sábado, 31 de julho de 2021

DETER/INPE confirma recorde de desmatamento em maio/21

DETER/INPE confirma recorde de desmatamento em maio: 67% de aumento.

Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgados comprovam que os alertas de desmatamento na Amazônia não param de crescer.
Os dados do mês de maio mostram um aumento de 66,7% na área com alertas de desmatamento em relação aos registrados em maio de 2020. Com 1.391 Km2, foi o mês com maior área de alertas neste ano, e o maior maio da série Deter-B. No mês de junho somente nos 4 primeiros dias foram 329,66 km² de alertas.

A divulgação do número recorde de queimadas na Amazônia e Cerrado em maio reforçam ainda mais o quanto duas das maiores reservas de biodiversidade no planeta estão sendo colocadas em risco dia após dia. Além de um presidente e um ministro do meio ambiente atuando contra a proteção ambiental, o Congresso tem contribuído com essa política de destruição, enfraquecendo deliberadamente as leis que protegem a floresta e seus povos.

“O resultado de maio não poderia ser diferente já que os retrocessos na governança ambiental só aumentam. Os reflexos dessa destruição já são sentidos na baixa histórica dos reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste, com ameaças de falta d’água, contas de luz mais caras e risco de racionamento de energia”, comenta Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace.

Enquanto isso o Congresso Nacional discute projetos de lei que vão piorar ainda mais a situação, à exemplo dos PLs 2633/2020 e 510/2021, que visam flexibilizar os critérios da regularização fundiária, o que na prática anistia grileiros, enquanto cerca de ⅓ do desmatamento na Amazônia é ocasionado por grilagem. Além disso, os PLs 191/2020 e 490/2007 são um verdadeiro ataque aos povos indígenas e seus territórios, pois visam abrir terras indígenas para atividades predatórias como mineração e avanço do agronegócio.

Além da pecuária, principal vetor histórico do desmatamento na região, a produção de grãos voltou a pressionar a floresta direta e indiretamente. O preço da soja aumentou 57% em relação à 2020, impulsionado por aumento da demanda e baixa dos estoques americanos (o menor patamar da história do país, segundo a USAID) o que provocou uma alta expressiva do valor na Bolsa de Chicago.

Estudo publicado ontem pela revista científica Nature Sustainability mostra que a soja foi responsável, direta ou indiretamente, por cerca de 10% do desmatamento ocorrido na América do Sul desde 2000. O estudo, liderado pelo cientista Matthew Hansen da Universidade de Maryland, com a participação de pesquisadores dos Estados Unidos, Brasil e Argentina, constatou com base em análise de imagens de satélite e dados de campo que a soja foi responsável por avançar em áreas desmatadas nos diferentes biomas (Figura 1). Puxada por forte demanda internacional e pela histórica dependência das economias sul-americanas da produção e exportação de matérias primas baratas para o mercado global, a área ocupada pelo cultivo de soja na América do Sul dobrou no período: passou de 26,4 milhões de hectares em 2002 para 55,1 milhões de ha. O Brasil liderou essa expansão.

“Apesar de a moratória da soja, em vigor desde 2006, ter contribuído para a forte redução dos índices de desmatamento diretamente para soja no bioma Amazônia ao vetar a comercialização de soja produzida em áreas desmatadas após 2008 naquela região, o estudo de Hansen mostra que a expansão da soja se deu largamente em áreas previamente ocupadas por pecuária na Amazônia – deslocando parte dessa atividade para outras áreas até então cobertas por floresta na região, o que resulta em desmatamento indireto não tratado pela moratória – bem como no Cerrado e outras regiões onde a moratória também não vigora. Segundo o estudo, 6% da área desmatada desde 2000 nos países da América do Sul estudados pelos cientistas estão ocupados pela soja”, afirma Paulo Adário, especialista sênior em florestas do Greenpeace Brasil.

Com a anunciada retomada da economia global pós-recessão da Covid19, puxada pela China, Estados Unidos e Europa – fortes importadores de commodities agropecuárias e minerais -, a desmontagem da legislação e das instituições ambientais no Brasil de Bolsonaro, a destruição dos recursos naturais do Brasil e de outros países sul-americanos só tende a se agravar. Nesse cenário, a eventual aprovação do acordo de livre-comércio entre a União Europeia, altamente dependente de commodities e os países do Mercosul liderados pelo Brasil soa como apagar fogo com gasolina. (ecodebate)

Mudanças climáticas ameaçam até 25% das safras globais

Mudanças nos padrões climáticos induzidas pelas mudanças climáticas aumentarão o calor extremo e reduzirão as chuvas nas principais regiões de cultivo. Isso vai provocar um declínio no fornecimento de calorias necessárias para sustentar a crescente população mundial.

De acordo com um estudo publicado no Journal of Environmental Economics and Management, o fornecimento global de calorias está sujeito à contínua ou mesmo crescente vulnerabilidade às mudanças climáticas.

A mudança climática pode afetar o rendimento global de culturas em 10% até meados do século e 25% até o final do século, sob um cenário de aquecimento vigoroso, se os agricultores não conseguem se adaptar melhor do que eles fizeram historicamente.
Para quantificar isso, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Boston, da Universidade Ca ‘Foscari de Veneza e do Centro Euro-Mediterrâneo sobre Mudanças Climáticas (CMCC) combinou seus modelos estatísticos treinados em dados anteriores com previsões de temperatura e precipitação futuras em alta resolução. Simulações de Modelos Climáticos Globais (GCMs) para projetar como os rendimentos podem mudar em resposta a mudanças nos padrões climáticos.

“A capacidade de adaptação dos agricultores, mesmo por períodos mais longos, pode ser limitada”, explica o professor Ian Sue Wing, da Universidade de Boston, principal autor do estudo. “Mesmo nos Estados Unidos, a fronteira mundial da tecnologia agrícola, os agricultores foram capazes de compensar apenas ligeiramente os impactos adversos do calor extremo nas safras de milho e soja ao longo de décadas.”

Enrica De Cian, professora da Universidade Ca ‘Foscari e pesquisadora do Cmcc, acrescenta: “Nós nos perguntamos: se há dificuldades de adaptação nos Estados Unidos, o que podemos esperar dos produtores de alimentos nos trópicos, onde 40% do mundo Estima-se que a vida da população e os extremos de alta temperatura aumentem mais do que nas principais regiões produtoras de calorias dos Estados Unidos”?

O estudo lança uma nova luz sobre esta questão. Os autores analisam a vulnerabilidade mundial de quatro culturas (milho, arroz, soja e trigo), que são responsáveis por 75% da ingestão global de calorias, a futuras mudanças nos padrões de temperatura e chuvas causadas pelas mudanças climáticas.

