quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Saiba mais sobre pegada ambiental e emissões de CO2

Entenda a importância do dióxido de carbono e da pegada ambiental nas discussões sobre aquecimento global. - As emissões de CO2 são um dos temas mais polêmicos de reuniões sobre o meio ambiente, como a que aconteceu em Copenhague. De um lado, há pressões de ambientalistas para redução das emissões de CO2 para combater o aquecimento global. Do outro lado, muitos países e empresas resistem à ideia, já que o desenvolvimento econômico depende muito da queima de combustíveis fósseis, o principal fator de emissão do CO2. Confira abaixo algumas perguntas e respostas sobre pegada ambiental e emissões de CO2. Qual é o papel do CO2 no aquecimento global? O dióxido de carbono (CO2) é um dos gases que causam o efeito estufa. Ele é liberado na atmosfera quando combustíveis fósseis - a principal fonte de energia do mundo - são queimados. Entre os combustíveis estão petróleo, carvão e gás natural. Cientistas acreditam hoje que o aquecimento global está sendo acelerado pelo impacto das atividades humanas no ambiente. Quais são os gases nocivos ao ambiente? Além do CO2, o protocolo de Kyoto define outros seis gases que causam o efeito estufa: óxido nitroso, (N2O), metano (CH4), clorofluorcarboneto (CFC), hidrofluorcarboneto (HFC), perfluorcarboneto (PFC) e hexafluoreto de enxofre (SF6). Por que o CO2 recebe tanta atenção internacional? Outros gases, como metano, provocam mais dano ao ambiente, mas nenhum é tão abundante na atmosfera quanto o CO2. O motivo é que o CO2 é produzido pela queima de combustíveis fósseis, que são a base de toda a economia mundial. Além disso, o impacto do CO2 no ambiente é duradouro: ele fica durante centenas de anos na atmosfera, acelerando o aquecimento global. O que é a pegada ambiental e como ela é medida? Pegada ambiental é a medida de quanto cada pessoa polui o planeta. Em geral, o termo é usado para descrever quanto CO2 uma pessoa libera através da queima de combustíveis fósseis ao longo de um ano. A medida é feita em toneladas de metro cúbico de CO2. Há várias formas de se medir a pegada ambiental de uma pessoa. Em geral, três fatores compõem a pegada ambiental de uma pessoa: o consumo doméstico de energia (como as contas de gás e luz), o uso de transporte e o consumo de bens. Cada bem de consumo tem uma pegada ambiental própria. Por exemplo, a pegada ambiental de uma camiseta produzida na Índia e vendida no Brasil mede a quantidade de CO2 emitida durante a fabricação da camiseta e seu transporte da Índia até o Brasil. O que se pode fazer para reduzir a pegada ambiental? Uma forma de se fazer isso é aumentando a eficiência energética, ou seja, usando fontes de energia que queimam menos combustível fóssil ou aparelhos que consomem menos energia. Por exemplo, a substituição de eletrodomésticos grandes - como geladeiras - por aparelhos mais modernos e eficientes. Outra forma é compensando a emissão de CO2, um serviço oferecido por algumas empresas. Pessoas que quiserem compensar suas emissões podem patrocinar atividades que reduzam emissões de CO2, como, por exemplo, a plantação de árvores ou a promoção de tecnologias limpas em outras áreas.

Transporte será desafio para SP reduzir emissões

Para cumprir nova lei, Estado terá de cortar 20 mi de toneladas de CO2, quase metade do que indústria emitiu. A aprovação da lei estadual de mudanças climáticas obrigará o Estado de São Paulo a reduzir sua emissão de gases que provocam o aquecimento global em cerca de 20 milhões de toneladas até 2020, tendo como base a emissão de 2005. O esforço equivale, por exemplo, a cortar quase metade do que a indústria paulista emitiu de CO2 em 2006, quando o total chegou a 38 milhões de toneladas. A legislação prevê um corte de 20% nas emissões em relação aos níveis de 2005. Em entrevista ao Estado, o secretário estadual do Meio Ambiente, Xico Graziano, afirmou que, apesar de São Paulo ainda não ter um inventário completo, a pasta trabalha com uma estimativa de emissão de 100 milhões de toneladas de gases de efeito estufa em 2005. O total representa quase um terço do que o desmatamento da Amazônia emite todos os anos - cerca de 350 milhões de toneladas. A lei - proposta pelo governo e aprovada pelos deputados no dia 13, mesmo com a oposição do setor industrial - deve ser sancionada pelo governador José Serra (PSDB) em novembro. O maior desafio, diz Graziano, será adequar o setor de transporte. "Em São Paulo, o consumo de energia representa 53% das emissões globais. Dentro desse consumo, o transporte é o maior responsável", explicou. Ele relembrou que a legislação dá prazo de um ano para o Estado apresentar um plano de transporte sustentável. "Estabelecemos prazos para mostrar nossa segurança em relação ao assunto", disse. Outra ambição da secretaria é recuperar com vegetação uma área de 1 milhão de hectares. Até agora, foram recuperados por produtores, usinas e outras empresas 375 mil hectares. "Embora sejam florestas jovens, elas contribuem para sequestrar carbono (retirá-lo da atmosfera)", disse. O fato de a lei não incluir qual foi a emissão de gases-estufa em 2005 gerou críticas da oposição. Para o deputado estadual Adriano Diogo (PT), uma meta de 20% não significa nada sem o dado de quanto foi emitido.Em geral, porém, a lei foi bem recebida. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, saudou a iniciativa e disse que incluirá o dado de São Paulo em seus cálculos. Ele enfrenta uma disputa interna no governo para que o País adote uma meta que desvie a taxa de crescimento de emissões em 40% até 2020. Para José Goldemberg, professor da USP e ex-secretário estadual do Meio Ambiente, São Paulo foi pioneiro ao adotar a meta. Na opinião de Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace, a lei é, em linhas gerais, positiva. Porém, o governo terá que se planejar com urgência para que os resultados cheguem até 2020, pois obras de infraestrutura de transporte demoram para ser concluídas. Graziano diz ter consciência da urgência e que será criada uma equipe gerencial para tratar unicamente do tema.

Corte de CO2 custa US$ 30 bi à China

Estudo calculou investimento anual para cumprir sua meta ambiental. O controle das emissões de gases-estufa poderá exigir da China investimentos de US$ 30 bilhões ao ano durante a próxima década, segundo estudo divulgado pela imprensa oficial do país. Na semana passada, Pequim anunciou a intenção de reduzir de 40% a 45% a quantidade de gases emitidos para gerar cada unidade do PIB, relação que é chamada de intensidade de carbono. A meta seria atingida até 2020, tendo por base 2005. Pequim pretende ampliar a participação de fontes limpas na matriz energética e aumentar a eficiência, usando menos recursos para gerar a mesma quantidade de riqueza. Apesar das medidas, as emissões chinesas continuarão a subir e deverão quase dobrar no período. Isso porque a meta de redução é inferior ao crescimento esperado do PIB. O porcentual máximo de 45% equivale a média anual de corte de 3%. A expansão do PIB chinês deve ficar em torno de 8% ao ano. Realizado pela Universidade do Povo, o estudo afirma que o gasto de US$ 30 bilhões ao ano se refere a investimentos adicionais, que não incluem iniciativas existentes de controle das emissões. Outro levantamento indica que cada família chinesa terá de desembolsar US$ 64 ao ano, caso o custo do corte seja transferido ao público. Analistas sustentam que um dos fatores responsáveis pelo grau de POLUIÇÃO da China é o baixo custo da energia, que leva a desperdício. "Indústrias do setor vão ter custos adicionais para melhorar sua eficiência de carbono, mas esses custos terão de ser transferidos aos consumidores", disse ao jornal oficial China Daily Jiang Kejun, do Instituto de Pesquisa em Energia da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, responsável pelo estudo. O GREENPEACE, por exemplo, diz que o preço do carvão na China deveria ser drasticamente elevado para refletir os danos ambientais de sua ampla utilização. Mais poluente entre os combustíveis fósseis, responde por 70% da energia na China.Entre as medidas que o governo estuda para controlar as emissões está a cobrança de uma taxa de carbono, que incidiria sobre o consumo de combustíveis fósseis e o uso de eletricidade gerada por carvão ou gás. Segundo Jiang, se a taxa for de 100 yuans por tonelada de emissão, isso representará aumento de 5% no preço da gasolina e uma elevação mais acentuada no preço da eletricidade. A China é o maior emissor de gases que provocam efeito estufa, seguida dos Estados Unidos.

EUA vão propor corte de 17% na emissão de gases até 2020

O presidente Barack Obama apresentará na conferência de Copenhague sobre o clima a meta de redução de 17% das emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos em 2020. A meta se amplia para 30% em 2025 e 42% em 2030. Todas elas são em relação aos níveis de 2005, anunciou nesta quarta-feira (25) a Casa Branca. A presidência americana não respondeu de imediato a correspondência dessas reduções em relação a 1990, ano de referência escolhido pela maior parte dos países associados nas negociações da ONU sobre o clima. Obama anunciou hoje a sua participação na conferência internacional sobre o clima, na capital dinamarquesa, onde desembarca em 9 de dezembro. Ainda que tímida, a definição da meta é importante, uma vez que Estados Unidos, China e demais países ricos se recusavam a dar uma meta específica sobre a redução das emissões de dióxido de carbono. Os Estados Unidos e a China são os dois maiores poluidores do planeta. Obama em Copenhague Obama estará em Copenhague no dia 9 de dezembro, informou a Casa Branca. A conferência começa no dia 7 e vai até o dia 18. Mais de 60 chefes de Estado e de governo já aceitaram o convite da Dinamarca, país que vai sediar a cúpula. De qualquer forma, Obama devia viajar à Europa no dia 10 de dezembro para receber em Oslo seu Prêmio Nobel da Paz. A conferência acontecerá dos dias 7 a 18 de dezembro. Brasil Antes de Obama, o presidente Lula também tinha confirmado sua presença em Copenhague. Lá, o Brasil deve apresentar sua proposta de redução nas emissões entre 36,1% e 38,9%, classificada pela ministra Dilma Roussef como uma "ação voluntária do governo", sem obrigação compulsória.

