sexta-feira, 29 de março de 2024

O gelo da Antártida encolhe para mínimos históricos pelo 3º ano consecutivo

O degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares já começou e tende a se acelerar nas próximas décadas à medida que cresce a concentração de CO2 na atmosfera

O gelo marinho ao redor da Antártida diminuiu na primeira metade do século passado e depois aumentou nas últimas décadas do século XX. Enquanto o gelo no resto do mundo diminuía devido às mudanças climáticas, o bloco de gelo ao redor do continente meridional aumentava.

Uma pesquisa recente, publicada na revista Nature Climate Change por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Ohio, comprovou que a quantidade de gelo marinho aumentou até 2015. A despeito das variações anuais, a reta de tendência dos dados mensais estava sempre direcionada para cima e a inclinação era positiva.

O gráfico abaixo mostra os dados relativos ao mês de fevereiro. Nota-se que entre 1979 e 2017 a inclinação da reta era de 3,0 + ou – 3,8% por década, mesmo considerando que em 2016 e 2017 a anomalia tenha ficado abaixo da média do período. Mas considerando o período 1979 e 2024 a inclinação da reta ficou negativa, marcando – 2,0 + ou – 3,4%. Ou seja, atualmente, o gelo da Antártida apresenta uma variação negativa no mês de fevereiro.

O gráfico abaixo, também da National Snow & Ice Data Center (NSIDC), mostra que a extensão de gelo marinho na Antártida para diversos anos e a média do período 1981-2010. Nota-se que nos últimos 3 anos (2022-2024) registraram recordes de mínimo de gelo ao redor do continente meridional. O mês de fevereiro de 2023 apresentou menor nível de gelo da série, mas 2022 e 2024 também apresentaram mínimos semelhantes.

Artigo de Shepherd et. al., E. et al., publicado na Revista Nature (24/04/2018) mostra que o balanço de massa de superfície indica uma perda de 2.720 ± 1.390 bilhões de toneladas de gelo entre 1992 e 2017, o que corresponde a um aumento no nível médio do mar de 7,6 ± 3,9 milímetros. Durante esse período, o derretimento causado pelo oceano fez com que as taxas de perda de gelo da Antártida Ocidental aumentassem de 53 ± 29 bilhões para 159 ± 26 bilhões de toneladas por ano; o colapso das prateleiras de gelo aumentou a taxa de perda de gelo da Península Antártica de 7 ± 13 bilhões para 33 ± 16 bilhões de toneladas por ano.

Agora em 2024, glaciologistas alertaram que algo ainda mais alarmante está acontecendo na camada de gelo da Antártida Ocidental – grandes rachaduras e fissuras se abriram tanto no topo quanto embaixo da geleira Thwaites, uma das maiores do mundo. A plataforma Thwaites faz a Larsen B parecer um pingente de gelo, pois é cerca de 100 vezes maior e contém água suficiente para elevar o nível do mar em todo o mundo em mais de meio metro.

Neste quadro, o nível do mar pode subir vários metros até o século XXII, dependendo dos níveis das emissões futuras e da aceleração do aquecimento global. As gerações que ainda irão nascer vão herdar um mundo mais complicado e mais inóspito, podendo haver uma mobilidade social descendente em um mundo com muitas injustiças ambientais, apartheid climático e conflitos de diversas ordens.

O fato é que o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares já começou e tende a se acelerar nas próximas décadas à medida que cresce a concentração de CO2 na atmosfera e o consequente aumento da temperatura global. Muitas áreas litorâneas vão ficar debaixo d’água e os danos sociais e econômicos serão incalculáveis. (ecodebate)

Amazoniar

O verbo “Amazoniar” simboliza o ato de se envolver, aprender e participar ativamente na promoção e proteção da cultura, da biodiversidade e de questões ambientais da Amazônia. Lançado em 2019, o Amazoniar é uma iniciativa do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) para promover um diálogo mundial sobre o bioma.

Temos o objetivo de ser um canal de conhecimento e um palco para a comunidade global interessada em mergulhar em diferentes características da região. Através de uma abordagem cultural, informativa e artística, visamos informar, atrair, provocar, inspirar e conscientizar. Esse conceito nos guia em diversas frentes de atividades e práticas, como:

1. Integração e Diálogo: promovemos a interação inclusiva e o diálogo aberto entre diversas comunidades e disciplinas, visando a compreensão e cooperação em torno dos temas da Amazônia;

2. Conscientização Ambiental: atuamos na sensibilização sobre a importância da Amazônia para o clima e meio ambiente globais, destacando questões como desmatamento, biodiversidade, mudanças climáticas e direitos humanos;

3. Cultura e Preservação: nos engajamos na preservação, valorização e reconhecimento das culturas amazônicas, respeitando tradições, valores e direitos de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, agricultores familiares, entre muitos outros;

4. Imersão e Estudo: promovemos informação imersiva e estudos da floresta amazônica, destacando sua complexidade e saberes únicos.

O Amazoniar é um movimento em direção a um futuro onde a Amazônia é compreendida, respeitada e preservada. Convidamos você a se juntar a nós nesta jornada de conhecimento, diálogo e ação por este rico bioma e pelas pessoas que nele vivem. Juntos, podemos ser atores de grandes mudanças. (ipam)

quarta-feira, 27 de março de 2024

Ondas de calor devem diminuir em 2025

Ondas de calor devem diminuir em 2025, aponta Climatempo.

O pico de emissões em 2025 é uma boa notícia, decerto, mas a física é implacável: para termos uma chance razoável de estabilizar o aquecimento global em 1,5ºC, é preciso cortar as emissões em 43% até 2030.
Recordes de temperatura poderão acontecer em dias pontuais, mas em menor proporção em relação a esse verão. Ciocchi fala dos desafios do ONS com muitas probabilidades e poucas previsões.

Ainda que a previsão meteorológica aponte para um outono mais quente do que o comum para essa época do ano, a Climatempo projeta uma mudança de padrão para a primavera com o La Niña. “Podemos ter alguns recordes em dias pontuais, mas essas ondas de calor, tão frequentes como agora, não devem acontecer no próximo verão ou primavera”, disse a Especialista Técnica de Clima e Mudanças Climáticas da empresa, Marcely Sondermann.