A adaptação de longo prazo é necessária

“Usamos modelos estatísticos treinados em grandes conjuntos de dados globais em grade de rendimentos históricos de safras, temperatura e chuva, para separar as mudanças nas respostas de rendimento ao calor e à umidade ao longo de suas safras específicas de cultivo em dois tipos de adaptação”, explica Malcolm Mistry, pós-doutorado na Universidade Ca ‘Foscari de Veneza. “Por um lado, a resposta de curto prazo dos agricultores a choques climáticos imprevistos e, por outro lado, ajustes de longo prazo ao longo de décadas.”

Embora os agricultores tenham opções limitadas para se ajustar às mudanças climáticas no curto prazo – por exemplo, alterando a quantidade de fertilizante ou água de irrigação aplicada à sua cultura – em longos períodos de tempo, é possível para eles realizar uma adaptação substancial, alterando as variedades de culturas, mudando as datas de plantio e colheita, adotando novas tecnologias agrícolas e investindo em mais ou diferentes máquinas agrícolas. Em princípio, os ajustes de longo prazo têm o potencial de compensar os efeitos do clima adverso na produtividade.

A questão colocada pela pesquisa é: os agricultores realmente cumpriram esse potencial?

“Surpreendentemente, em escala global e na maioria das regiões do mundo, a resposta é não”, afirma a professora Enrica De Cian. “Nossos resultados mostraram que os impactos adversos de dias extremamente quentes ou secos na produtividade das safras das quais derivamos as calorias dos alimentos persistiram por décadas, em linha com as descobertas anteriores para os EUA. Pior ainda, esses efeitos negativos de longo prazo às vezes eram maiores do que os impactos na produtividade que ocorreram devido a choques climáticos transitórios”.

“A implicação é que o suprimento global de calorias está sujeito à contínua ou mesmo crescente vulnerabilidade às mudanças climáticas – conclui o professor Ian Sue Wing -. Agora, planejamos desenvolver essas descobertas para investigar como os investimentos em irrigação e a agricultura itinerante no espaço podem ajudar a compensar os impactos das mudanças climáticas adversas”. (ecodebate)

Impactos das mudanças climáticas nos oceanos

O relatório da OMM sobre o Estado do Clima Global 2020 destacou o estresse crescente no oceano como resultado das mudanças climáticas.

O oceano absorve cerca de 23% das emissões anuais de CO2 antropogênico para a atmosfera e atua como um amortecedor contra as mudanças climáticas.

No entanto, o CO2 reage com a água do mar, baixando seu pH e levando à acidificação do oceano. Isso, por sua vez, reduz sua capacidade de absorver CO2 da atmosfera. A acidificação e desoxigenação dos oceanos continuaram, causando impacto nos ecossistemas, na vida marinha e na pesca.

O oceano também absorve mais de 90% do excesso de calor das atividades humanas. 2019 viu o maior conteúdo de calor oceânico já registrado, e essa tendência provavelmente continuou em 2020. A taxa de aquecimento dos oceanos na última década foi maior do que a média de longo prazo, indicando uma absorção contínua de calor aprisionado pelos gases de efeito estufa.

Mais de 80% da área do oceano experimentou pelo menos uma onda de calor marinha em 2020. A porcentagem do oceano que experimentou ondas de calor marinho “fortes” (45%) foi maior do que aquela que experimentou ondas de calor marinho “moderadas” (28%).

O nível médio global do mar aumentou ao longo do registro do altímetro do satélite (desde 1993). Recentemente, tem aumentado a uma taxa mais elevada, em parte devido ao aumento do derretimento das camadas de gelo na Groenlândia e na Antártica. No geral, o nível médio do mar global continuou a aumentar em 2020.

O gelo marinho está derretendo, com profundas repercussões para o resto do globo, por meio da mudança dos padrões climáticos e da aceleração do aumento do nível do mar. Em 2020, o mínimo anual de gelo marinho do Ártico estava entre os mais baixos já registrados, expondo as comunidades polares a inundações costeiras anormais e partes interessadas, como transporte marítimo e pesca, aos perigos do gelo marinho.

Em seu discurso de abertura no Debate de Alto Nível da Conferência do Oceano das Nações Unidas em 1o de junho, o Embaixador Thomson enfatizou a importância da ciência do oceano e do clima da OMM e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

“O oceano está se acidificando no ritmo mais rápido da história do planeta. Será extremamente difícil, senão impossível, para muitos ecossistemas e espécies oceânicas se adaptarem a mudanças tão rápidas”, disse o Embaixador Thomson. “A enorme contribuição do oceano para a mitigação e adaptação necessárias em face da perda de mudança climática e biodiversidade está prontamente disponível; mas se quisermos receber esses benefícios, a proteção de seu bem-estar deve estar no centro das considerações doravante”, afirmou.

Serviços Marinhos e Costeiros

As altas temperaturas do oceano ajudaram a alimentar uma temporada recorde de furacões no Atlântico em 2020 e devem contribuir para outra temporada ativa em 2021.

A ameaça representada por ciclones tropicais intensos foi destacada mais uma vez pelo poderoso ciclone Tauktae, que atingiu a costa oeste da Índia em maio e matou mais de 100 pessoas – incluindo marinheiros em uma barcaça no mar. Muitos milhares de pessoas foram evacuadas da fúria da tempestade que se aproximava, em um momento em que a Índia sofria com o impacto do COVID-19.

Esses trágicos incidentes destacam a necessidade urgente de melhores medidas de informação, comunicação e preparação para mitigar o impacto dos perigos marinhos. Este foi o foco da OMM e da Organização Marítima Internacional (IMO) para seu Primeiro Simpósio Internacional Conjunto sobre Clima Marítimo Extremo para Salvaguarda da Vida Humana no Mar, em 2019. Os preparativos estão em andamento para a ação continuada no 2º Simpósio, a ser organizado por BMKG da Indonésia.

A OMM trabalha com parceiros como a IMO e a Organização Hidrográfica Internacional (IHO) em apoio à Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS), que foi adotada dois anos após o naufrágio do Titanic em 1912.

Os serviços marítimos também incluem suporte marítimo para emergências, como operações de busca e resgate, e ambientais, como derramamentos de óleo e produtos químicos, conforme destacado no ano passado por acidentes no Oceano Índico perto de Maurício e Sri Lanka.

Dado que cerca de 40% da população global vive dentro de 100 km da costa, há também uma necessidade extrema de proteger as comunidades de perigos costeiros, como ondas, ondas de tempestade, ondulações e aumento do nível do mar, por meio de Sistemas de Alerta Rápido de Perigo Múltiplo aprimorados e previsões baseadas em impacto.

Iniciativa de previsão de inundação costeira da OMM está ajudando esses esforços, conforme demonstrado na semana passada durante um grande evento de swell que atingiu Fiji em 31/05 e 01/06/21. Usando os modelos operacionais desde 2019 (como parte do Projeto de Previsão de Inundação Costeira facilitado pela OMM e financiado pelo Administração Meteorológica da Coreia), o Serviço Meteorológico de Fiji emitiu alertas e avisos de ondulação prejudiciais. Estas foram atendidas e felizmente nenhuma vida foi perdida.

