 cresceram muito, especialmente, nos últimos 70 anos e, historicamente, estavam concentradas na Europa e nos EUA. O gráfico abaixo mostra que a maior parte das emissões históricas vinha da Europa até meados do século XX, mas os EUA assumiram a liderança nas últimas décadas. A Rússia e o Japão também são significativos poluidores. Mas o grande destaque dos últimos anos é a China que lidera com grande distância as emissões correntes e já está em 3º lugar em termos de emissões históricas. Projetando até 2050, o gráfico abaixo mostra que a China será a maior poluidora em termos de emissões acumuladas, superando a Europa e os EUA até 2050. A Índia virá em 4º lugar, superando a Rússia em emissões históricas.

Os gráficos abaixo mostram as emissões anuais totais e per capita da China, EUA e Europa entre 1950 e 2021 e projeções até 2050. Nota-se que a China já emite mais do dobro de EUA e Europa juntos e deve manter esta situação até meados do atual século. Em termos per capita, a China está abaixo dos EUA, mas está acima das emissões per capita da Europa. Em termos nacionais, os 3 países mais poluidores atuais são a China, os EUA e a Índia (os 3 países mais populosos do mundo). Mas se for medido as emissões por área territorial, a Índia já está em segundo lugar. Ou seja, os países ricos são os principais responsáveis pelas emissões históricas e os países em desenvolvimento respondem pelas maiores emissões correntes no século XXI.

Todas essas emissões dos últimos 250 anos, mas especialmente dos últimos 70 anos, implicam um custo muito grande para as pessoas e o ambiente. Os gases de efeito estufa, incluindo o dióxido de carbono, prendem o calor na atmosfera, aceleram o aquecimento global e alimentam os eventos climáticos extremos, como tempestades mais fortes, secas mais longas, ondas de calor mais perigosas e outras mudanças indesejáveis, inclusive doenças como asma e enfermidades cardíacas. Temperaturas mais altas provocam o degelo dos polos, dos glaciares e da Groenlândia e elevam o nível dos mares, podendo afetar mais de 1 bilhão de pessoas que vivem ao redor de áreas litorâneas.

Desta forma, está cada vez mais difícil alcançar a meta de um mundo sustentável, inclusivo e resiliente. Ao invés do sonho de um próspero desenvolvimento humano e ecológico, os indicadores ambientais indicam a iminência de um ciclo de catástrofes (“loop doom”).

Os danos causados pelo aquecimento global são, cada vez mais, claros e a recuperação de desastres climáticos e ambientais estão cada vez mais caros. Os custos ultrapassam dezenas de bilhões de dólares. Além disso, esses desastres costumam causar problemas em cascata, incluindo crises de água, elevação do preço da energia e dos alimentos, inundações, furacões, queimadas, bem como aumento da migração e dos conflitos sociais. Tudo isto drenando os recursos que poderiam ser utilizados para o combate à pobreza, para a restauração ecológica e o aumento da biocapacidade do Planeta.

EUA x China: que país emite mais gases causadores do efeito estufa?

Juntas, potências mundiais emitem quase 40% desses gases; Brasil também está entre os maiores emissores do planeta.

O relatório “1,5°C – vivo ou morto? Os riscos para a mudança transformacional de atingir e violar a meta do Acordo de Paris”, do Institute for Public Policy Research (IPPR) e da Chatham House, aponta que o mundo corre o risco de cair em um ciclo de catástrofes (“loop doom”) e que os custos para lidar com os impactos crescentes da crise climática e ambiental pode substituir o combate à própria raiz do problema. Evitar um ciclo catastrófico exigiria uma aceitação mais honesta por parte dos políticos dos grandes riscos representados pela crise climática e da perspectiva iminente de ultrapassagem dos pontos de inflexão e da escalada da transformação econômica e social necessária para acabar com o aquecimento global.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, divulgou em 20/03/2023, o relatório síntese do seu atual ciclo de avaliações sobre o aquecimento global provocado pelas atividades antrópicas. Houve um debate sobre as emissões históricas e as emissões correntes de gases de efeito estufa. Historicamente, os Estados Unidos e a Europa foram os maiores responsáveis pelas emissões passadas. Mas a China é a principal responsável pelas emissões correntes e vai passar os EUA e a Europa nas emissões históricas até meados do atual século. A Índia também vai aumentar muito as suas emissões nas próximas décadas. Assim, precisamos olhar para o passado, mas também para o presente e para o futuro.

O fato é que quanto mais tempo ignoramos os avisos explícitos de que o aumento das emissões de carbono está aquecendo perigosamente a Terra, maior será o preço a pagar. E o que surpreende na tendência ao colapso climático é a velocidade com que a temperatura média global aumenta e se traduz em clima extremo. Porém, por mais sombrio que seja o cenário climático, isto não deve inibir as ações para mitigar o aquecimento global para impedir que um futuro angustiante se torne ainda mais verdadeiramente cataclísmico. O fundamental é trocar o crescimento pelo decrescimento, com redução da Pegada Ecológica global.

O relatório do IPCC afirma que um futuro habitável para todos ainda é possível. Todavia, se nada for feito com urgência para reduzir os níveis de poluição e degradação ambiental, poderemos ter, como mostrou o jornalista David Wallace-Wells, crescentes áreas geográficas inóspitas e contabilizadas como parte de uma “Terra inabitável”. (ecodebate)

Pesquisa alerta que o aquecimento global aumenta as infecções bacterianas

O aquecimento contínuo do clima causaria um aumento no número e na disseminação de infecções potencialmente fatais causadas pela bactéria Vibrio vulnificus, encontradas ao longo de partes da costa dos Estados Unidos.

A bactéria Vibrio vulnificus cresce em águas costeiras rasas e quentes e pode infectar um corte ou picada de inseto durante o contato com a água do mar.

Um novo estudo liderado pela University of East Anglia (UEA) do Reino Unido mostra que o número de infecções por V. vulnificus ao longo da costa leste dos EUA, um ponto crítico global para tais infecções, aumentou de 10 para 80 por ano nos últimos 30 anos.

