sexta-feira, 31 de maio de 2013

A população do Uruguai em 2100

A população do Uruguai era de 2,24 milhões de habitantes em 1950 (menor do que a população de Brasília atualmente) e passou para 3,37 milhões de habitantes em 2010, pouco mais da metade da população da cidade do Rio de Janeiro. O Uruguai, além de ser um país pouco populoso, teve um crescimento demográfico mais lento do que o brasileiro. Para 2050, a estimativa é de 3,66 milhões na projeção média, devendo cair ligeiramente para 3,4 milhões de habitantes em 2100. No final do século XXI do Uruguai pode chegar a 5,6 milhões na hipótese alta ou 1,9 milhões na hipótese baixa. A densidade demográfica era de 19 habitantes por quilômetro quadrado em 2010, próxima da brasileira de 23 hab/km2 na mesma data.
A taxa de fecundidade total (TFT) do Uruguai já era baixa em 1950, para os padrões latino americanos. Em 1950, a TFT era de 2,7 filhos por mulher e chegou a 2,1 filhos em 2010, acima da taxa brasileira que estava em 1,9 filhos por mulher. As estimativas médias indicam TFT de 1,84 filhos em 2050 e 1,97 em 2100. O número médio de nascimentos estava em 49 mil no quinquênio 1950-55 e chegou a 51 mil nascimentos em 2005-10. A idade mediana era de 27,8 anos em 1950 e passou para 33,7 anos, mostrando que o Uruguai tem uma estrutura etária mais envelhecida que a do Brasil.
A mortalidade infantil e a esperança de vida estavam, no quinquênio 1950-55, em 57,4 mortes para cada mil nascimentos e 66 anos, respectivamente. A mortalidade infantil caiu para 13,1 por mil e a esperança de vida subiu para 76,4 anos, no quinquênio 2005-10. Para 2100, estima-se uma mortalidade infantil e 2,5 por mil e uma esperança de vida de 86,4 anos.
Em termos ambientais, o Uruguai possui um grande superávit ambiental. Segundo o relatório Planeta Vivo, da WWF, a pegada ecológica per capita dos uruguaios era de 5,08 hectares globais (gha), em 2008, mas possuía uma biocapacidade de 10,03 gha.
O Uruguai é um país relativamente pequeno e com baixa densidade demográfica. Tem apresentado baixas taxas de crescimento da população. Mas ao invés de crise e “inverno demográfico”, o país tem o menor índice de pobreza da América Latina. (EcoDebate)

Até 2050 serão serão consumidos três planetas

Até 2050 serão necessários três planetas para suprir necessidades da população mundial, alerta ONU
Programa da Caixa Econômica Federal foi citado como referência por iniciativa de sustentabilidade da ONU.
Diante de crises econômicas, do aumento da degradação ambiental e da ameaça das mudanças climáticas, a comunidade internacional tem que se esforçar para melhor utilizar os recursos naturais da Terra.
Com o objetivo de informar sobre as ações necessárias que darão início a um futuro mais sustentável, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que atua como Secretariado do Quadro dos 10 anos de programas sobre Consumo e Produção Sustentáveis (10YFP), lançou esta semana a Global SCP Clearinghouse, uma rede de apoio e troca de informações sobre produção e consumo sustentável.
Os formuladores de políticas e profissionais de todo o mundo têm desenvolvido iniciativas e ferramentas que contribuem para o consumo e a produção sustentável (SCP, na sigla em inglês) ao longo dos anos, mas a informação existente é fragmentada e ainda faltam as pontes para conectá-las às pessoas.
A Clearinghouse utiliza os princípios das redes sociais para unir a comunidade global SCP e criar um centro para o conhecimento e a cooperação sobre o tema. Procura inspirar governos, setor empresarial, pesquisadores, sociedade civil e todos os profissionais da área ou outras partes interessadas a compartilhar iniciativas, notícias, ideias, melhores práticas e ferramentas para criar um banco de dados em todo o mundo, bem como uma rede de especialistas, de modo a fortalecer as parcerias através de um mercado de cooperação, grupos de trabalho e fóruns.
“O consumo e a produção sustentável não é apenas consumir menos, mas também fazer mais e melhor com menos. É sobre o aumento da eficiência dos recursos, promover estilos de vida sustentáveis e contribuir para a redução da pobreza”, disse Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do PNUMA.
“O PNUMA pretende acelerar a transição para estilos de vida mais sustentáveis e ajudar a tornar estes estilos de vida disponíveis para as pessoas nos países em desenvolvimento”, acrescentou.
Plataforma sustentável de arroz é uma das iniciativas já divulgadas na Clearinghouse
A ciência mostra que o estilo de vida atual da humanidade é insustentável. A população mundial, de 7 bilhões de pessoas, precisa atualmente dos recursos de um planeta e meio para se alimentar.
Se as tendências atuais de consumo continuarem, até 2050 — quando a população deverá chegar a nove bilhões — serão necessários três planetas terra. Somando-se a essas pressões, está a rápida aceleração da urbanização.
Embora as cidades ocupem apenas 3% da superfície terrestre do planeta, consomem 75% dos recursos naturais, produzem 50% dos resíduos mundiais e são responsáveis por 60 a 80% das emissões dos gases de efeito estufa. A urbanização só vai continuar a distorcer as taxas desproporcionais de consumo, aponta o PNUMA.
A SCP pode ajudar a população dos países em desenvolvimento através da criação de novos mercados, empregos decentes e sustentáveis — por exemplo, através de alimentos orgânicos, comércio justo, moradia sustentável, energia renovável, transporte sustentável e turismo –, bem como uma gestão mais eficiente e equitativa dos recursos naturais.
Ela também oferece a possibilidade de os países em desenvolvimento obterem um salto qualitativo para tecnologias de recursos mais eficientes, ambientalmente saudáveis e competitivas, contornando as fases ineficientes e poluentes do desenvolvimento. A poucos dias do seu pré-lançamento na reunião do Conselho de Administração do PNUMA, em fevereiro deste ano, a Global SCP Clearinghouse registrou quase 800 novos membros, de mais de 500 organizações com base em cerca de 100 países diferentes.
Dentre as muitas iniciativas apresentadas à Clearinghouse está, por exemplo, a Plataforma de Arroz Sustentável (SRP), coorganizado pelo PNUMA e pelo Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz com o objetivo promover a eficiência dos recursos e fluxos comerciais sustentáveis, produção e operações de consumo e as cadeias de fornecimento no setor global de arroz — uma cultura que alimenta metade do planeta.
Outra iniciativa é o Programa de Construção Sustentável, do banco público brasileiro Caixa Econômica Federal, que possui 70% do financiamento para construções de casas no mercado nacional e que, portanto, exerce grande influência na indústria de construção. O objetivo do programa é imbuir nessas indústrias práticas de construção sustentáveis, bem como a redução do impacto ambiental nos 2,6 mil escritórios no país.
Os interessados são incentivados a visitar o site da global SCP Clearinghouse para saber mais sobre as iniciativas em todo o mundo, se inscrever ou se registar como um especialista ou uma pessoa capacitada na área.
O desenvolvimento da Global SCP Clearinghouse foi apoiado pela Comissão Europeia, Noruega, Ministério espanhol de Negócios Estrangeiros e Cooperação, Ministério espanhol da Agricultura, Alimentos e Meio Ambiente e Ministério sueco do Meio Ambiente.  (EcoDebate)