“A tendência é de melhor previsão de chuva e devemos estudar um pouco melhor os modelos de vazão para análises mais assertivas que depois impactariam no preço da energia”, acrescenta. Atualmente o modelo utilizado é o chamado autorregressivo, mas ela reforça ser precisa pensar na variável primária, utilizando melhor a previsão das chuvas para reverter nas vazões.

De acordo com a especialista, a realidade brasileira quanto à previsão dos eventos extremos é ainda mais complexa na medida em que o país precisaria contar com mais dados de observações, o que é feito atualmente pelas estações do Inmet, Cemaden e Ana, numa cobertura que não é ideal. “Teria que ser uma estação a cada 10 km ou radares que abrangessem áreas mais extensas para alimentar com mais frequência os modelos e calibrar as previsões”, ressalta.

Muitas probabilidades, poucas previsões

Sobre o La Niña, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Carlos Ciocchi, comentou que a única certeza é de muitas probabilidades e poucas previsões, as quais geralmente apontam para temperaturas mais amenas e chuva no Norte e Nordeste. Essa última efetivamente ajudaria o sistema elétrico, apesar de não andarem em consonância com a geração eólica, que pode ser prejudicada.

“Estamos olhando para a estação chuvosa no final deste ano para uma operação em 2025 com segurança. Nosso desafio é segurar o recurso hídrico e utilizar as UTEs para atendimento de ponta”, indicou o dirigente em entrevista à Agência CanalEnergia nos corredores do Agenda Setorial, evento que aconteceu em 13/03/24 no Rio de Janeiro.

Ciocchi falou que tem visto previsões de temperaturas de 45°C para os próximos dias em algumas regiões do país, o que deve elevar a demanda e levar ao acionamento de térmicas de forma pontual. E afirmou que a estação chuvosa que está terminando é nada satisfatória, apesar dos bons níveis dos reservatórios que asseguram o abastecimento de 2024.

Outro destaque é que o ONS tem lidado diariamente no casamento entre a curva de geração e carga por meio de rampas de 20 GW a 25 GW, volume que pode subir para 50 GW já em 2028. Sobre os impactos da variabilidade que a Geração Distribuída impõe ao sistema, ele classificou o crescimento da modalidade como um fenômeno mundial de decisão dos consumidores, sendo complicado colocar ordem nessa vontade soberana. “O que pode ser colocado são critérios técnicos, da mesma forma como existem os padrões de engenharia para diferentes construções”, afirma.

O Operador vem há pelo menos 3 anos em contatos diretos junto ao Inmetro para especificar os padrões técnicos dos equipamentos e minimizar alguns efeitos à rede, principalmente das distribuidoras. Essa ação se soma à ideia de quanto mais dados as distribuidoras conseguirem coletar da rede melhor, já que não adianta para o ONS operar na ponta e varejo. “Temos uma base bastante razoável sobre a variabilidade da GD, o que vai sendo aprimorado ao longo de uma contínua evolução”, indica.

Ilustração de sistema de correntes oceânicas no Planeta

Correntes oceânicas podem entrar em colapso em 2025, diz estudo.

As descobertas foram publicadas em 25 de julho de 2023 na revista científica Nature Communications.

Intercâmbio com o Cepel

Ademais o ONS irá aperfeiçoar os modelos computacionais que serão transferidos pelo Cepel, num memorando assinado nesse ano com a Eletrobras. A ideia é que os estudos fiquem prontos no primeiro semestre e que possa ser implementado ainda nesse ano, o que dependerá também da viabilidade econômica. “Temos que dar passos à frente, trabalhando com sistemas abertos e não apenas nas necessidades do ONS, mas também de outros agentes”, conclui Ciocchi. (canalenergia)

Cartilha traz propostas para combater a grilagem na Amazônia

Material voltado para a educação popular incentiva a coordenação de esforços dos setores público e privado e da sociedade civil no combate à grilagem.
O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) lançou, no âmbito da iniciativa Amazoniar, a cartilha “Por uma Amazônia livre de grilagem”. Além de explicar os mecanismos utilizados por grileiros para a apropriação ilegal de terras públicas e seus impactos no Brasil e no mundo, o material traz propostas do IPAM para combater esse crime que atualmente é a maior causa do desmatamento ilegal na Amazônia brasileira.

“Para combater a grilagem, é fundamental que haja ações coordenadas entre setor público, privado e sociedade civil, e não é preciso estar no território para contribuir. Desenvolvemos essa cartilha para apoiar educadores e ativistas, reunindo informações chave para que qualquer pessoa interessada possa aprender sobre o tema e somar esforços pela conservação da Amazônia”, disse Lucas Ramos, coordenador do Amazoniar.

A grilagem ameaça a sociobiodiversidade da Amazônia, contribuindo significativamente para a crise climática, a perda da resiliência da floresta e, consequentemente, a aproximação do chamado ponto de inflexão.

Esse crime contribui também com o aumento da insegurança alimentar, além da frequência e intensidade de incêndios e queimadas na região.

Por uma Amazônia livre de grilagem

Confira as propostas de soluções do IPAM para o combate à grilagem e, consequentemente, a redução do desmatamento ilegal na Amazônia brasileira.

1. Cancelar e prevenir a criação de registros irregulares de imóveis rurais em sobreposição às áreas de florestas públicas não destinadas

Ferramenta essencial para a regularização ambiental no Brasil, o CAR (Cadastro Ambiental Rural) vem sendo indevidamente usado por grileiros. O banimento de cadastros fraudulentos da base de dados do SICAR (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural) é a maneira mais imediata de combater a grilagem. Estudo do Amazônia 2030 indica que mais de 100 mil imóveis rurais registrados no sistema nacional estão sobrepostos a áreas de florestas públicas não destinadas na Amazônia. Na prática, uma área quase do tamanho do Uruguai poderia ser protegida da grilagem na região com o cancelamento desses cadastros.

1. Definir um uso para todas as florestas públicas ainda não destinadas

A Amazônia brasileira tem 56,5 milhões de hectares de florestas públicas não destinadas, área equivalente ao tamanho da Espanha. Para uma redução definitiva da grilagem, é fundamental que os governos estaduais e federal retomem rapidamente os processos de destinação dessas florestas públicas. Isso significa designar essas áreas, de acordo com suas características, em categorias que permitam sua conservação ou uso sustentável, tal como dita a Lei de Gestão de Florestas Públicas. São exemplos de destinação as unidades de conservação e as terras indígenas, que juntas estocam cerca de 56% do carbono da Amazônia brasileira.