Observações do oceano

Os avanços tecnológicos estão revolucionando nossa capacidade de monitorar sistematicamente o oceano e, assim, compreender seu papel no tempo e no clima.

Muitas das informações subjacentes a essas previsões marinhas, meteorológicas e climáticas vêm de sistemas de observação em escala de bacias oceânicas coordenadas globalmente, tanto por satélite quanto in situ. Isso inclui uma melhor observação e previsão de ondas, correntes, nível do mar, qualidade da água e abundância de recursos marinhos vivos.

A OMM trabalha em estreita colaboração com a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO e outros parceiros, para promover o Sistema Global de Observação dos Oceanos. Mas grandes lacunas geográficas e de pesquisa permanecem no sistema de observação, que está lutando para atender à crescente demanda por previsões e serviços. A necessidade de expansão de um sistema global de observação do oceano, financiado e projetado para atender às necessidades dos usuários, é clara e urgente.

É necessário apoiar novas tecnologias e o desenvolvimento de instrumentos de observação autônomos, para promover a pesquisa e assegurar o compartilhamento oportuno e acessível de dados e informações. (ecodebate)

Recifes de coral do mundo podem parar de se calcificar por volta de 2054

Coral Dendronephthya australis é um habitat seguro para criaturas marinhas como cavalos-marinhos.

Se a tendência de declínio do crescimento do coral continuar na taxa e ritmo atual, os recifes de coral do mundo podem parar de se calcificar por volta de 2054, descobriu um novo estudo da Southern Cross University.

Com base em pesquisas do final dos anos 1960 até agora, o artigo publicado na Communications & Environment revela as tendências espaço-temporais globais e os impulsionadores do crescimento do ecossistema de recifes de coral (conhecido como calcificação).

Cento e dezesseis estudos de 53 artigos publicados foram analisados.

“É sabido que os recifes de coral têm se degradado ao longo do tempo. Nosso estudo se baseia em dados históricos para quantificar a taxa atual de declínio e indica o que pode estar acontecendo no futuro”, disse o líder do projeto, Dr. Kay Davis.

“Nosso trabalho complementa alguns outros estudos que indicam a dissolução líquida dos recifes de coral em meados do século, entre 2030 e 2080.”

Os estudos de caso foram de sites de todo o mundo. O país mais estudado foi a Austrália (Grande Barreira de Corais, Ilha Lord Howe e recifes da Austrália Ocidental). Outros estudos de caso incluíram locais de recifes no Japão, Havaí, Mar Vermelho, Polinésia Francesa e Bermudas, entre outros.

“A repetição de observações nos mesmos locais pode fornecer uma visão sobre como os recifes de coral estão respondendo às mudanças nas condições ambientais em escala global”, disse o Dr. Davis.

“Mas essas pesquisas repetidas de calcificação e produtividade foram realizadas apenas em sete locais”.

O declínio da cobertura de corais e o declínio da saúde do coral remanescente podem estar contribuindo para reduzir as taxas globais de calcificação.

“Descobrimos que as taxas de calcificação do ecossistema de coral estão diminuindo significativamente a uma taxa média de 4,3% ± 1,9% ano-1 com uma redução simultânea na cobertura média de coral de 1,8% ano-1. Isso sugere que a perda de cobertura de coral pode não ser o único contribuinte do declínio da calcificação”, disse o Dr. Davis.

“Eventos de estresse, como o branqueamento do coral, podem impactar a calcificação, mesmo sem a morte do coral. Os corais aumentam suas chances de sobrevivência durante períodos estressantes, reduzindo temporariamente a calcificação.”

Para sustentar os recifes de coral, os corais individuais precisam crescer para fornecer alimento e habitat para o ecossistema. O crescimento do coral é chamado de ‘calcificação’. À medida que os corais absorvem carbonato de cálcio (CaCO3) da coluna d’água para produzir seus esqueletos, as taxas de calcificação podem ser determinadas por meio de mudanças na química da água.

A dissolução de corais é o oposto, onde os esqueletos liberam CaCO3 de volta na água, normalmente em períodos de nenhuma produtividade ou quando sob estresse. Quanto maior a taxa de crescimento líquido (calcificação-dissolução), mais corais construtores de recifes e algas calcificantes estão produzindo para o ecossistema.
Aquecimento e mudanças climáticas matam 35% da Grande Barreira de Corais.

O Centro Nacional de Ciências Marinhas da Universidade em Coffs Harbour tem infraestrutura analítica exclusiva para detectar mudanças sutis na química da água do mar necessárias para quantificar a calcificação do ecossistema de recifes de coral. (ecodebate)

Cientistas cobram conjunto em enfrentamento de mudança climática e perda de biodiversidade

Cientistas cobram de líderes mundiais enfrentamento conjunto de mudança climática e perda de biodiversidade.

Uma agenda integrada de mudanças climáticas e biodiversidade, diz o relatório, não deixaria nenhuma pessoa ou ecossistema para trás.
O IPBES e o IPCC lançaram em 10/06/21 o relatório do workshop sobre biodiversidade e mudança climática. O workshop foi realizado em dezembro/2020, em formato virtual, durante quatro dias e reuniu 50 dos principais especialistas mundiais em biodiversidade e clima, selecionados por um Comitê Científico Diretor de 12 pessoas criado pelos dois órgãos intergovernamentais.

A primeira colaboração desse tipo apela aos líderes para enfrentarem de maneira conjunta a mudança climática e a perda da biodiversidade, oferecendo caminhos para resolver essas crises inter-relacionadas.

O relatório, criado pelos 50 dos maiores especialistas mundiais em biodiversidade e clima, conclui que as políticas anteriores enfrentaram a perda de biodiversidade e a mudança climática de forma independente uma da outra. O documento argumenta que abordar as sinergias entre mitigar a perda da biodiversidade e a mudança climática, ao mesmo tempo em que considera seus impactos sociais, oferece a oportunidade de maximizar os benefícios e atingir as metas de desenvolvimento global.

A natureza oferece maneiras eficazes de ajudar a mitigar a mudança climática, mas estas soluções só podem ser eficazes se forem construídas com base em reduções ambiciosas em todas as emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem.

Uma agenda integrada de mudanças climáticas e biodiversidade, diz o relatório, não deixaria nenhuma pessoa ou ecossistema para trás.

As recomendações do relatório do workshop incluem:

• Parar a perda e degradação de ecossistemas ricos em carbono e espécies em terra e no oceano;

• Restauração de ecossistemas ricos em carbono e espécies;

• Aumentar as práticas agrícolas e florestais sustentáveis;

• Eliminação de subsídios que apoiam atividades locais e nacionais prejudiciais à biodiversidade;

• Orientar melhor as ações de conservação, coordenadas com e apoiadas por uma forte adaptação e inovação climática;

• Assegurar que programas e políticas de conservação sejam multifuncionais, abordando as paisagens de terra, água doce e oceano em vez de se concentrar apenas em alguns elementos da natureza. Essas iniciativas também precisam beneficiar as comunidades locais;

• Quando soluções baseadas na natureza são utilizadas como compensações de carbono, elas são mais eficazes quando sujeitas a condicionantes rigorosos, e não devem ser utilizadas para retardar ações de mitigação em outros setores. Isto é particularmente importante dado que as soluções baseadas na natureza são provavelmente menos eficazes sob a crescente mudança climática e seus impactos.

