Em
14 meses, crise já custou mais de R$ 1 bi à Sabesp.
Obras emergenciais, descontos na tarifa, queda de
consumo, campanhas publicitárias, tratamento de água, bombardeio de nuvens e
até pagamento de horas extras a funcionários. Após mais de um ano de medidas
para tentar evitar o colapso do abastecimento na região metropolitana, o
impacto da crise hídrica nas contas da Companhia de Saneamento Básico do Estado
de São Paulo (Sabesp) já ultrapassa R$ 1 bilhão.
O levantamento do Estado considera custos adicionais
de serviços atribuídos à crise pela Sabesp em seu balanço financeiro divulgado
em 26/03, como gasto com óleo diesel, e uma série de contratos para execução de
obras emergenciais, como a captação inédita do volume morto do Sistema
Cantareira. Procurada pela reportagem, a assessoria da companhia reiterou que
todas as ações anticrise foram necessárias.
Muitas dessas provocaram um efeito cascata nas
finanças da estatal. Em 2014, por exemplo, a Sabesp divulgou ter gastado R$
58,7 milhões com publicidade "por causa da intensificação da campanha para
uso racional da água". Algumas peças publicitárias, como as estreladas
pelo apresentador Rodrigo Faro em fevereiro de 2014, foram feitas para divulgar
o programa de bônus lançado pela companhia para estimular a economia de água
pela população.
Somente o plano que dá descontos de até 30% na conta
para quem reduzir o consumo resultou em uma perda de arrecadação da ordem de R$
376,4 milhões. Por outro lado, a adesão das pessoas ao programa, que chegou a
78% dos clientes da Grande São Paulo em dezembro, contribuiu para a redução de
3,1% no volume faturado pela empresa com água na região em relação a 2013. Ao
todo, a receita operacional caiu R$ 634,6 milhões em 2014, 6,7% a menos do que
no ano anterior.
"A extensão da seca e as medidas adotadas
provocaram uma redução gradativa do volume faturado de água e, portanto, uma
redução da receita", afirma a companhia em seu balanço, que apontou queda
de 53%, ou R$ 1 bilhão, no lucro em 2014. "A Sabesp não pode garantir que,
ao final do programa de bônus, o referido consumo retornará aos níveis anteriores
à atual crise de água. Um menor consumo per capita pode afetar negativamente
nossos negócios e o resultado das operações no futuro", completa.
Mais da metade da queda do volume de água produzido,
56% no Cantareira e 30% na região metropolitana, deve-se, porém, às manobras de
redução da pressão da água e fechamento da rede durante parte do dia, o que
provoca longos cortes no abastecimento. Segundo a Sabesp, essas ações, que
envolveram a instalação de mais de 60 novas válvulas, elevaram a R$ 19,7
milhões os gastos com o Programa Corporativo de Redução de Perdas de Água.
Em seu balanço, a companhia destaca ainda o
pagamento de R$ 14,6 milhões em despesas com horas extras a funcionários, fruto
da "gestão e intensificação na manutenção de sistemas de água".
Segundo um dirigente da Sabesp, em 40% da rede de abastecimento da Grande São
Paulo, as manobras são feitas manualmente por técnicos nas ruas. Em muitos
bairros, a reabertura das válvulas ocorre durante a madrugada.
Obras
Em outra frente, a Sabesp investiu pesado em uma
série de obras emergenciais para evitar o colapso do abastecimento na Grande
São Paulo, onde vivem mais de 20 milhões de pessoas. Só na ampliação de
adutoras, estações elevatórias e de tratamento para transferir água dos
Sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para bairros atendidos pelo Cantareira, a
companhia gastou cerca de R$ 80 milhões ainda no primeiro semestre do ano
passado.
As ações reduziram a abrangência do manancial em
crise, que caiu gradativamente de 8,8 milhões de pessoas para os atuais 5,6
milhões, mas não evitaram o esgotamento do volume útil do Cantareira, que fica
acima do nível dos túneis de captação, em julho. Para não adotar o rodízio
oficial de água, a estatal fez, a toque de caixa, obras para captar, pela
primeira vez na história do sistema, o volume morto das represas, que fica
abaixo dos túneis.
Só com as intervenções para retirar os 182,5 bilhões
de litros da primeira cota da reserva profunda, a partir de maio do ano
passado, a Sabesp também gastou R$ 80 milhões com 17 bombas flutuantes,
transformadores, tubulações, além das obras civis. Com o agravamento da crise
nos meses de estiagem, esse volume se esgotou em outubro. Antes que isso
acontecesse, a estatal já iniciou novas obras para usar uma segunda reserva, de
105 bilhões de litros.
Segundo levantamento do Estado, os novos contratos
envolvendo a captação da segunda cota somam ao menos R$ 45 milhões, incluindo a
compra de mais 19 bombas flutuantes. Para que toda estrutura funcionasse no
meio das represas, a Sabesp teve de instalar geradores de energia movidos a
óleo diesel. Só com o combustível a estatal gastou R$ 6,5 milhões.
Situação crítica
Mesmo com o retorno das chuvas acima da média em
fevereiro e março, a situação atual do Cantareira é bem mais crítica hoje. O
manancial tem 57% menos água disponível do que há um ano. Para atravessar o
novo período seco, a Sabesp aposta em novas obras emergenciais, como a ligação
da Billings com o Sistema Alto Tietê, orçada em R$ 130 milhões, a captação de
água no Rio Juquiá (R$ 75 milhões) e a ampliação do Guarapiranga, com contrato
de R$ 41,6 milhões.
Mais gastos
R$ 8,2 mi é quanto a Sabesp vai pagar pelo serviço de
bombardeio de nuvens para tentar provocar chuva artificial sobre as represas
dos Sistemas Cantareira e Alto Tietê. Contratos foram fechados com a empresa
Modclima no começo de 2014.
R$ 7 mi é quanto a Sabesp gastou a mais com sulfato
de alumínio no tratamento de água da Estação Taiaçupeba, do Sistema Alto Tietê,
por causa do aumento de 14% na produção feita para ajudar a socorrer bairros
atendidos pelo Cantareira ainda no início do ano passado, de acordo com a
companhia. (OESP)