1. Fortalecer a fiscalização e a punição aos grileiros

O aumento nos índices de desmatamento ilegal na Amazônia está, em grande medida, atrelado à fragilização dos órgãos de comando e controle ambiental entre 2018 e 2022. Reforçar a fiscalização e punir quem comete e financia crimes ambientais é fundamental para combater a grilagem e reduzir o desmatamento ilegal imediatamente. O PPCDAm (Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia) comprova a eficácia de uma forte política de fiscalização ambiental. Entre 2004, quando foi implementado, e 2012, o Brasil conseguiu reduzir em 84% o desmatamento na Amazônia. Interrompido em 2018, o PPCDAm voltou a ser implementado apenas em 2023. Desde então, os resultados do Plano vêm se traduzindo numa rápida redução dos índices de desmatamento na região.

1. Promover cooperação entre setores para apoiar ações do Poder Judiciário e dos Ministérios Públicos contra a grilagem

Institutos de pesquisa e organizações da sociedade civil vêm apoiando ações do Poder Judiciário e dos Ministérios Públicos no controle de danos socioambientais no país. Entre os exemplos de cooperação mencionados na cartilha está a parceria entre o IPAM e o MPF (Ministério Público Federal), que busca o cálculo da quantidade de carbono emitida devido ao desmatamento ilegal da Amazônia para a reparação de danos climáticos. Uma ação civil pública que estimou a emissão de 1,5 milhão de toneladas de carbono em decorrência de desmatamento ilícito projetou uma compensação 181,3% maior do que seria o valor exigido por danos ambientais locais.

1. Criar uma força tarefa nos Estados amazônicos contra a grilagem

O combate à grilagem poderia ganhar força com maior cooperação entre os governos estaduais amazônicos. Uma ação eficaz contra esse crime pode ser a criação de um grupo de trabalho especializado na região, no âmbito do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal. Formado pelos nove Estados amazônicos, o Consórcio da Amazônia Legal tem como missão “acelerar o desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira de forma integrada e cooperativa, considerando as oportunidades e os desafios regionais”.

1. Colocar em prática e melhorar mecanismos de rastreabilidade

Mecanismos de rastreabilidade para, literalmente, “rastrear” e identificar a ligação de produtos com o desmatamento (legal ou ilegal) são uma das grandes demandas do mercado internacional. Dois elementos fundamentais para combater a grilagem e o desmatamento na Amazônia são, portanto, a implementação, colocando em prática medidas já existentes, e o melhoramento contínuo dessas ferramentas. Assim, seria possível acabar com o incentivo à grilagem por parte de mercados e investidores e eliminar o crime das etapas de produção de mercadorias como commodities agrícolas e da pecuária – soja, milho e carne, por exemplo.

1. Apoiar iniciativas populares para o combate à grilagem

A cartilha destaca várias iniciativas de organizações não governamentais e da sociedade civil que atuam na justiça climática para a conservação da Amazônia. Entre elas está o PLIP (Projeto de Lei de Iniciativa Popular) Amazônia de Pé, que conta com o apoio do IPAM. Qualquer cidadão brasileiro pode contribuir assinando o PLIP em postos de coleta presencialmente. No site da iniciativa, é possível encontrar os endereços de todos os postos, ou propor a instalação de um novo ponto de coleta de assinaturas na sua cidade. Para que possa ser apresentado pelo povo brasileiro ao Congresso Nacional, é preciso que 1% do eleitorado apoie o projeto – isso dá mais ou menos 1,5 milhão de pessoas.

Sobre o Amazoniar

O Amazoniar é uma iniciativa do IPAM para ampliar o diálogo global sobre a Amazônia. Os ciclos anteriores abordaram temas como as relações comerciais entre Brasil e Europa; o papel dos povos indígenas no desenvolvimento sustentável da região e sua contribuição para a ciência e a cultura; e o engajamento da juventude nas eleições pela proteção da floresta e os direitos dos povos originários e comunidades tradicionais da região.

Com a proposta de levar a Amazônia para além de suas fronteiras, o Amazoniar já realizou projetos especiais, como um concurso de fotografia, cujas obras selecionadas foram expostas nas ruas de Glasgow, na Escócia, durante a COP 26; e uma série de curtas que compôs a exposição “Fruturos – Amazônia do Amanhã”, do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. A iniciativa desenvolveu também cartilhas sobre os possíveis cenários da Amazônia nas eleições de 2022 e soluções para o desmatamento na região, e produziu um minidocumentário com perspectivas de representantes de comunidades tradicionais sobre o Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e União Europeia.

(ecodebate)

segunda-feira, 25 de março de 2024

Mapa revela vulnerabilidade de áreas críticas na Amazônia Legal

Pan-Amazônia já perdeu 17% de sua cobertura nativa

Análise revela áreas críticas para a proteção da biodiversidade na Amazônia Legal que ainda estão desprotegidas.

Mapa desenvolvido por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) com o apoio da Embaixada do Reino dos Países Baixos aponta que áreas críticas para a proteção da biodiversidade na Amazônia Legal ainda estão fora de Unidades de Conservação, deixando-as vulneráveis ao desmatamento ilegal. Os ecossistemas identificados concentram grande quantidade de espécies de fauna e flora, mas não contam com legislação ambiental específica para sua proteção.

O objetivo do mapa produzido é auxiliar na proteção dessas áreas, assim como servir de base para a criação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável e criação de unidades de conservação que incluam esses hotspots de biodiversidade.

Além disso, espera-se chamar a atenção para a importância de conectar áreas preservadas, garantindo um ambiente estável e equilibrado para a fauna e a flora.

“Esse mapa mostra áreas que têm um grande potencial de criação de unidades de conservação e áreas que têm extrema relevância para a conservação porque possuem uma alta biodiversidade. Apresentamos esse mapa para mostrar a importância que essas áreas têm, embora elas ainda não estejam protegidas. Boa parte dessas áreas está ameaçada pelo desmatamento e pela expansão da infraestrutura, então é crucial que a fiscalização nessas áreas seja rigorosa”, alerta João Paulo Ribeiro, pesquisador do IPAM e autor do mapa.