Todos os anos ocorrem casos mais ao norte. No final da década de 1980, foram encontrados casos no Golfo do México e ao longo da costa sul do Atlântico, mas foram raros ao norte da Geórgia. Hoje eles podem ser encontrados no extremo norte da Filadélfia.

Os pesquisadores preveem que até 2041-2060 as infecções podem se espalhar para abranger os principais centros populacionais em torno de Nova York. Combinado com uma população crescente e cada vez mais idosa, que é mais suscetível à infecção, o número anual de casos pode dobrar.

Porcentagem de infecções por cepas resistentes a medicamentos da bactéria aumentou de zero em 2015 para 5% em 2022, de acordo com o CDC.

Em 2081–2100, as infecções podem estar presentes em todos os estados do leste dos EUA em cenários futuros de emissões e aquecimento de médio a alto.

Descobertas, publicadas na revista Scientific Reports, são importantes, embora o número de casos nos EUA não seja grande, alguém infectado com V. vulnificus tem uma chance em cinco de morrer. É também o patógeno marinho mais caro nos EUA para tratar.

A doença atinge o pico no verão e as bactérias se espalham rapidamente e danificam gravemente a carne da pessoa. Como resultado, é comumente chamada de doença de ‘comer carne’ e muitas pessoas que sobrevivem tiveram membros amputados.

A principal autora do estudo, Elizabeth Archer, pesquisadora de pós-graduação da Escola de Ciências Ambientais da UEA, disse: “A expansão projetada de infecções destaca a necessidade de maior conscientização individual e pública nas áreas afetadas. Isso é crucial, pois uma ação imediata quando os sintomas ocorrem é necessária para evitar consequências graves para a saúde.

“As emissões de gases de efeito estufa da atividade humana estão mudando nosso clima e os impactos podem ser especialmente graves nas costas do mundo, que fornecem uma importante fronteira entre os ecossistemas naturais e as populações humanas e são uma importante fonte de doenças humanas.

“Mostramos que, até o final do século 21, as infecções por V. vulnificus se estenderão mais para o norte, mas até que ponto o norte dependerá do grau de aquecimento adicional e, portanto, de nossas futuras emissões de gases de efeito estufa”.

“Se as emissões forem mantidas baixas, os casos podem se estender para o norte apenas até Connecticut. Se as emissões forem altas, prevê-se que as infecções ocorram em todos os estados dos EUA na Costa Leste. Até o final do século 21, prevemos que cerca de 140-200 infecções por V. vulnificus podem ser relatadas a cada ano”.

A equipe de pesquisa sugere que os indivíduos e as autoridades de saúde possam ser avisados em tempo real sobre condições ambientais particularmente arriscadas por meio de sistemas de alerta precoce específicos do Vibrio ou marinhos.

As medidas de controle ativo podem incluir maiores programas de conscientização para grupos de risco, por exemplo, idosos e indivíduos com problemas de saúde subjacentes e sinalização costeira durante períodos de alto risco.

O coautor Prof Iain Lake, da UEA, disse: “A observação de que os casos de V. vulnificus se expandiram para o norte ao longo da costa leste dos EUA é uma indicação do efeito que a mudança climática já está tendo na saúde humana e no litoral. Saber onde os casos provavelmente ocorrerão no futuro deve ajudar os serviços de saúde a planejar o futuro”.

Bactérias resistentes a antibióticos: elas causaram mais de um milhão de mortes em 2019.

Mudanças climáticas contribuem para aumentar as superbactérias, resistentes a medicamentos.

Relatório da ONU alerta que as mudanças climáticas contribuem para o surgimento de micróbios resistentes a medicamentos, ameaça que pode provocar milhões de mortes até 2050.

O estudo é o primeiro a mapear como as localizações dos casos de V. vulnificus mudaram ao longo da costa leste dos Estados Unidos. É também o primeiro a explorar como as mudanças climáticas podem influenciar a propagação de casos no futuro.

As informações sobre onde as pessoas contraíram a infecção por V. vulnificus foram obtidas nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Isso permitiu que a equipe mapeasse como os casos de Vibrio vulnificus se estenderam para o norte ao longo de 30 anos, de 1988 a 2018.

Informações de temperatura baseadas em observações e modelos climáticos baseados em computador foram usadas para prever onde nos EUA os casos podem ocorrer até o final do século XXI.

O coautor, professor James Oliver, da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, nos EUA, disse: “Este é um artigo histórico que não apenas vincula a mudança climática global a doenças, mas também fornece fortes evidências da disseminação ambiental desse patógeno bacteriano extremamente mortal”.

Localizações originais das 709 infecções confirmadas por V. vulnificus não transmitidas por alimentos relatadas ao banco de dados de Vigilância de Doenças de Cólera e Outros Vibrios (COVIS) entre 2007 e 2018 dentro de 200 km da costa leste dos EUA (sombreamento azul). (ecodebate)

quinta-feira, 27 de abril de 2023

A população do Iraque e do Irã de 1950 a 2100

Com o novo cenário econômico e político do Oriente Médio e com o avanço da transição demográfica o Iraque e o Irã podem retomar o caminho do desenvolvimento humano e garantir maior estabilidade na região

O Iraque e o Irã são dois países vizinhos e já foram berços de grandes civilizações. A Mesopotâmia e a Persa deram grandes contribuições para a humanidade. Mas a relação entre os dois países oscilou entre aliança e cooperação e também de divergências e conflitos. Em 2023 se completa 43 anos do início da guerra Irã x Iraque e 20 anos desde a invasão do Iraque por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, eventos que desencadearam uma violenta instabilidade no país e em todo o Oriente Médio. O Iraque vive duas décadas de crises e retrocessos e atrasou a transição demográfica em relação ao Irã.