Com metas atuais, emissões de CO2 vão dobrar até 2040

Cálculo de consultoria climática se baseia nos compromissos assumidos pelos governos antes da COP - 15. As emissões globais de gases do efeito estufa vão quase dobrar até 2040, em comparação aos níveis de 1990, com base nas atuais metas de redução anunciadas pelos países, disse nesta quinta-feira a consultoria climática Ecofys. O cálculo se baseia nos compromissos assumidos pelos governos antes da reunião climática dos dias 7 a 14 deste mês em Copenhague. Pela avaliação da Ecofys, o mundo se encaminha para um aquecimento médio bem acima de 3 graus Celsius até 2100. Reportagem de Nina Chestney, da Agência Reuters. “As promessas sobre a mesa não irão parar o crescimento das emissões antes de 2040, quanto menos 2015, conforme indica o IPCC (painel científico da ONU), e estão longe de reduzir à metade as emissões até 2050, conforme foi proposto pelo G8 (bloco de países industrializados)”, disse Niklas Hohne, diretor de políticas energéticas e climáticas da Ecofys. China, Índia, Brasil e África do Sul manifestaram nesta semana sua oposição às metas de reduzirem pela metade as emissões globais até 2050 e limitar o aquecimento a 2C acima dos níveis pré-industriais, disseram diplomatas europeus na quarta-feira. Esses países temem que metas globais ambiciosas afetem seu crescimento, e acham que os países ricos deveriam agir primeiro. De acordo com o Ecofys, levando em conta a promessa anunciada pelos EUA e outros países, as emissões das nações desenvolvidas devem chegar em 2020 a um nível entre 13 e 19 por cento inferior ao de 1990. Mas o uso de créditos florestais pode reduzir essa cifra em 5 por cento. A Rússia ofereceu em novembro reduzir suas emissões até 2020 em 22 a 25 por cento abaixo dos níveis de 1990. Os EUA prometem um corte de aproximadamente 3 por cento. Em 2007, o IPCC propôs uma redução de 25 a 40 por cento nas emissões até 2020, sempre em relação a 1990. Hahne lamentou a falta de metas concretas para as emissões da aviação e navegação marítima, que devem dobrar até 2020 e quase quadruplicar até 2050 em relação a 1990. “A partir desses números, há pelo menos uma chance em quatro de superar o aquecimento de 4C”, disse ele. A Ecofys, a Climate Analytics e o Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático desenvolveram o chamado “Monitor da Ação Climática”, que acompanha as promessas e ações de cada país.O índice revela que Noruega, Japão e Brasil são os países com as metas anunciadas mais ambiciosos. Se a União Europeia se comprometer a um corte de 30 por cento no período 1990-2020, será considerado um esforço “suficiente.” Os Estados Unidos estão na metade de baixo da escala.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Mudanças climáticas e os impactos na água potável

O Ártico está perdendo o gelo da sua superfície, e isso muda a circulação das correntes atmosféricas e oceânicas naquela região e afeta todo o clima do planeta, informou o glaciólogo Jefferson Simões à IHU On-Line. Nesta entrevista, concedida por e-mail, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, enfatizou que conforme o gelo do mar desaparecer, o oceano ficará mais aquecido, mas o gelo do mar está flutuando, “assim, ao derreter não afetará o nível dos mares”. Neste processo, ele explica que o derretimento das geleiras lançará mais gelos para o mar, o que pode ocasionar perda de parte dos recursos de água potável. Professor do Instituto de Geociências da UFRGS e coordenador do Centro Polar e Climático – CPC, da UFRGS, Simões é doutor em Glaciologia, pelo Scott Polar Research Institute (SPRI) da Universidade de Cambridge (Inglaterra) e pós-doutor pelo Laboratoire de Glaciologie et Géophysique de l’Environnement (LGGE) Du Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS (França). Introduziu no Brasil a ciência glaciológica e a Geografia das Regiões Polares, lecionando nos programas de pós-graduação em Geociências e Geografia da UFRGS. O professor também coordena projetos do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) e foi coordenador-geral de rede de pesquisas Antártica, as Mudanças Globais e o Brasil no período 2002-2006. Participou de 19 expedições polares, destacando a liderança em missões internacionais e uma travessia chileno-brasileira no verão de 2004/2005 (quando atingiu o Pólo Sul Geográfico) no manto de gelo antártico. No verão de 2008/2009 liderou a primeira expedição científica nacional ao interior do continente antártico. Confira a entrevista. P – Qual é a situação climática da Antártida desde o último relatório do IPCC? R – Sem grandes modificações: a temperatura média da parte mais ao norte da Antártida continua relativamente alta (sem comparar com as médias das últimas cinco décadas). Em geral, o aumento contínuo e a temperatura se estabilizaram nos últimos 3 anos. Aguardemos para ver o que ocorrerá nos próximos cinco anos! P – Como essa massa de gelo está afetando a circulação dos oceanos e da atmosfera nos hemisférios sul e norte? R – A massa de gelo afeta normalmente o clima do planeta. Ela força o transporte de ar quente dos trópicos para as regiões polares. Agora, quanto ao impacto das modificações do gelo no clima, ainda é cedo para avaliar. P – O senhor pode nos explicar como funciona o processo de degelo da Antártida e do Ártico? Como ações realizadas em outras partes do mundo contribuem para tal processo? R – Primeiro, é importante lembrar que não é por estar longe que as regiões polares não afetam o nosso cotidiano ambiental. O sistema ambiental é um contínuo, e as regiões polares são tão importantes quanto os trópicos no sistema climático. Além do que algo lançado na atmosfera será espalhado por todo o globo. Assim, poluentes lançados no Hemisfério Norte chegam à Antártida. Segundo, na natureza, existem tipos diferentes de gelo. A diferença maior é entre o gelo de geleiras (formado pelo acúmulo de cristais de neve sobre um continente ou ilha – pode ultrapassar 4.000 m de espessura) e o mar congelado (raramente ultrapassa 6 m de espessura). O Ártico é um oceano congelado, que cada vez mais está aberto (sem gelo na superfície), esse fato muda a circulação das correntes atmosféricas e oceânicas naquela região e afeta todo o clima do planeta. Conforme o gelo do mar desaparece, o oceano aquece mais rapidamente ainda. Nota importante: o gelo do mar está flutuando, assim, ao derreter, não afeta o nível dos mares. Este processo é muito rápido. Na Antártida, o enorme manto de gelo não está derretendo. Somente o gelo perto de 0°C, na parte mais ao norte da Antártida (Península Antártica) mostra rápido derretimento. É gelo acima do continente e, ao derreter, vai para o mar e contribui para o aumento do nível deste. P – As variações morfológicas e as mudanças do clima da Antártida já estão afetando diretamente a costa brasileira? Jefferson Simões – Ainda não estão afetando, espera-se que o mar avance algumas dezenas de metros continente a dentro nas próximas décadas. Mas isto dependerá da morfologia da costa. Uma região como Rio Grande é mais afetada do que Torres (morfologia mais elevada). R – Nos últimos 50 anos, a temperatura da Antártida aumentou três graus centígrados, mas o senhor ressaltou, em outra entrevista, que isto atingiu menos de 1% do país. Essas mudanças climáticas representam que impacto no aquecimento global? Jefferson Simões – Sim, somente no norte da Antártida que ocorreu isso. Ainda não sabemos se é um sinal de ação humana. P – A previsão científica era de que haveria até 2100 um aumento do nível do mar entre 18 e 60 centímetros. Nesses últimos três anos, alguns pesquisadores preveem a redução do gelo do Ártico de 2100 para 2040, e alguns falam até em 2020 e 2015. Esses fatos têm relação no que se refere à mudança climática? Há muito alarmismo ou as mudanças de fato são agravantes? R – A questão do derretimento do gelo Ártico não tem nada a ver com o aumento do nível do mar. Mar congelado ao derreter não afeta nível do mar, pois o gelo já está flutuando na água (princípio de Arquimedes!). Sim, o mar congelado poderá desaparecer até 2050, e isso afeta o clima, não o nível do mar. Existe um certo catastrofismo. Poucos leem trabalhos científicos e os cenários propostos. Nossas previsões são para aumentos do nível do mar em até 1 m (devido ao derretimento de gelo na Groenlândia e montanhas nas regiões temperadas e tropicais). Devemos achar soluções sociais e tecnológicas para reduzir o impacto das mudanças globais na sociedade. Mas, por outro lado, estas modificações no sistema climático, prejuízos de trilhões de reais, afetarão mais as classes menos favorecidas. P – Em que medida o aquecimento global pode acelerar o processo de degelo? R – Já está acelerado, pois aquele gelo perto de 0°C rapidamente começa a derreter com o aumento da temperatura. P – Nos debates sobre as mudanças climáticas, as emissões de gás carbônico ganham destaque, além da preocupação com o desmatamento, as queimadas e a preservação das florestas. No que se refere às geleiras, o debate deveria ganhar mais destaque? Como a conferência do clima deveria tratar o tema em Copenhague? R – O desmatamento não é o problema mais relevante, são as queimadas. O debate sobre geleiras não é sucinto, é no Brasil que se desconhece a discussão, pois enfatizamos muito a questão da Amazônia. Mas o sistema ambiental é um contínuo. A questão das geleiras está relacionada à questão dos limites do aquecimento global; mais gelo será perdido para o mar. Assim aumentamos o nível do mar e perdemos parte dos recursos de água potável.