Os autores também afirmam que as seguintes medidas de mitigação e adaptação climática seriam prejudiciais à biodiversidade:

• Plantio de monoculturas bioenergéticas sobre grandes extensões de terra;

• Plantio de árvores em ecossistemas que historicamente não foram florestas e reflorestamento com monoculturas – especialmente com espécies de árvores exóticas;

• Aumentar a capacidade de irrigação para a agricultura em resposta às pressões da seca;

• Alertam ainda: quaisquer medidas que se concentrem muito na mitigação da mudança climática devem ser avaliadas em termos de seus benefícios e riscos gerais.

Algumas das principais estatísticas são:

• 77% das terras (excluindo a Antártica) e 87% da área do oceano foram modificadas pelos efeitos diretos das atividades humanas;

• Estimativas globais das necessidades exatas de áreas efetivamente protegidas e conservadas para garantir um clima habitável, biodiversidade autossustentável e uma boa qualidade de vida ainda não estão bem estabelecidas, mas variam de 30% a 50% das áreas de superfície oceânica e terrestre.

• Há 12.983 compensações de biodiversidade listadas implementadas em 37 países, porém apenas um terço das compensações de biodiversidade atende comprovadamente ao princípio de “nenhuma perda líquida” (NNL).

• Globalmente, foi estimado que o sistema alimentar é responsável por 21-37% do total das emissões líquidas antropogênicas de gases de efeito estufa ao incluir as atividades de pré e pós-produção.

• Manter ou restaurar 20% do habitat nativo em “paisagens habitadas/alteradas pelo homem pode contribuir para as metas globais de clima e biodiversidade, ao mesmo tempo em que gera múltiplos benefícios, através de soluções baseadas na natureza e outras abordagens baseadas em ecossistemas”.

Os autores do relatório ressaltam que, embora a natureza ofereça formas eficazes de ajudar a mitigar a mudança climática, essas soluções só podem ser eficazes se forem baseadas em reduções ambiciosas em todas as emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem.

Ana María Hernández Salgar, presidente do IPBES, diz: “A terra e o oceano já estão fazendo muito – absorvendo quase 50% do CO2 das emissões humanas -, mas a natureza não pode fazer tudo. Uma mudança transformadora em todas as partes da sociedade e de nossa economia é necessária para estabilizar nosso clima, deter a perda da biodiversidade e traçar um caminho para o futuro sustentável que desejamos. Isto também exigirá que enfrentemos ambas as crises em conjunto, de formas complementares”.

Hans-OttoPörtner, copresidente do Comitê Científico Diretor, diz: “A evidência é clara: um futuro global sustentável para as pessoas e para a natureza ainda é alcançável, mas requer uma mudança transformadora com ações rápidas e de longo alcance de um tipo nunca antes tentado, com base em reduções ambiciosas de emissões. A solução de alguns dos fortes e aparentemente inevitáveis compromissos entre clima e biodiversidade implicará uma profunda mudança coletiva de valores individuais e compartilhados relativos à natureza – como o afastamento da concepção de progresso econômico baseado unicamente no crescimento do PIB, para um que equilibre o desenvolvimento humano com múltiplos valores da natureza para uma boa qualidade de vida, sem ultrapassar os limites biofísicos e sociais”.

Especialistas não envolvidos no relatório reagiram dizendo:

• Lucy Almond, Presidente da Nature4Climate: “Este relatório conjunto é um acréscimo bem-vindo à pesquisa que mostra que não podemos resolver a crise climática sem investir na natureza. Precisamos de uma ação política que reconheça que, para atingir os objetivos do Acordo de Paris, precisamos tanto de uma transição energética quanto de um investimento muito maior em soluções baseadas na natureza. Qualquer recuperação econômica deve ser à prova de futuro também para a natureza. Não podemos mais agir em nichos; investir na natureza é investir no clima e na prosperidade econômica”.

• Beatriz Luraschi – Diretora de Políticas – Política Global – RSPB: “O Relatório do Workshop IPBES-IPCC reafirma o que já sabemos: que sem proteger e restaurar a natureza, não podemos enfrentar a mudança climática. Não há espaço para complacência – o relatório faz importantes advertências sobre “soluções climáticas” mal concebidas que minam diretamente a natureza, tais como o uso de bioenergia em larga escala. Sabemos que precisamos proteger, restaurar, criar ecossistemas naturais e gerenciar melhor as terras agrícolas, a fim de reduzir as emissões e proteger a vida selvagem. Os líderes globais, que se reunirão para a Cúpula do G7 na Cornualha neste fim de semana, devem estar atentos à ciência para lidar com as emergências da natureza e do clima.”

• Brian O’Donnell, Campanha pela Natureza: “A era do enfrentamento isolado das crises da natureza e do clima deve chegar ao fim. Os principais cientistas mundiais da natureza e do clima nos mostraram um caminho a seguir onde priorizamos ações climáticas que beneficiem a natureza. Se os líderes mundiais concordarem em proteger pelo menos 30% das terras e oceanos do planeta e garantir os direitos de posse da terra dos povos indígenas e comunidades locais, podemos fazer um enorme progresso para o clima e a natureza.”

• Dr. Enric Sala, National Geographic Explorer in Residence, Diretor Executivo da Pristine Seas, autor de “The Nature of Nature: Por que precisamos da natureza selvagem”: “Não podemos pensar no aquecimento global e na perda da natureza como crises diferentes. Elas são uma e a mesma coisa. A causa de nossa crise global é nosso abuso de nosso sistema de suporte de vida, nossa crescente destruição e poluição do mundo natural em prol de um crescimento econômico sem restrições. Este importante relatório nos lembra que as principais soluções incluem proteger pelo menos 30% do planeta até 2030, mudar a maneira como produzimos alimentos e reduzir nossas emissões de gases de efeito estufa a quase zero até 2050.”

• Dr. Simon Zadek – Presidente de Finanças para a Biodiversidade: “Cada dólar, emprego e produto na economia global de 80 trilhões de dólares depende da natureza. E ainda assim, embora as instituições financeiras tenham reconhecido cada vez mais o clima como um importante motor de riscos e oportunidades, a natureza ainda é largamente ignorada. O relatório científico do IPCC e do IPBES fornece mais evidências de que esta negligência representa um perigo existencial e reforça a necessidade de aumentar a ambição e acelerar o progresso de iniciativas como a Task Force sobre Divulgação Financeira Relacionada à Natureza.”