Em 1950, a população do Iraque era de 5,7 milhões de habitantes e a população do Irã, três vezes maior, era de 16,8 milhões. No ano 2000, a população do Iraque passou para 24,6 milhões e do Irã passou para 65,5 milhões de habitantes (2,7 vezes maior). Em 2022, os números foram 44,5 milhões e 88,6 milhões (2 vezes maior). Nota-se que a população iraniana começará a decrescer a partir de 2053. Para o ano de 2071 está previsto que o Iraque com 94,3 milhões de habitantes ultrapasse o Irã com 93,8 milhões de habitantes. Em 2100, a Divisão de População da ONU projeta (na hipótese média) uma população de 111,5 milhões de pessoas no Iraque e 79,9 milhões de pessoas no Irã, conforme o gráfico abaixo.

O Iraque tem uma área de 438,3 mil km2 e tinha uma densidade demográfica de 13 habitantes por km2 em 1950. O Irã tem uma área de 1,6 milhão de km2 e tinha uma densidade demográfica de 10 habitantes por km2 em 1950. Em 2022, os números passaram para 102,5 hab/km2 no Iraque e de 54,4 hab/km2 no Irã. Em 2100, as projeções indicam uma densidade de 256,8 hab/km2 no Iraque e de 49,1 hab/km2 no Irã, conforme o gráfico abaixo. Os dois países tinham aproximadamente a mesma densidade demográfica em meados do século passado, mas o Iraque terá uma densidade 5 vezes maior em 2100. A alta densidade do Iraque é agravada por amplas áreas desérticas e pela escassez de água.

O Iraque e o Irã possuíam Taxas de Fecundidade Total (TFT) acima de 6 filhos por mulher entre 1950 e 1985 e começaram uma transição tardia na década de 1980. A queda da TFT iraquiana tem sido lenta e atualmente ainda está acima de 3 filhos por mulher. Por isto, a população iraquiana continua crescendo em ritmo acelerado e deve ultrapassar o montante de pessoas do Irã. O nível de reposição será alcançado somente no final do atual século, conforme mostra o gráfico abaixo.

Já o Irã – depois da revolução islâmica no final da década de 1970 e da guerra com o Iraque no início da década de 1980 – promoveu uma das transições mais rápidas da fecundidade, passando de 6,53 filhos no quinquênio 1980-85 para 1,97 filhos no quinquênio 2000-05. Ou seja, a TFT que estava acima de 6 filhos caiu para menos de 2 filhos em menos de 20 anos (uma diminuição de 4,56 filhos na TFT em 4 quinquênios). Ainda na época do aiatolá Khomeini se adotou medidas de universalização da saúde reprodutiva, o que possibilitou a grande queda no número médio de filhos. No quinquênio 2010-15 houve uma tentativa de implementar políticas pronatalistas, mas que tiveram fôlego curto e a TFT continua abaixo do nível de reposição. Por conta da baixa fecundidade, a população iraniana vai diminuir na segunda metade do atual século.

A expectativa de vida ao nascer era de 40 anos no Irã e no Iraque em 1950. Nas 3 décadas seguintes a expectativa de vida cresceu mais rapidamente no Iraque. Mas depois da guerra entre os dois países, o ritmo da expectativa de vida foi mais acelerado no Irã. Para 2100, estima-se uma expectativa de vida de 90 anos no Irã e de pouco mais de 80 anos no Iraque, conforme mostra o gráfico abaixo.

A transição demográfica (queda nas taxas de natalidade e mortalidade) provoca, no longo prazo, uma mudança da estrutura etária e o envelhecimento da população. O gráfico abaixo mostra que o Iraque e o Irã tinham uma idade mediana abaixo de 20 anos na segunda metade do século passado. Isto quer dizer que mais da metade da população tinha menos de 20 anos. Mas esta situação está mudando no século XXI. A Idade mediana no Iraque vai passar de menos de 20 anos para quase 40 anos em 2100. Já no Irã a idade mediana vai ultrapassar 50 anos em 2100.

As mudanças nas estruturas etárias podem ser vistas nas pirâmides populacionais abaixo. Nota-se que os 2 países tinham uma estrutura etária jovem em 1950. Mas, em 2023, o Irã já apresenta uma pirâmide que reflete a queda da fecundidade entre 1985 e 2010 e uma subida da fecundidade na década passada e uma nova queda nos últimos anos, especialmente no período da pandemia da covid-19. O Iraque tem uma pirâmide que envelhece de maneira lenta.

A rápida redução da fecundidade no Irã tem contribuído para o aproveitamento do bônus demográfico e para o avanço do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O gráfico abaixo mostra que o Brasil tinha um maior IDH em 1990, se manteve na frente do Iraque, mas foi ultrapassado pelo Irã. Em termos ambientais o Brasil tem superávit ecológico enquanto o Iraque e o Irã possuem déficits ecológicos, com baixa Biocapacidade e alta Pegada Ecológica.

O Iraque não se recuperou depois da invasão do país por meio de uma operação militar liderada pelos Estados Unidos, em 2003, que derrubou o governo do então ditador Saddam Hussein. O Irã, por outro lado tem enfrentado sanções comerciais que foram impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e pelos governos dos Estados Unidos, União Europeia e outros países. Elas têm afetado a economia iraniana, resultando em uma queda na produção de petróleo e uma depreciação significativa da moeda iraniana. O Brasil, mesmo não estando envolvido em guerras, tem apresentado um IDH menor do que o do Irã.

O Oriente Médio fica localizado na Eurásia em meio dos interesses e objetivos do Ocidente e do Leste Asiático e é um território estratégico na perspectiva geopolítica global. Como mostrei no artigo “O ‘quadrante mágico’ (RICI) que desafia os EUA e o Ocidente” (Alves, Ecodebate, 20/03/2017), a China, com a iniciativa “Um cinturão uma Rota”, busca unir Índia, Rússia e Irã e a Eurásia na tentativa de criar a maior faixa continental de uma economia multimilionária, para se contrapor à hegemonia americana.

Março/2023, em um ato diplomático espetacular, a China mediou uma reaproximação entre a Arábia Saudita e o Irã, diminuindo a influência e o domínio dos Estados Unidos no Golfo e no Oriente Médio. A retomada dos laços diplomáticos entre Riad e Teerã representa um esforço da China para moldar o mundo em sua órbita. No mesmo sentido, a visita do presidente chinês Xi Jinping ao seu colega russo, Vladimir Putin, buscou reforçar os laços diplomáticos para tratar das relações comerciais entre os dois vizinhos e também abordar uma saída diplomática para a guerra na Ucrânia. A China declarou nos últimos anos que pretende participar da criação de uma nova ordem mundial. Agora deu alguns passos significativos nessa direção, especialmente na Eurásia.