Mudanças climáticas Globais: Passado, Presente e Futuro

O aquecimento global causado pelo homem é um dos maiores paradigmas científicos da atualidade. Esta tem profundas implicações ambientais, econômicas, políticas e sociais. O debate em torno do assunto é intenso. Porém, a perspectiva de mudanças climáticas do passado, a questão do tempo geológico e as incertezas científicas são geralmente ignorados nesta discussão. O clima oscila e muda naturalmente. Ele tem isto muitas vezes no passado. As causas disto são geológicas e estas mudanças fazem parte da dinâmica natural da Terra. Estas são necessárias à evolução das espécies. No artigo traz-se o ponto de vista da geologia à questão, tentando desta forma contribuir ao debate. Mesmo diante das incertezas científicas e mudanças climáticas do passado apresentadas, o autor defende a posição sensata de se tomar atitudes que possam reduzir a possibilidade de efeitos antropogênicos ao clima, no lugar de se simplesmente continuar emitindo gases de efeito estufa sem restrições e esperar o que venha a acontecer. O aquecimento global, provocada pela emissão de gases de efeito-estufa é um dos maiores paradigmas científicos da atualidade. Nos países industrializados o debate em torno da questão e as suas possíveis conseqüências é intenso. Infelizmente o debate tem sido caracterizado por uma forte carga ideológica. Simplificando, ocorre uma bipolarização em duas frontes antagônicas. Os da esquerda consideram que o possível efeito estufa é, sem dúvida, causado pela atividade industrial, fornecendo a estes uma ferramenta no combate ao capitalismo e globalização. Baseado nisto, estes exigem restrições às emissões de gases de efeito estufa (dióxido de carbono, metano, CFC, etc.) e, conseqüentemente, restrições às atividades industriais. Porém, este ponto de vista é também defendido pelos ONGs, Painel Inter-Governamental de Mudança Climática (IPCC) e a maioria dos governos. Por sua vez, a direita ignora o problema e defende o direito de continuar com as atividades industriais e suas emissões, de acordo com os seus próprios interesses e a mentalidade “laissez-faire”. O governo dos EUA está na frente deste linha, juntamente com a indústria de produção de combustíveis fósseis, que querem garantir a obtenção e consumo de energia barata a qualquer meio e custo, até militarmente, globalizando também os problemas ambientais. Apesar desta bipolarização, deve se manter “os pés no chão e a cabeça nas nuvens”. Este artigo trata da questão das mudanças climáticas do ponto de vista de um geólogo, de forma acessível aos leigos. Tenta-se contribuir ao debate ao trazer à discussão alguns elementos que frequentemente estão sendo esquecidos, como a perspectiva do tempo geológico e mudanças globais do passado. Discutem-se também as incertezas científicas relacionadas à questão. O texto é baseado em artigos do autor sobre o tema e no debate travado por este na revista profissional Geologi, publicada pela Geological Society of Finland. Mudanças climáticas e os países em desenvolvimento: exemplo do Brasil Apesar de se prever conseqüências mais drásticas da mudança climática aos países em desenvolvimento, a discussão nestes é bastante restrita. É raro de se ver ou ouvir sobre o assunto na mídia, como acontece no Brasil. Isto pode ser devido ao fato de a instabilidade climática ser algo corriqueira no país e as pessoas serem acostumados a isto. Esta instabilidade climática ocorre em forma de alternância de enchentes e estiagens. Em 2001- 2002 o sul do Brasil foi afetado pela maior estiagem em cinqüenta anos, quando antes disto as pessoas tiveram que deixar as suas casas por causa das enchentes. Pesadas chuvas causaram enchentes e deslizamentos em Rio de Janeiro e São Paulo. Isto ocorre todos os anos. A prolongada estiagem de 2001 provocou a diminuição do nível d’água de represas, ocasionando restrições ao consumo de energia elétrica em grande parte do país. Já em 2002, as represas estavam transbordando no semi-árido Nordeste, por causa de fortes chuvas. Por seu lado, o sul do Brasil sofreu com temporais e a temperatura desceu a 20°C no meio do verão, o que é excepcional. As temperaturas foram as mais frias em 17 anos. Ao mesmo tempo batia-se recordes de frio na Sibéria e a neve caía nos países mediterrâneos. Os mais apressados já falaram em mudança climática provocada pelo homem. Porém, será que estes eventos são sintomas das mudanças climáticas e sinais de um novo El Niño, como tem sido previsto, ou somente variações cíclicas naturais? Os meteorologistas acalmaram os brasileiros: os fenômenos são perfeitamente naturais em relação à época do ano. O Brasil já experimentou grandes mudanças climáticas durante a sua história, sem falar em outras mudanças geológicas. No passado remoto, o Brasil já foi coberto por geleiras, mares e desertos. A instabilidade climática atual não é nada em comparação com as mudanças do passado. As mudanças de curto prazo, com a duração de dias, semanas, meses, anos, décadas, ou até séculos, são somente picos de menor importância dentro de períodos mais longos do tempo geológico. O clima vai mudar no futuro também, queiramos ou não. Estamos de rumo à uma nova glaciação, quando as condições serão bastante mais severas do que nos gulags (campos de prisioneiros políticos da União Soviética relatados por Soljenitshin) da Sibéria russa. Mas será que experimentaremos um aquecimento global antes disto e será que este será provocado pelo homem? Papel da geologia no debate sobre a mudança global As glaciações esculpiram a superfície dos países do hemisfério norte, como a Finlândia: as geleiras poliram e estriaram os rochedos, acumularam formações glacio-fluviais, arrancaram e transportaram enormes blocos de rocha erráticos por até centenas de quilômetros e cobriram o país com depósitos glaciais. Estes sinais são facilmente vistas na paisagem, pois foram produzidas recentemente do ponto de vista geológico, pois a última glaciação terminou somente há 10.000 anos atrás. Os geólogos podem reconhecer até sinais de glaciações mais antigas. Os vestígios mais importantes são os depósitos glaciais deixadas por geleiras, as morainas, formadas por till glacial, que, ao petrificarem, formam os tilitos. Estes tem sido descobertos em camadas de rochas sedimentares ao redor do globo, até em Saara. A geologia está em uma posição chave ao se discutir sobre as mudanças climáticas. Isto, não somente pelo fato de os combustíveis fósseis serem descobertos pelos geólogos, cuja queima é acusado de estar provocando o efeito estufa, mas também porque a geologia é a ciência que pesquisa, entre outros temas, o passado da Terra. A geologia é a ciência das mudanças. Os acontecimentos do nosso planeta foram gravados em camadas de rochas sedimentares, que são lidas e interpretadas pelos geólogos. Os processos e as mudanças geológicas relacionadas cobrem milhares, milhões ou até bilhões de anos. Por isto é necessário de se considerar uma perspectiva de tempo mais amplo quando pesquisamos diferentes ciclos, p.ex. em relação às mudanças climáticas. Nada é eterno no mundo. O meio ambiente, a paisagem e o clima não foram e não serão no futuro assim como os vemos hoje. E, principalmente, também não será eterno o nível de vida da sociedade industrial atual, que se baseia justamente no uso de combustíveis fósseis e outros recursos naturais não-renováveis. Os continentes derivam, colidem e se separam, cordilheiras são soerguidas e desgastadas pela erosão, vulcões entram em erupção, terremotos sacodem a Terra, espécies extinguem e outros surgem no seu lugar, geleiras se expandem e se retraem, o clima muda e o nível dos mares varia. Assim tem sido no passado e assim será no futuro também. A natureza está em constante transformação, mesmo não sermos necessariamente capazes de vê-la. As mudanças ocorrem lentamente em relação à nossa percepção do tempo. Estes são fatos conhecidos pelos geólogos. Os processos geológicos são naturais e evoluem lenta- ou rapidamente, mas sem se poder impedir ou mudá-los. Durante a história geológica, estas mudanças naturais tem provocado efeitos catastróficos, mas, ao mesmo tempo também conseqüências positivas. As mudanças climáticas são um exemplo disto. A evolução da vida provavelmente não seria possível sem estas mudanças. As mudanças são necessárias à adaptação das espécies. Estas questões, assim como a geologia em geral, são necessárias a serem transmitidos ao grande público e administradores em forma da popularização de geociências e educação ambiental. Geólogos e a mudança climática Muitos geólogos tem sido tradicionalmente céticas em relação à uma mudança climática provocado pelo homem. Isto é devido aos seus laços estreitos com a produção de combustíveis de fósseis e outros recursos naturais não renováveis de origem geológica, assim como ao seu conhecimento sobre as mudanças climáticas do passado. Apesar da importância da geologia no presente debate, os geólogos tem estado ausentes da sua discussão pública. O debate tem sido restrito aos fóruns científicos. Lamentavelmente os geólogos não trazem as suas opiniões ao público sobre questões importantes da sua área, concernentes à sociedade atual, sendo a mudança climática apenas um exemplo disto. Devida à sua relação tradicional com a produção de matérias-primas como minérios, os geólogos são compreendidos somente como profissionais que atuam na prospecção mineral, mineração e produção de petróleo, sendo assim, “perigosos ao meio ambiente” nos olhos do grande público e principalmente dos ONGs, isto quando se sabe o que é a geologia e a profissão do geólogo. As contribuições e a pesquisa positivas à sociedade e ao meio ambiente em geral não são conhecidas. Principalmente nos países industrializados é comum os ativistas de ONGs se apresentarem na mídia como especialistas em mudança climática. Isto resulta frequentemente em projeções unilateralmente catastrofistas, sem o devido conhecimento de processos naturais, mudanças do passado e incertezas científicas relacionadas. Esta “histeria” é aceita facilmente pela mídia que a alardeia. Além de conflitos relacionadas com a mineração, este tem sido um dos fatores que tem causado atrito entre os geólogos e ativistas ambientais. E infelizmente, à mídia não interessa discutir complexos fatores e incertezas científicas relacionadas com a questão. Esta prefere simplificar a questão para o lado mais “emocionante”, sensacionalista, ou seja, catastrófico. Deste modo, contar sobre as mudanças climáticas do passado ao público e aos administradores pode trazer novas perspectivas ao debate atual. Isto deve ser feito por geólogos. Mudanças climáticas do passado Durante a história de 4,5 bilhões de anos do nosso planeta ocorreram várias mudanças climáticas radicais. Longos períodos de clima estável foram sucedidos por glaciações e estes, por sua vez, por efeito-estufa. Estes períodos quentes ocasionaram até desertificações de amplas áreas continentais. Estes eventos tem provocado também conseqüências biológicas. As mudanças climáticas tem extinguido muitas espécies e favorecido outras. As camadas sedimentares revelam que a Terra já sofreu várias glaciações. A mais antiga destas foi há mais de dois bilhões de anos atrás e o mais intenso, por sua vez, parece ter congelado até as regiões equatoriais. O clima da Terra resfria o nosso planeta às vezes a um congelador, e outras vezes o transformando em uma sauna. A seguir, viajaremos no tempo para vermos como o clima da Terra variou no passado. Glaciação Arqueana (há 2,7 bilhões de anos atrás) As rochas mais antigas interpretadas como glaciais foram descobertas em formações com a idade de 2,7 bilhões de anos na África do Sul. Porém, nem todos os pesquisadores aceitam a sua origem glacial. Pelo menos não foram relacionadas às geleiras extensas. Glaciações Paleoproterozóicas (há 2,3 bilhões de anos atrás) Os vestígios mais antigos de um período de frio intenso são encontrados em rochas com a idade de 2,3 bilhões de anos na América do Norte, Finlândia e Rússia, que se situavam próximos uns dos outros. O período é conhecido como a Glaciação Huroniana. Glaciações Neoproterozóicas: do “Planeta Bola-de-Neve” ao Efeito-Estufa Cambriano (há 1000 a 540 milhões de anos atrás) A mais severa glaciação de toda a história evolutiva da Terra foi há 1000 a 550 milhões de anos atrás, no período conhecido como o Neoproterozóico. Nesta época ocorreram pelo menos quatro glaciações em regiões que hoje estão dispersos em continentes diferentes. A mais extensa destas foi a Glaciação Varangeriana. Esta foi o período mais frio que a Terra já experimentou durante a sua história. A Terra estava congelada até aos trópicos, formando o chamado “Planeta Bola-de-Neve”. Somente algumas áreas oceânicas, com ilhotas e microcontinentes, estavam livres de geleiras na região do Equador. Segundo recentes simulações climáticas, nestas áreas predominava um clima tropical. O nome da glaciação vem do fjord de Varanger no norte da Noruega, onde pela primeira vez foram encontrados sedimentos glaciais com a idade entre 650 a 600 milhões de anos. Apesar de a origem glacial das rochas deste lugar ser atualmente disputada, os vestígios desta glaciação são encontrados também na Antártida, África do Norte, China, Rússia, Suécia, Escócia, Svalbard, Namíbia, Argentina, Uruguai, Brasil, América do Norte e Austrália. Isto significa que áreas muito extensas foram cobertas por geleiras. A presença desta glaciação no sul do Brasil está sendo pesquisada pelo auto. A mudança climática mais drástica do passado geológico conhecido ocorreu há 540 milhões de anos atrás, na transição do Neoproterozóico ao período Cambriano da era Paleozóica. Durante as glaciações, os mares absorveram grandes quantidades de dióxido de carbono e os continentes estavam amalgamados, formando o supercontinente de Rodinia. No período Cambriano este supercontinente começou a fragmentar-se. Erupções vulcânicas e gases hidrotermais dos fundos oceânicos em expansão emitiram grandes quantidades de gases, como o dióxido de carbono. Em conseqüência deste fenômeno natural de efeito-estufa, a temperatura aumentou radicalmente e as geleiras fundiram-se, elevando o nível dos mares. Novos mares rasos banhavam os litorais do supercontinente em fragmentação. O dióxido de carbono, que estava em solução na água do mar, precipitou-se em forma de carbonatos, formando rochas calcáreas nos mares rasos tropicais. A vida começou a irradiar nestes mares. Os períodos de extremo frio das glaciações tinham causado grandes pressões ambientais às espécies marinhas. A mudança