Mesmo fora da proteção tradicional dos parques e estações ecológicas, a preservação desses locais é fundamental para garantir a conectividade entre áreas de mata nativa. Áreas de reserva legal, por exemplo, preservam a biodiversidade dentro de propriedades privadas e têm papel fundamental na criação de mosaicos de preservação, unindo áreas de vegetação nativa em diferentes propriedades.

“De acordo com o Código Florestal, propriedades rurais na Amazônia devem preservar 80% da sua área. Isso é um ativo tremendo que devemos olhar de perto. Temos que visualizar essas áreas privadas como uma forma de criar corredores de preservação, mesmo que seja necessário recuperar áreas. A implementação do Código Florestal deve ser vista como aliada à proteção da biodiversidade e precisa fazer parte de qualquer estratégia de proteção na Amazônia e no Cerrado”, destacou André Guimarães, diretor executivo do IPAM.

O mapa também destaca a diversidade biológica em formações não-florestais na Amazônia, como os lavrados de Rondônia, que muitas vezes são preteridos nos esforços de preservação. Segundo dados da rede MapBiomas, mais de 4% da Amazônia é composta por vegetações não-florestais, totalizando 18,5 milhões de hectares.

Os mapas foram apresentados para representantes das embaixadas dos Países Baixos, França, Noruega e Espanha, assim como servidores do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e Ministério da Ciência e Tecnologia e ambientalistas. O evento foi realizado na residência oficial do embaixador dos Países Baixos, em Brasília.

Lentidão na demarcação

De acordo com dados coletados pelo newsletter Um Grau e Meio, produzida pelo IPAM, a criação de unidades de conservação na Amazônia aumentou 3,7% nos últimos 5 anos e já cobre 28,4% do bioma. A destinação é fundamental para a proteção do bioma, visto que 50% do desmatamento da Amazônia brasileira ocorre em terras públicas.

No Cerrado a demarcação encontra mais desafios: um aumento de apenas 0,7% nas Unidades de Conservação nos últimos cinco anos. Ao todo, metade do Cerrado já se encontra antropizado – alterado pelo uso humano para a criação de pastagens e lavouras, por exemplo – e 8% desse remanescente se encontra dentro de parques, estações e outras unidades de conservação. Em 2023, essas áreas concentram apenas 2,5% do desmatamento do bioma, cerca de 26,5 mil hectares, segundo dados do SAD Cerrado. (ecodebate)

Conheça os indicadores do aquecimento global

Cientistas utilizam sete indicadores principais para monitorar o estado do sistema climático global; processo envolve observações no fundo do mar até ao topo da atmosfera e conta com ampla rede de estações espalhadas pelo mundo, além de satélites e radares.

Você com certeza já ouviu mensagens da ONU alertando o mundo sobre o perigo do aquecimento global. Mas você sabe como é feita a medição que está por trás destes alertas?

Ao todo, sete indicadores são usados pelos cientistas para monitorar a evolução e o estado do sistema climático global. Esses indicadores constituem informação chave para descrever as alterações climáticas.

Os métodos aplicados neste processo vão de observações no fundo do mar até ao topo da atmosfera.

Comunidades em Maalimin, no nordeste do Quênia, enfrentam condições de seca.

1 – Temperatura média do ar na superfície

O primeiro indicador importante é a temperatura média do ar na superfície. Para gerar essa informação é feita uma combinação entre a temperatura do ar cerca de dois metros acima da superfície da terra e do mar, usando informações de estações de medição espalhadas pelo mundo e modelos de reanálise de clima.

É com base em seis conjuntos de dados de temperatura global que a OMM calcula a anomalia e o ranking anual. 2023 será o ano mais quente desde que há registro. As medições começaram em 1850.

Além disso, os últimos nove anos, de 2015 a 2023, foram os mais quentes.

2- Conteúdo de calor do oceano

O segundo indicador é o conteúdo de calor do oceano. Essa medida é feita em várias profundidades, chegando até 2 mil metros. Todas as bases de dados apontam que a taxa de aquecimento do oceano tem tido um aumento acentuado nas últimas duas décadas em todas as profundidades.

O oceano absorveu e retém cerca de 90% do excesso de calor devido ao aumento do efeito estufa causado pelos humanos. A última informação consolidada disponível, referente ao ano 2022, revela que o conteúdo de calor do oceano atingiu um novo recorde neste ano.

Restos de uma casa no Atol de Tarawa, Kiribati, que foi destruída pela elevação do nível do mar e por tempestades, agravadas pelas mudanças climáticas.

3- Aumento do nível do mar

Outro elemento observado é o aumento do nível do mar, que tem acontecido de forma constante. Entre janeiro de 1993 e outubro de 2023, o mar subiu mais de 10 cm, atingido um valor recorde em 2023.

Além disso, verifica-se uma aceleração, pois a taxa de subida do nível médio do mar nos últimos dez anos é mais do que o dobro da registrada entre 1993 e 2002.

As projeções apontam para a continuidade do aumento de forma cada vez mais rápida, especialmente devido ao aquecimento dos oceanos e o derretimento do gelo dos glaciares e das calotas polares.

No ritmo atual, o degelo da Groenlândia e da Antártida podem contribuir para que o nível médio do mar suba quase um metro ainda neste século, num cenário de altas emissões de gases com efeito estufa.

4- Massa glacial

O quarto indicador é a massa glacial. Os chamados glaciares, ou geleiras, são uma grande massa de gelo que pode levar até 30 mil anos para se formar. Elas estão presentes em várias partes do planeta, principalmente no topo das mais altas montanhas. As geleiras armazenam 70% da água doce existente no planeta.

Desde os anos 70, houve uma diminuição média de mais de 30 metros na espessura dessas geleiras.

Em agosto de 2023, foi registrado na Suíça um novo recorde de altitude para o ponto na atmosfera em que a água congela, que ficou em 5.298 metros. Isso é bem mais acima do que o topo das mais altas montanhas da Europa, como o Mont Blanc, que tem 4.811 metros.

Túnel de iceberg fotografado em Portal Point, na Antártida

5- Extensão do gelo marinho

A quinta medida é a extensão do gelo marinho. Novos números mostram que em setembro deste ano, o gelo marinho da Antártica era de 1,5 milhão km2 menor que a média, uma área aproximadamente igual a área de Portugal, da Espanha, da França e Alemanha juntas.

