quarta-feira, 29 de junho de 2011

Como são armazenados os resíduos perigosos?

Quando uma instalação de materiais perigosos que armazenava e descartava substâncias perigosas explodiu em 5 de outubro de 2006, os moradores de um subúrbio de Raleigh, na Carolina do Norte, ouviram batidas em suas portas no meio da noite. Metade da cidade teria de ser evacuada: fogo químico é uma coisa séria. O tratamento, armazenamento e descarte de resíduos perigosos é altamente fiscalizado pela Environmental Protection Agency (EPA – Agência de Proteção Ambiental) para evitar situações como essa (entre outros resultados terríveis do tratamento incorreto de resíduos perigosos). De acordo com um artigo da CNN.com (em inglês), essa usina específica havia sido multada, no passado, por várias violações de segurança que incluíam armazenar resíduos "incompatíveis" em locais muito próximos e não marcar os recipientes adequadamente com relação a seu conteúdo. Portanto, como as instalações devem armazenar resíduos perigosos para evitar desastres?
Antes de entrarmos em métodos de armazenamento, vamos definir o que são "resíduos perigosos". A EPA os define como os "resíduos com propriedades que os tornam perigosos ou potencialmente danosos à saúde humana ou ao ambiente". Qualquer coisa inflamável, corrosiva, instável (que possa reagir violentamente quando aquecida, comprimida ou em contato com água) e/ou venenosa provavelmente cai na categoria "perigosa". Isso inclui tudo, de solventes de limpeza, derivados da fabricação de pesticidas, explosivos, tintas à base de chumbo, ácido de bateria e mesmo certos produtos de limpeza doméstica, para começar. Todos os produtores de resíduos perigosos (o que inclui você, a partir do momento que abre uma garrafa daquele lubrificante que comprou na loja de ferramentas) precisam seguir procedimentos adequados ao transportar esses resíduos para uma instalação de tratamento ou descarte como a que explodiu no dia 5 de outubro de 2006.
Depois que esses resíduos tiverem chegado na instalação, ele será colocado em armazenamento temporário. Uma usina armazena materiais perigosos em uma de várias estruturas, incluindo:
Recipientes lacrados; um recipiente que contenha resíduos perigosos é portátil e pode ser lacrado. Um recipiente comum de resíduos perigosos é um tambor de 55 galões, de plástico ou de metal, dependendo da natureza do resíduo. Material corrosivo não pode ser armazenado nesses tambores;
Edifícios de contenção; um edifício de contenção é completamente fechado e não entra em contato com nenhum outro edifício ou estrutura. Em outras palavras, é um edifício livre, com quatro paredes, um assoalho e um teto. Os resíduos perigosos que não tiverem sido colocados em um recipiente lacrado são levados para esses edifícios;
Lagunagens de superfície; uma lagunagem de superfície é uma estrutura interna, no chão – uma depressão no chão natural ou feita pelo homem. Qualquer lagunagem de superfície deve ser revestida com plástico pesado, para que os resíduos perigosos não vazem para o chão.
Tanques; tanques são estruturas não portáteis que podem ser feitos de concreto, aço, fibra de vidro ou plástico. Os tanques podem ser abertos na parte superior ou completamente fechados. Os materiais que emitem gases não são armazenados em tanques abertos;
Pilhas de resíduos; as pilhas de resíduos são montes de resíduos perigosos no nível do chão. Elas são completamente abertas e revestidas, por baixo, com materiais impenetráveis, de modo que os resíduos não entrem em contato com o solo para não contaminarem a superfície ou a água. Materiais que emitem fumaças tóxicas não podem ser armazenados em pilhas de resíduos.
Durante o armazenamento, qualquer falha na contenção adequada pode ser desastrosa. Um recipiente ou edifício inadequadamente lacrado pode deixar vazar gases tóxicos, que podem não apenas contaminar o ar e fazer as pessoas ficarem doentes, mas também se infiltrar em outro recipiente de armazenamento ou entrar em contato com uma lagunagem de superfície ou pilha de resíduos e reagir com outra substância, provocando uma explosão. É por isso que resíduos incompatíveis – resíduos que passarão por uma reação química se entrarem em contato com outro – devem ser armazenados longe o suficiente para tornar o contato improvável ou impossível. As regulamentações também afirmam que toda estrutura de armazenamento deve ser claramente marcada com a substância que contém, para evitar misturas no posicionamento, tratamento, manipulação e atrasos na determinação do que exatamente escapou para o ar ou solo se ocorrer um acidente.
O armazenamento em uma usina de resíduos perigosos é sempre temporário. Depois que a usina tratar o resíduo (o que pode ocorrer durante o armazenamento ou depois dele) para torná-lo menos perigoso e/ou menor em volume, ela o transportará para uma instalação de descarte, que pode ser um aterro protegido, um poço de injeção subterrâneo ou um compartimento de superfície criado para manipular materiais perigosos. (ciencia.hsw)