• Dra. Pamela McElwee, professora associada do Departamento de Ecologia Humana da Rutgers: “O relatório do Workshop do IPCC-IPBES chega quando os líderes do G7 se reúnem para discutir – entre outras questões vitais – a necessidade de maior financiamento climático. 50 importantes especialistas afirmaram que as medidas que tomamos para deter a mudança climática também devem ter como objetivo deter a perda da biodiversidade. Há um risco real de financiar as chamadas soluções climáticas que podem exacerbar a crise da biodiversidade, como o reflorestamento rápido e em larga escala sem a proteção da biodiversidade. Os países precisam cumprir suas promessas climáticas para reduzir rapidamente as emissões de combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, melhorar a gestão e a conservação de nossas preciosas terras e oceanos. O fato de muitos dos pacotes de recuperação econômica pós-COVID no G7 e em outros lugares não apenas não conseguirem enfrentar a enormidade da crise climática, mas que praticamente ignoram a biodiversidade, mostra que este problema continua difícil de ser superado”.

Mudança climática extinguirá principalmente espécies típicas. (ecodebate)

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Mudanças climáticas tornam pragas mais destrutivas em safras agrícolas

Mudanças climáticas tornam as pragas ainda mais destrutivas nas safras agrícolas.

A mudança climática está tornando as pragas que devastam importantes safras agrícolas ainda mais destrutivas, aumentando as ameaças à segurança alimentar global e ao meio ambiente.

Mudança climática influencia na perda da produção agrícola para pragas, conclui estudo apoiado pela FAO.

ONU Brasil

• A mudança climática está tornando as pragas que devastam importantes safras agrícolas ainda mais destrutivas, aumentando as ameaças à segurança alimentar global e ao meio ambiente, divulgou um estudo apoiado pela ONU publicado em 09/06/21.

• O relatório, que está entre as principais iniciativas do Ano Internacional da Sanidade Vegetal, que termina neste mês, foi preparado pela professora Maria Lodovica da Universidade de Turim, na Itália, junto com 10 coautores de todo o mundo, sob o apoio do secretariado da Convenção Internacional de Proteção de Plantas, que a FAO hospeda.

• Cerca de 40% da produção agrícola global é atualmente perdida para as pragas. As doenças das plantas roubam a economia global em mais de US$ 220 bilhões anualmente.

• As pragas invasoras custam aos países pelo menos US$ 70 bilhões e também é um dos principais responsáveis pela perda de biodiversidade.

Uma safra de milho é atacada pela lagarta-do-cartucho em Goromonzi, no Zimbábue.

Um estudo apoiado pelas Nações Unidas e publicado em 09/06/21 aponta para a influência da mudança climática nos prejuízos à produção agrícola. O relatório científico analisa 15 pragas de plantas que se espalharam ou podem se espalhar devido às alterações de temperatura. Os autores concluíram que a chegada de um inverno excepcionalmente quente, capaz de fornecer condições adequadas para uma infestação de insetos, representa um risco dramático.

O estudo foi preparado pela professora Maria Lodovica da Universidade de Turim, na Itália, junto com 10 coautores de todo o mundo, sob o apoio do secretariado da Convenção Internacional de Proteção de Plantas, que a FAO hospeda.

“As principais conclusões desta avaliação devem alertar a todos nós sobre como as mudanças climáticas podem afetar o quão infecciosas, distribuídas e severas as pragas podem se tornar ao redor do mundo”, disse o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Qu Dongyu, no lançamento.

“A avaliação mostra claramente que o impacto das mudanças climáticas é um dos maiores desafios que a comunidade fitossanitária está enfrentando”, acrescentou.

Bilhões perdidos anualmente – Cerca de 40% da produção agrícola global é atualmente perdida para as pragas, revelou a FAO. As doenças das plantas roubam a economia global em mais de US$ 220 bilhões anualmente. As pragas invasoras custam aos países pelo menos US$ 70 bilhões e também são um dos principais responsáveis pela perda de biodiversidade.

Espécies como a lagarta-do-cartucho, que se alimenta de plantações que incluem milho, sorgo e milheto, já se espalharam devido ao clima mais quente. Outros, como os gafanhotos do deserto, que são as pragas migratórias mais destrutivas do mundo, devem mudar suas rotas migratórias e distribuição geográfica.

Movimentos como esses ameaçam a segurança alimentar como um todo, concluiu o relatório. Também penalizam os pequenos agricultores, assim como pessoas em países onde a segurança alimentar é um problema.

Preservando a saúde das plantas – O relatório está entre as principais iniciativas do Ano Internacional da Sanidade Vegetal, que termina neste mês. Nele, os autores delinearam várias recomendações para diminuir o impacto das mudanças climáticas, começando com a intensificação da cooperação internacional, uma vez que o manejo eficaz de pragas de plantas em um país afeta o sucesso em outros. Eles também enfatizaram a necessidade de mais pesquisas e mais investimentos no fortalecimento dos sistemas e estruturas nacionais relacionados à fitossanidade.

“Preservar a fitossanidade é fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e parte do nosso trabalho em direção a sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis”, disse Qu, diretor-geral da FAO. Como metade de todas as doenças emergentes de plantas se espalham por meio de viagens e comércio, medidas aprimoradas para limitar a transmissão, como ajustes nas políticas de proteção de plantas, também são essenciais.

Como o aquecimento global e as mudanças climáticas, cada vez mais vai espalhar uma 'praga bíblica'. (ecodebate)

Preocupantes sinais que unem frio recorde no Brasil a enchentes e calor pelo mundo

Mudanças climáticas: os preocupantes sinais que unem frio recorde no Brasil a enchentes e calor pelo mundo.

Segundo climatologista, o aquecimento da temperatura média do planeta acelera a circulação de ar entre a América do Sul e a Antártida, favorecendo eventos como o frio extremo que atinge o Brasil nesta semana.
Assista ao vídeo e entenda a onda de frio intenso que atinge o Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=5u8Pr_vpS54

A onda de frio extremo que chega ao Sul e Sudeste do Brasil nesta semana poderá fazer com que alguns brasileiros questionem se o planeta está, de fato, aquecendo. Sim, está — e há fortes indícios de que a onda de frio seja ela mesma intensificada pelas mudanças climáticas em curso.

A onda deve derrubar as temperaturas nos estados do Sul, Sudeste e de parte do Centro-Oeste até 01/08/21.

Nas serras catarinense e gaúcha, as mínimas previstas são de -10ºC, com sensação térmica de até -25ºC, enquanto Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Campo Grande, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória devem registrar as menores temperaturas do ano.

Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=PN4N-M9Gzik.

Será a segunda onda de frio intenso a atingir a região em menos de um mês. Em 30/06/2021, várias cidades do Sul e Sudeste tiveram as menores temperaturas dos últimos anos — marcas que agora poderão ser batidas pela nova onda.

O frio extremo atinge o sul do Brasil enquanto, no Hemisfério Norte, vários países registram recordes de calor e de volume de chuvas.