Neste cenário, a situação do Iraque pode ser afetada pelo novo arco de alianças e de relações diplomáticas. Em termos populacionais, o Irã está mais avançado do que o Iraque na transição demográfica. A redução das taxas de mortalidade e natalidade é essencial para o desenvolvimento humano. O Irã elevou o seu IDH exatamente quando avançou na transição da fecundidade e o Iraque ficou para trás, entre outros fatores, porque não avançou na transição demográfica.

Revisão população Iraque 2100

A relação entre economia e demografia, muitas vezes é negligenciada nas ciências sociais. Porém, dois livros recentes mostram que a transição demográfica foi e é fundamental para a elevação da renda per capita e o bem-estar humano. Os autores Galor (2017) e De Long (2022) mostram que não existia aumento permanente e significativo da renda per capita antes da Revolução Industrial e Energética do final do século XVIII. Eles argumentam que durante a maior parte da existência do Homo sapiens as sociedades viveram no que se define como estagnação malthusiana. Em mais de 200 mil anos, os avanços na produtividade econômica eram convertidos em mais pessoas em vez de promover melhores padrões de vida.

Mas a modernidade urbano-industrial mudou isto, pois os avanços na produtividade e da renda foram reforçados pela transição demográfica, quando o número de nascimentos caiu e a expectativa de vida aumentou. Isto possibilitou avanços na educação e no “capital humano”, possibilitando ganhos continuados de produtividade e ocupação no mercado de trabalho, com avanços macroeconômicos sendo acompanhados de avanços microeconômicos e melhoria no bem-estar dos indivíduos e das famílias. Há uma sinergia entre o desenvolvimento e a dinâmica populacional, pois o aproveitamento do 1º bônus demográfico cria um círculo virtuoso, já que o aumento da produtividade econômica reduz o tamanho da prole e o menor tamanho das famílias facilita o maior investimento na qualidade de vida das crianças.

Previsão população Irã 2100

Em síntese, com o novo cenário econômico e político do Oriente Médio e com o avanço da transição demográfica o Iraque e o Irã podem retomar o caminho do desenvolvimento humano e garantir maior estabilidade na região e, consequentemente, maior estabilidade e progresso para o mundo. Mas além das questões econômicas, demográficas e políticas, o Iraque e o Irã terão que enfrentar também a crise climática e ambiental. Portanto, são múltiplos os desafios e a primeira tarefa é garantir paz na região e no mundo. (ecodebate)

Biodiversidade, Geodiversidade e Segurança Hídrica no embate entre Ecologia e Economia

Biodiversidade, Geodiversidade e Segurança Hídrica no embate entre Ecologia e Economia: educação, vulnerabilidades socioambientais e inviabilidades conservacionistas na sobreposição de unidades de conservação e mineração no Quadrilátero Ferrífero - MG.

Um flanco da Serra das Farofas, distrito de Nossa Senhora da Paz, em São Joaquim de Bicas (MG) guarda múltiplos cenários e situações. Brumadinho mostrou ao mundo em 2019 do que a mineração é capaz. Quem vista atualmente o renomado Museu de Arte Contemporânea e Jardim Botânico do Inhotim, localizado entre o Rio Paraopeba e a serra das Farofas, em Brumadinho não imagina que ele é parcialmente fruto da recuperação ambiental de antigas jazidas minerárias.

Este espaço de reconhecimento internacional é exemplo de que arte e ecologia dialogam continuamente na construção de novos marcos e ideias societários. A Serra das Farofas, inserida aos fundos de Inhotim, na divisa com São Joaquim de Bicas, por sua vez, apresenta os mesmos cenários degradantes do passado. Várias jazidas de minério de ferro estão em operação descaracterizam, continuamente as paisagens naturais e culturais adjacentes.

Assim, compreendendo o patrimônio geológico, enquanto elemento chave de preservação da paisagem natural, este trabalho busca apresentar os cenários históricos e as perspectivas educativas na região do Quadrilátero Ferrífero (Leste, Norte, Oeste e Sul), construindo novas discussões interdisciplinares em Ecologia, Geografia e História, através dos quais diferentes paisagens e patrimônios possam ser apropriados pedagogicamente com vistas à reflexões sobre o modelo socioeconômico vigente, seus riscos, impactos e passivos no âmbito da comunidades mineradas. Novas formas econômicas pautadas na educação e no turismo fomentam a conservação dos atributos geológicos para sua didatização no âmbito de formação dos discentes da educação básica. Preservar o patrimônio geológico e promover sua apropriação didático pedagógica e premissa de um futuro mais equânime, que rompa com cenários como aqueles deixados pela mineradora Vale em Bento Rodrigues (2015) e Córrego do Feijão (2019).

No entorno da capital mineira, há áreas paisagísticas de exponencial valor para a coletividade por agregarem acervos naturais e culturais, com destaque para os serviços ecossistêmicos indispensáveis à manutenção da qualidade de vida das urbes componentes da Grande BH.

Assim, o presente trabalho apresenta um estudo sobre a Serras da região de Nascentes do Rios Pará, Paraopeba, Velhas e Doce (Quadrilátero Ferrífero), esboçando as ameaças em seu entorno, destacando aspectos importantes para conservação da geodiversidade local e destacando seu potencial pedagógico através do geoturismo com contextos interdisciplinares que permitem visitas escolares e abordagens integradas em Ecologia, Geografia e História.

Leste do quadrilátero ferrífero - MG: sobreposição de unidades de conservação e mineração

A região localizada ao leste do território histórico, geológico e geomorfológico do Quadrilátero Ferrífero encontra-se diretamente associada à formação da sociedade mineira em sua essência. As duas primeiras capitais estaduais, Mariana e Ouro Preto atestam as permanências e rupturas do Brasil Colonial com receptáculos significativos associados à apropriação da paisagem geológica para fins socioeconômicos.