Responsabilidade dos Resíduos Sólidos

Responsabilidade Compartilhada dos Resíduos Sólidos
A Lei 12.305/2010 que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos que deve ser implementado de modo individual e encadeado abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana.
Os objetivos são compatibilizar os interesses entre os agentes econômicos e sociais e a gestão empresarial e de mercados com a gestão ambiental de estratégias sustentáveis, promover o aproveitamento dos resíduos sólidos, utilizando-os novamente nas cadeias produtivas, reduzir a geração de resíduos, o desperdício de materiais e os danos ambientais, incentivar o uso de insumos menos agressivos ao meio ambiente, estimular o mercado, produção e consumo de produtos derivados de materiais reciclados, a eficiência e a sustentabilidade e incentivar práticas socioambientais responsáveis.
As responsabilidades dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, além das estabelecidas nos respectivos planos de gerenciamento, abrangem o desenvolvimento, fabricação e comercialização de produtos que depois de utilizados pelos consumidores sejam apropriados para a reutilização, reciclagem ou destinação ambiental adequada, nos processos de produção e uso gerem a menor quantidade possível de resíduos, a divulgação de informações sobre como evitar, reciclar e eliminar os resíduos associados aos produtos, recolhimento e destinação adequada dos produtos objeto de logística reversa e participação nas ações previstas em acordos setoriais e termos de compromisso.
As embalagens devem ser fabricadas com materiais que facilitem a reutilização e a reciclagem, restringindo o volume e o peso às necessidades de proteção e comercialização dos produtos, projetadas de forma a serem reutilizadas de maneira técnica viável e compatível com as exigências aplicáveis aos conteúdos ou recicladas, sendo responsáveis neste caso os fornecedores de materiais, fabricantes e responsáveis pela circulação das embalagens.
A implantação de sistemas de logística reversa, com retorno dos produtos utilizados pelos consumidores de modo independente dos serviços públicos de manejo dos resíduos sólidos é obrigatória para agrotóxicos com seus resíduos e embalagens, produtos perigosos em acordo às regras dos sistemas de vigilância sanitária e sanidade agropecuária e outras aplicáveis, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens, lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e luz mista, produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Em acordos setoriais e termos de compromisso, a logística reversa pode ser estendida a produtos comercializados em embalagens de plástico, metal ou vidro ou outros produtos e embalagens, considerados os impactos à saúde pública e ao meio ambiente.
Os acordos setoriais e termos de compromissos podem ter abrangência nacional, regional, estadual ou municipal, sendo que os de menor abrangência geográfica podem ampliar, mas não diminuir as exigências. Sempre que estabelecidos sistemas de coleta seletiva, os consumidores são obrigados a acondicionar de modo correto e diferenciado os resíduos, disponibilizando-os adequadamente para coleta ou devolução. Os poderes públicos podem instituir incentivos econômicos para os consumidores que participam dos sistemas de coleta seletiva através de leis municipais.
Os titulares dos serviços públicos podem adotar procedimentos para reaproveitamento dos resíduos reutilizáveis/recicláveis originados dos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, estabelecer sistemas de coleta seletiva, articular com os agentes econômicos e sociais o retorno aos ciclos produtivos dos resíduos originados dos serviços de limpeza urbana, realizar ações de responsabilidade dos geradores com remuneração adequada estabelecidas em acordos setoriais ou termos de compromissos. A implantação de sistemas de compostagem dos resíduos sólidos orgânicos, articulando com a sociedade formas de utilização do composto produzido e a disponibilização ambiental adequada os resíduos e rejeitos dos serviços públicos de limpeza também são responsabilidades dos poderes públicos. (EcoDebate)