É bom lembrar que o gelo também tem o papel de refletir a luz do sol, então conforme reduz a camada de gelo do planeta, mais calor fica retido e isso acelera ainda mais o derretimento do gelo que resta.

6 – Acidificação do oceano

O sexto indicador observado é a acidificação do oceano. Os mares absorvem cerca de 23% das emissões anuais de dióxido de carbono, CO2, geradas pelo homem, mas paga um preço ecológico elevado por isso.

O CO2 reage com a água do mar aumentando sua acidez e isso coloca em perigo os organismos vivos, afetando inclusive a pesca e aquicultura. Isso afeta também a proteção costeira ao enfraquecer os recifes de coral, que servem de barreira para o litoral.

A poluição do ar causada por usinas de energia contribui para o aquecimento global

7 – Concentração de gases do efeito estufa

E por último é analisada a composição da atmosfera. E o que é mais alarmante nesse sentido é o aumento da concentração de gases que causam o “efeito estufa”, ou seja, retem o calor.

A emissão desses gases disparou por conta de atividades humanas desde o início da era industrial e esse é o principal motivo identificado pelos cientistas para as mudanças climáticas que vivemos hoje.

O principal gás do efeito estufa é CO2. Parte dele é absorvida por florestas e mares, mas quase metade fica no ar e demora muitos anos para se dissipar.

A última vez que a Terra registou uma concentração comparável de CO2 foi há 3 a 5 milhões de anos, quando a temperatura era 2 a 3°C mais quente e o nível do mar era 10 a 20 metros mais alto do que é agora.

Naquela época havia apenas a emissão de CO2 por processos naturais. Hoje, a emissão de CO2 gerada pelos seres humanos, embora seja menor do que aquela resultante dos processos naturais, causa um excesso que não tem como ser absorvido, gerando um desequilíbrio fatal.

Dados de instituições de referência

A Organização Meteorológica Mundial usa conjuntos de dados provenientes de várias instituições de referência e centros de investigação internacionais, incluindo os dados de temperatura global de seis instituições que são referência em monitoramento do clima.

A primeira delas é Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, NASA. Essa agência tem pelo menos 42 satélites e instrumentos espaciais dedicados a medições ligadas ao clima na Terra.

A segunda organização de referência é a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, Noaa, que possui ou opera 17 satélites 1322 boias marinhas, 15 navios e 9 aeronaves para monitorar o clima.

Além disso, a agência organiza uma base de dados com registros de mais de 100 mil estações meteorológicas de 180 países e territórios.

A terceira fonte de dados é o Met Office, o serviço meteorológico nacional do Reino Unido, fundado em 1854. O centro inglês é uma referência devido a sua capacidade tecnológica baseada no uso de supercomputadores para realizar previsões meteorológicas e projeções de alterações climáticas.

ONU Costa Rica/Danilo Mora

OMM para a América do Norte, América Central e Caribe

A quarta é o Centro Europeu de Previsão do Tempo, Ecmwf, que opera um dos modelos previsão do tempo com melhor performance a nível global e o modelo de reanálise ERA5, que integra variáveis da atmosfera, do solo e do oceano, com elevada resolução espacial e temporal.

A quinta fonte da OMM é o grupo Berkeley Earth, uma organização científica independente, especializada em ciência de dados, que estuda tendências, faz análises estatísticas e simulações com informações de estações meteorológicas espalhadas ao redor do mundo.

A sexta fonte é a Agência Meteorológica do Japão, JMA, que desenvolveu o modelo de reanálise de terceira geração, JRA55, que foi o primeiro deste tipo a disponibilizar informação desde final da década de 50 do século XX.

Consenso científico

Além disso, a meteorologia é uma das disciplinas onde existe uma cooperação internacional longa e bem-sucedida. Os sistemas de observação, incluindo as estações ao redor do mundo têm que seguir e operar de acordo com especificações rigorosas para gerar dados uniformizados, confiáveis e robustos.

O Sistema global de observação da OMM conta atualmente com mais de 11 mil estações em terra, cerca de 4 mil a bordo de navios, mais de 1,2 mil boias na superfície do mar, enviando em tempo real os dados de observação, para além de diversos satélites, aviões, radares e detectores de descargas elétricas atmosféricas, entre outros.

Todo esse compartilhamento da informação que vem dessas estações e meios de observação alimenta as bases de dados e modelos climáticos que são usados em estudos rigorosos sobre as causas do atual aquecimento do planeta.

É por isso que, segundo a NASA, 97% dos cientistas de clima que estão ativamente desenvolvendo e publicando estudos concordam que os seres humanos estão causando o aquecimento global e as mudanças climáticas. (ecodebate)

sábado, 23 de março de 2024

Decrescimento da população da China com crescimento da renda per capita

Isto quer dizer que, enquanto a população diminui, o PIB dobra de tamanho entre 2025 e 2100 e a renda per capita se multiplica por 3,7 vezes. Desta forma, a renda per capita da China (em poder de paridade de compra) que deve estar em torno de US$ 20 mil em 2025, pode dar um salto para US$ 75 mil em 2100.
A China é um bom caso de estudo, pois é um país que saiu da pobreza, se tornou um país de renda média e caminha para entrar no clube dos países ricos

A China era, até recentemente, a nação mais populosa do mundo, mas foi ultrapassada pela Índia em 2023. A população chinesa iniciou um processo de decrescimento do número de habitantes a partir de 2022 e deve continuar o processo de decrescimento ao longo do século XXI.

A China tinha 544 milhões de habitantes em 1950, chegou a 1 bilhão em 1982, alcançou o pico de 1,426 bilhão de habitantes em 2021, iniciou a fase de decrescimento em 2022, deve voltar para 1 bilhão de habitantes em 2077 e terminar o século com 767 milhões de habitantes em 2100, segundo projeções da Divisão de População da ONU.

É comum a imprensa internacional interpretar estes dados como se representassem o início de uma grande crise demográfica que comprometerá o futuro da China. Vejamos alguns exemplos:

• O jornal New York Times “A População da China Cai, anunciando uma Crise Demográfica”, o jornal afirma que haverá escassez de mão de obra e défices no sistema de pensões e que “o país está sendo empurrado para uma crise demográfica que terá consequências não apenas para a China e a sua economia, mas para o mundo”.