climática radical de um “refrigerador à sauna” ofereceu condições favoráveis a estas espécies. Ocorreu a radiação evolutiva do Cambriano. Os animais aprenderam a formar esqueletos e carapaças a partir de carbonato de cálcio – surgiram os vertebrados. Após disto, nada foi mais como antes. O mundo mudou de uma vez por todas. Mudanças climáticas radicais tem ocorrido várias vezes durante a história geológica, mas nunca com a mesma intensidade e importância. Glaciações Paleozóicas (há 400 a 200 milhões de anos atrás) Várias glaciações afetaram os continentes do hemisfério sul durante o Paleozóico. No Brasil são encontrados vestígios de geleiras nos períodos Devoniano, Siluriano e Carbonífero. Durante esta era, a vida invadiu a terra firme e até o período Carbonífero, a evolução tinha produzido uma fauna e flora abundantes. No Carbonífero, ao começar a se formar o novo supercontinente Pangea, há 300 milhões de anos atrás, os países do atual hemisfério norte estavam na faixa equatorial e eram cobertas por vastas florestas formadores de carvão, enquanto os continentes do atual hemisfério sul estavam no Pólo Sul e cobertas por geleiras (ibid.). Porém, logo após disto, a zonalidade climática foi reduzida e houve um aquecimento global, que perdurou durante todo o Mesozóico, contribuindo à evolução dos dinossauros. O Mesozóico, por sua vez, terminou com com a separação do Pangea, mudança climática, atividade vulcânica e a queda de um meteorito gigante no Golfo do México, que aniquilaram os dinossauros. Glaciações Quaternárias (há 2,5 milhões de anos a 10.000 anos atrás) Durante os dois últimos milhões de anos o clima da Terra tem variado drasticamente. As suas conseqüências foram glaciações, intermediadas por períodos interglaciais mais quentes, como o que estamos vivendo agora. Durante as glaciações, a Europa do Norte e grandes áreas da América do Norte estavam cobertas por espessas geleiras continentais. Neste sentido, as glaciações Quaternárias foram excepcionais, pois no passado ocorreram geleiras continentais somente nos continentes do hemisfério sul. A evolução do homem ocorreu durante estas mudanças climáticas e a distribuição das espécies foi fortemente influenciada por estas. Atualmente temos geleiras continentais somente em áreas polares. Geleiras alpinas menores ocorrem em vales e topos de montanhas, até em áreas tropicais, como nos Andes, Himalaia e no Kilimanjaro na África. Causas das mudanças climáticas As mudanças climáticas são normais ao comportamento do planeta Terra e as suas principais causas são geológicas. O mais importante impulso às mudanças climáticas é a deriva dos continentes, especialmente a amalgamação destes em grandes supercontinentes e a sua fragmentação. Isto é causado pela tectônica de placas. Uma área continental grande resfria, porque o efeito aquecedor dos oceanos não alcança as partes internas do supercontinente. Os continentes podem também migrar às regiões polares, quando então as suas condições serão árticas; o movimento das placas tectônicas podem também mudar o sentido de correntes marinhas e atmosféricas. A colisão de continentes gera novas cordilheiras, o que pode impedir o acesso de correntes atmosféricas quentes de uma região à outra e as áreas montanhosas podem gerar geleiras alpinas, tendo estas um efeito de resfriador da atmosfera. A maior parte das glaciações ocorreu em épocas em que continentes formaram grandes aglomerações. Por exemplo, durante a existência do supercontinente Rodinia no Neoproterozóico (1000 a 545 milhões de anos atrás) ocorreram várias glaciações severas. Atualmente se sabe também que além da tectônica de placas, o clima é influenciado pela composição química da atmosfera, especialmente pelo teor de gases de efeito-estufa. A temperatura sobe, ao se aumentar a quantidade de metano e dióxido de carbono na atmosfera. Estes gases formam um “cobertor” em torno do planeta, que impede o escape do calor ao espaço. A temperatura diminui, quando grandes quantidades de dióxido de carbono são eliminadas da atmosfera e dissolvidas nos oceanos. O resfriamento é geralmente ocasionado quando a matéria orgânica, juntamente com o carbono, é soterrada em sedimentos em lagos, pântanos e mares. Além disto, o clima pode ser mudado pelas alterações na vegetação, intemperismo das rochas, erupções vulcânicas, mudanças na rotação da Terra e variações na incidência da radiação solar, além de outros fatores ainda desconhecidas. Geralmente se aceita que as glaciações Quaternárias, ou seja, as últimas, tenham sido causados pelas pequenas variações cíclicas na rotação da Terra em torno do sol, que são causadas pelas mudanças nas forças de atração gravitacional entre os planetas ao se aproximarem e se afastarem. Estas mudanças, chamados de Ciclos de Milankovitch, são, porém, fracas e insuficientes para causarem sozinhos um resfriamento expressivo. Entretanto, as pequenas variações na radiação solar ocasionam um reação em cadeia, em conjunção com outros fatores e que conduzem à uma glaciação. Mudança climática global antrópica e as incertezas científicas Os climas passados e futuros podem ser simulados e previstos. As previsões parecem sombrios. Segundo os relatórios do IPCC, parece claro que o homem está produzindo o aumento de gases de efeito-estufa na atmosfera e que isto está causando o aquecimento global. Este é o motivo de uma preocupação internacional e se estuda medidas para reduzir as emissões destes gases. Porém, o comércio de taxas de carbono e a recusa dos EUA em adotar mesmas medidas ameaçam quaisquer efeitos positivos à questão. Porém, estas simulações e as previsões nelas baseadas tem problemas: são baseadas em suposições e não conhecemos todos os fatores e interações que influenciam o clima. Existem várias incertezas científicas sobre a questão da mudança climática atual. Por exemplo, não se sabe ao certo qual é o papel do vapor d’água, nuvens e a vegetação no ciclo do carbono, dissipação do calor e reflexão da radiação solar. Segundo muitos autores, estas incertezas apontam justamente para grandes lacunas no nosso conhecimento sobre a Terra e desafios às geociências. Os dados de medições meteorológicas de temperaturas existentes cobrem um período de apenas aproximadamente cem anos, ou seja, parte do período industrial. Porém, cem anos é um período completamente desprezível do ponto de vista geológico. Vivemos atualmente em um período posterior à glaciação que terminou somente há 10.000 anos. Estamos caminhando rumo à uma nova glaciação que ocorrerá daqui a 23.000 anos. Portanto, estamos em um período interglacial, quando as temperaturas podem oscilar ciclicamente entre mais altas e mais baixas. Esta alternância é completamente natural. Porém, levando-se em conta estas medições, existem dois fatos sobre a mudança climática: a temperatura média e o teor de dióxido de carbono estão em ascensão mundialmente. Isto é apontado também pelos anéis de crescimento das árvores, isótopos de oxigênio das geleiras e o recuo de geleiras alpinas. Porém, o resto é pura especulação. Ao não se conhecer outras fontes naturais de dióxido de carbono ativas ao mesmo tempo, a conclusão lógica ao que os pesquisadores chegaram, foi que estes aumentos devem ser provocados pelo homem. De fato, os teores pré-industriais de dióxido de carbono, medidos de geleiras continentais são 280 000 ppbv. O nível atual é de 366 000 ppbv, ou seja, o teor de dióxido de carbono sofreu um aumento nunca antes visto, demonstrando que algo de muito incomum está acontecendo atualmente. Teores tão altos não são conhecidos da história recente da Terra. Mesmo assim, existem evidências de que estes teores em ascensão não são devidos apenas à atividade antrópica. Existe uma correlação forte com algumas outras fontes de dióxido de carbono e o aumento de temperaturas globais, como os oceanos e atividade vulcânica, por exemplo. De qualquer modo, ao que parece, o homem está contribuindo à ascensão natural de dióxido de carbono. Isto é causado pela indústria, desmatamento e desertificação. A ação do homem aumenta também a quantidade de outros gases de efeito estufa na atmosfera. Estes gases são ainda mais eficazes no aquecimento global do que o dióxido de carbono: o CFC é produzido somente pelo homem, o cultivo de arroz e criação de gado aumentam o teor de metano e tráfego de automóveis aumenta o teor de ozônio. Óxidos de nitrogênio são produzidos pela utilização de fertilizantes e fabricação de nylon. Comparadas de modo separado, as atividades humanas podem ser considerados como desprezíveis dentro de uma perspectiva global e de tempo geológico, mas a ação conjunta destas, juntamente com outros agentes atmosféricos, podem ser significantes Os processos geológicos são lentos, ao serem comparados com a influência do homem. Apesar de a influência humana ocorrer dentro de um período de tempo geológico relativamente curto, o seu efeito acumulado e “repentino” pode ser mais forte do que o de agentes naturais, mais lentos. Diante das incertezas apresentadas, não sabemos ao certo se o aquecimento global é provocado por homem, ou se estamos vivendo em um período de aumento de temperatura natural de um período interglacial. Estas incertezas podem ser, por si só, consideradas como ameaças por décadas. Ao se iniciar, uma mudança climática é difícil de ser impedida ou interrompida. A transição a um período de efeito-estufa pode ocorrer de repente e não aos poucos. As conseqüências disto ao homem e ao meio ambiente podem ser catastróficas. Assim sendo, estamos diante do conceito de sociedade de risco de Anthony Giddens (1991) e Ulrich Beck (1992): estamos à mercê de peritos e do imprevisível. Não sabemos ao certo o que vai acontecer. Tudo influencia tudo e a teoria do caos pode também ser válida na questão das mudanças climáticas. Apesar de as nossas emissões de gases de efeito estufa possam ser consideradas insignificantes na escala do planeta, somos, mesmo assim, um agente geológico. A alteração da atmosfera e do meio ambiente por um agente pode alterar a totalidade de modo surpreendente, ou seja, mesmo um único agente pode provocar consequências imprevisíveis e indesejadas de efeito retardado e de longo prazo. Infelizmente temos aprendido muitas vezes a conhecer os efeitos colaterais de certos fenômenos justamente quando estes resultaram em conseqüências danosas, ou até em catástrofes. Laissez faire? “Laissez faire, laissez passeur” significa deixai fazer, deixai passar. Esta foi a máxima do economista inglês Adam Smith, que viveu durante o primeiro século da Revolução Industrial. De acordo com este, o livre mercado corrige, por si mesmo, as distorções econômicas auto provocadas, como as desigualdades sociais. A liberdade de mercado tem também sido aplicado ao meio ambiente desde a revolução industrial, geralmente com conseqüências desastrosas. No atual debate sobre o meio ambiente e mudanças climáticas a máxima de Smith pode ser traduzida literalmente como “deixai queimar!” Os combustíveis fósseis foram formados durante milhões de anos, pela deposição e soterramento de matéria orgânica em lagos, pântanos e oceanos. Neste momento o homem está liberando este carbono à atmosfera pela queima em questão de alguns séculos. Isto traz uma considerável quantidade de dióxido- e monóxido de carbono, enxofre, fuligem, poeira, etc. à circulação atmosférica. A segurança com que os oponentes da redução de emissões ignoram o problema parece significar uma atitude de querer continuar da mesma forma como até agora (laissezfaire), ou seja, emitindo crescentes quantidades de dióxido de carbono, acompanhado por um crescimento econômico ilimitado e a qualquer custo, pois nada vai acontecer – para estes isto é melhor do que usar bilhões de dólares para conter uma ameaça inexistente. Este otimismo positivista é similar à autosegurança arrogante de especuladores financeiros. No passado da Terra houve várias mudanças climáticas naturais. Estas foram causadas por forças geológicas, inerentes à dinâmica da Terra. Estes fatos devem ser tornados conhecidos as todos através da popularização da geologia. Apesar de o homem ser apenas mais um agente geológico dentre muitos outros, somos a espécie, que pela primeira vez na história da Terra, pode ter o poder de contribuir à uma mudança global. Porém, na falta de provas suficientes, é difícil de dizer se teremos um aquecimento global provocado pelo homem ou não. Diante de um assunto desta importância, é importante termos humildade e reconhecermos a nossa ignorância a respeito. De qualquer modo, é bastante arriscado continuarmos da mesma maneira como tem se feito até agora, ou seja, emitindo gases de efeito estufa sem preocupações. Para Merritts et al. (1998), não podemos assumir este risco. O preço das consequências em assumir este risco pode ser mais alto do que medidas de prevenção a serem adotadas. Jogar com o risco combina com a especulação financeira, mas muito mal com o bem-estar de todos. Pensando de maneira otimista, a ameaça do efeito estufa pode ser uma ótima oportunidade de aprendermos a atuar de maneira econômica e solidária e adaptarmos às novas condições. Provavelmente algumas espécies vão ser fatalmente extintas e outras continuarão a sua luta pela sobrevivência e evoluir, como tem ocorrido tantas vezes durante a história geológica. De qualquer forma, a história geológica vai continuar o seu rumo sem se importar com o homem que apareceu na Terra há apenas 4 milhões de anos. Entretanto, se houver um aquecimento global devido à ação do homem, Taipale & Saarnisto (1991), Merritts et al. (1997) e Skinner & Porter (2000) reconfortam-nos: quando os combustíveis fósseis tiverem sido totalmente consumidos, o efeito estufa e as suas conseqüências durarão por cerca de um milênio, ou seja, serão um fenômeno passageiro e imperceptível na escala de tempo geológico. Após disto, o clima da Terra novamente esfriará, ao vir uma nova glaciação. A nossa evolução também foi influenciada pelas mudanças climáticas. Esta ocorreu durante a alternância de períodos glaciais e interglaciais. Enquanto aguardamos por uma nova glaciação, chegou ao homem o tempo de tentar usar a sua inteligência, gerada e moldada pelos processos biológicos e geológicos, e tentar atuar de modo a reduzir a possibilidade da influência antrópica e dos seus efeitos com as suas próprias ações. Estas ações são as reduções no consumo de combustíveis fósseis, pesquisa de fontes energéticas alternativas, pesquisa interdisciplinar de mudanças climáticas, reciclagem e maior respeito ao meio ambiente. Isto depende de todos nós, incluindo os geólogos.