Da mineração aurífera dos tempos pretéritos à ampliação da égide minerária, o Quadrilátero Ferrífero se materializa no tempo e no espaço como cenário de exploração comercial de minério de ferro e manganês, trazendo significativos impactos e riscos ás comunidades locais. Assim, a partir dos recortes espaciais da Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra do Caraça que associada à criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela criado pela União em 2014, formam um grande corredor biológico e cultural destacam-se perspectivas educativas desta área. O parque nacional foi uma conquista após intenso processo de mobilização social da Mineiridade, e sua consolidação busca-se evidenciar novos cenários educacionais na porção leste, com vistas a dinamizar e potencializar a visitação turística com fins pedagógicos.

Utilizando-se das paisagens do parque nacional, o estudo do meio com discentes da educação básica pretende apresentar avanços e retrocessos do parque e enfatizar seu potencial didático pedagógico fomentando o turismo geológico e a ditatizações de elementos teóricos que integrem o ensino de Ecologia, Geografia e História, oportunizando novas formas de aprendizagem para além da tradicional sala de aula.

Norte do quadrilátero ferrífero - MG: vulnerabilidades socioambientais e inviabilidades conservacionistas

As discussões em educação na contemporaneidade versam sobre a integração entre diferentes conteúdos visando uma formação crítica dos discentes. Neste contexto, educar é promover a apropriação dos diferentes meios para se pensar e refletir a realidade com vistas à emancipação dos sujeitos e suas participações como atores da história. Antagonicamente, na prática, a educação centra-se em conteúdos práticos ligados diretamente a linguagem e matemática desprezando contextos expressivos de outras disciplinas, como Ecologia, Geografia e História. Neste contexto, empreende-se a leitura, interpretação de paisagens culturais e/ou naturais com vistas à percepção dos diferentes conflitos que se materializam no tempo e no espaço. Destaca-se a serra da Piedade, entre os municípios de Caeté e Sabará como recorte pedagógico de suma importância para propiciar estudos do meio nos quais se percebam a riqueza da mesma e sua apropriação como cenário cultural religioso, e também turístico. A serra apresenta recortes espaciais no quais se percebem elementos de biodiversidade, de geodiversidade e de sociodiversidade, nos quais é possível verificar permanências e rupturas na paisagem e quais processos os consolidaram ou ocasionaram. A paisagem materializa conflitos latentes que podem ser visualizados, evidenciados, problematizados visando reflexões significativas no processo de ensino/aprendizagem. Outro aspecto se refere à inserção de minerações e de eventuais práticas socioeconômicas e/ou culturais e seus riscos/impactos com vistas a pensar a conduta humana, explicitando a historicidade do meio, enriquecendo os diálogos entre diferentes componentes teóricos da formação curricular na educação básica.

Oeste do quadrilátero ferrífero - MG: biodiversidade, geodiversidade e segurança hídrica

Neste contexto destaca-se a Área de Preservação Especial do Rio Manso, responsável por preservar remanescentes naturais indispensáveis à captação de água da COPASA no vetor oeste metropolitano. Matas e nascentes encontram-se em considerável estado de conservação ambiental num cenário cercado por mineração e práticas agrícolas degradantes. Assim esta tipologia de unidade de conservação agrega múltiplos valores às paisagens cultural (sociodiversidade), ecológica (biodiversidade) e geológica (geodiversidade). O destaque local fica com o Distrito de Sousa, onde as comunidades remanescentes de quilombos mantêm vivas as tradições camponesas como a Festa do Rosário, realizada anualmente em Agosto, na capelinha do bairro do Pequi. No contexto de história geológica e de história ambiental, estudos recentes enfatizam a importância de preservação da paisagem geológica como elemento preponderante na manutenção e salvaguarda de mananciais públicos. Basta reforçar que todas as áreas de captação de águas para abastecimento público em Belo Horizonte e região são retiradas de áreas inseridas no Quadrilátero Ferrífero.

Sul do quadrilátero ferrífero - MG: o embate entre Ecologia e Economia

Nas respectivas serras, localizadas entre os municípios localizados na porção sul da Grande BH, numa região pressionada fortemente pela ampliação de condomínios fechados e mineradoras, existe um conjunto paisagístico e ecológico de inestimável valor para a Mineiridade. Trata-se de um espaço com potencialidades interdisciplinares para o estudo do meio, num contexto de articulação entre Ecologia, Geografia e História. As serras encontram-se ameaçadas por uma série de riscos e degradações socioambientais, que colocam em risco em patrimônio cultural e natural, sendo necessárias ações imediatas para criação de um corredor ecológico e cultural na região consolidando-a como espaço de educação, turismo e conservação da paisagem. Ao se elencar a serras como marco histórico-cultural significativo da Grande BH (MG) protege-se efetivamente singulares recortes espaciais, evocando medidas protetivas emergenciais com vistas à salvaguarda do patrimônio ecológico e histórico desta área tão importante para a biodiversidade, para a geodiversidade e para a sociodiversidade.

A Serra da Moeda é um importante recorte espacial localizado à oeste do território do Quadrilátero Ferrífero e caracteriza-se pela diversidade de cenários e paisagens que vocacionam múltiplas atividades na área do turismo. A área insere-se no imaginário coletivo mineiro em face das histórias de cunhagem clandestina de moedas de ouro em tempos de Brasil colônia. Por outro lado, a região caracteriza-se pela exploração intensiva de minério de ferro trazendo impactos expressivos sobre a biodiversidade e à geodiversidade local. Neste contexto presente, o trabalho de campo, objetiva pedagogicamente apresentar as paisagens da Serra da Moeda, nos municípios de Congonhas, Belo Vale, Itabirito e Moeda, destacando os impasses na geoconservação da paisagem local com vistas à sua apropriação como elemento didático-pedagógico. Preservar a serra é emergencialmente necessário, motivando as comunidades locais a perceberem a serra como um ícone de referência na paisagem corriqueira, enfatizando sua preservação. O turismo ecológico, geológico e sobretudo escolar, é dádiva a promover novos elos de sustentabilidade envolvendo a população e protagonizando diferentes meios de proteção do significativo patrimônio cultural e natural resguardando-o de possíveis impactos minerários e de outras matrizes econômicas insustentáveis. O estudo do meio com alunos da educação ambienta pode se centrar na área da MONA Serra da Moeda, monumento natural criado pelo governo estadual para proteger paisagens e patrimônios da serra. A discussão junto às comunidades locais, acerca de sua transformação em parque estadual e consecutiva ampliação da área oficial de conservação se mostram perspectivas viáveis num futuro próximo.