Tráfico de lixo eletrônico

Tráfico de lixo eletrônico de países ricos para os pobres aumenta para evitar reciclagem
Cresce o tráfico de lixo eletrônico de países ricos para os pobres – Em 24 de março de 2009, o cargueiro King Basil, com bandeira de Malta, sai do porto de Vigo. Zarpa às 8h20 e quatro dias depois chega a Algeciras. São 10h25 de 28 de março quando, segundo o registro do porto, descarrega o contêiner POCU4012090. Sua carga: 10.380 quilos de resíduos, cerca de 2 mil compressores de geladeiras velhos, ainda com o óleo poluente e gás com alto poder de aquecimento. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a origem era a fábrica da Cespa, a filial do meio ambiente da Ferrovial, na Galícia. E o destino Português Kasim, o segundo porto do Paquistão, para ser desmontado e se recuperar o metal, operação mais rentável do que extrair previamente o gás e o óleo e tratá-los separadamente, o que é obrigatório na Europa.
Na imagem da Cespa predomina o verde. A filial da Ferrovial se dedica “à prestação de serviços ambientais e à gestão e tratamento de resíduos”. Em Cerceda (A Coruña) tem uma usina de reciclagem de resíduos eletrônicos. Por lei, desde 2005 qualquer aparelho que tenha uma pilha ou uma tomada deve ser tratado: eliminando os materiais perigosos (gases, óleos, metais pesados…) para se utilizar o metal (ferro, aço, cobre…).
A Ferrovial se afasta do caso e não se explica como acabaram ali esses compressores sem descontaminar: “O contêiner é propriedade de uma companhia paquistanesa que reutiliza os compressores dos frigoríficos para repará-los e vendê-los para particulares em seu país de origem, como infladores de pneus de bicicleta e ciclomotores domésticos. A venda dos compressores para essa companhia havia se realizado com todas as autorizações pertinentes e estando já despoluídos (sem gases nem óleos)”. A empresa afirma que não sabe como o óleo apareceu nos compressores, e que não é sua responsabilidade.
O site da empresa que comprou a carga, a paquistanesa Schion International, é o contrário do da Cespa. “O ferro-velho é um trabalho sujo, mas alguém tem de fazê-lo”, é seu lema. A cor que predomina é o marrom. Assim são os resíduos: verdes na Europa e marrons nos países em desenvolvimento.
Noaman Alam, diretor da firma, mostra como prova uma mensagem eletrônica de um responsável da Cespa, na qual explica que estão fazendo o possível para recuperar o contêiner e que foi o governo que os impediu de exportá-lo por estar contaminado. “Pagamos 10 mil euros pelos compressores e continuam no porto de Algeciras. Que país é esse?”, queixa-se Alam.
É um dos poucos casos em que a alfândega espanhola deteve um contêiner de resíduos tóxicos para países em desenvolvimento, prática crescente segundo admitem o governo, o setor e a promotoria de Meio Ambiente, que abriu uma grande investigação contra uma fraude maciça nesse tipo de reciclagem.
O contêiner foi retido durante uma operação da Organização Mundial de Aduanas em 65 países. Allen Bruford, coordenador do projeto, explica por telefone: “O tráfico de resíduos para países em desenvolvimento é um fenômeno global e cremos que crescente. Holanda e Bélgica são os países que mais detectam, mas porque têm equipamentos especializados”.
Na operação na Espanha colaboraram cinco portos: Vigo, Algeciras, Valência, Barcelona e Bilbao, e só em alguns dias apareceu um contêiner. E o que acontece no resto do ano? Que procuram pouco, que muitas vezes esses carregamentos de ferro-velho (computadores ou geladeiras) vão camuflados como aparelhos para venda de segunda-mão. Em dezembro de 2010 em Valência foi detido um contêiner com 1.050 monitores de televisão com destino à China, segundo fontes conhecedoras da operação. Isso é tudo. As Alfândegas, do Ministério da Fazenda, admitem que “nem sempre é clara a linha de separação” entre resíduos e aparelhos de segunda-mão.
Que há mais exportações ninguém duvida, porque as contas não fecham. Em 2009 foram colocados no mercado espanhol 702 mil toneladas de produtos eletrônicos e elétricos, mas só se trataram 124.987 (17%). Nem tudo o que se vende em um ano deve ser reciclado nesse exercício (os produtos duram vários anos). No entanto, a grande diferença entre o reciclado e o que se vende dá ideia de que algo acontece. Muitas geladeiras e televisores acabam em ferros-velhos ilegais, há roubos nos pontos de coleta das prefeituras… Sim, mas mesmo assim algo deve estar saindo para o exterior.
Quatro responsáveis por usinas de tratamento de resíduos contam que recebem periodicamente telefonemas de empresas de Marrocos, China, Índia, Gana, Gâmbia… para comprar o lixo. Ramón Altadill, responsável pela Electrorecycling, uma usina em Barcelona, explica que no estrangeiro há intermediários que se interessam por comprar os resíduos, e lembra um caso ilustrativo: “Nos telefonaram porque os salesianos tinham recebido como doação para a Bolívia um contêiner com material de informática. Quando vimos, eram caixas registradoras velhas, leitores de códigos de barras… quase tudo imprestável. Tinha valor como ferro-velho, mas na Bolívia só ia servir para poluir. Os desmontamos aqui”. Outras doações chegaram a seu destino.
“Uma vergonha para a Europa”
A secretária espanhola de Estado de Mudança Climática, Teresa Ribera, admite que há um problema na reciclagem de produtos eletrônicos: “Uma das maiores vergonhas da Europa é ver como o lixo eletrônico aparece desmontado ou abandonado nas áreas mais pobres do mundo. Isso gera problemas de saúde e de meio ambiente”. Ribera aceita que há “uma margem de melhora notável na reciclagem. É patético que em Gana haja cemitérios de lixo eletrônico. Não sei se a origem é a Espanha, Holanda ou França. O que está claro é que não saiu de Accra”.
Seguir o rastro desses materiais não é fácil. Na UE circulam livremente, por isso o que se intercepta em Roterdã procede de qualquer parte. A Agência Europeia de Meio Ambiente admite que há material eletrônico que será vendido em países pobres, mas que em alguns casos o preço da mercadoria é tão baixo que só pode ser um resíduo camuflado.
A Espanha ratificou um convênio internacional de 1992 que proíbe exportar resíduos perigosos, mas na prática quase não tinha ferramentas para cumpri-lo. Até dezembro passado o Código Penal não citava expressamente o tráfico de resíduos. A reforma de 2010 pune com até dois anos de prisão quem “em contravenção das leis transferir uma quantidade importante de resíduos”. (EcoDebate)