Os riscos na economia com as mudanças no clima

O Brasil corre o risco de ter uma perda na economia de um a três bilhões de reais em 2050, caso nada seja feito para reverter os impactos das mudanças climáticas. As regiões mais vulneráveis à mudança do clima no Brasil seriam a Amazônia e o Nordeste, com perdas expressivas para a agricultura em quase todos os estados. Além disso, a previsão é de uma menor a confiabilidade no sistema de geração de energia hidrelétrica, com redução em torno de 30% da energia e uma perda do patrimônio das zonas costeiras brasileiras, avaliado em mais de R$ 130 bilhões. Esses são alguns dos resultados do estudo Economia das mudanças do clima no Brasil, uma iniciativa pioneira de uma grande equipe formada por cientistas de 11 instituições de pesquisa. “As mudanças climáticas, de fato, terão um impacto no PIB (Produto Interno Bruto), e esse impacto será maior em algumas regiões do que em outras, aumentando a desigualdade no país, já que as regiões mais impactadas serão a Norte e a Nordeste, que já são menos ricas”, diz Carolina Dubeux, coordenadora técnica do estudo e pesquisadora do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo analisa e quantifica o impacto da mudança do clima na agenda de desenvolvimento do país e aponta que a redução do PIB poderá ser de 0,5% a 2,3% em cenários de altas emissões de CO2 (cenário sujo) e baixas emissões (cenário limpo), tendo como parâmetro o ano de 2050. Segundo o estudo, embora o cenário mais limpo gere perdas de até 2,3% no PIB, ainda assim gera mais riqueza do que o cenário mais sujo. As estimativas foram feitas baseadas em valores climáticos médios e não consideraram eventos extremos. Para minimizar os problemas destacados, o estudo aponta algumas prioridades de ação, entre elas: o fortalecimento de políticas de proteção social, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, as mais afetadas; o esforço para manter a matriz energética do país limpa; a redução do desmatamento da Amazônia; e o incentivo ao aumento do conhecimento sobre modelos climáticos e seus impactos nos diversos setores da economia. O estudo foi inspirado no relatório Stern, o primeiro grande cálculo do impacto da mudança climática na economia global, feito em 2006. “A diferença é que o relatório Stern fez um cálculo custo-benefício entre os custos dos impactos e os custos em mitigação (prevenção). No caso do nosso estudo, como o clima depende da economia global e não da local, fizemos uma análise do impacto local de duas possíveis trajetórias de crescimento global; uma mais limpa e uma mais suja. Concluímos que se crescermos mais limpos, cresceremos mais”, comenta Dubeux. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) colaborou com o estudo, e contribuiu com os modelos climáticos regionais desenvolvidos pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). Com base nos dados fornecidos pelo INPE de temperatura, pluviosidade e outros parâmetros ambientais futuros para o Brasil até 2100, foram gerados os modelos setoriais de disponibilidade hídrica que implica em oferta de hidroeletricidade, energia eólica, aptidão agrícola, entre outros. Os modelos climáticos regionais possuem incertezas e, por isso, optou-se pela escolha de dois cenários de emissões de CO2. “Os modelos climáticos globais e regionais têm incertezas, e os modelos usados pelos outros grupos (de economia, saúde, agricultura, energia, etc) também têm incertezas, e as incertezas podem ir crescendo, como uma cascata. Isso limita os resultados, mas não invalida os mesmos”, diz José Marengo, pesquisador do INPE. O estudo aborda perspectivas regionais e setoriais de vários setores cruciais para o Brasil, como agricultura, energia, uso da terra e desmatamento, biodiversidade, recursos hídricos, zona costeira, migração e saúde. Aponta, ainda, que haverá um aumento das desigualdades regionais brasileiras com o aumento da temperatura global. O setor da agricultura, por exemplo, não sofreria impactos negativos no Sul e no Sudeste, que passariam a ter temperaturas mais amenas, mas em todas as outras regiões existiriam perdas expressivas das safras. No Nordeste em especial, as chuvas tenderiam a diminuir cerca de 2 a 2,5 mm/dia até 2100, causando grandes perdas agrícolas em todos os estados da região. O declínio de precipitação causaria também uma redução dos recursos hídricos no Nordeste. Os resultados projetados seriam alarmantes para algumas bacias, com uma diminuição das vazões de mais 50% até 2050. Com isso, a geração de energia seria bastante prejudicada. O déficit hídrico reduziria ainda a capacidade de pastoreio de bovinos de corte, favorecendo, assim, um retrocesso à pecuária de baixo rendimento. Na Amazônia, o aquecimento pode chegar a 7 ou 8°C em 2100, o que pode levar a uma alteração radical da floresta amazônica – a chamada “savanização”. Estima-se que as mudanças climáticas resultariam em redução de 40% da cobertura florestal em boa parte da Amazônia, que será substituída pelo bioma savana.As outras instituições que participaram do consórcio para elaboração do estudo, além da UFRJ e do INPE, são a Universidade do Estado de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

OBrasil é o único país capaz de salvar o mundo

‘O Brasil é o único país capaz de salvar o mundo’, afirma economista e ambientalista mexicano. O que não falta hoje no mundo são teorias catastrofistas sobre o futuro do planeta. A própria ONU, durante a abertura da Conferência do Clima das Nacões Unidas (COP-15), que começou em 07/12/09 na Dinamarca, advertiu sobre o risco de desertificação das florestas e de elevação do nível das marés. Dentro deste cenário, ações urgentes se fazem necessárias para retardar o processo, evitando mais ciclones, ondas de calor, inundações e o possível desaparecimento do manto de gelo da Groenlândia, que levaria a um aumento de 7 metros no nível dos oceanos ao longo de séculos. Mas, apesar do futuro incerto, existem aqueles que ainda acreditam em uma mudança. Entre os que acreditam em uma solução está o economista mexicano Enrique Leff. Para o estudioso, a mudança depende fundamentalmente da transformação na forma de pensar e agir e na relação que sustentamos com a natureza. Ao citar o Brasil como único país capaz de salvar o mundo, ele aponta como exemplo positivo a relação do seringueiro e do modo extrativista de exploração, valendo-se apenas do que a natureza oferece, sem que haja a influência destrutiva e avassaladora dos processos econômicos vigentes. Criador da teoria da racionalidade ambiental, em que incita o homem a pensar em harmonia com a natureza, Leff falou com a Gazeta do Povo em Foz do Iguaçu, onde participou do 6.º Encontro Cultivando Água Boa, promovido pela Itaipu Binacional, e do 7.º Encontro Ibero-Americano de Desenvolvimento Sustentável. Os dois eventos reuniram cerca de 4,3 mil pessoas. Enrique Leff é o coordenador da Rede de Formação Ambiental para a América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). A entrevista é de Fabiula Wurmeister e está publicada no jornal Gazeta do Povo, 09-12-2009. A 1.ª Conferência da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, considerada o pontapé inicial das discussões sobre o tema, está às voltas de completar 40 anos. Nesse tempo, os avanços foram significativos ou ainda são insuficientes? Podemos dizer que houve, sim, avanços nos debates, na discussão da problemática ambiental, da sustentabilidade, na institucionalização das organizações não governamentais, nas ações de cidadania. Mas esses avanços não conseguiram contrapor os processos de degradação ambiental que continuam a ser maiores. O aquecimento global é um sinal muito forte desses avanços ainda tímidos. Ainda não alcançamos o ponto ideal da compreensão e de uma reação a estes processos que foram desencadeados por esta racionalidade moderna e por este desconhecimento da relação entre economia, ecologia, sociedade e natureza. Diante deste cenário catastrófico, é certo dizer que não há mais volta? Concordo que o fim do mundo está próximo, desde que não consigamos mudar de racionalidade. Esta, instaurada, é uma racionalidade antinatural, que acelera os processos de degradação do planeta e que está associada à pobreza, à desigualdade e também à aniquilação ecológica. Alguém só pode ser catastrofista se acredita que a humanidade será incapaz de mudar a forma de pensar, de atuar e de sentir. Mas, se ainda somos capazes de ativar nossa capacidade para a reflexão crítica e de construir outra racionalidade, a que eu chamo de racionalidade ambiental, então não temos por que ficar já nessa situação de desesperança total. Ao contrário, temos de acreditar que a humanidade passará por um estágio de reflexão e de novos processos civilizatórios. Que rumo devemos tomar, portanto, na direção dessa mudança necessária e urgente? A direção é a sustentabilidade. Temos de ativar a capacidade e os direitos de pensar criticamente, de desativar todo esse mecanismo da racionalidade instaurada, de repensar os paradigmas, de repensar a natureza humana em relação à natureza e assim produzir de outra forma, a partir dos potenciais da natureza, da criatividade, da cultura e não dos mecanismos hegemônicos do mercado. O Brasil ocupa uma posição importante nessa reação e na garantia de elementos naturais que podem evitar o pior? O Brasil não só é importante, como é fundamental nesse processo. É o único país que pode verdadeiramente fazer essa mudança e salvar o mundo. E isso está muito vivo na cultura do Brasil. Lamentavelmente o governo ainda está mais do lado da globalização econômica e dos seus processos. Mas, repito, os brasileiros têm todos os potenciais naturais, ecossistemas produtivos, a diversidade cultural e a consciência estimulada por movimentos sociais de reapropriação da natureza para construir novos meios de vida, novas formas de territorialização. Um bom exemplo é o dos seringueiros com seu modo extrativista de trabalhar e sobreviver, baseado no convívio sadio com os ecossistemas próprios. Por tudo isso, insisto que o Brasil é o único país capaz de salvar o mundo. Desde que se tornaram mais populares as preocupações com o meio ambiente e as mudanças que estamos vivendo, a palavra-chave sempre foi o desenvolvimento sustentável. Essa terminologia ainda é a mais forte ou outras teorias mais bem elaboradas estão caminhando para tomar essa posição de ordem? Sim. Um deles é o próprio conceito que estou propondo, o da racionalidade ambiental, ainda atrelado à sustentabilidade, mas partindo de outros valores, de outros princípios e de outros potenciais. Longe da racionalidade econômica e mais próximo do respeito à natureza e de uma forma de viver mais consciente dos riscos e consequências dos próprios atos uns com os outros e com a natureza.