• The Daily Telegraph ‘Golpe para a economia da China à medida que a população cai’.

• O Washington Post “O primeiro declínio populacional da China em 60 anos soa um alarme demográfico”, com um renomado estudioso dizendo que “a falta de uma rede de seguridade social ou sistema de pensões robusto poderia “evoluir para uma catástrofe humanitária”.

• The Guardian: A primeira queda populacional da China desde 1961 cria perspectivas ‘mais sombrias’ para o país com um pesquisador dizendo que “a verdadeira crise demográfica da China está além da imaginação” e que “todas as políticas econômicas, sociais, de defesa e externas do passado da China foram baseadas em dados demográficos falhos”.

Mas, na realidade, o decrescimento demográfico pode ser uma grande oportunidade para melhorar as condições sociais e ambientais. De fato, a população em idade produtiva (15-59 anos) já está caindo desde 2011, mas o PIB chinês cresceu em média de 6,4% ao ano entre 2011 e 2023. O crescimento econômico em 2023 foi de 5,2%, mesmo com o decrescimento demográfico. O governou estabeleceu a meta de 5% de crescimento do PIB para 2024.
Isto ocorre porque o PIB pode crescer, a despeito da diminuição da população, se os trabalhadores ocupados forem mais produtivos, entregando maior quantidade de bens e serviços com menor quantidade de mão de obra.

O gráfico abaixo apresenta um exercício da evolução da população, do PIB e da renda per capita da China entre 2025 e 2100. As curvas representam o crescimento (ou decrescimento) acumulado, com índice 100 em 2025. Os dados da população são das projeções da Divisão de População da ONU e mostram uma redução quase pela metade no volume de habitantes. A projeção do PIB foi feita com os seguintes pressupostos: crescimento de 4% ao ano de 2026 a 2030, crescimento de 3% entre 2031 e 2040, crescimento de 2% ao ano entre 2041 e 2050, crescimento de 1% ao ano entre 2051 e 2060, crescimento zero de 2061 a 2070 e decrescimento de 0,3% ao ano de 2071 a 2100.

Resultado: o índice da população passa de 100 em 2025 para 53,8 em 2100. O índice do PIB passa de 100, em 2025, para 201,2 em 2100. E o índice da renda per capita passa de 100 para 373,8 em 2100. Isto quer dizer que, enquanto a população diminui, o PIB dobra de tamanho entre 2025 e 2100 e a renda per capita se multiplica por 3,7 vezes. Desta forma, a renda per capita da China (em poder de paridade de compra) que deve estar em torno de US$ 20 mil em 2025, pode dar um salto para US$ 75 mil em 2100.

Não há dúvidas de que toda dinâmica demográfica traz desafios e oportunidades. O decrescimento populacional traz desafios, especialmente no que diz respeito ao envelhecimento populacional e à redução do tamanho da população em idade ativa. Mas estes dois fatores podem ser superados pelo 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e pelo 3º bônus demográfico (bônus da longevidade).

A China é um bom caso de estudo, pois é um país que saiu da pobreza, se tornou um país de renda média e caminha para entrar no clube dos países ricos. O desafio é enriquecer antes de envelhecer e cuidar do meio ambiente. O exemplo apresentado no gráfico acima, mostra que a população da China já está decrescendo e o ritmo de crescimento do PIB está diminuindo e a economia pode decrescer após 2070. Mas se o decrescimento do PIB for menor do que o decrescimento demográfico, o país pode continuar tendo aumento da renda per capita, da prosperidade e do bem-estar social.

A China terá menor quantidade de pessoas, mas poderá ter uma maior e melhor qualidade de vida humana e ambiental. O “Império do Meio” será demograficamente menor, mas com um padrão de vida qualitativamente melhor.

O mundo será um lugar melhor para se habitar se a China combinar a dinâmica econômica e demográfica com a redução da pegada ecológica e a restauração ecológica.

Vários países já estão planejando o decrescimento demoeconômico, como Taiwan, Coreia do Sul, Bulgária, Jamaica, etc., mas, evidentemente, o decrescimento demoeconômico do gigante asiático, devido ao tamanho da economia, terá um impacto muito mais positivo sobre o meio ambiente. (ecodebate)

Países ricos geram 10 vezes mais impactos climáticos que países de renda baixa

Os países ricos consomem os recursos da Terra a um ritmo insustentável. As nações ricas usam seis vezes mais recursos e geram 10 vezes mais impactos climáticos do que as de baixa renda. Isso excede as necessidades humanas e a capacidade da natureza, alertou a ONU.
Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostra que a extração dos recursos naturais triplicou nas últimas cinco décadas, alertando para as disparidades entre os países industrializados e os países de baixa renda em relação às causas da tripla crise planetária.

O Panorama Global de Recursos 2024 destaca que desigualdades fundamentais estão no centro do uso global de recursos: países de baixa renda geram 10 vezes menos impactos climáticos do que os países de alta renda.

A extração de recursos naturais pode aumentar 60% até 2060 e atrapalhar os esforços para alcançar não apenas as metas globais de clima, biodiversidade e poluição, mas também a prosperidade econômica e o bem-estar humano.

O mundo está em meio a uma crise planetária tripla de mudanças climáticas, perda de biodiversidade, poluição e resíduos. A economia global está consumindo cada vez mais recursos naturais, enquanto o mundo não está no caminho certo para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Mineração a céu aberto em Nova Gales do Sul, na Austrália.

A extração dos recursos naturais triplicou nas últimas cinco décadas, em decorrência da significativa expansão de infraestrutura em muitas partes do mundo e dos altos níveis de consumo de materiais, especialmente em países de renda média-alta e alta.

A extração de material deve aumentar 60% até 2060 e pode atrapalhar os esforços para alcançar não apenas as metas globais de clima, biodiversidade e poluição, mas também a prosperidade econômica e o bem-estar humano, de acordo com um relatório publicado pelo Painel Internacional de Recursos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

O Panorama Global de Recursos 2024 (Global Resource Outlook 2024), desenvolvido pelo Painel Internacional de Recursos com autores de todo o mundo foi lançado durante a sexta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, pede mudanças políticas abrangentes para que a humanidade viva dentro de suas possibilidades e reduza em um terço o crescimento projetado para o uso de recursos, ao mesmo tempo em que expande a economia, melhora o bem-estar e minimiza os impactos ambientais.