A população da Turquia em 2100

A Turquia está exatamente no meio do caminho entre o Ocidente e o Oriente. Istambul ocupa os dois lados do estreito de Bósforo e é uma cidade que se espraia por dois continentes.
A maior cidade da Turquia foi fundada em 667 a. C. pelos gregos (o colonizador Bizas) e era conhecida por Bizâncio. Mas estando na confluência da Europa com a Ásia, a cidade foi conquistada e governada pelos Lídios, Persas, Atenienses e Macedônios. Alexandre o Grande passou por Bizâncio. A cidade de Tróia fica ao lado. Depois Bizâncio foi conquistada pelos Romanos. Três séculos depois do início da Era Cristã, o imperador Constantino (324-337) transformou a antiga Bizâncio em capital do Império Romano, rebatizando a cidade de “Nova Roma”. Mas ela ficou conhecida mesmo como Constantinopla. Um marco da arquitetura foi a construção da igreja Hagia Sophia, construída entre 532 e 537, no Império Bizantino, para ser a catedral de Constantinopla.
Mais de mil anos depois de uma rica e conturbada história, Constantinopla foi conquistada pelos Otomanos em 1453 e passou a se chamar Istambul. A conquista de Constantinopla pelos Otomanos é o fato considerado o início da época Moderna. Na verdade, a perda de Constantinopla pelos Europeus rompeu com o fluxo de comércio com a Ásia. Isto forçou à busca de um novo caminho para as Índias. Daí veio as grandes navegações e o descobrimento da América. Enfim, pela cidade histórica de Istambul passaram grandes líderes mundiais, grandes imperadores, grandes religiosos, grandes cientistas e marcos históricos únicos, etc.
A Turquia é um Estado laico desde a revolução promovida por Mustafá Kemal Attatürk, logo após o fim da I Guerra Mundial. Quando o carismático primeiro-ministro Erdogan chegou ao poder, em 2002, fez do ingresso da Turquia na União Europeia, inicialmente, sua meta principal. O Partido Justiça e Desenvolvimento, de inspiração muçulmana, tem enfrentado dificuldades para melhorar os direitos das minorias e reduzir as restrições à liberdade de expressão. Existem resistências para colocar a Turquia mais perto dos usos e costumes do Ocidente.
Uma questão chave seria a entrada da Turquia na União Europeia. Seria um teste decisivo na integração do continente, pois a Turquia é um país muçulmano com mais de 73 milhões de habitantes, em 2010, e deve chegar até 90 milhões, em 2040. Seria, portanto, o país mais populoso na União. Diversos líderes europeus, principalmente de origem católica, se manifestaram contra a entrada da Turquia. Porém, a entrada da Turquia na União Europeia seria o teste decisivo, pois se considerava que a economia turca poderia ganhar muito participando de um mercado muito maior.
Porém tudo mudou com a crise europeia de 2008 e que se agravou a partir de 2011. A União Europeia está em frangalhos, com possibilidade de implosão e com um possível fim da moeda comum, o Euro. Concomitantemente, a Turquia chegou a apresentar taxas de crescimento elevadas, em torno de 8% em 2010 e 2011. Segundo pesquisas de opinião, em 2004, 73% dos turcos achavam que o ingresso na União Europeia seria uma boa opção, contra apenas 38%, em 2010.
Ou seja, com a crise europeia a Turquia se volta para a Ásia, que é a região do mundo de maior crescimento econômico. Como a Turquia tem grande influência no Oriente Médio isto pode ser um fator de interesse para a China e a Índia. Ou seja, a tomada de Constantinopla, em 1453, foi o início de um novo caminho para as Índias. A perda da Turquia pelos europeus pode ser um ganho para os asiáticos (especialmente China) e mais um passo para a mudança na hegemonia econômica do novo mapa do mundo.
A população da Turquia era de 21,2 milhões de habitantes em 1950 e passou para 72,7 milhões de habitantes em 2010. Para 2050, a estimativa é de 91,6 milhões na projeção média, devendo cair para 79 milhões de habitantes em 2100. No final do século XXI pode chegar a 130 milhões na hipótese alta ou 44 milhões na hipótese baixa. A densidade demográfica era de 27 habitantes por quilômetro quadrado em 1950 e passou para 73 hab/km2 em 2010.
A taxa de fecundidade total (TFT) da Turquia era de 6,3 filhos por mulher em 1950, muito alta para os padrões europeus, mas passou para o nível de reposição (2,1 filhos) em 2010. As estimativas médias indicam TFT de 1,7 filhos em 2050 e 1,9 filho por mulher em 2100. O número médio de nascimentos estava em 1,1 milhão no quinquênio 1950-55 e chegou a 1,3 milhão de nascimentos em 2005-10. A razão de dependência demográfica era de 74 pessoas dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa e caiu para 48 em 2010. Isto quer dizer que a Turquia está em plena fase do bônus demográfico.
A mortalidade infantil e a esperança de vida estavam, em 1950-55, em 167 mortes para cada mil nascimentos e 48 anos, respectivamente. A mortalidade infantil caiu para 24 por mil e a esperança de vida subiu para 73 anos, no quinquênio 2005-10. Para 2100, estima-se uma mortalidade infantil e 5,3 por mil e uma esperança de vida de 84,5 anos.
Em termos ambientais, a Turquia possui déficit ambiental, pois segundo o relatório Planeta Vivo, da WWF, a pegada ecológica per capita dos turcos era de 2,55 hectares globais (gha), em 2008, mas possuía uma biocapacidade de apenas 1,31 gha. O avanço na transição demográfica e na transição para uma economia de baixo carbono pode ajudar a Turquia a minorar seus problemas ambientais. Problemas que precisam ser equacionados tanto na Europa, quanto na Ásia. (EcoDebate)

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Plantação de cana-de-açúcar na Amazônia Legal