A mudança necessária no processo sobre mudança climática

Quando uma casa está se incendiando, o que importa é apagar o incêndio. Apesar de todos os vizinhos poderem ajudar, é de se esperar que os bombeiros assumam o controle da operação e que o Estado forneça todo o apoio necessário para a extinção do fogo. Depois de extinto, os especialistas irão determinar as causas do incêndio e, no caso de ter sido provocado, serão estabelecidas as responsabilidades e as punições que corresponderem. Mas, a primeira providência é apagá-lo. O resultado do aquecimento global é bem parecido com um incêndio, mas o processo tem sido exatamente o contrário. Neste caso, já são conhecidas as causas do incêndio (o uso de combustíveis fósseis) e já é sabido quem o iniciou (os países industrializados). Contudo, os bombeiros primam por sua inexistência e os estados negociam- literalmente, fazem negócios- enquanto as chamas se espalham cada vez mais rapidamente. O mais triste é que há anos que se sabe o que é necessário para extingui-lo: deixar de usar combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural). Apesar de existirem outros elementos que agravam a mudança climática- como o desmatamento- é certo que a única fonte de gases de efeito estufa que acrescenta o estoque de carbono na biosfera- e, portanto, a causa central do aquecimento global- é a queima de combustíveis fósseis. A solução está, então, na cara: todos os esforços devem focalizar sua substituição por outras fontes de energia. O uso de combustíveis fósseis foi iniciado com a Revolução Industrial e globalizou-se a partir do modelo de desenvolvimento econômico imposto no mundo todo pelos países industrializados. Em conseqüência, o volume total de carbono na biosfera tem vindo em constante crescimento, provocando o efeito estufa. Fica claro então que tais países são os principais responsáveis pelo incêndio atual, e que conseqüentemente devem assumir a responsabilidade que cabe a eles adotando as medidas necessárias para deter o processo. Nesse sentido, a primeira providência é que os países industrializados introduzam mudanças drásticas na produção e no uso de energia em nível nacional, que resultem na substituição de combustíveis fósseis por outras fontes de energia em prazos peremptórios e claramente especificados. Tais medidas deverão incluir as empresas transnacionais, impondo, a suas operações no mundo todo, as mesmas restrições sobre a produção e o uso de energia que são aplicadas no país em que tenham sua sede central. Ligado ao anterior, os principais responsáveis da mudança climática deverão comprometer-se a não “exportar” o problema a terceiros países, tal como vem acontecendo com a importação de agrocombustíveis produzidos à custa dos recursos e o bem- estar de comunidades dos países do Sul. Ao mesmo tempo, os principais responsáveis pela mudança climática deverão gerar condições adequadas- incluindo assistência econômica e técnica- para os países não industrializados poderem percorrer uma trilha de desenvolvimento livre de combustíveis fósseis. Em particular, os países responsáveis pela mudança climática deverão compensar economicamente aqueles que se comprometerem a não explorar suas jazidas de combustíveis fósseis, como contribuição por terem uma dívida decorrente de seu impacto climático com o mundo todo. Contudo, o anterior não implica que os outros países- a “vizinhança”- não possam contribuir também para apagar o incêndio. Além das divisões Norte- Sul, o certo é que o atual modelo de desenvolvimento econômico foi imposto no mundo inteiro e que tal modelo inclui o uso maciço de combustíveis fósseis. Isso implica que todos os países, sem exceções, deveriam fazer os máximos esforços para erradicarem seu uso. O “direito ao desenvolvimento” esgrimido por alguns países economicamente poderosos do Sul é obviamente um direito, mas não pode ser exercido à custa do clima de um planeta que é de todos. Isso significa que mesmo que tais países não tenham a responsabilidade histórica pela mudança climática- nem as obrigações que isso acarreta- devem reconhecer a necessidade de adotar medidas para substituir os combustíveis fósseis por outras energias alternativas no menor prazo possível. O assunto da substituição dos combustíveis fósseis deveria ser o centro da próxima conferência da Convenção sobre Mudança Climática que será levada a efeito em Copenhague no início de dezembro. Infelizmente, é pouco provável que isso seja assim. Pelo contrário, tudo indica que as discussões estarão focalizadas em “soluções” absurdas que não apenas não irão resolver nada senão que irão agravar o problema. Com certeza irão falar muito sobre mecanismos de mercado para reduzir as emissões provindas do desmatamento, da agricultura e da pecuária. Irão discutir sobre plantações como sumidouros de carbono, sobre agrocombustíveis, sobre o comércio de carbono e sobre uma invenção recente chamada “biochar”. Mas irão falar muito pouco- e irão negociar o menos possível- sobre a questão central: a erradicação do uso de combustíveis fósseis. Já passaram muitos anos desde que os governos se comprometeram em 1992 a fazer alguma coisa pelo clima, aprovando a Convenção sobre Mudança Climática. Pouco ou nada fizeram desde então e nesta altura dos acontecimentos é mais do que óbvio que não é muito o que estão dispostos a fazer. A não ser, é claro, que a vizinhança- os povos do mundo- exija a adoção imediata de medidas para a extinção do incêndio. Esperamos que os esforços conjuntos da sociedade civil organizada do mundo todo, que estará pressionando direta e indiretamente os delegados governamentais da Convenção em Copenhague, resultem eficazes para forçar a necessária mudança de rumo. Não se trata de um simples incêndio: aqui se põe em jogo o futuro da humanidade e todas temos o direito e o dever de exigir que seja feito o que deve ser feito. Agora mesmo! Porém, a reunião global não surtiu o efeito tão desejado pela população e sociedade mundial.

A crise ambiental e a nossa Casa Comum

A percepção dos brasileiros de que os EUA são o maior culpado pelo aquecimento global, percepção correta, uma vez que é o país que mais contribuiu historicamente para o acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera, leva à essência do problema do aquecimento global: o consumo excessivo. “Vivemos numa cultura da estupidez e da insensatez. Não é estúpido e insano que 500 milhões sejam responsáveis por 50% de todas as emissões de gases de efeito estufa e que 3,4 bilhões respondam apenas por 7% e sendo as principais vitimas inocentes?”, pergunta Leonardo Boff. A indagação de Boff é pertinente. Na origem da crise ecológica está o consumo desenfreado de um décimo da humanidade. Quando se pensa que uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas futuras, percebe-se que o modo de produção e de consumo de parte da humanidade está comprometendo a vida das futuras gerações. É esse egocentrismo que está decidindo a sorte dos que virão depois de nós, deixando-lhes um mundo árido, poluído e feio. Reduzir a emissão dos gases-estufa exige a redução do consumo. Aqui se situa o maior dilema da humanidade. A ideia e o pensamento do que importa é o crescimento econômico e o restante é secundário não se sustenta mais. Por trás dessa ideia está a lógica de que os recursos naturais são sempre abundantes, infinitos. Não há porque se preocupar com a possibilidade de que algum dia teremos falta de petróleo, de carvão, de aço, de água, de energia… para alimentar a “máquina” do progresso humano. Construiu-se uma crença no crescimento econômico – o capitalismo vive da promessa de que o futuro é sempre promissor e de que o desenvolvimento econômico é inesgotável. Essa lógica econômica vigente nos últimos 200 ou 250 anos, se transformou em uma mentira. Tome-se como exemplo a questão energética. A civilização moderna é insaciável por energia. A voracidade por energia está associada aos padrões sempre crescentes de produção e consumo. A energia impostou-se no centro do desenvolvimento neste início do século XXI. Não há país no mundo hoje que não esteja às voltas com a questão energética, que tem hoje o potencial de estrangular qualquer economia. O mundo necessita sempre mais de petróleo, carvão, gás, eletricidade, energia nuclear e agora biocombustíveis. O uso sempre ascendente de energia, entretanto, é incompatível com a crise ecológica. Quando mais energia se consome mais pressão se exerce sobre os recursos naturais. Reduzir emissões, portanto, significa mudar a matriz energética e aí começa um dilema que o planeta precisa enfrentar. Buscar fontes alternativas de energia para evitar as emissões de gases poluentes implica alocar mais trabalho e capital, o que reduziria os lucros do sistema produtivo. “A saída é alterar a estrutura de consumo mundial e os paradigmas de distribuição dos recursos. No momento, não há forças políticas que conjuminem essas necessidades”, afirma o professor Ildo Sauer, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP. Chegamos ao ponto nevrálgico da crise ecológica. Quem obrigará os mais ricos a consumirem menos? Que deixem de comprar SUVs – carros utilitários esportivos enormes e potentes – poluidores? Que viagem menos? Comprem menos? Comam menos? Nessa perspectiva, as reflexões de José Eli da Veiga são instigantes. Segundo ele – que acaba de lançar a obra Mundo em Transe – Do Aquecimento Global ao Ecodesenvolvimento – “grandes negociações internacionais sobre a questão climática terão pouco efeito prático se os países continuarem a seguir o modelo de crescimento econômico acelerado como norte de suas políticas”. Afirma Veiga: “Esse é um debate muito difícil, mas que já começa a ganhar espaço em alguns países. Se mesmo nas economias mais ecoeficientes a pressão por recursos naturais aumenta, entre elas a do carbono, isso só pode ser explicado como um efeito do crescimento dessas economias. A questão é que a prosperidade de uma nação não pode ser reduzida à produção ou ao consumo, ou seja, não pode ser entendida simplesmente como sinônimo de crescimento econômico”. Na prática, isso quer dizer que países que alcançaram elevados padrões de vida e consumo, como os escandinavos, poderiam abrir mão do crescimento econômico em troca de um modelo de desenvolvimento realmente sustentável. Num futuro distante, essas economias poderiam até “encolher”, sem que isso representasse perda dessa condição próspera. “Obviamente, esse é um conceito que ainda levará tempo, que é aplicável hoje apenas para países sem desigualdades. No entanto, vemos um esforço grande de governos nesse sentido, sobretudo os que estão olhando não para os próximos 10 ou 15 anos, mas para daqui a 50 ou 60 anos. A busca por novas métricas que substituam o PIB como parâmetro de desenvolvimento econômico, como a do governo francês, é um ótimo exemplo nesse sentido.” Nesse debate situa-se o Brasil. Em que pese a proposta ousada do Brasil em Copenhague, o país anunciou oficialmente seu compromisso de reduzir voluntariamente entre 36% e 39% de suas emissões até 2020 e sobre a qual pairam uma série de dúvidas, entre elas, de como irá garantir essa redução, é necessário olhar criticamente o modelo econômico em curso no país que estimula a todo custo o consumo. Sintomático nesse sentido é uma afirmação de Lula nessa semana: “Jamais na minha vida pensei que eu ia para a TV fazer apologia do consumo. Na juventude, eu era contra a sociedade consumista”. Consumo esse que vem exigindo do país esforços gigantescos em investimentos na área de infraestrutura, como por exemplo, na área da energia. A crise energética está umbilicalmente ligada à crise climática. O modelo energético do país para além do atendimento de energia para a demanda interna se presta, sobretudo a garantia da produção de commodities para exportação (minérios, grãos e combustível) que no exterior sustentam os altos padrões de consumo de parcela pequena da população mundial. É nesse contexto que dever ser analisadas criticamente os pesados investimentos brasileiro em recursos energéticos ainda tributários da sociedade industrial: hidrelétricas, usinas nucleares, petróleo, agrocombustível. Neste aspecto, o Brasil em vez de assumir a vanguarda no processo de descarbonização da economia, investe em matrizes superadas – grandes hidrelétricas como as do Rio Madeira e de Belo Monte e usinas nucleares. Essas grandes obras implicam em grandes inundações de terras, no caso das hidrelétricas, em significativos deslocamentos de pessoas e em devastação ambiental gigantesca. São matrizes centralizadoras e concentradoras – razão dos sucessivos apagões. Essa é também a lógica subjacente aos agrocombustíveis que utilizam grandes extensões de terra, produção em larga escala, avançando sobre terras agricultáveis e voltadas para suprir preferencialmente o mercado externo. É nesse mesmo sentido que se deve olhar criticamente o pré-sal. E, ainda pior, via de regra, esses mega-projetos estão antes de tudo a serviço dos interesses do capital. Como destaca José Eli da Veiga, em recente entrevista ao IHU, o Brasil está perdendo o bonde da história, exatamente por uma visão obtusa de desenvolvimento. Comentando a Conferência de Copenhague, ele afirma: “A importância que eu dou para Copenhague não é tão grande. A transição ao baixo carbono está em curso faz tempo e independe de Copenhagen. Os países que mais rapidamente perceberam que em vez de um problema, uma restrição, isso é uma grande oportunidade para uma nova etapa do capitalismo, já estão há muito tempo investindo em ciência, tecnologia e inovação. Assim, eles possuindo essas tecnologias que poderão ser a solução, terão as oportunidades de negócio. Isso está ocorrendo e vai continuar ocorrendo, seja qual for o resultado de Copenhague. E os países emergentes, como o Brasil, que ficaram nessa linha obtusa de resistência, não investindo em ciência e tecnologia com prioridade, não terão essas tecnologias e continuarão tendo que discutir essa questão de como vão comprar tecnologia dos outros através da tal transferência de tecnologia”. A grande questão posta hoje é que tipo de crescimento econômico queremos? Por muito tempo, inclusive na esquerda, acreditou-se que o crescimento econômico seria a varinha de condão para a resolução de todos os problemas. Particularmente da pobreza. A equação é conhecida. O crescimento econômico produziria um círculo virtuoso: produção-emprego-consumo. Porém, o axioma de que apenas o crescimento econômico torna possível a justiça social não é verdadeiro. Será que o grande projeto brasileiro é transformar todos cidadãos em consumidores. É preciso complexificar o debate. O grande desafio é construir uma sociedade que seja sustentável com a natureza, às necessidades humanas presentes e futuras, com uma ética solidária, definidas desde os setores populares, tendo como fim a construção de uma sociedade baseada em valores da solidariedade, liberdade, democracia, justiça e equidade. Segundo Leonardo Boff, “temos que torcer para que em Copenhague não prevaleça a estupidez, mas o cuidado pelo nosso destino comum”. Continua ele: “Todos somos coproprietários da única Casa Comum e somos corresponsáveis pela sua saúde. A Terra pertence a todos. Nós a pedimos emprestado das gerações futuras e nos foi entregue em confiança para que cuidássemos dela. Se olharmos o que estamos fazendo, devemos reconhecer que a estamos traindo. Amamos mais o lucro que a vida, estamos mais empenhados em salvar o sistema econômico-financeiro que a humanidade e a Terra”.