O relatório conclui que, desde 1970, o uso de recursos cresceu de 30 para 106 bilhões de toneladas ou de 23 para 39 quilos de materiais usados em média por pessoa por dia –, acarretando impactos ambientais dramáticos. No geral, a extração e o processamento de recursos são responsáveis por mais de 60% das emissões de aquecimento do planeta e por 40% dos impactos da poluição do ar relacionados à saúde.

A extração e o processamento de biomassa (por exemplo, culturas agrícolas e silvicultura) são responsáveis por 90% da perda de biodiversidade relacionada à terra e estresse hídrico, bem como um terço das emissões de gases de efeito estufa. Da mesma forma, a extração e o processamento de combustíveis fósseis, metais e minerais não metálicos (por exemplo, areia, cascalho, argila) são responsáveis por 35% das emissões globais.

“A tripla crise planetária das mudanças climáticas, da perda da natureza e da poluição é impulsionada por uma crise de consumo e produção insustentáveis. Devemos trabalhar com a natureza, em vez de apenas explorá-la”, disse Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA, afirmando que:

“Reduzir a intensidade de recursos dos sistemas de mobilidade, habitação, alimentação e energia é a única maneira de alcançarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e, em última análise, um planeta justo e habitável para todas as pessoas”.

No centro do uso global de recursos estão desigualdades fundamentais:

• Países de baixa renda consomem seis vezes menos materiais e geram 10 vezes menos impactos climáticos do que aqueles que vivem em países de alta renda.

• Os países de renda média alta mais do que dobraram o uso de recursos nos últimos 50 anos devido ao seu próprio crescimento em infraestrutura e à realocação de processos intensivos em recursos de países de alta renda.

• Ao mesmo tempo, a utilização de recursos per capita e os impactos ambientais conexos nos países de baixo rendimento têm permanecido relativamente baixos e quase inalterados desde 1995.

Onde os níveis de consumo são muito altos, um maior foco na redução dos níveis de consumo de recursos e materiais para complementar a ação sobre a produção e a eficiência de recursos pode reduzir cerca de 30% do uso global de recursos em comparação com as tendências históricas, ao mesmo tempo em que desenvolve a economia global, melhora vidas e permanece dentro dos limites planetários.

Nos casos em que a utilização dos recursos precisa aumentar, podem ser criadas estratégias para maximizar o valor de cada unidade de recurso utilizada e satisfazer as necessidades humanas de uma forma que não exija muitos recursos, de modo a que os benefícios da utilização dos recursos ultrapassem largamente a taxa da sua extração e os impactos ambientais e na saúde se mantenham em conformidade com as obrigações internacionais em matéria de clima, biodiversidade e sustentabilidade.

A incorporação de externalidades ambientais nos acordos comerciais, o fortalecimento da regulamentação dos mercados de commodities financeiras e a implementação de políticas de ajuste de fronteiras relacionadas ao impacto são apenas algumas das maneiras pelas quais os países podem evitar uma corrida para o fundo do poço nos padrões ambientais e sociais da extração de recursos e maximizar e reter o valor dos processos de extração no país.

“Não devemos aceitar que para satisfazer as necessidades humanas seja necessário o uso intensivo de recursos e devemos parar de estimular o sucesso econômico baseado na extração. Com uma ação decisiva dos políticos e do setor privado, uma vida decente para todos é possível sem custar à Terra”, disse Janez Potočnik, copresidente do Painel Internacional de Recursos.

“A conferência climática do ano passado concordou com a transição para longe dos combustíveis fósseis. Agora é a hora de trazer todos à mesa para desenvolver soluções para tornar isso possível. Agora é a hora de intensificar as soluções baseadas em recursos para o clima, a biodiversidade e a equidade para que todos, em todos os lugares, possam viver uma vida com dignidade”, disse Izabella Teixeira, copresidente do Painel Internacional de Recursos.

As recomendações específicas incluem:

• Institucionalizar a governança dos recursos e definir os caminhos para o uso dos recursos, especialmente a consideração do uso sustentável dos recursos nas estratégias de implementação dos Acordos Ambientais Multilaterais (MEAs) e melhorar a capacidade dos países de avaliar e estabelecer metas para o consumo e a produtividade dos recursos.

• Direcionar o financiamento para o uso sustentável de recursos, refletindo os custos reais dos recursos na estrutura da economia (ou seja, subsídios, regulamentações, impostos, estímulos, infraestrutura e planejamento). Outras recomendações incluem a canalização do financiamento privado para o uso sustentável dos recursos e a incorporação do risco relacionado aos recursos nos mandatos dos bancos públicos e centrais

• Integrar as opções de consumo sustentável, garantindo que os consumidores tenham as informações corretas, acesso a bens e serviços sustentáveis e que possam pagar por eles. Essas medidas devem ser acompanhadas de regulamentações para desestimular ou proibir opções que utilizem muitos recursos (como produtos plásticos de uso único não essenciais).

• Tornar o comércio um mecanismo de uso sustentável de recursos, criando condições equitativas em que os verdadeiros custos ambientais e sociais dos produtos sejam refletidos nos preços, introduzindo as MEAs nos acordos comerciais, por exemplo.

• Criar soluções circulares, eficientes em termos de recursos e de baixo impacto, além de modelos de negócios que incluam a recusa, a redução, o design ecológico, a reutilização, o reparo e a reciclagem, bem como a regulamentação de apoio e a avaliação dos sistemas existentes.

Implementadas em conjunto, essas políticas podem transformar o ambiente construído, a mobilidade, os sistemas alimentares e de energia, resultando em um aumento das energias renováveis e da eficiência energética, descarbonização da produção de materiais, cidades mais caminháveis e acessíveis por bicicleta, com melhores oportunidades de transporte público e trabalho remoto, bem como redução da perda e do desperdício de alimentos. Países de renda alta e média-alta veriam uma mudança na dieta com a redução do consumo de proteína animal e cidades mais compactas, enquanto as economias de renda mais baixa experimentariam um aumento no uso de recursos para permitir uma vida digna.