A região ao sul do Quadrilátero Ferrífero abriga cenários de expansão da égide urbano-industrial para além do polo de Congonhas numa área atualmente denominada de Alto Paraopeba. A mineração tem se ampliado para cidades como Jeceaba e Desterro de Entre Rios, destruindo cenários em várias serras, em especial a Serra do Coelho. Assim fazem-se necessários discutir a ampliação ideológica e mercadológica da mineração contemporânea com vistas a apresentar novas perspectivas societárias que promovam desenvolvimento econômico, equidade social e preservação ambiental. A Serra do Ouro Branco é uma porção significativa de mosaicos e panoramas que agregam relevante patrimônio ecológico e geológico preservados como parque estadual. Sua apropriação turística e pedagógica é força matriz motivadora de novas formas de apropriação sustentável das paisagens e patrimônios associados à história da mineração e à história ecológica e geológica do planeta, disponibilizando cenários e recortes com fins educativos que potencializem a preservação da biodiversidade, da geodiversidade e da sociodiversidade, com vistas à geoconservação e ao geoturismo.

Conservação o patrimônio geológico com vistas à cíclica visitação do mesmo por turistas e estudantes é marco civilizatório a romper com a degradante aliança socioeconômica e sociocultural da Mineiridade para com a mineração, trazendo novas modalidades de desenvolvimento local. (ecodebate)

Reduzir o consumo de carne é bom para a saúde e o meio ambiente

A redução do consumo de carne pode ser uma solução importante para abordar preocupações ambientais e de saúde

Nos últimos anos, tem havido um aumento crescente de preocupações sobre a sustentabilidade ambiental e a saúde humana. Uma das principais questões em destaque é o consumo de carne e seus efeitos negativos no meio ambiente e na saúde.

A redução do consumo de carne pode ser uma solução importante para abordar essas preocupações.

Primeiramente, o consumo excessivo de carne tem sido associado a várias doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer. Estudos têm mostrado que pessoas que consomem dietas baseadas em vegetais têm um risco menor de desenvolver essas doenças.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde classificou a carne vermelha como um carcinógeno do Grupo 2A, o que significa que há evidências suficientes de que a carne vermelha pode causar câncer em humanos.

Além dos efeitos negativos na saúde humana, a produção de carne também tem um impacto significativo no meio ambiente. A pecuária é responsável por 14,5% das emissões globais de gases de efeito estufa, mais do que o setor de transporte. A produção de carne também é um dos principais impulsionadores da desmatamento em todo o mundo, uma vez que a criação de gado requer grandes áreas de pastagens e também é uma das principais causas de degradação do solo e da poluição da água.

Cresce o apoio à redução do consumo de carne.

Ao reduzir o consumo de carne, podemos ajudar a minimizar esses impactos negativos. Ao optar por uma dieta baseada em vegetais, podemos reduzir as emissões de gases de efeito estufa, economizar recursos naturais e diminuir a poluição. A agricultura baseada em plantas também requer menos terra e água do que a pecuária, tornando-a uma opção mais sustentável.

Além disso, uma dieta baseada em vegetais pode ser benéfica para a saúde. As plantas contêm uma ampla variedade de nutrientes, vitaminas e minerais essenciais que ajudam a manter o corpo saudável e funcionando adequadamente. Ao incorporar mais alimentos baseados em plantas em nossa dieta, podemos melhorar nossa saúde geral e reduzir o risco de desenvolver doenças crônicas.

Em conclusão, reduzir o consumo de carne pode ser uma solução importante para abordar preocupações ambientais e de saúde. Ao optar por uma dieta baseada em vegetais, podemos minimizar os impactos negativos da produção de carne no meio ambiente, bem como reduzir o risco de desenvolver doenças crônicas. Com uma variedade de opções disponíveis hoje, é possível ter uma dieta saudável e deliciosa sem a necessidade de carne todos os dias.

Comer bem sem carne: Os benefícios para o corpo e ambiente ao reduzir o consumo de carne.

Assista e ouça atentamente: https://youtu.be/39_2V7OlVhk (ecodebate)

terça-feira, 25 de abril de 2023

Incêndios florestais aumentam concentrações de CO2

Incêndios florestais aumentam as concentrações atmosféricas de CO2.

Os incêndios globais têm impactos generalizados no ciclo global do carbono e no ambiente atmosférico, com emissões diretas imediatas de carbono.

Quantificar os impactos das emissões de carbono do fogo nas concentrações atmosféricas de CO2 é a base para esclarecer o ciclo do carbono nos ecossistemas terrestres e um pré-requisito para elucidar o balanço do carbono nas escalas global e regional.

Uma equipe de pesquisa liderada pelo Dr. SHI Yusheng do Aerospace Information Research Institute (AIR) da Academia Chinesa de Ciências (CAS) quantificou o impacto das emissões globais de carbono de incêndio nas concentrações atmosféricas de CO2 por meio de simulações de modelos de transporte atmosférico, combinados com validação baseada em observações por satélite.

A equipe de pesquisa realizou uma série de simulações numéricas com base em um modelo de transporte químico atmosférico global para quantificar o impacto das emissões globais de carbono de incêndios nas mudanças de concentração atmosférica de CO2 na escala da grade. Após a validação, a precisão da simulação foi melhorada (o erro quadrático médio foi reduzido de 2,403 para 1,980 em comparação com as observações de satélite).