No Canadá, os termômetros na cidade de Lytton mediram 49,6ºC no fim de junho, marca que superou em 4,6ºC a temperatura mais alta registrada no país até então.

Praia do Canadá com moluscos mortos após onda de calor no fim de junho de 2021.

Poucas semanas depois, chuvas muito acima dos padrões inundaram cidades na Alemanha e na China. Os eventos extremos nos 3 países provocaram centenas de mortes.

Danos e destroços de enchentes perto do rio Ahr, na cidade de Bad Neuenahr, Alemanha 18/07/2021.

É mais fácil entender como as mudanças climáticas favorecem recordes de calor e de chuva.

Intensificados nas últimas décadas, a queima de combustíveis fósseis (como o petróleo e o carvão) e o desmatamento ampliam a quantidade na atmosfera de gases causadores do chamado efeito estufa.

Esses gases dificultam a dispersão do calor dos raios solares que atingem o planeta, o que tende a aumentar a temperatura no globo como um todo.

Temperaturas mais altas, por sua vez, aceleram a evaporação da água, o que facilita a ocorrência de temporais.

Carros tentam cruzar via inundada em frente a centro comercial de Zhengzhou, China 20/07/2021.

A temperatura da Terra já subiu cerca de 1,2ºC desde o início da era industrial, e as temperaturas devem continuar aumentando a menos que os governos ao redor do mundo tomem medidas para reduzir as emissões. Porém, o aumento das temperaturas médias não quer dizer que ondas de frio não continuarão a ocorrer — nem mesmo que elas não possam se intensificar em situações específicas.

É o caso da massa polar que chega ao Brasil nesta semana, diz à BBC News Brasil o geógrafo e climatologista Francisco Eliseu Aquino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS.

Aquino foi um dos primeiros pesquisadores a estudar as conexões climáticas entre o sul do Brasil e Península Antártica — tema de sua tese de doutorado, em 2012.

Ele diz que, ao longo do ano, massas de ar circulam em sentido horário entre as duas regiões: o sul do Brasil envia à Antártida massas de ar quente e recebe dela massas de ar frio.

Segundo Aquino, a velocidade dessa circulação se acelera conforme a mudança climática eleva a temperatura no Brasil no inverno, época do ano em que a Antártida está bem gelada por não receber qualquer insolação.

Além disso, o calor acima do habitual no sul do Brasil "perturba" o sistema de trocas, induzindo o ar quente a entrar na Antártida e abrindo o caminho para a chegada de ar frio.

Não por acaso, diz ele, exceto pelas ondas pontuais de frio de 2021, o centro-sul do Brasil tem tido um inverno mais quente que a média — o que também tem ocorrido nos últimos anos.

Na véspera da chegada desta massa polar, os termômetros em cidades como Porto Alegre e São Paulo beiravam os 30ºC. Em pleno inverno.

Outro ponto que tende a ampliar o impacto desta onda de frio, diz Aquino, é que a massa que chega ao país se resfriou ainda mais ao passar pelo mar de Weddell — uma das regiões mais geladas da Antártida.

As condições são tão propícias ao avanço da massa, diz ele, que a onda deve derrubar as temperaturas até o sul da Amazônia.

Aquino afirma que especialistas já previam há cerca de 15 anos a ocorrência dos eventos que hoje observamos no centro-sul do Brasil — incluindo ondas de frio extremo em meio a invernos quentes e secos.

"Caminhamos para um cenário de estiagens mais longas e secas no Brasil, com o desmatamento e as queimadas intensificando esses processos", ele diz.

Aquino afirma que o planeta caminha rumo aos "limiares mais perigosos possíveis" dos cenários projetados para 2030 ou 2050.

Embora o Acordo de Paris tenha estabelecido a meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos padrões pré-industriais, ele diz que os esforços foram comprometidos pelos anos em que Donald Trump exerceu a presidência nos EUA.

Trump retirou os EUA do acordo e estimulou setores poluentes, o que atrasou a implantação das metas mundo afora.

"O que a comunidade científica entende hoje é que com certeza vamos ultrapassar os 1,5° ou 2°C".

Para Aquino, os eventos extremos em curso "já dão sinais de que as mudanças podem ser mais intensas do que as previstas pelos cenários muito piores". (g1)

Como economizar água?

Como economizar água? Brasileiros consomem acima do limite recomendado.
Como economizar água?

Torneira aberta para escovar os dentes, enquanto você faz a barba. Banhos acima de 15 minutos. Lavar a calçada com a mangueira como se não houvesse amanhã. Todas essas pequenas atitudes que se tornam hábitos diários, literalmente, levam a água potável para o ralo. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, os brasileiros consomem cerca de 44 litros diários acima do recomendado e considerado suficiente [110 litros diários], pela ONU/Organização das Nações Unidas.

O cenário piora ao analisarmos que as perdas começam antes da chegada da água nas torneiras de nossos lares. Falhas no sistema de distribuição, como vazamentos, são a principal causa apontada por um estudo publicado pelo Instituto Trata Brasil para o desperdício de 40% do nosso recurso hídrico próprio para o consumo. A quantidade poderia abastecer cerca de 63 milhões de pessoas [30% da população brasileira].

Mas não adianta só culpar o governo, o uso consciente individual também deve fazer parte da rotina e assim evitar o gasto desnecessário de muitos litros d’água. Você sabe qual a melhor maneira de economizar água no dia a dia?

Torneira, conta de água, moedas, economizar.

Qual é a melhor maneira de economizar água no dia a dia?

O desperdício de água pesa no bolso e na sobrevivência do planeta, e a bióloga Francyne Elias-Piera, mestre em oceanografia biológica (USP) e doutora em ciência ambiental (Universitat Autònoma de Barcelona) alerta: "Só há 3% de água doce no mundo. Dessa porcentagem, 70% está congelada na Antártica e apenas 1% está disponível em rios e lagos. Atualmente, não existe água potável suficiente para atender às necessidades da população mundial", comenta.

Ecoa reuniu dados e dicas de Elias-Piera, do especialista em sustentabilidade Marcus Nakagaw e da Sabesp/Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo sobre as melhores formas de economizar água. Veja a seguir:

Como economizar água na hora do banho e ao dar a descarga?

De acordo com a Sabesp, um banho de 15 minutos pode gastar até 240 litros de água, mas basta diminuir o tempo para cinco minutos e manter o registro fechado enquanto se ensaboa que a economia de água é de 90 litros em casa e até de 162 litros em apartamentos. "O banho realmente é onde mais se gasta água e outra dica valiosa é para quem tem chuveiro a gás e precisa esperar a água esquentar: coloque um balde embaixo do chuveiro e colete a água fria, essa água pode ser usada para regar plantas", acrescenta Elias-Piera.