Plantação de cana-de-açúcar na Amazônia Legal: ‘O ciclo se repete com novos desmatamentos’
O Projeto de Lei 626/2001 “poderá desencadear ou reforçar um mecanismo semelhante ao do desmatamento ilegal realizado pela indústria madeireira, que abre espaço para a criação de gado, que, por sua vez, dá lugar à soja e esta à cana-de-açúcar” diz o geógrafo.
A aprovação do Projeto de Lei 626/2001 pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle do Senado, que revê o Zoneamento Agroecológico – ZAE da cana-de-açúcar e autoriza seu plantio em áreas alteradas e nos biomas Cerrado e Campos Gerais na Amazônia Legal, “é um fato lamentável, que demonstra o comprometimento com agentes econômicos, sustentado por um discurso totalmente equivocado”, diz João Humberto Camelini à IHU On-Line. Segundo ele, “é possível alcançar o desenvolvimento de uma região por meio de um planejamento integrado, que envolva, entre outros fatores, a instalação de usinas de açúcar e etanol, mas a ideia que se propaga erroneamente é que a mera presença de uma usina conduz ao desenvolvimento”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o geógrafo esclarece que as questões em discussão são muito mais “complexas do que sugere a abordagem apresentada no Projeto de Lei”. Ele explica: “Quando uma cultura regulamentada como a cana-de-açúcar recebe autorização formal e incentivos para ocupação, isto implica no uso exclusivo de grandes porções de terras no entorno das usinas, dentro de um raio aproximado de 40 a 50 quilômetros, o que leva à rápida e agressiva substituição das atividades existentes, deslocando-as para áreas inalteradas”.
O Projeto de Lei, acentua, tem como objetivo expandir a produção de etanol para suprir a demanda externa, “que atualmente é potencial, mas que pode tornar-se real se o etanol passar a se comportar formalmente como uma commodity. Na verdade é uma aposta, pois a atual relação custo/benefício para produção de açúcar é muito melhor que a do etanol, mas este pode dar acesso a um mercado promissor no futuro. Hoje sua função é atender o mercado interno e equilibrar o preço da gasolina. A impressão geral dos produtores é que ele foi colocado em segundo plano após a descoberta do Pré-sal”.
João Humberto Camelini é mestre em Geografia com dissertação intitulada Regiões competitivas do etanol e vulnerabilidade territorial no Brasil: o caso emblemático de Quirinópolis-GO, apresentada no Instituto de Geociências – IG, da Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é doutorando na mesma área de concentração, atua como Coordenador Técnico para Geotecnologias e Infraestruturas na Tecgraf Tecnologia em Computação Gráfica e como Professor Assistente na Faculdade Politécnica de Campinas e Faculdade de Jaguariúna.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como o senhor vê a aprovação do Projeto de Lei 626/2011 pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle do Senado, que revê o Zoneamento Agroecológico – ZAE da cana-de-açúcar e autoriza seu plantio em áreas alteradas e nos biomas Cerrado e Campos Gerais na Amazônia Legal? O que esta expansão significa e demonstra sobre a agenda ambiental brasileira?
João Camelini – A meu ver, esta aprovação é um fato lamentável que demonstra o comprometimento com agentes econômicos, sustentado por um discurso totalmente equivocado. É possível alcançar o desenvolvimento de uma região por meio de um planejamento integrado que envolva, entre outros fatores, a instalação de usinas de açúcar e etanol. Porém, a ideia que se propaga erroneamente é que a mera presença de uma usina conduz ao desenvolvimento.
A questão é muito mais complexa do que sugere a abordagem apresentada neste Projeto de Lei. Não devemos apenas pensar na ocupação direta das áreas como a causa dos desmatamentos; este processo é muito mais sutil e gradual do que pode perceber o senso comum.
Quando uma cultura regulamentada como a cana-de-açúcar recebe autorização formal e incentivos para ocupação, isso implica o uso exclusivo de grandes porções de terras no entorno das usinas, dentro de um raio aproximado de 40 a 50 quilômetros, o que leva à rápida e agressiva substituição das atividades existentes, deslocando-as para áreas inalteradas. Isso gera grandes pressões por desmatamentos clandestinos e de difícil fiscalização.
É um mecanismo semelhante ao do desmatamento ilegal realizado pela indústria madeireira, que abre espaço para a criação de gado, que, por sua vez, dá lugar à soja e esta à cana-de-açúcar. O ciclo se repete com novos desmatamentos, mas a sua relação com as etapas finais é de difícil percepção.
IHU On-Line – A crítica à aprovação do Projeto de Lei refere-se especialmente à plantação de cana-de-açúcar na Amazônia Legal, porque o zoneamento ecológico da Embrapa não prevê o plantio de cana na região. Quais as implicações em expandir a produção de cana-de-açúcar para essa região? Como essa produção modifica a geografia da Amazônia?
João Camelini – No caso da ocupação da Amazônia, é necessário compreender que haverá grandes implicações associadas à logística, conceito que a geografia reinterpreta e utiliza para captar a essência de grande parte das movimentações políticas e corporativas. Por exemplo, será necessário estabelecer conexões entre a Amazônia e outras regiões para que a produção tenha fluidez e isso poderá conduzir ao surgimento de uma rede de transportes corporativa financiada com dinheiro público para servir a clusters de usinas. Muitos grupos usineiros têm participação de empresas multinacionais. Então, há o risco de este processo se destinar essencialmente à transferência de lucro para estes agentes.
A produção sucroenergética demanda especialização produtiva, ela promove o “alisamento” das áreas ocupadas, eliminando a diversidade das atividades. Nesse sentido, sua inserção na Amazônia pode ser algo extremamente perigoso, dando início a um processo de descaracterização da região. Além das questões ambientais e econômicas, há também os aspectos culturais, que não podem ser ignorados. O Projeto de Lei se refere à presença de mão de obra barata como um atributo de competitividade. Trata-se de um ensaio do discurso que prega o ingresso da região amazônica no leilão, que é a disputa por investimentos dos grupos usineiros. O próximo passo será conceder benefícios fiscais e reproduzir a ideia de que a usina é igual a desenvolvimento. Triste fim para uma região de potencial tão elevado.
IHU On-Line – Um dos argumentos utilizados para a aprovação do Projeto de Lei é o de que o plantio de cana-de-açúcar no Cerrado e na Amazônia Legal irá estimular a produção de biocombustíveis no país. Qual a atual situação da produção de biocombustível no país? Quais os objetivos de aumentá-la?
João Camelini – O principal objetivo de expandir a produção de etanol é suprir a demanda externa, que atualmente é potencial, mas que pode tornar-se real se o etanol passar a se comportar formalmente como uma commodity. Na verdade, isso é uma aposta, pois a atual relação custo/benefício para produção de açúcar é muito melhor que a do etanol, mas este pode dar acesso a um mercado promissor no futuro. Hoje sua função é atender o mercado interno e equilibrar o preço da gasolina. A impressão geral dos produtores é que ele foi colocado em segundo plano após a descoberta do pré-sal.
Eu não acredito que o plantio de cana-de-açúcar no Cerrado e na Amazônia seja necessário para estimular a produção de biocombustíveis, porque existem várias alternativas que podem ser exploradas antes de se iniciar (ou intensificar, no caso do Cerrado) a ocupação destas regiões. Com a crescente adoção da chamada agricultura de precisão, a produtividade das áreas atualmente ocupadas pode aumentar significativamente, bem como o raio de influência das usinas, que poderão buscar matéria-prima em locais mais distantes devido à diminuição do tempo e custos envolvidos no corte, carregamento e transporte da cana. O desenvolvimento de novas variedades, muito mais produtivas, associadas à diminuição do pisoteio pelo uso racional da irrigação em lugar da circulação de veículos para aplicar corretivos no solo, poderá resultar em talhões com ciclos de vida muito mais longos, reduzindo sensivelmente o investimento em reformas.
Além disso, é possível utilizar técnicas e equipamentos para recuperação de solos degradados e implementos de sulcação profunda, elementos estes que permitem melhor retenção da água e aproveitamento dos nutrientes, viabilizando a eliminação de terraços e novos traçados das linhas de cana, aumentando o rendimento por hectare plantado. Desse modo, áreas mal aproveitadas e próximas às existentes serão ativadas e o financiamento destinado à fluidez da produção poderá ser bem inferior, reduzindo a ociosidade das estruturas produtivas e de transporte.
IHU On-Line – Para quais regiões do país a cana-de-açúcar está sendo expandida nos últimos anos?
João Camelini – Com a saturação das terras no estado de São Paulo, o processo de desconcentração espacial direcionou a expansão da produção de cana-de-açúcar para o Centro-Oeste do país, especialmente para Goiás e Mato Grosso do Sul. Também há vetores de ocupação em direção ao Triângulo Mineiro e norte do Paraná. Isso se deve principalmente à proximidade com o grande mercado consumidor paulista, para o qual as bases de distribuição foram inicialmente posicionadas, mas também tem relação com o grande potencial de exportação do etanol. Esta expectativa pela consolidação de um mercado externo vem atraindo investimentos em infraestruturas para possibilitar a fluidez da produção até os portos.
IHU On-Line – Quais são as alternativas econômicas e produtivas mais adequadas e adaptadas à Amazônia e ao Cerrado?
João CameliniAo contrário do que se pode imaginar, estas regiões possuem enorme potencial econômico e podem ser aproveitadas de forma bastante lucrativa, beneficiando a sociedade sem que isso represente grandes impactos sobre o meio ambiente. O caminho para isso não tem necessariamente que passar pelo modelo agrícola uniforme adotado no restante do país. Isso porque é preciso respeitar as particularidades destas áreas preservadas. Acho que é fundamental a elaboração de políticas públicas que estimulem a pesquisa da biodiversidade, o que poderia resultar em muitas inovações de grande vulto. Para isso, é preciso que sejam oferecidas condições para assegurar e desburocratizar o direito à propriedade intelectual, privilegiando investidores brasileiros. Isso é fundamental porque nestas regiões há grandes oportunidades para a obtenção de produtos com alto valor agregado, como fármacos inovadores, cosméticos e outros itens diferenciados com selos de indicações geográficas. Estes poderiam ser exportados por via aérea e o investimento nesse modal resultaria em melhores condições para expandir e profissionalizar o turismo. Estas medidas poderiam trazer a sinergia necessária para inibir práticas ilegais, já que a fiscalização pública destas regiões é inviável devido às suas dimensões.
IHU On-Line – Como a produção de biocombustíveis a partir da produção de cana-de-açúcar é abordada no Plano Nacional de Energia – PNE para 2030?
João Camelini – Espera-se que a participação da cana-de-açúcar e derivados na matriz energética brasileira chegue a 19%, ficando somente atrás do petróleo. Fica evidente a intenção de dimensionar o potencial produtivo para alcançar excedentes destinados à exportação de etanol, que está qualificado como alternativa aos combustíveis fósseis, especialmente após o surgimento dos veículos flex fuel. Gostaria de salientar o aumento da importância da bioeletricidade como produto, que pode justificar a formação de clusters de usinas e viabilizar sua conexão com redes de distribuição. Também é importante ressaltar a preocupação do documento com as rotas de abastecimento, já que as condições logísticas são determinantes para a competitividade do etanol.
O PNE apresenta alguns benefícios estratégicos, sociais e ambientais do aumento da produção de etanol, mas é preciso lembrar que o modelo de ocupação com cana-de-açúcar pode expor os municípios, especialmente os pequenos, a condições de vulnerabilidade territorial. Por exemplo, recentemente os municípios de Santa Helena-GO e Espírito Santo do Turvo-SP passaram por grandes dificuldades quando suas respectivas usinas faliram. Não pretendo afirmar que a cana-de-açúcar é necessariamente um mal, pelo contrário, ela pode colaborar para o fortalecimento econômico regional, mas é preciso harmonizar a instalação de novas usinas a um planejamento mais amplo. É preciso ter um plano B. (EcoDebate)