Porque fracassou a Conferência de Copenhague

Já existia a previsão do insucesso da COP 15. Face à importância daquela reunião para o mundo como um todo, o conhecimento das causas do fato será proveitoso à análise transparente, realista e imparcial do ocorrido. Faltou coragem aos principais governantes naquela assembléia. Coragem é renúncia à própria vida ou interesses em benefício da espécie, ação própria de heróis, cada vez mais raros na terra. Essa situação surge quando o homem se defronta com o medo, ocasião em que seus genes e mente decidem uma das duas opções: fugir ou lutar. No caso em exame, os participantes com poder de decisão arrostaram-se com o medo e preferiram fugir. Eles sabem que serão extremamente prejudicados – em alguns casos, perdendo a própria vida – se tomarem as decisões corretas, lógicas e redentoras que o meio ambiente está exigindo, pois têm a consciência de que não dispõem de sua livre vontade. Sabem que são prisioneiros do sistema econômico que os sustentam politicamente e mantêm efetivamente todas as forças existentes em seus países, ai incluídas as financeiras, políticas e armadas, sustentáculos do arcabouço econômico. Ações concretas em benefício do ambiente equivalem a suicídio pessoal. Sabem que, no caso de assumirem o confronto, vão habitar o ostracismo do corpo ou da alma, e que o sistema manterá o mundo conformado aos interesses econômicos. Por isso, eles não se arriscam. A verdade precisa ser dita: os chefes de estado não possuem poder de decisão. Participam duma reunião desse quilate apenas como fantoches. O verdadeiro poder mundial está nas mãos do capital anônimo, invisível, internacional. Esse poder não está satisfeito com os 98% do mundo em suas mãos. Ainda faltam os 2% representados por Cuba, Irã, Iraque, Afeganistão e Coréia do Norte. A cabeça, o núcleo, o centro mentor desse poder real já não está tão escondido. Foi claramente identificado pelo ex-presidente dos EE.UU, general Eisenhower, no final de seu mandato de 8 anos, em 1961. No discurso de despedida, alertou a nação de que o poder efetivo na área de governo era o complexo industrial-militar. Essa palavra, “complexo”, abrange todo o sistema industrial americano porquanto os gastos militares daquele país são tão vultosos e sistêmicos que encobrem os demais interesses econômicos em geral. Para se ter uma idéia, o orçamento para 2010, recentemente aprovado, consigna 672 bilhões de dólares para os gastos militares, enquanto que as verbas para a saúde e educação são inferiores. Essa dotação é maior que todos os gastos militares do resto do globo. Não foi imprópria a expressão empregada por Chaves, presidente da Venezuela, na COP 15, quando designou Barack Obama de ganhador do prêmio Nobel da Guerra. O poder mundial está nas mãos de fanáticos adoradores do deus dinheiro, inconscientes, egressos de outro mundo e que, para foco de marketing e consumismo, promovem circos ambientalistas. Eles não sabem, e o mundo também não sabe, que esses donos do poder são o câncer de um corpo (a mãe Terra) que ainda fornece à biodiversidade os meios de vivência, mas cujas reservas já estão desfalcadas em 25% de sua capacidade renovadora. Nem o Sol, com sua potência energética e pujança de ciclos vitais, consegue aplacar a ganância infinita daquele câncer mortal. Ainda não lemos o relatório final da Conferência de Copenhague, escrita em inglês, com mais de 200 páginas, mas somos capazes de traduzi-lo perfeitamente para o português brasileiro: “Nós, os representantes dos 192 países do mundo nos reunimos e decidimos que não somos a favor nem contra; antes pelo contrário.”“Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista, residente em Belo Horizonte (MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

Lula sanciona lei do clima com vetos

Um deles é o que previa eliminação do uso de combustíveis fósseis; corte de emissão por setor ficará para decreto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sancionar hoje, com três vetos, a lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima. O texto formaliza o compromisso do País de reduzir entre 36,1% e 38,9% a emissão de CO2 até 2020, assumido na Conferência das Nações Unidas em Copenhague. Para alcançar a meta, a lei prevê a criação do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, que concentrará recursos para investimentos na área. A lei prevê ainda linhas de crédito e medidas fiscais e tributárias para estimular o uso de tecnologias limpas, como eólica e de fonte solar. O texto que será sancionado por Lula representa o primeiro passo para implementação da meta assumida em Copenhague. Para ser colocado em prática é preciso que a lei seja regulamentada - uma tarefa árdua, diante da falta de consenso no próprio governo sobre quanto cada setor da economia deverá cortar nas emissões de CO2. Os vetos foram decididos em reunião do presidente com os ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, e de Minas e Energia, Edison Lobão. Das 10 sugestões de veto à lei apresentadas pelos ministérios, 3 foram aceitas. Uma das alterações, pedida pelo ministério de Minas e Energia, suprime a determinação de o País "abandonar" paulatinamente o uso de combustíveis fósseis. Minc justificou a mudança: A proposta é estimular fontes limpas e não necessariamente deixar de usar por completo fontes não renováveis. Outro veto, solicitado pela Advocacia Geral da União (AGU), consiste em dispositivo que estava previsto na lei que proibia contingenciamento de recurso para o combate a mudanças climáticas. Essa foi uma interpretação técnica. Uma lei ordinária não pode tratar de contingenciamentos ao orçamento. Também foi determinada uma alteração ampla no artigo 10º da lei, que tratava das estratégias de incentivo a tecnologias limpas. O alvo principal da mudança foi estender às usinas hidrelétricas de grande porte o acesso a políticas de incentivo, até então restritas às pequenas. As mudanças no texto não agradaram ambientalistas, mas, mesmo assim, as críticas foram comedidas. A estratégia é concentrar forças para a regulamentação, etapa fundamental. A recomendação é que ministérios comecem a trabalhar as suas sugestões a partir de janeiro. A lei traça diretrizes gerais, é um plano de voo. “Nossa preocupação é como fazer com que tais compromissos sejam materializados”, disse a secretária do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Kahn. Minc gostaria que a regulamentação saísse rapidamente, antes que ele deixe o ministério para disputar as eleições de 2010. Além da falta de entendimento dentro do próprio governo, há questões que ainda precisam ser amadurecidas. Entre elas está a forma como a política será colocada em prática. Suzana considera essencial, por exemplo, que as atribuições para a condução da política fiquem concentradas em uma entidade nacional. Ela ficaria encarregada de gerir recursos da do fundo criado pela lei - com dinheiro proveniente da exploração do petróleo. O ministério já começou a avaliar as possibilidades. Há vários formatos possíveis: uma agência específica, uma comissão, uma secretaria. Mas essa discussão ainda é bastante recente, há muito o que se caminhar para que cheguemos a uma proposta, e, principalmente, que ela seja consensual. "Membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o pesquisador Carlos Nobre considerou previsível a retirada do texto da expressão "abandono paulatino" do uso de combustíveis fósseis por causa do pré- sal. Para ele, a mudança é um sinal de que a troca de energia fóssil por fontes mais limpas deve ocorrer num ritmo mais lento do que o desejado. Nobre considera essencial que investimentos em fontes limpas sejam prioritários. "Em menos de 50 anos, combustíveis fósseis terão de ser abandonados. É uma tendência mundial." Há cerca de dois meses, São Paulo foi o primeiro Estado a aprovar e sancionar sua própria lei de mudanças climáticas, prevendo um corte de 20% nas emissões em relação aos níveis de 2005. SAIBA MAIS Para combater as ações do homem que contribuem para o aquecimento global, a lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima cita como princípios a prevenção, a participação cidadã, o desenvolvimento sustentável e, no âmbito internacional, "responsabilidades comuns, porém diferenciadas". As medidas a serem tomadas devem ser motivadas por "razoável consenso por parte dos meios científicos e técnicos" e considerar "os diferentes contextos socioeconômicos", distribuindo os ônus "de modo equitativo e equilibrado". Ações de âmbito nacional devem integrar as ações no âmbito estadual e municipal. Entre os objetivos estão conservar e recuperar recursos ambientais e consolidar e expandir áreas legalmente protegidas, além de incentivar o reflorestamento. Também prevê o desenvolvimento do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE). Prevê a promoção de pesquisas e difusão de tecnologias para reduzir emissões, o uso de instrumentos financeiros para ações de mitigação e adaptação e a "promoção da conscientização pública e da cooperação internacional". Cita "medidas fiscais e tributárias" para estimular ações, como alíquotas diferenciadas e isenções, além de dar preferência, em licitações e concorrências públicas, a projetos que propiciem economia de recursos naturais e redução de emissões de gases-estufa. Também prevê metas "quantificáveis e verificáveis" para reduzir emissões.

Para ONG, lei limita-se a declaração de boas intenções

O diretor de campanhas do Greenpeace no Brasil, Sérgio Leitão, classificou ontem a lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima de uma declaração de boas intenções. "Inventamos uma lei cujo cumprimento é voluntário", afirma Leitão. "É mais uma bobagem para o velho festival de besteira que assola o país. "Ele considera um erro a decisão do presidente Lula de retirar a menção ao abandono paulatino de combustíveis fósseis. O diretor do Greenpeace pondera que os países desenvolvidos investem na substituição da matriz energética, enquanto o Brasil coloca suas esperanças no pré- sal. "O Brasil costuma adotar um bom discurso no cenário internacional, como ocorreu na Dinamarca", considera Leitão. "Infelizmente, a prática não condiz com o discurso." FUTURO O conteúdo da lei sancionada constituiu um bom cartão de visitas na Conferência do Clima de Copenhague, há dez dias. Mas Leitão acredita que, no próximo ano, nas discussões durante a conferência que será celebrada na Cidade do México, o Brasil deverá mostrar algo mais do que boas intenções. Em primeiro lugar, precisará apresentar números mais concretos de redução das emissões de carbono e um plano que demonstre a viabilidade real das metas. Depois, terá de mostrar - também com números - que o desmatamento ficou no passado. Além disso, segundo Leitão, os bancos públicos de fomento deverão atuar de um modo mais incisivo na promoção de investimentos para tornar a matriz energética mais limpa.
O governo deverá também privilegiar as atividades de pesquisa voltadas a viabilizar uma economia de baixo carbono.