Uma simples descarga é capaz de utilizar de 10 a 14 litros de água em apenas seis segundos em que o botão é pressionado, de acordo com a Sabesp. Em casos em que há caixa acoplada, o especialista em sustentabilidade Nakagaw aponta que a saída pode ser optar pelas descargas que têm a opção de acionamento de apenas metade do compartimento. A Sabesp também alerta para o cuidado em não descartar lixo no vaso sanitário e assim evitar entupimentos e possíveis vazamentos que aumentam o desperdício de água.

Como economizar água nas tarefas de higiene pessoal e limpeza?

Uma torneira ligada constantemente pode ser responsável por um elevado gasto de água, para se ter uma ideia, basta escovar os dentes com o registro fechado que a economia no fim do mês pode chegar a 79 litros (em apartamentos) e 11,5 litros em casas. Fazer barba com a água rolando na pia também é uma má ideia, isso porque em apenas cinco minutos cerca de 12 litros de água serão desperdiçados, de acordo com dados da Sabesp.

A bióloga Elias-Piera lembra que economizar água é importante e que manter a torneira o maior tempo possível fechada é a melhor opção para as atividades de higiene pessoal e ao lavar as louças. Os redutores de pressão também são uma boa solução para diminuir o fluxo de água e consequentemente os gastos, mas para não perder a sensação da pressão da água, Nakagaw recomenda o uso de bicos arejadores, que misturam o líquido com ar e direcionam o jato com maior precisão.

Lavar as roupas com a máquina de lavar na capacidade máxima também é uma recomendação importante citada pelos especialistas para diminuir o gasto desnecessário de água e utilizar o eletrodoméstico menos vezes durante a semana.

Como criar uma meta de economia de água?

Mas qual é a melhor maneira de economizar água? De acordo com Nakagaw, para que qualquer ação dê certo, é preciso criar uma meta de economia, que pode ser aplicada na residência e também no trabalho. "A primeira atitude a se tomar em casa ou no escritório é o controle de gastos. Crie uma planilha ou encarregue alguém para que seja o 'guardião da água'. Fazer esse controle de quanto gastamos por mês é fundamental para colocarmos metas de economia e buscarmos locais de vazamento", comenta.

"Depois que esse controle estiver funcionando, o próximo passo é buscar vazamentos, locais e equipamentos que gastam em demasiado", completa o especialista em sustentabilidade.

Atentar-se aos pequenos vazamentos e até mesmo para aquela torneira que não fecha direito é extremamente importante, mesmo que as gotas não chamem a atenção de imediato, ao fim do dia o desperdício pode ser grande.

De acordo com a Sabesp, uma torneira gotejando gasta até 40 litros de água por dia, se for um filete de água o desperdício é ainda maior e pode chegar a 130 litros diários, que vale lembrar, é superior ao consumo total recomendado por pessoa. (uol)

terça-feira, 27 de julho de 2021

Soja contribuiu para 10% do desmatamento na América do Sul em 20 anos

Soja contribuiu para 10% do desmatamento na América do Sul em 20 anos, mostra estudo.

A soja foi responsável por 10% do desmatamento ocorrido em duas décadas na América do Sul, indica novo estudo. Apesar de ficar atrás da pecuária bovina em áreas devastadas diretamente, o cultivo do grão teve papel central na dinâmica de especulação fundiária que incentiva o desmate: só no Brasil, o país com maior destruição de biomas (notadamente Cerrado e Amazônia), dobrou o número de área dedicado ao plantio no mesmo período. O processo tende a ser parecido: compram-se terras em fronteira agrícola, "empurrando" assim o boi para dentro de áreas de mata, em uma trilha de destruição do verde.

Liderada por Matthew Hansen, da Universidade de Maryland, a pesquisa é uma colaboração entre cientistas de Estados Unidos, Brasil e Argentina. O trabalho combinou imagens de satélite tiradas ao longo de duas décadas com observações feitas em terra para estimar quanto a sojicultura impactou diferentes tipos de vegetação no continente. O longo período estudado permitiu que fossem incluídas no mapa terras desmatadas primeiro para acomodar bois, e só depois convertidas em campos de plantio do grão.
Em artigo na revista "Nature Sustainability", os cientistas apontam que as áreas de plantações de soja duplicaram na América do Sul durante o período. A extensão foi de 26,4 milhões para 55,1 milhões de hectares, quase do tamanho do estado da Bahia. Na Floresta Amazônica, a área da soja se multiplicou por onze no período (de 400 mil para 4,6 milhões de hectares).

Para mapear o Brasil, o trabalho contou com a participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

De toda a conversão de mata em soja observada no período estudado, 53% ocorreram por influência "direta" da soja (a plantação ocupou a área desmatada em menos de 3 anos) e os outros 47% como influência "latente" da soja (em mais de 3 anos). Segundo os pesquisadores, um fator muito revelador sobre o papel da soja no desmatamento é a localidade das novas lavouras, mais do que a quantidade delas. Mesmo quando não estavam desmatando diretamente, a maioria dos novos campos de soja estão perto de quem está desmatando.

"A descoberta mais importante do nosso estudo está ligada à atribuição da soja como causa precedente da derrubada de florestas no contexto de perda total de floresta na América do Sul", afirma Hansen.

Avanço da soja

Mapa mostra extensão de plantações do grão em 2001 e 2020 em cada bioma sul-americano.

Áreas escuras nos biomas concentram o avanço.

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Os cientistas reconhecem a pecuária como um impulso mais imediato por trás do desmatamento, e afirmam que os 10% da devastação atribuídos à soja podem até parecer pouco. Esse cultivo, porém, frisam, tem papel sistêmico nas causas de derrubada da floresta.

"Apesar de a proporção ser relativamente pequena, essas terras são altamente concentradas em fronteiras ativas de desmatamento", dizem os pesquisadores. "Geralmente, a soja substitui terras de pastagem, e podemos esperar que essa dinâmica continue".

O bioma que mais acomodou novas áreas de plantio do grão foi o cerrado brasileiro, onde está metade das lavouras iniciadas neste século no continente. Outras áreas onde a soja ganhou extenso terreno foram o leste da bacia do Xingu, no Mato Grosso, e o sul do Maranhão. No Paraguai, a região do Chaco, bioma único, teve grande crescimento da área cultivada, bem como a Chiquitania, área de savana da Bolívia.

Moratória na Amazônia

Para tentar frear o avanço da sojicultura na Amazônia, especificamente, governos e sociedade civil costuraram há uma década e meia um acordo com as empresas distribuidoras de grãos. A iniciativa teve um sucesso razoável.

Sob a chamada Moratória da Soja na Amazônia, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais (Anec) se comprometeram a não comercializar a produção de fazendas que tenham sido desmatadas depois de julho de 2008 e não financiar esses produtores.
Há um acordo para a região de cerrado promovendo adesão voluntária de produtores, mas que teve pouco efeito prático até agora, segundo o estudo de Hansen. A Abiove, no entanto, resiste a estender as regras da moratória da Amazônia para o cerrado.