Desmatamento reduziu e a agropecuária aumentou

Desmatamento em MT reduziu 93% e produção agropecuária aumentou
Redução ocorreu nos últimos oito anos, segundo dados do INPE. Produção agropecuária acumulou alta, principalmente da soja.
Mato Grosso reduziu o desmatamento em 93% em oito anos e, aumentando a produtividade agropecuária, evitou a abertura de 27 milhões de hectares nos últimos anos. O estado vem se tornando referência no país por conseguir equilibrar a produção e a preservação ambiental.
A prova disso é a redução na área desmatada, de 11,8 mil km² em 2004 para 777 km² em 2012, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Mesmo evitando abrir novas áreas, a produção agropecuária mato-grossense acumulou alta de 60% no caso da soja, aumentando de 15 milhões de toneladas em 2005 para 24,1 milhões de toneladas em 2012.
O gestor do Núcleo Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Eduardo Godoy, ressalta que o aumento da produção agrícola no estado, incentivada pelo plantio de soja, é resultado da alta da produtividade. O rendimento por hectare, conforme levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), passou de 2,2 mil quilos por hectare para 3,1 mil quilos por hectare em oito anos.
Ele aponta ainda que na pecuária a taxa de lotação quase dobrou chegando a 1,5 cabeças por hectare nos últimos 5 anos. Godoy lembra que a tendência para até 2022 é de redução na área destinada a bovinocultura, atingindo 19,8 milhões de hectares. Por outro lado, teremos aumento do rebanho bovino, totalizando 29,6 milhões de cabeças em Mato Grosso. A projeção ainda é que a soja siga o ritmo crescente, conquistando 39,1 milhões de toneladas na safra 2021/2022.
Para o coordenador-geral de Monitoramento Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), George Porto Ferreira, o desmatamento no país, seguindo o ritmo de Mato Grosso, entra em acordo com o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que prevê a redução de emissões de gases de efeito estufa, além de outros ganhos ambientais e benefícios socioeconômicos.
A iniciativa propõe ainda metas e visa incentivar o desenvolvimento e aprimoramento de ações de mitigação no Brasil. Entre 2004 e 2001 o desmatamento observado no país reduziu de 19.625 km² para 4.656 km². Para 2020, o objetivo é chegar a 3.925 km2. (g1)

Ocupação desordenada e o desmatamento da Amazônia

Ocupação desordenada é o principal fator de desmatamento da Amazônia
“Em 43 anos, a Amazônia passou de 7 milhões para 20 milhões de pessoas”, afirmou Neli Mello-Thiery, especialista em políticas territoriais e gestão ambiental na Amazônia durante o 4º encontro do projeto Repórter do Futuro. O evento integrou o curso “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter” da Oboré e ocorreu no dia 18 de maio no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
Para Mello-Thiery, “essa explosão foi resultado da atuação de grandes corporações como a Volkswagen, que ocupou milhares de hectares de terra naquela região, levando as pessoas a viverem por lá”. A pesquisadora afirmou ainda que tais práticas não só impulsionaram o aumento da população, mas também incentivaram o desmatamento da floresta. Elas são resultado da expansão industrial incentivada pelo Programa de Integração Nacional (PIN), realizado pelo governo federal com o objetivo de “colonizar” a Amazônia.
“O desenvolvimento de uma região é sempre muito bem vindo, desde que a ocupação dessas terras seja feita de forma planejada e direcionada por um governo que não é guiado por fatores econômicos”, diz Mello-Thiery. E continua: “No Brasil, a questão de terras na Amazônia foi administrada no começo pelos militares, e na gestão Lula, só mudou o governo, continuou o mesmo processo de ocupação”.
Pesquisas científicas realizadas pela especialista, através do IEA, apontaram que mais de 13% da Amazônia são terras desconhecidas, em consequência da falta de renovação do código florestal e à falta de cadastramento. Após 1964, o cadastramento nacional de terras foi paralisado e só voltou a ser feito em 1997, 33 depois. Porém, entre 1996 e 2012, quando foi feita a primeira alteração no código florestal para a proteção das terras amazônicas, estabelecendo que dos 100% de terras ocupadas, 80% serão protegidas pelo governo e 20% poderão ser utilizadas pela iniciativa privada.
Paulo Ortiz, jornalista e coordenador do curso da Oboré, afirma que “os processos de regularização e proteção do código florestal têm um impacto muito grande na Amazônia. Segundo ele, para os ruralistas, apenas 20% das terras ocupadas deveriam servir para as práticas agropecuárias, e os demais 80%, para as práticas agroextrativistas.” As práticas agroextrativistas são uma forma de agricultura utilizada pela cultura indígena, que respeitam o meio ambiente.
O Brasil é o único país do mundo que possui três órgãos, nacionais e com reconhecimento internacional, responsáveis pela demarcação de terras: IBAMA, FUNAI e INCRA. Os demais países do mundo possuem um único órgão. No caso do Brasil, essa quantidade de órgãos gera burocracia e conflitos entre o governo e os proprietários de terras. O INCRA detém a maior parte de terras públicas, segundo Mello-Thiery. Porém, os critérios usados hoje para a ocupação de terras são anticonstitucionais e ultrapassados para a especialista, dados a evolução habitacional e o desenvolvimento econômico que a região amazônica apresenta.
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Hoje a floresta Amazônica é conhecida pela sua grande extensão territorial no planeta. Mas o seu grau de preservação, quando comparado com o de outras grandes florestas do mundo, é menor. Outras florestas como as Boreais na Europa, as florestas da Malásia na Ásia e a floresta Maiombe, a maior da África Austral, apresentam grau de conservação muito maior. Em grande parte, a menor preservação da floresta Amazônica se deve à ocupação que ela tem sofrido ao longo dos anos. (EcoDebate)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Vitória dos céticos da mudança climática