Os resultados mostraram que o impacto médio anual global das emissões de carbono de incêndios na concentração de CO2 atmosférico pode chegar a 2,4 partes por milhão (ppm), e houve grandes variações sazonais.

SU Mengqian, primeiro autor do estudo, descobriu que a simulação usando o Quick Fire Emissions Database (QFED) como modelo priori de inventário de emissões de queima de biomassa teve o melhor desempenho em comparação com as observações de satélite e de superfície.

Os resultados também mostraram que as concentrações simuladas de CO2 foram mais sensíveis aos inventários de emissões de carbono de incêndios no sul da América do Sul e na maioria das áreas do continente euroasiático, e menos sensíveis na África central e sudeste da Ásia.

“O fogo é um dos principais fatores que causam o aumento da concentração atmosférica global de CO2 e tem um impacto significativo no aquecimento global e na mudança climática”, disse o Dr. SHI.

Este estudo fornece uma nova abordagem e método para quantificar com precisão o impacto das emissões de carbono do fogo nas mudanças na concentração de CO2 atmosférico, o que pode servir como base científica para o controle da queima de biomassa.

Ele também fornece orientação para a implementação de políticas ambientais, como gestão ecológica e ambiental e redução colaborativa de carbono, que ajudará a China a reduzir as emissões de gases de efeito estufa de maneira mais direcionada e a responder melhor às metas políticas de “pico de carbono” e “neutralidade de carbono”.

Impactos das emissões globais de carbono de incêndios na concentração de CO2 atmosférico. (ecodebate)

Aumento temperatura aumenta impacto de pesticidas nas abelhas

Aumento da temperatura também aumenta impacto de pesticidas nas abelhas.
A temperatura influencia o quanto os pesticidas afetam o comportamento das abelhas, sugerindo impactos incertos nas mudanças climáticas, de acordo com um novo estudo.

As descobertas indicam que futuros eventos extremos de temperatura sob a mudança climática podem aumentar o impacto de pesticidas nas populações de abelhas e seus serviços de polinização.

Certos pesticidas, particularmente uma classe chamada neonicotinóides, são conhecidos por afetar as abelhas e outros insetos importantes, e acredita-se que contribuam para o declínio da população. No entanto, as respostas relatadas pelas abelhas a essa ameaça em todo o mundo parecem variar, sugerindo que outros fatores de interação estão em jogo.

Agora, pesquisadores do Imperial College London mostraram que a temperatura ambiental pode influenciar o grau em que os pesticidas podem alterar um conjunto de comportamentos de abelhas importantes para sua sobrevivência e capacidade de polinizar as plantações. O estudo foi publicado na Global Change Biology.

Efeitos de pesticidas no voo sob ondas de calor

A equipe estudou seis comportamentos de abelhas sob a influência de 2 pesticidas (o neonicotinoide imidaclopride e a sulfoximina sulfoxaflor) em três temperaturas (2°, 27° e 30°C).

Quatro dos comportamentos – capacidade de resposta, probabilidade de movimento, taxa de caminhada e taxa de consumo de alimentos – foram afetados pelo imidaclopride mais fortemente na temperatura mais baixa. Isso sugere que as ondas de frio podem aumentar a toxicidade de pesticidas em comportamentos importantes para os deveres do ninho.

No entanto, um comportamento chave – até onde as abelhas podiam voar – foi mais fortemente afetado pelo imidaclopride na temperatura mais alta. Essa relação apresentou uma forte queda, com distância de voo medindo a mesma entre 21°C e 27°C, antes de cair drasticamente ao atingir 30°C.

O pesquisador principal, Dr. Richard Gill, do Departamento de Ciências da Vida (Silwood Park) da Imperial, disse: “A queda no desempenho de voo na temperatura mais alta sugere que um ‘ponto de inflexão’ foi alcançado na capacidade das abelhas de tolerar o temperatura combinada e exposição a pesticidas. Esse aparente efeito de beira de penhasco ocorre em apenas 3°C, o que muda nossa percepção da dinâmica do risco de pesticidas, uma vez que essas mudanças de temperatura geralmente ocorrem no espaço de um dia.

“Além disso, prevê-se que a frequência com que as abelhas serão expostas a pesticidas e temperaturas extremas sob a mudança climática aumente. Nosso trabalho pode ajudar a informar as concentrações corretas e os tempos de aplicação de pesticidas em diferentes regiões climáticas do mundo para ajudar a proteger os polinizadores, como as abelhas”.

Problemas de polinização

A distância de voo é fundamental para a polinização, pois sustenta o potencial de forrageamento e contribui para a segurança alimentar por meio da polinização das culturas.

Embora os trópicos sejam mais quentes em geral, é possível que as populações de insetos polinizadores nas latitudes mais temperadas, incluindo o Reino Unido, sintam mais fortemente os efeitos dos pesticidas, pois as faixas de temperatura são maiores.

As abelhas são responsáveis pela polinização de muitas culturas importantes de cereais, bem como de leguminosas e árvores frutíferas.

À medida que diversificamos nosso suprimento de alimentos, a demanda por seus serviços de polinização aumentará – mas também o estresse que as abelhas enfrentam, devido às mudanças climáticas e ao aumento do uso de inseticidas.

Este trabalho que quantifica as relações entre temperatura e impacto de pesticidas deve ajudar a modelar os riscos de pesticidas em diferentes regiões do mundo à medida que o clima muda, dizem os pesquisadores. O primeiro autor Daniel Kenna, do Departamento de Ciências da Vida (Silwood Park) da Imperial, disse: “Nossas descobertas mostram que o contexto ambiental é crucial ao avaliar a toxicidade de pesticidas, particularmente ao projetar respostas das abelhas em futuras mudanças climáticas”.

O coautor Dr. Peter Graystock, do Departamento de Ciências da Vida (Silwood Park) da Imperial, disse: “Esses resultados são importantes para desenvolver uma estrutura de previsão de toxicidade, permitindo-nos prever como as populações de abelhas responderão às mudanças climáticas enquanto vivem em condições intensas paisagens agrícolas”.