Presidente pede esforço para obter acordo

Lula conversou por telefone com secretário da ONU sobre debate do clima. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que mantenha os esforços para que avancem as negociações de um acordo de combate ao aquecimento global. Segundo o governo brasileiro, o pedido foi feito durante telefonema de Ban a Lula que durou cerca de 10 minutos. O diálogo ocorreu dez dias após o fim da reunião da ONU em Copenhague, que terminou sem um novo pacto climático para substituir o Protocolo de Kyoto. No telefonema, Lula teria dito ao coreano que considera a ONU o fórum ideal para tratar a questão climática. Na avaliação da equipe do presidente Lula, o Brasil saiu da conferência como um participante ativo e não como um vilão na discussão sobre mudanças climáticas, ao apresentar uma meta na redução da emissão de gases de efeito estufa, o que causou uma boa impressão na comunidade internacional. GLOSSÁRIO Convenção do Clima da ONU:
Tratado internacional assinado em 1992, no Rio, por 192 países, que tem o objetivo de estabilizar a concentração de gases-estufa na atmosfera em um patamar que evite o desequilíbrio do clima no planeta Protocolo de Kyoto: Acordo de 1997, complementar à Convenção do Clima, estipula meta obrigatória de redução de 5,2% das emissões de gases-estufa para países desenvolvidos. O primeiro período de vigência vence em 2012 Fundo de adaptação: Recursos para ajudar os países em desenvolvimento a se adaptarem às mudanças climáticas Ratificação: Aprovação formal - pelo parlamento ou equivalente - de convenção, protocolo ou tratado. A ratificação ocorre após um país assinar um acordo. Os EUA, por exemplo, assinaram, mas não ratificaram o Protocolo do Kyoto.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Reduzindo emissões de CO2 no Brasi

O mundo está se desenvolvendo, a população crescendo a busca por mobilidade e e demanda por energia aumentando. Isso significa que alcançar o equilíbrio entre energia limpa, conveniente e barata requer ainda mais comprometimento e ações efetivas. A Shell trabalha para reduzir as emissões de CO2 e deoutros gases causadores do efeito estufa no Brasil e no mundo.
A Shell trabalha para reduzir as emissões de CO2 Devido à natureza de suas atividades, o segmento de Exploração e Produção reúne as principais ações da Shell para reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa. Em 2007, a empresa finalizou um estudo sobre a eficiência energética na plataforma FPSO Fluminense. A partir do diagnóstico, foram adotadas, ao longo dos dois últimos anos, várias medidas de conservação de energia, como, por exemplo, o uso de apenas duas turbinas de geração de energia em vez de três. Como resultado, houve uma redução em 2007 de 25% no volume de emissão de CO2 equivalente* em relação a 2006, desempenho mantido nos anos seguintes. Em 2009, a empresa espera implementar o Plano de Eficiência Energética e de Gerenciamento de Gases de Efeito Estufa do FPSO Fluminense, o qual irá estipular metas de redução de emissões para os próximos cinco anos. Enquanto isso, o FPSO Espírito Santo já inicia suas atividades direcionada por um plano de eficiência energética. Dentro desse contexto, ressalte-se o investimento de cerca de R$ 200 milhões em um projeto para reinjetar o gás retirado no campo em vez de queimá-lo. Iniciativa que integra o esforço global da Shell de zerar a queima de gás em todas as suas unidades. Em outra vertente, a Shell assinou há dois anos com a Petrobras um acordo para fornecimento para o Brasil de Gás Natural Liquefeito (GNL). Uma forma de a empresa dedicar combustível mais limpo de seu portfólio para o suprimento de geração de energia no país. Adicionam-se a isso os investimentos da empresa em biocombustíveis (abordados na seção Principais projetos), principalmente no que se refere ao etanol, indo ao encontro da importância crescente do produto na matriz energética brasileira. Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) sobre o mercado indicam que a utilização do etanol de cana em 2008 contribuiu para reduzir as emissões em 53 milhões de toneladas de CO2. *CO2 equivalente: uma medida métrica utilizada para comparar as emissões de vários gases de efeito estufa com base no potencial de aquecimento global de cada um. O dióxido de carbono equivalente é o resultado da multiplicação das toneladas emitidas do GEE pelo seu potencial de aquecimento global. Por exemplo, o potencial de aquecimento global do gás metano é 21 vezes maior do que o potencial do CO2. Então, dizemos que o CO2 equivalente do metano é igual a 21.

UE diz que não há espaço para corte de 30% de CO2 no bloco

Presidente da Comissão Europeia exige que os países desenvolvidos façam ‘esforços comparáveis’. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, estimou que ainda não existem condições para que a União Europeia aceite passar de um corte de 20% para 30% das emissões de gases do efeito estufa. “A UE passará a uma redução de 30% se outros (países) fizerem esforços comparáveis, mas por enquanto não estamos vendo isto, sinceramente”, disse em entrevista Barroso, depois de uma reunião com o presidente do Grupo Intergovernamental para Mudança Climática da ONU (IPCC), Rajendra Kumar Pachauri, e o acadêmico britânico Nicholas Stern, assessor do Governo de Gordon Brown. Reportagem da Agência EFE. “Nós fizemos uma oferta unilateral e incondicional, enquanto outros parceiros, incluindo países desenvolvidos, estão fazendo ofertas condicionais e não estão fornecendo sinais claros que podem aprovar a legislação”, explicou. Segundo Barroso, “não estamos tão longe, se todos fizerem um esforço de aumento de seus limites, avançaremos em direção a ofertas mais ambiciosas”. “Trabalharemos com outros para fazermos propostas concretas e acredito que será possível chegar a um acordo até Copenhague”, acrescentou. O presidente da Comissão Europeia insistiu em que o resultado de Copenhague deve ser “um texto simples, compreensível e claro”, “politicamente vinculativo para todos os países”, incluindo “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”. Nicholas Stern afirmou que com as sugestões na mesa “só estamos alguns bilhões de toneladas abaixo do que necessitamos”. Perguntado a respeito, Stern esclareceu que a redução faltante não poderá ser coberta somente com o corte oferecido pelos países que ainda não se pronunciaram. “É necessário um aumento (nos compromissos de redução) por parte dos países que já indicaram suas intenções e também uma intensificação da luta contra o desmatamento”, complementou. Pachauri lembrou que a ciência ressalta a importância de impedir uma elevação da temperatura acima de dois graus para evitar as consequências perigosas da mudança climática. Para alcançá-la, destacou, é necessária uma redução das emissões mais tardar a partir de 2015. “É muito importante que reduzamos uma quantidade significativa de emissões em 2020″, comentou.Pachauri considera positivo que sejam acordados objetivos para 2050, mas se querem empreender ações com seriedade e resolver o problema que coloca o aquecimento global, os países devem fazer suas principais reduções até 2020.

Estudo do Inpa mostra que floresta quase não absorve carbono

“A floresta amazônica, conhecida mundialmente como sendo responsável pela absorção de grandes quantidades de carbono da atmosfera, pode estar executando a tarefa em escala bem menor do que acredita boa parte da comunidade científica internacional. A constatação é do pesquisador Júlio Tota, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) (Inpa) e do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA)”. De acordo com o pesquisador, que defendeu a afirmação como tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente na manhã de segunda-feira, dia 26/10, o resultado partiu de um trabalho comparativo entre o monitoramento das trocas gasosas entre a biosfera e a atmosfera na região amazônica feitas por duas torres do Programa LBA e um trabalho paralelo de monitoramento, realizado pelo pesquisador ao longo de seis anos. As torres de monitoramento do Programa LBA, responsáveis por medir os “fluxos verticais” de vapor de água, energia e gás carbônico entre a floresta e a atmosfera, ficam situadas em dois pontos distintos da região amazônica: na Floresta Nacional do Tapajós, em Santarém (PA), e na Reserva Biológica do Cuieiras, em Manaus. A pesquisa de Tota consistiu na instalação – ao redor das torres – de equipamentos complementares que permitiram monitorar, também, o chamado “escoamento horizontal” do carbono. Método atual não é preciso “O atual modo de monitoramento, criado nos anos 50 e que é usado pelas torres do Programa LBA, leva em consideração duas variáveis, que são o fluxo vertical turbulento e o fluxo de armazenamento abaixo do nível de medida, em geral acima da floresta”, explica o cientista. O método, conhecido como Covariância de Vórtices Turbulentos – ou Eddy Covariance System (ECS), mede as trocas líquidas de gases do ecossistema (também conhecido como Net Ecosystem Exchange, ou NEE) -, e segundo Tota, o mesmo não é suficientemente preciso para definir exatamente o saldo resultante médio entre a absorção e a liberação de gás carbônico por parte da floresta. “O método não considera um processo que agora sabemos ser importante para minimizar as incertezas das estimativas, que são os fluxos horizontais de gases dentro da floresta, muito comuns em áreas de topografia com presença de declives e vales, como a que existe nas proximidades de Manaus”, explica Tota. O trabalho começou em 2003, em Santarém, que possui relevo relativamente suave e mais homogêneo em relação a Manaus. Apesar disso, o experimento mostrou a existência de fluxos horizontais de gás carbônico, chamados por ele “escoamento horizontal ou drenagem” de gases. “A simples existência deste novo processo levam a ser questionáveis as estimativas de grande absorção de gás carbônico reportadas por estudos já realizados na Amazônia sobre as trocas de gás carbônico entre a biosfera e a atmosfera”, afirma o cientista. Tota ressalta ainda que em Manaus, a partir de 2005, o resultado de seu estudo serviu para demonstrar que a mesma metodologia de medidas para Santarém não foram adequadas e suficientes para estimar quantitativamente os fluxos horizontais. “O terreno mais acidentado tornou a análise dos fluxos horizontal mais difícil de ser feita, pois as interações das micro-circulações do ar acima e abaixo da floresta e a distribuição espacial do gás carbônico precisariam de maior detalhamento experimental e equipamentos para serem quantificadas”, diz. Quando foi criado, o método de ECS – usado atualmente em todo o planeta para estimar o NEE – não considerava processos de escoamento horizontal oriundos das variações de relevo das áreas estudadas. Em um primeiro momento, o método pareceu apresentar resultados satisfatórios quando aplicado para monitoramento em escala de tempo não muito longa e sob condições ideais de relevo e homogeneidade da superfície. “Isso acontecia porque o método foi pensado para se aplicar em áreas sem relevo e homogêneas, onde foi testado inicialmente nos anos 50. As análises das estimativas feitas por outros métodos foram comparativamente muito próximos aos de ECS, o que o fez ser aceito como preciso”, analisa Tota. Quando iniciou o experimento em Manaus, Júlio Tota realizou um processo curioso para definir, no entorno da área de alcance da torre principal do LBA, os locais para a instalação dos equipamentos complementares de monitoramento. “Eu usei equipamentos para liberar fumaça colorida em várias partes da área estudada. Desta forma pude observar o deslocamento das camadas de ar entre as árvores sob os declives e vales”, explica. Com isso, Tota observou que boa parte das camadas de ar se movia de forma a acompanhar o declive da área. “Em muitos casos, o deslocamento desceu até os vales, em uma trajetória que fugia completamente do alcance do monitoramento da torre do LBA, que analisa, principalmente, o deslocamento vertical e as camadas mais superiores”, diz, ressaltando que, por esta razão, os resultados estimados pelas torres passariam a ser considerados incompletos. Os equipamentos usados, batizados por Tota como DRAINO (”Dreno”, em português), termo para definir “drenagem de ar”, foram integralmente doados ao LBA pelo professor e co-orientador da tese de doutorado de Júlio Tota, o cientista David Fitzjarrald, da State University of New York (SUNY). Mas todo o trabalho de desenho e montagem de equipamentos foi desenvolvido por Tota. A apresentação oficial do trabalho de Júlio Tota, orientado pela professora Maria Assunção Faus da Silva Dias, da Universidade de São Paulo (USP), rendeu o primeiro título de doutorado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente, criado por meio de parceria entre Inpa e Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Estiveram presentes na defesa da tese do pesquisador o diretor em exercício do Inpa, Wanderli Pedro Tadei, a reitora da UEA, Marilene Corrêa, e outros cientistas do Instituto, que assistiram e interagiram com a apresentação de Júlio Tota. Outros pesquisadores do Inpa defendem teses, desta vez em nível de mestrado.

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