A humanidade resolveu não enfrentar o assunto chato e deixar se acumularem os perigos reais e presentes da mudança climática. Foi esse argumento que defendi na coluna da semana passada. A julgar pela inação mundial, os céticos da mudança climática venceram. Isso torna seu ressentimento mais notável. Para o restante de nós, a interrogação que permanece é se alguma coisa ainda pode ser feita, e, se puder o que seria.
Ao examinar a questão, uma pessoa racional deveria certamente reconhecer a magnitude do consenso dos cientistas climáticos com relação à hipótese do aquecimento provocado pelo homem. Uma análise de resumos de 11.944 estudos científicos avaliados por colegas, publicados entre 1991 e 2011 e escritos por 29.083 autores, conclui que 98,4% dos autores que tomaram posição endossaram o aquecimento global provocado pelo homem (antropogênico), 1,2% o rejeitaram e 0,4% não souberam dizer. Percentuais semelhantes resultaram de análises alternativas dos dados.
Uma possível resposta é insistir que todos esses cientistas estão errados. Isso, naturalmente, é concebível. Cientistas erraram no passado. Mas escolher esse ramo da ciência para a rejeição, simplesmente pelo fato de suas conclusões serem tão desconfortáveis, é irracional, embora compreensível. Isso leva a uma segunda linha de ataque: insistir que esses cientistas estão corrompidos pelo dinheiro e pela fama. A isso respondo: será mesmo? Seria plausível que toda uma geração de cientistas tenha inventado e defendido um embuste óbvio em troca de ganhos materiais (modestos), sabendo que serão pegos? É mais plausível que os cientistas que rejeitam a opinião mais comum o façam exatamente por esses motivos, uma vez que interesses poderosos se opõem ao consenso com relação ao clima, e os acadêmicos que fecham com eles na discussão estão em número muito menor.
Apenas a ameaça de uma catástrofe mais iminente é passível de mudar esse quadro e, quando isso acontecer, poderá ser tarde demais. Esta é uma verdade deprimente. Pode se mostrar também um fracasso condenatório.
Infelizmente, por mais racional que possa ser tentar diminuir o risco de consequências catastróficas, não é isso o que está acontecendo agora ou o que parece tendente a acontecer num futuro previsível. Dados sobre a queima de combustíveis fósseis desde meados do século XVIII mostram um aumento constante das emissões anuais de dióxido de carbono (CO2). Esses dados, é verdade, revelam efetivamente uma desaceleração do ritmo de aumento das emissões anuais na década de 1980 e de 1990. Mas essa desaceleração foi revertida na década de 2000, com a intensificação da combustão de carvão por parte da China. Atualmente, 30% do CO2 presente na atmosfera deve-se diretamente à atividade humana.
O que está por trás dessa escalada recente das emissões está bem claro: o crescimento movido pela tentativa de alcançar os mais desenvolvidos. A China foi responsável por 24% do total das emissões mundiais em 2009, contra 17% dos Estados Unidos e 8% da zona do euro. Mas cada chinês emite apenas o equivalente a um terço que um americano e menos de 80% que um habitante da zona do euro. A China é uma economia emergente relativamente dada ao desperdício, em termos de suas emissões por unidade produzida. Mas emite, no entanto, menos per capita do que os países de alta renda porque sua população continua sendo relativamente pobre.
Com o desenvolvimento dos países emergentes, as emissões per capita tenderão a aumentar rumo aos níveis observados nos países de alta renda, o que elevará a média mundial.
Portanto, esqueça a retórica: não apenas os estoques de CO2 na atmosfera, mas também os fluxos, estão piorando. Céticos convencidos de que o melhor a fazer é nada deveriam parar de se lamentar: eles venceram.
E o restante de nós? A probabilidade de que o ser humano alcance a redução das emissões necessária para manter as concentrações de CO2 abaixo de 450 partes por milhão e, assim, reduza grandemente os riscos de a temperatura mundial aumentar mais do que 2ºC é próxima de zero. A redução de 25% a 40% por parte dos países de alta renda até 2020, necessária para pôr o mundo nessa trajetória, não vai acontecer.
Em vista disso, nesta sinistra situação, o que deveria ser feito? Seguem-se oito possibilidades.
Em primeiro lugar, implementar os impostos sobre as emissões de carbono. Taxar coisas ruins é sempre um bom começo. No atual contexto, as emissões chegaram a esse grau deletério. Os impostos são a maneira mais simples de deslocar os incentivos. Uma vez que a receita seria creditada a cada governo, os rendimentos poderiam ser deliberadamente empregados para reduzir outros impostos – sobre o emprego, por exemplo. As complexas questões distributivas mundiais poderiam ser ignoradas. Seria melhor se fosse possível os governos se comprometerem com uma progressão de longo prazo dos impostos, dando assim aos investidores um grau de previsibilidade para o custo do carbono.
Em 2° lugar, optar pela matriz nuclear. É por isso que a França é uma economia de carbono tão notavelmente baixo. É um modelo que os outros deveriam abraçar, e não repelir.
Em 3° lugar, impor padrões de emissão realmente rígidos sobre automóveis, eletrodomésticos e outras máquinas. A inovação vai florescer em resposta à combinação de preço e padrões reguladores, como já aconteceu com tanta frequência. Nunca saberemos o que as empresas conseguem fazer se não ousarmos perguntar.
Em 4° lugar, criar um regime de comércio mundial seguro dos combustíveis de carbono mais baixo. Essa é uma maneira de convencer a China a se afastar do carvão.
Em 5° lugar, desenvolver maneiras de financiar a transferência das melhores tecnologias disponíveis para criar e economizar energia em todos os quadrantes do planeta.
Em 6° lugar, deixar os governos investirem em pesquisa e em inovação de estágio inicial, por meio de uma combinação entre financiamento à pesquisa na universidade e apoio a parcerias público-privadas.
Em 7° lugar, investir em adaptação aos efeitos da mudança climática. Isso terá certamente de ser um foco da assistência ao desenvolvimento no futuro.
Finalmente, estudar cuidadosamente a possibilidade de lançar mão da geoengenharia, da manipulação em grande escala do planeta a fim de reverter a mudança climática, por mais medonha que seja essa ideia.
Nada disso pode ser o suficiente para eliminar os riscos das alterações climáticas gravemente inconvenientes. A tentativa de afastar nossas alternativas das que impulsionam atualmente emissões cada vez maiores fracassou. E continuará, por enquanto, a fracassar. Os motivos desse fracasso são profundamente arraigados. Apenas a ameaça de uma catástrofe mais iminente é passível de mudar esse quadro e, quando isso acontecer, poderá ser tarde demais. Esta é uma verdade deprimente. Pode se mostrar também um fracasso condenatório. (EcoDebate)