Em seguida, a equipe deseja fazer estudos mais abrangentes em todo o gradiente de temperatura para determinar como os efeitos da toxicidade aumentam com a temperatura e precisamente onde os pontos de inflexão podem estar em uma variedade de espécies. (ecodebate)

Impactos dos plásticos oceânicos na saúde humana e nos oceanos

Os resíduos de plástico são onipresentes no ambiente global, com microplásticos ocorrendo em todo o oceano e na cadeia alimentar marinha.
Lixo nos oceanos faz mal à saúde.

Pela primeira vez, os principais pesquisadores das áreas de saúde, ciências oceânicas e ciências sociais colaboraram para quantificar os riscos consideráveis do plástico para toda a vida na Terra. O relatório Minderoo-Monaco Commission on Plastics and Human Health , divulgado hoje, apresenta uma análise abrangente que mostra os plásticos como um perigo em todas as fases do seu ciclo de vida.

O relatório foi liderado por cientistas da Minderoo Foundation, do Centre Scientifique de Monaco e do Boston College. Os pesquisadores Mark Hahn e John Stegeman, da Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), foram os principais autores de uma seção com foco nos impactos dos plásticos no oceano.

As principais conclusões da Comissão incluem:

• Os plásticos causam doenças, deficiências e mortalidade prematura em todas as fases do seu ciclo de vida, com repercussões na saúde afetando desproporcionalmente comunidades minoritárias vulneráveis e de baixa renda, principalmente crianças.

• Os produtos químicos tóxicos que são adicionados aos plásticos e rotineiramente detectados nas pessoas são, entre outros efeitos, conhecidos por aumentar o risco de aborto espontâneo, obesidade, doenças cardiovasculares e cânceres.

• Os resíduos de plástico são onipresentes no ambiente global, com microplásticos ocorrendo em todo o oceano e na cadeia alimentar marinha.

“Faz pouco mais de 50 anos desde que tomamos conhecimento da presença de plásticos em todo o oceano”, disse John Stegeman, cientista sênior do Departamento de Biologia da WHOI. “O trabalho da Comissão Minderoo-Monaco é um salto significativo ao conectar as amplas implicações dos plásticos para a saúde – para o oceano e para a humanidade”.

A Comissão concluiu que os padrões atuais de produção, uso e descarte de plástico não são sustentáveis e são responsáveis por danos significativos à saúde humana, à economia e ao meio ambiente – especialmente o oceano –, bem como profundas injustiças sociais.

Os plásticos, observa o relatório, representam cerca de 4 a 5% de todas as emissões de gases de efeito estufa em todo o seu ciclo de vida, equivalentes às emissões da Rússia, tornando-os um contribuinte em larga escala para as mudanças climáticas.

O estudo também calculou o custo das repercussões à saúde atribuídas à produção de plástico em US$ 250 bilhões em um período de 12 meses, o que é mais do que o PIB da Nova Zelândia ou Finlândia em 2015, ano em que os dados foram coletados. Além disso, estima-se que os custos de assistência médica associados a produtos químicos em plásticos cheguem a centenas de bilhões de dólares.
A pesquisa também observou que a onipresença de fast food e lojas de desconto em comunidades mais pobres aumentou a exposição a embalagens plásticas, produtos e produtos químicos e impactos associados.

“Os resíduos plásticos põem em perigo os ecossistemas oceânicos dos quais toda a humanidade depende para alimentação, oxigênio, subsistência e bem-estar”, disse o Dr. Hervé Raps, médico delegado para pesquisa no Centre Scientifique de Monaco. “Além de seus efeitos intrínsecos, os plásticos também podem ser um vetor para microrganismos potencialmente patogênicos e outros produtos químicos adsorvidos da água poluída. E junto com as novas descobertas deste relatório, ligando produtos químicos tóxicos a danos humanos, este não é o momento de desacelerar nossa compreensão dos impactos no oceano”.

Embora o dano potencial dos plásticos à saúde humana possa ser novidade para alguns, as comunidades oceanográficas e de biologia marinha estão cientes de seus impactos ambientais negativos há décadas.

Apesar desta vantagem, as conclusões da Comissão revelam uma necessidade premente de uma melhor compreensão e monitorização dos efeitos dos plásticos e dos produtos químicos associados aos plásticos nas espécies marinhas. Os autores também destacam uma significativa falta de conhecimento sobre as concentrações das menores partículas micro e nanoplásticas (MNPs) no ambiente marinho e seus potenciais impactos nos animais e ecossistemas marinhos, desde as costas até os abismos.

Como resultado de suas descobertas, a Comissão pediu que um limite para a produção global de plástico seja uma característica definidora do Tratado Global de Plásticos atualmente em negociação na ONU, e que o Tratado se concentre além do lixo marinho para abordar os impactos dos plásticos em toda o seu ciclo de vida, incluindo os muitos milhares de produtos químicos incorporados nos plásticos e os impactos na saúde humana.

A boa notícia é que a Comissão relata que muitos dos danos causados pelos plásticos podem ser evitados por meio de melhores práticas de produção, design alternativo, produtos químicos menos tóxicos e redução do consumo.

“A saúde dos oceanos está intimamente e intrinsecamente ligada à saúde humana”, disse Mark Hahn, cientista sênior do Departamento de Biologia da WHOI. “Nossa atenção agora precisa estar na criação de um acordo internacional amplamente aceitável que aborde todo o ciclo de vida dos plásticos, a fim de priorizar a saúde do oceano que nos sustenta a todos”.

Plásticos entram no oceano através de muitas fontes, por exemplo, de escoamento, rios e águas subterrâneas. Plásticos entram na cadeia alimentar pelo consumo do plâncton, como os copépodes, os organismos multicelulares mais abundantes no oceano. Peixes então comem os copépodes e os humanos consomem os peixes, trazendo o círculo completo de plástico de volta aos humanos. (ecodebate)

Degradação florestal na Amazônia afeta área três vezes maior que desmatamento

Entre março de 2023 e de 2024, INPE detectou aviso de degradação para 20,4 mil km², maior que os 18 mil km² do período anterior. É necessári...