"Não está nos compromissos da Abiove fixar uma data de corte abrupta, que resulte na exclusão de produtores de soja sem que tenham oportunidade para direcionar o crescimento da produção em áreas já consolidadas e que voluntariamente optarem pela conservação", afirmou a empresa em nota ao GLOBO. "A pegada de desmatamento da expansão da soja no Cerrado está caindo e é atualmente a mais baixa em 19 anos”. De uma expansão de 5,8 milhões de hectares na área plantada de soja da safra 2013-14 até 2019-20, apenas 8% foram em área desmatada e 92% em áreas já abertas. (...) O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de soja e usa cada vez menos áreas de vegetação nativa."

Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) do ano passado, no entanto, estimou que 20% da soja exportada pelo Brasil ainda em 2018 tinham ligação com áreas de mata derrubada. Segundo Britaldo Soares-Filho, um dos líderes do grupo, os números dos cientistas divergem com os da indústria porque esta não contabiliza como problema a soja oriunda de propriedades desmatada se a área de mata derrubada ainda não está plantada. Muitos sojeiros, porém, desmatam suas terras para pastagem, outros cultivares ou para pura especulação.

“A soja e o gado costumam ser descritos como vetores do desmate, mas na verdade a causa do desmate é a busca pela terra. A soja e o gado são companheiros desse processo”, diz o pesquisador da UFMG.

Segundo o grupo liderado por Hansen, mesmo buscando evitar uma influência prejudicial na dinâmica fundiária do continente, é preciso cautela para evitar que os efeitos colaterais da presença da soja não sejam transferidos para outras áreas, como o Pantanal. Por causa disso, cientistas não têm aceitado todos os números que a indústria levanta.

"Atingir uma cadeia produtiva de commodity para a soja que seja livre de desmatamento requer a consideração de como expandir sua área de produção sem impulsionar indiretamente o desmatamento ao aumentar a demanda por terras de pastagem ou outros usos da terra", escrevem os cientistas no estudo. (biodieselbr)

Reciclagem infinita é mito e estimula mais consumo

A globalização fez o consumo crescer ano após ano, nas últimas décadas, e o resultado é que o volume de lixo que a humanidade produz também se multiplicou, num volume que o planeta não consegue mais absorver.

Reciclagem é a solução para tanto plástico, metal, roupa? A resposta não é tão simples: esta ferramenta se tornou o pretexto ideal para a dinâmica do consumo se perpetuar, sob a ilusão de que, se será reciclado depois, está tudo bem.

Quem traz essa reflexão perturbadora é a diretora da organização Zero Waste France, Flore Berlingen, autora de “Reciclagem, a grande enganação: como a economia circular se tornou o álibi da indústria descartável” (tradução livre de Recyclage, le grand enfumage: comment l’économie circulaire est devenue l’alibi du jetable).

“Na realidade, deveríamos estar reduzindo a quantidade de coisas que consumimos e jogamos fora. A prioridade é a prevenção, ou seja, a diminuição do lixo na sua origem. Mas, infelizmente, o mundo tem se focalizado na solução da reciclagem deste lixo – talvez porque essa seja a solução mais fácil, ou talvez porque essa indústria também se tornou rentável”, afirma a ativista, em entrevista ao programa C’est Pas du Vent, da RFI.

O livro constata que, em vez de estimular um círculo virtuoso baseado na consciência sobre a escassez dos recursos naturais, a reciclagem acabou por livrar o peso na consciência dos consumidores: basta colocar tudo no lixo reciclável e podemos voltar a comprar mais.

“Quando buscamos reciclar produtos que não deveriam sequer existir – afinal eles representam um consumo excessivo dos nossos recursos naturais –, não estamos chegando a pequenos passos rumo a uma solução. Estamos é nos afastando da solução”, frisa. “É por isso que acho que devemos nos permitir criticar a reciclagem, ou pelo menos afirmar que ela não deve ser a nossa solução prioritária”.

Mito do “eternamente reciclável”

A autora lembra que o plástico não é eternamente reciclável: a cada ciclo, menos produto pode ser recuperado e o processo gera dejetos, além de consumir energia e água. Ou seja, está longe de ser algo “natural”, como alguns poderiam pensar. Tanto a produção, quanto a reutilização do plástico são altamente poluentes.

“Esse mito da reciclagem infinita faz com que a indústria do descartável se torne ‘aceitável’ e continuemos a consumir excessivamente. Mas isso é uma mentira, porque a reciclagem não é suficiente para tornar sustentáveis os produtos descartáveis, em especial os de uso único”, destaca a ativista – que não vê com bons olhos até iniciativas que, aparentemente, são recheadas de boas intenções, como a recuperação de garrafas pet para usos mais duradouros.

“Podemos ter a impressão de que é uma boa ideia porque, em curto prazo, nos permite reutilizar as garrafas, evitar que elas sejam jogadas na natureza etc. Mas estou convencida de que, em longo prazo, é uma falsa boa ideia”, sublinha Flore Berlingen. “Não devemos pensar em soluções que incluam o plástico, por mais que elas sejam reutilizáveis. Sem contar que, ao transformar a garrafa plástica em uma moeda de troca, vamos de encontro ao nosso objetivo de reduzir o seu uso no mundo”.

Estímulo para mais compras de roupas, celulares

O plástico, derivado do petróleo e não biodegradável, representa a parte mais visível do problema – mas ele está em todo o lugar. Na indústria têxtil, a reciclagem se tornou argumento de venda: as lojas oferecem uma redução no preço se o cliente trouxer roupas usadas para a reciclagem, contando que ele saia com uma sacola de novas peças. Na telefonia, usuários trocam todo o ano o modelo do celular com a consciência tranquila de que o antigo será utilizado por outra pessoa ou suas peças serão recuperadas, e assim por diante.

A pandemia de coronavírus acentuou o problema, ao inserir no nosso cotidiano um novo objeto que se tornou indispensável, as máscaras, e trazer de volta – e com toda a força – as embalagens descartáveis. O consumo pela internet fez a produção de caixas e sacolas plásticas para entrega disparar. Entretanto, existem soluções mais ambientalmente responsáveis, baseadas na reutilização dos artigos. Alice Abbat, coordenadora da rede de vendas por consignação na França, aponta as dificuldades para o desenvolvimento da prática, comum até os anos 1990.
“Preço das embalagens descartáveis não é suficientemente proibitivo. Para voltarmos a reutilizar uma garrafa de vidro, uma caixa, uma marmita de comida, teríamos que remodelar toda a nossa infraestrutura de produção e serviços, com altos investimentos”, explica. “Hoje, os distribuidores não têm nenhuma obrigação neste sentido, de reutilizar embalagens que os usuários poderiam devolver”, lamenta. (ecodebate)

Degradação florestal na Amazônia afeta área três vezes maior que desmatamento

Entre março de 2023 e de 2024, INPE detectou aviso de degradação para 20,4 mil km², maior que os 18 mil km² do período anterior. É necessári...