Ação humana coloca planeta em nova era geológica

Antropoceno: Ação humana coloca planeta em nova época geológica, dizem cientistas
Paisagem no Arizona, EUA/Rochas sedimentares e fósseis serão utilizados para determinar nova época geológica.
A atividade humana transformou o planeta de forma tão permanente e vasta nos últimos dois séculos que a Terra entrou em uma nova época geológica, a Antropocena.
É o que defendem cientistas e geólogos que discutirão nesta semana o impacto da ação humana e da natureza sobre os sistemas hídricos globais, na conferência Water in the Anthropocene (Água no Antropoceno, em tradução livre), organizada pelo Global Water System Project (GWSP), em Bonn, na Alemanha.
De acordo com os pesquisadores, o crescimento populacional, a construção de metrópoles, o desmatamento e o uso de combustíveis fósseis provocaram um efeito no planeta comparável ao derretimento de geleiras ocorrido há 11.500 anos ─ evento que marca o início da época Holocena na escala de tempo geológico.
A escala de tempo geológico estabelece eones, eras, períodos, épocas e idades que permitem categorizar as diferentes fases que vão da formação da Terra ao presente.
O termo “Antropoceno“, cunhado pelo Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen em 2000 e adotado por parte da comunidade acadêmica na última década, ainda não é reconhecido oficialmente.
Segundo a Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS, em inglês), responsável pela definição da escala de tempo da Terra, estamos, ainda, na época Holocena (iniciada há 11.500 anos).
A Holocena, por sua vez, faz parte de espaços de tempo geológicos mais extensos: o período Quaternário (há 1,8 milhões de anos), a era Cenozoica (há 65 milhões de anos) e o éon Fanerozoico (há 543 milhões de anos).
Para uma ciência que trabalha com escalas relativas à história de 4,5 bilhões de anos da Terra, o surgimento do homem (cerca de 200 mil anos atrás) é um fenômeno recente e por isso costumava ocupar uma posição periférica nos estudos geológicos.
Pela primeira vez, no entanto, o assunto está sendo analisado formalmente ─ a ICS convocou especialistas que tem até 2016 para analisar os estratos geológicos e definir o que seria o fim da época Holocena e o início da Antropocena.
Indícios do Antropoceno
“O Brasil, que é o segundo país mais rico em água do mundo, exporta não somente produtos agrícolas, mas também exporta virtualmente seus recursos naturais para balancear a ausência de água ou nutrientes do solo em outros países.” Janos Bogardi, vice-reitor da Universidade da ONU.
“Reconhecer a ideia do Antropoceno é reconhecer o impacto irreversível das atividades do homem, que afetam não somente os sistemas de água e recursos naturais do planeta, mas também o que essas ações significam no futuro das espécies”, disse à BBC Brasil Janos Bogardi, vice-reitor da Universidade da ONU e um dos moderadores da conferência em Bonn.
Para demarcar mudanças na escala de tempo geológica como a proposta do Antropoceno, geólogos analisam marcas deixadas em rochas sedimentares e organismos fossilizados.
Segundo os especialistas da GWSP, o homem move mais rochas e sedimentos do que as forças do gelo, do vento e da água, acelera processos de erosão e libera mais nitrogênio no ar do que plantas e outros organismos seriam capazes, principalmente desde a segunda metade do século 21.
Mais do que ocupar a superfície da Terra de forma extensa, ─ como já aconteceu em épocas anteriores ─ a urbanização, a globalização e o estilo de vida do homem contemporâneo estão transformando a forma como o planeta funciona.
Dados da GWSP comprovam que a ação humana é responsável pelo desmatamento de uma área do tamanho da América do Sul para agricultura e outra do tamanho da África para pecuária, o que teria impactado o clima, o solo e a vida de espécies no planeta.
Exportações indiretas
Ação humana teria causado mudança de Holoceno para Antropoceno
Para Bogardi, classificar o atual capítulo da história da Terra de Antropoceno funcionaria não somente como uma mera nomenclatura, mas como um alerta. “As consequências das ações do homem não afetam o planeta apenas de forma local, mas provocam coletivamente um impacto na constituição da Terra e discutir isso serve para minimizar as consequências e danos irreversíveis que afetariam o globo da pior forma no futuro”, diz.
“O Brasil, que é o segundo país mais rico em água do mundo, somente atrás da Rússia, exporta não somente produtos agrícolas para países europeus, mas também exporta virtualmente seus recursos naturais para balancear a ausência de água ou nutrientes do solo em outros países.”
De acordo com Bogardi, o Brasil exporta de forma indireta ─ durante os processos de produção agrícola e pecuária para exportação ─ 5,7 Km3 de água por ano somente para a Alemanha.
Por isso, ele defende, debater o uso dos recursos como a água não seria apenas papel do Brasil, mas de um esforço conjunto de países. Mas a discussão sobre a nova época Antropocena seria tanto sobre as “más notícias” e desafios, como sobre oportunidades e qualidades.
“Parte do crescimento econômico e desenvolvimento social que o Brasil vive hoje vem dessa enorme potencialidade do uso de recursos, por exemplo, então a proposta não é acabar com a ação humana no planeta, mas debater como fazer isso de forma sustentável para o futuro”, explica. (EcoDebate)

Mudança clima reduzirá variedade de biodiversidade

Mudança climática deve reduzir variedade de plantas e animais, diz estudo
Aumento elevado de temperaturas deve afetar até as espécies mais comuns, no mundo inteiro
A metade das espécies comuns de plantas e animais pode sofrer um declínio significativo em seu habitat por conta das mudanças climáticas nas próximas décadas, adverte um estudo [Quantifying the benefit of early climate change mitigation in avoiding biodiversity loss] divulgado neste domingo e publicado no periódico Nature Climate Change.
Segundo a pesquisa, a biodiversidade ao redor do mundo sofrerá duramente se as temperaturas subirem acima de 2ºC. E os principais efeitos devem ser sentidos na Amazônia, na África Subsaariana, na América Central e na Austrália.
“Nossa pesquisa prevê que as mudanças climáticas vão reduzir drasticamente a diversidade até mesmo de espécies comuns encontradas na maior parte do mundo”, afirma a principal autora do estudo, Rachel Warren, da Universidade de East Anglia (Reino Unido).
“A perda de biodiversidade em escala global vai empobrecer a biosfera e os ecossistemas de forma significativa.”
Para os humanos, o efeito colateral é de que “essas espécies são importantes para purificação do ar e da água, controle de enchentes, ciclo de nutrientes e ecoturismo”.
Sobrevivência
O estudo, realizado por pesquisadores do Reino Unido, da Colômbia e da Austrália, acompanhou quase 50 mil espécies em todo o mundo, analisando temperaturas e índices pluviométricos em seus habitats.
Eles mapearam as áreas que continuariam sendo aptas para a sobrevivência dessas espécies em diferentes cenários climáticos.
Se não houver esforços significativos para limitar a emissões de gases do efeito estufa, dois terços das plantas e quase a metade dos animais perderão habitat até o ano 2080.
A boa notícia, porém, é que essas perdas podem ser contidas se houver ações para mitigar as mudanças climáticas.
“Ações rápidas podem reduzir essas perdas em 60% e dar mais 40 anos para que as espécies se adaptem (às mudanças)”, diz o estudo. “Ao reduzir o aquecimento global de 4ºC para 2ºC, ganhamos tempo de adaptação aos 2 graus restantes.”
Biodiversidade ameaçada
Mas, se o cenário negativo se confirmar, a biodiversidade de plantas e animais comuns vai encolher praticamente no mundo inteiro.
“É preocupante, porque mesmo pequenos declínios dessas espécies podem afetar significativamente os ecossistemas”, afirma Warren.
O estudo analisou o aumento das temperaturas, mas é preciso levar em consideração outros problemas, diz Warren.
“(A ocorrência de) eventos climáticos extremos, pestes e doenças significa que nossas estimativas são provavelmente conservadoras. Os animais em especial devem sofrer, porque perderão parte de seus alimentos vindos das plantas.”
Répteis e anfíbios talvez sejam os mais ameaçados nesse cenário. (EcoDebate)

sábado, 25 de maio de 2013

Alternativa inteligente para lixo orgânico

Compostagem: uma alternativa inteligente para o lixo orgânico
Composteira
Muita gente tem o desejo de contribuir para a preservação do meio ambiente mas não sabe nem o que fazer com o próprio lixo. Entre muitas maneiras de contribuir, uma delas é separar o lixo seco do molhado, ou seja, o orgânico do inorgânico. Para reciclar o inorgânico é muito fácil, basta lavar as embalagens e separá-las e encaminhar o material para uma estação de reciclagem. Caso a pessoa não tenha tempo, se colocar o lixo separado, já é uma grande ajuda para os catadores nos aterros sanitários.
Mas e o lixo orgânico, o que fazer com ele? Os resíduos orgânicos representam ao menos 50% do lixo gerado nas grandes cidades.
Muita gente não sabe, mas existe a reciclagem de resíduos orgânicos. Este processo, mais conhecido como compostagem, é uma técnica milenar que transforma o lixo orgânico em adubo. A compostagem acontece através do processo de decomposição aeróbica dos resíduos, acelerado por um inóculo. Adiciona-se carbono para elevar a relação carbono – nitrogênio, controla-se a umidade para que as bactérias possam ter contato com o oxigênio e atinge-se altas temperaturas como indicador do trabalho que está sendo realizado pelas bactérias.
No prazo médio de 35 dias, o resíduo orgânico, que era um problema, se transforma em um composto orgânico que pode ser usado como adubo na produção de orgânicos ou doméstica.
A compostagem nada mais é que uma reciclagem dos nutrientes presentes nos alimentos, evita a emissão de CH4 (metano) e chorume e uma excelente alternativa para um dos maiores problemas gerados pelo lixo. Através desse processo, pode-se deixar os aterros sanitários para o recebimento apenas que rejeitos, que sempre existirão.
Já existem empresas especializadas na coleta e compostagem de resíduos gerados por grandes corporações como a VideVerde que tem diversos clientes que aderiram à prática como L´oreal, CSA, Michelin, Glaxo, Supermercados Zona Sul, etc. (EcoDebate)