Essas mudanças sistêmicas são projetadas para atingir o pico de extração de recursos até 2040 e, em seguida, diminuir o uso para apenas 20% acima dos níveis de 2020 até 2060:

• As emissões de gases de efeito estufa cairiam mais de 80%, os estoques de materiais relacionados aos transportes e materiais de construção cairiam 50% e 25%, respectivamente, e o uso da terra para a agricultura cairia 5%.

• Ao mesmo tempo, a produção de alimentos aumentaria em 40%, para apoiar as populações, mesmo onde há crescimento e segurança alimentar, a economia global cresceria 3% e o Índice de Desenvolvimento Humano melhoraria em 7%, aumentando a renda e o bem-estar.

Dado o fracasso até agora em cumprir muitos compromissos políticos em MEAs e a urgência da tripla crise planetária, o relatório apoia ações imediatas, seguindo o princípio da “melhor ciência disponível”. (ecodebate)

quinta-feira, 21 de março de 2024

Ártico pode se tornar “livre de gelo” dentro de uma década

O Ártico pode ver dias de verão com praticamente nenhum gelo marinho já nos próximos anos, de acordo com um novo estudo da University of Colorado at Boulder.
Os resultados, publicado na revista Nature Reviews Earth & Environment, sugerem que o primeiro dia livre de gelo no Ártico poderia ocorrer mais de 10 anos antes das projeções anteriores, que se concentraram em quando a região ficaria livre de gelo por um mês ou mais. A tendência permanece consistente em todos os cenários de emissões futuros.

Em meados do século, é provável que o Ártico veja um mês inteiro sem gelo flutuante durante setembro, quando a cobertura de gelo marinho da região está no mínimo. No final do século, a temporada livre de gelo poderia durar vários meses por ano, dependendo de cenários futuros de emissões.

Por exemplo, sob um cenário de altas emissões, ou business-as-usual, a região mais setentrional do planeta pode se tornar consistentemente livre de gelo, mesmo em alguns meses de inverno.

Para os cientistas, um Ártico sem gelo não significa que haveria zero gelo na água.

Em vez disso, os pesquisadores dizem que o Ártico é livre de gelo quando o oceano tem menos de 1 milhão de quilômetros quadrados de gelo. O limite representa menos de 20% da cobertura mínima sazonal de gelo da região na década de 1980. Nos últimos anos, o Oceano Ártico tinha cerca de 3,3 milhões de quilômetros quadrados de área de gelo marinho, no mínimo, em setembro.

Alexandra Jahn, professora associada de ciências atmosféricas e oceânicas e bolsista do Instituto de Pesquisa Ártica e Alpina da CU Boulder, se probrou de analisar a literatura existente sobre projeções de gelo marinho. Ela e seus colaboradores também analisaram dados de cobertura de gelo marinho de modelos climáticos computacionais para avaliar como o Ártico pode mudar diariamente no futuro.

Eles descobriram que o primeiro dia em que a cobertura de gelo marinho caiu abaixo do limite de 1 quilômetro quadrado ocorreria em média quatro anos antes das médias mensais, mas poderia ocorrer até 18 anos antes.

“Quando se trata de comunicar o que os cientistas esperam que aconteça no Ártico, é importante prever quando podemos observar as primeiras condições livres de gelo no Ártico, que aparecerão nos dados diários de satélite”, disse Jahn.

A equipe projetou que o Oceano Ártico poderia se tornar livre de gelo pela primeira vez em um dia de final de agosto ou início de setembro entre os anos de 2020 e 2030 em todos os cenários de emissões.

Jahn disse que as emissões de gases de efeito estufa são os principais contribuintes para a perda de gelo marinho. Uma diminuição na neve e na cobertura de gelo aumenta a quantidade de calor da luz solar absorvida pelo oceano, exacerbando o derretimento do gelo e o aquecimento no Ártico.

Os declínios do gelo marinho têm impactos significativos sobre os animais do Ártico que dependem do gelo marinho para a sobrevivência, incluindo focas e ursos polares.

Além disso, à medida que o oceano se aquece, os pesquisadores estão preocupados que os peixes não nativos possam se mover para o Oceano Ártico. O impacto dessas espécies invasoras nos ecossistemas locais ainda não está claro.

A perda de gelo marinho também representa um risco para as comunidades que vivem perto da região costeira. O gelo marinho desempenha um papel significativo no amortecimento dos impactos das ondas oceânicas na costa, disse Jahn. Como o gelo do mar se retira, as ondas do oceano ficariam maiores, causando erosão costeira.

Embora um Ártico sem gelo seja inevitável, Jahn disse que os níveis futuros de emissões ainda determinarão com que frequência as condições ocorrem. Sob um cenário de emissões intermediárias, um caminho em que a sociedade atual está, o Ártico pode se tornar livre de gelo apenas durante o final do verão e início do outono de agosto a outubro. Mas sob o maior cenário de emissões, o Ártico pode estar livre de gelo por até nove meses até o final deste século.

“Isso transformaria o Ártico em um ambiente completamente diferente, de um Ártico branco de verão a um Ártico azul. Portanto, mesmo que as condições livres de gelo sejam inevitáveis, ainda precisamos manter nossas emissões o mais baixas possível para evitar condições prolongadas de livre de gelo”, disse Jahn.

A boa notícia: o gelo do mar Ártico é resiliente e pode retornar rapidamente se a atmosfera esfriar.

“Ao contrário da camada de gelo na Groenlândia que levou milhares de anos para ser construída, mesmo que derretamos todo o gelo marinho do Ártico, se pudermos descobrir como tirar o CO2 da atmosfera no futuro para reverter o aquecimento, o gelo marinho voltará dentro de uma década”, disse Jahn.

Embora a área do gelo marinho seja reduzida em todos os meses do ano no futuro, prevê-se que a perda seja maior em setembro, mas o gelo marinho de inverno retorna mesmo depois que as condições livres de gelo são alcançadas.

Embora a área do gelo marinho seja reduzida em todos os meses do ano no futuro, prevê-se que a perda seja maior em setembro, mas o gelo marinho de inverno retorna mesmo depois que as condições livres de gelo são alcançadas. in Nature Reviews Earth & Environment (Nat Rev Earth Environ) ISSN 2662-138X (online). (ecodebate)

Degradação florestal na Amazônia afeta área três vezes maior que desmatamento

Entre março de 2023 e de 2024, INPE detectou aviso de degradação para 20,4 mil km², maior que os 18 mil km² do período anterior. É necessári...