Resíduos de Pilhas e Baterias

A Resolução 401 de 04 de novembro de 2008 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA estabelece os limites máximos de metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio para as pilhas e baterias comercializadas no Brasil e os critérios e padrões para o gerenciamento ambiental adequado dos resíduos pós utilização das pilhas e baterias portáteis, baterias chumbo-ácido automotivas e industriais e pilhas e baterias dos sistemas eletroquímicos níquel-cádmio e óxido de mercúrio.
Os fabricantes e importadores destes produtos devem estar inscritos no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais do IBAMA, apresentar anualmente laudo físico-químico de composição emitido por laboratório acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia e Normatização – Inmetro e apresentar ao órgão ambiental competente plano de gerenciamento que estabeleça a destinação ambiental adequada das pilhas e baterias, com procedimentos para descarte, segregação, coleta, transporte, recebimento, armazenamento, manuseio, reciclagem, reutilização, tratamento ou disposição final.
Os estabelecimentos que comercializam pilhas e baterias e as redes de assistência técnica autorizados pelos fabricantes e importadores devem receber dos usuários os produtos usados. O recebimento de outras marcas é facultativo. Para as pilhas e baterias não citadas na Resolução 401/2008, devem ser implantados de forma compartilhada programas de coleta seletiva com responsabilidade compartilhada entre os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e poderes públicos. Os fabricantes e importadores são responsáveis pela totalidade dos produtos usados ou inservíveis recolhidos, devendo encaminhar para destinação ambiental adequada de acordo com as normas especificadas para este tipo de resíduo.
Nas embalagens e materiais publicitários devem constar de forma clara e visível as advertências sobre os riscos à saúde e ao meio ambiente da disposição inadequada, a necessidade de encaminhá-las pós-uso aos revendedores ou rede autorizada e a simbologia indicativa da destinação adequada. Os produtos que incorporam pilhas ou baterias devem informar como efetuar sua remoção para descarte adequado. Nos casos em que forem partes integrantes não removíveis, o descarte dos aparelhos deve obedecer aos critérios estabelecidos para suas fontes de energia. No corpo das pilhas deve constar a identificação do fabricante ou importador de forma clara e objetiva e em língua portuguesa, advertências sobre os riscos para a saúde e ambiente e as instruções sobre os procedimentos para sua devolução aos revendedores e seu repasse aos fabricantes e/ou importadores.
Os estabelecimentos comerciais que dispõe de pilhas e baterias devem obrigatoriamente possuir pontos de recolhimento adequados. Os fabricantes e importadores tinham prazo de 12 meses para apresentação de seus planos de gerenciamento – novembro/2009 e 24 meses para adequação do sistema de logística reversa e encaminhamento das pilhas e baterias em sua totalidade para destinação ambientalmente adequada – novembro/2010.
Quando existirem fatos que fundamentem, o IBAMA pode solicitar amostras de pilhas e/ou baterias para análise e comprovação das exigências através da medição dos teores de metais pesados por laboratório acreditado por órgãos competentes e signatários dos acordos da International Laboratory Accreditation Cooperation – ILAC, sendo as despesas resultantes responsabilidade dos fabricantes ou importadores, assim como as adequações necessárias. Todos os lotes em desacordo com as normas estabelecidas pela Resolução 401//2008 serão retirados imediatamente de circulação. Devem ser conduzidos estudos para a substituição das substâncias perigosas ou sua redução a níveis mais baixos viáveis tecnologicamente. A fiscalização é exercida pelos órgãos e entidades do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, mas assegura-se a outros órgãos da administração pública esta mesma competência. A Resolução 401/2008 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama é regulamentada pela Instrução Normativa 03 de 30 de março de 2010 do Ibama.
ANEXO I – níveis de metais pesados permitidos em pilhas e baterias pela Resolução 401/2008.
Pilhas e baterias de pilhas elétricas zinco-manganês e alcalino-manganês:
Art. 7º A partir de 1º de julho de 2009, as pilhas e baterias do tipo portátil, botão e miniaturas comercializadas, fabricadas no território nacional ou importadas, deverão atender aos seguintes teores máximos dos metais de interesse:
I – conter até 0,0005% em peso de mercúrio quando for do tipo listado no inciso III do art. 2º desta resolução;
II – conter até 0,002% em peso de cádmio quando for do tipo listado no inciso III do art. 2º desta resolução;
III – conter até 2,0% em peso de mercúrio quando for do tipo listado nos incisos V, VI e VII do art. 2º desta resolução.
IV – conter traços de até 0,1% em peso de chumbo.
Das baterias chumbo-ácido:
Art. 8º As baterias, com sistema eletroquímico chumbo-ácido, não poderão possuir teores de metais acima dos seguintes limites:
I – mercúrio – 0,005% em peso; e II – cádmio – 0,010% em peso.
Art. 9º O repasse das baterias chumbo-ácido previsto no art. 4º poderá ser efetuado de forma direta aos recicladores, desde que licenciados para este fim.
Art. 10. Não é permitida a disposição final de baterias chumbo-ácido em qualquer tipo de aterro sanitário, bem como a sua incineração.
Art. 11. O transporte das baterias chumbo-ácido exauridas, sem o seu respectivo eletrólito, só será admitido quando comprovada a destinação ambientalmente adequada do eletrólito.
Das baterias níquel-cádmio e óxido de mercúrio:
Art. 12. O repasse das baterias níquel-cádmio e óxido de mercúrio previsto no art. 4º poderá ser efetuado de forma direta aos recicladores, desde que licenciados para este fim. Art. 13. Não é permitida a incineração e a disposição final dessas baterias em qualquer tipo de aterro sanitário, devendo ser destinadas de forma ambientalmente adequada. (EcoDebate)

Município do Rio quer reciclar 25% até 2016

Com apenas 1% de lixo recolhido em coleta seletiva, o município do Rio quer selecionar 25% até 2016
Rio quer selecionar 25% do lixo até 2016
Com apenas 1% de lixo recolhido em coleta seletiva em 2012, o município do Rio quer aumentar esse percentual para 25% até 2016 e começará neste ano a pôr em prática as medidas que buscarão esse objetivo. Em cerca de três meses, a Central de Triagem de Irajá será inaugurada, dando início ao projeto orçado em R$ 50 milhões, anunciado em 2011. O projeto recebeu investimentos de R$ 22 milhões, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e de R$ 28 milhões da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb).
“Ela vai atender aos bairros de Irajá, Marechal Hermes e Deodoro”, adiantou o coordenador de Projetos de Coleta Seletiva da Comlurb, Jorge Otero. Segundo ele, nove caminhões de lixo vão circular nos bairros a partir da inauguração e apenas mulheres trabalharão na coleta seletiva.
As garis passaram por uma capacitação de 15 dias e serão responsáveis também por advertir as residências que não aderirem ao novo modo de coleta. “Na primeira vez, os moradores serão avisados. Na segunda, advertidos. Se houver terceira, haverá multa”, explica Otero. Ele diz que o valor da punição ainda não está definido.
As garis do projeto foram selecionadas no banco de classificados do último concurso e vão iniciar o trabalho no novo modelo. Um detalhe diferente na coleta seletiva será o uniforme: em vez do tradicional laranja, elas vestirão camisas verdes.
A Central de Triagem de Irajá será a primeira das seis que funcionarão na cidade. Ainda neste ano, deve ser inaugurada a da Central do Brasil, no bairro da Gamboa, que atenderá ao centro e à zona sul. Na zona norte, haverá uma central na Penha, e mais três serão construídas na zona oeste: em Bangu, Campo Grande e Vargem Grande.
Para a coleta, não será necessário separar os diferentes tipos de material reciclável. As garis recolherão o “lixo molhado” e o “seco” em dias alternados. O lixo molhado inclui os materiais orgânicos e os papéis de banheiro e cozinha, já o seco é todo material reciclável: papel, plástico, metal, vidro, isopor e outros.
Na central de Irajá, 200 catadores de cooperativas trabalharão sem precisar de atravessadores para vender o que selecionarem, e outros 300 devem ser empregados pela unidade Central do Brasil. O lançamento oficial do projeto deve ocorrer ainda neste mês.
De acordo com Otero, a coleta seletiva é realizada atualmente em 44 bairros da cidade, mas sem atingi-los em sua totalidade. O coordenador da Comlurb assegura que, ainda neste ano, esses locais terão a coleta seletiva em todas as ruas e casas. (EcoDebate)

Coleta seletiva ainda enfrenta gargalos

Coleta seletiva ainda enfrenta gargalos para se tornar abrangente no país
Gargalos impedem avanço da reciclagem e deixam empresas com até 30% de capacidade ociosa.
A coleta seletiva ainda enfrenta gargalos para se tornar abrangente no país, como determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que entrará em vigor na segunda metade do ano que vem. A avaliação foi feita por André Vilhena, diretor do Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre), fórum que reúne 38 grandes empresas nacionais e multinacionais desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92.
Vilhena destaca que um dos entraves para o avanço da coleta seletiva no Brasil é a falta de qualificação dos gestores locais responsáveis por elaborar os planos municipais de resíduos sólidos: “O envolvimento das prefeituras é o ponto de partida. Temos hoje poucos municípios fazendo a coleta seletiva e, principalmente, fazendo a coleta seletiva de forma abrangente. Para mudar isso, os gestores públicos necessitam de treinamento para que possam efetivamente implantar os programas em seus municípios”.
A falta de capacitação é mais grave no interior, mas também está longe do ideal nas grandes cidades: “Vamos pegar os exemplos das maiores cidades do Brasil: os programas tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro são muito pouco abrangentes, precisam passar por uma reformulação e ampliação significativas. Sem dúvida alguma, no curto espaço de tempo, precisamos melhorar muito os programas de coleta seletiva nas cidades brasileiras, especialmente nas maiores”.
Com programas de coleta seletiva pouco organizados, a indústria recicladora padece de pouca oferta de matéria-prima e, segundo estimativas do Cempre, funciona, em média, com capacidade ociosa entre 20% e 30%. Levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2010 já mostrava que o Brasil deixava de movimentar R$ 8 bilhões anualmente por não aproveitar o potencial do setor. De acordo com o Cempre, apenas 14% das cidades brasileiras têm coleta seletiva, sendo 86% delas no Sudeste.
Outro entrave para a reciclagem no Brasil, segundo Vilhena, é o peso tributário sobre o setor, que se beneficiaria de mudanças na cobrança de impostos: “De cara, deveria ser dispensado o recolhimento do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] na venda de sucatas e materiais recicláveis, além de produtos com 100% de material reciclado. Poderia ser feita, a partir disso, uma redução gradativa do imposto conforme o percentual de material reciclado na composição”, defende ele, que acredita haver bitributação no caso do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI): “em alguns setores, o produto já teve a cobrança do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados]. quando foi descartado, e tem o desconto de novo durante a reciclagem”.
Edson Freitas, da organização não governamental EccoVida, concorda com as duas análises: “muita gente prefere a informalidade por causa dos impostos. Pago uns 30% de imposto sobre minhas garrafas e ainda tenho que pagar para destinar o lixo não aproveitável. Um dos projetos que desenvolvo, de produção de telhas a partir de PET [politereftalato de etileno, utilizado na fabricação de embalagens e outros produtos], eu trouxe de Manaus, porque lá não era viável por falta de plástico selecionado”.
Em seu galpão, o presidente da ONG conta que processa mil toneladas de material reciclado por mês, mas a falta de oferta o impede de vender o dobro disso de matéria-prima para fábricas como a Companhia de Bebidas das Américas (Ambev), que usa suas PETs na produção de garrafas 100% recicladas, que corresponderam a 28% da produção em 2012 e devem chegar a 40% em 2013. No ano passado, a companhia reutilizou 60 milhões de PETs na produção, número que deve saltar para 130 milhões neste ano, com a autorização da Anvisa para o uso de material reciclável em mais três fábricas da empresa, somando seis homologadas.
A produção de PET a partir de material reciclável economiza 70% de energia e reduz em 70% a emissão de gás carbônico na atmosfera. Além das PETs, a Ambev também produz, em sua fábrica de vidro, sete em cada dez garrafas desse material inteiramente com cacos reciclados, sendo 88% deles provenientes da própria cervejaria e 12% de cooperativas.
O problema da falta de material de que Freitas se queixa, no entanto, não é causado só pela escassez de planos municipais. Para Vilhena, é preciso maior envolvimento da população: “Temos que melhorar o engajamento do cidadão brasileiro nos programas de coleta seletiva, que ainda estão aquém do desejado”.
Edson Freitas destaca que é preciso uma mudança de pensamento em relação aos materiais recicláveis: “nem chamo de lixo uma PET ou uma embalagem de papelão, porque não são lixo. Têm o mesmo valor que tinham quando o produto estava armazenado dentro delas. É só limpar que continua a ser material com valor comercial e utilidade”. (EcoDebate)

São Paulo terá usina para reciclar tecidos

Projeto da Prefeitura visa a acabar com o desperdício de retalhos das confecções, especialmente no Brás e Bom Retiro, que deixam as ruas sujas.
A Prefeitura de São Paulo vai construir uma usina para reciclar pedaços de tecido descartados na cidade. Somente as tecelagens do Bom Retiro e do Brás, tradicionais redutos de confecções na região central, são responsáveis por despejar 30 toneladas de pano diariamente nos aterros da Região Metropolitana.
Sujeira. Trapos deixados em rua na região central
Hoje, os retalhos são descartados de maneira irregular, geralmente em sacos plásticos deixados sobre a calçada. Além de contribuir para entupir bueiros, o lixo oriundo das confecções também prejudica a circulação de pedestres.
"Aqui é comum alagar quando chove", conta Teresinha Maziero, de 56 anos, dona de uma banca na Rua Ribeiro Lima, no Bom Retiro. Para ela, a ideia de dar um novo destino a esse material que hoje fica na rua é boa. "Mas só vai dar certo se vierem retirá-lo dentro das lojas."
Só nos distritos vizinhos do Brás e do Bom Retiro existem 5,4 mil confecções, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo (Sinditêxtil/SP). Na região, o órgão informou que menos de 15% dos panos descartados são recolhidos por catadores informais. Todo o resto segue para os aterros.
"Estamos jogando no lixo uma matéria-prima que pode gerar renda", afirma o secretário municipal de Serviços, Simão Pedro. A demanda por esse tipo de material é grande, uma vez que os retalhos podem virar desde novos fios para outros tecidos até fibras utilizadas pela indústria automobilística para produzir forração de carro.
A decisão de criar a usina de reciclagem surgiu de conversas entre o secretário e o Sinditêxtil/SP. Para viabilizá-la, o governo municipal entrará com o terreno - uma área entre a Estação da Luz e a Feira da Madrugada - e o setor privado bancará a construção do prédio.
Ainda não há estimativa de quanto deve ser gasto com a construção da usina, mas as obras estão previstas para começar ainda este ano, segundo o secretário. Uma reunião entre a gestão Fernando Haddad (PT) e o setor têxtil está prevista para ocorrer nesta semana.
Descarte irregular
Em visita aos bairros, a reportagem do Estadão encontrou sacolas de retalho abertas no meio da calçada. O ambulante José Feliciano da Silva, de 65 anos, que trabalha há cerca de 40 na região, diz que o problema é recorrente. "Tem gente que revira tudo, e os trapos ficam espalhados por aí."
Compradora frequente das lojas de roupas das redondezas, a dona de casa Renata Lima, de 39 anos, afirma que logo de manhã os picotes de tecido sujam as vias. "A quantidade é tamanha que às vezes atrapalha até para andar."
Importação custa US$ 10,2 mi ao País
O Brasil, que desperdiça trapos e resíduos têxteis, importou em 2012, 9,1 mil toneladas desses materiais, a um custo de US$ 10,2 milhões, segundo o Sinditêxtil/SP. Argentina, EUA e China estão entre os principais exportadores. São Paulo foi o quarto maior estado importador, com 700 toneladas, atrás de Ceará, Paraíba e Santa Catarina. (OESP)

Como a fumaça de incêndios florestais afeta a saúde humana

Dentre os sintomas de doenças e doenças observados relatam infecções do sistema respiratório superior, asma, conjuntivite, bronquite, irrita...