Amazônia – tempestades e lixo

Amazônia – tempestades, lixo e a mudança de hábito
Todo período de chuva é igual na capital paraense. Os canais da cidade transbordam e inundam ruas. A água leva para dentro de centenas de casas lixo, animais como insetos, ratos e cobras, além da possibilidade do contágio por doenças. Meteorologistas apontam que hoje chove mais na Amazônia em comparação há 100 anos. Mas as mudanças climáticas não são a única justificativa do transtorno que o excesso de água causa em várias cidades amazônicas. O lixo é um dos principais causadores das enchentes.
Uma pesquisa realizada pelo Fantástico, programa da Rede Globo, identificou Belém como a terceira capital mais suja do Brasil, perdendo apenas para Fortaleza e Salvador, que ficou em primeiro lugar. O Rio de Janeiro ocupa a quarta posição no ranking. “O lixo continua sendo o principal causador das enchentes. Ele impede o escoamento da água da chuva. No futuro, as cidades ficarão inundadas por mais tempo”, anuncia o meteorologista e coordenador do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet – Segundo Distrito), José Raimundo Souza.
As cidades ficam mais tempo debaixo d’ água porque também, hoje, o índice pluviométrico aumentou. De 1900 até o ano passado, choveu mais de 500 mm, ou seja, 30% a 40 % a mais em comparação há 100 anos. “As chuvas se intensificaram por causa do aumento da temperatura. Está 0,7ºC, 0,8ºC mais quente”, aponta o meteorologista. O calor intensifica a evaporação (das águas) dos rios e baia formando nuvens, fato que justifica a ocorrência das tempestades em Belém. As interferências do homem na natureza também provocaram a mudança do horário da chuva que, das tradicionais duas horas da tarde, mudo para as quatro da tarde. De acordo com o meteorologista, até julho o belenense conviverá com chuvas intensas.
José Raimundo Souza acredita que o homem interfere muito pouco no aquecimento do planeta. Segundo ele, o aumento de CO2 na atmosfera é um processo natural. Há um século, quando a atividade industrial e o número de automóveis era menor em comparação a hoje, a concentração do gás poluente na atmosfera era muito próxima à atual. Na opinião dele, o aquecimento global é uma resposta natural do planeta. “É discutível que o aquecimento global tenha interferência do homem. Até 1980, não existia desmatamento grande. Emissão de gases poluentes, desmatamento não contribuem para o aquecimento do planeta”, justifica.
Mas a população de Belém contribui para a reincidência das enchentes ao não se preocupar com o destino do lixo. Qualquer lixo que seja jogado na rua, o destino dele é se tornar um entrave para o fluxo da água pelas áreas de escoamento. A Prefeitura Municipal de Benevides se preocupou com o destino das garrafas descartáveis de refrigerantes e organizou uma campanha de arrecadação no município.
Estudantes de todas as escolas de Benevides e a comunidade se mobilizaram para arrecadar garrafas pet. A matéria prima é utilizada anualmente na confecção da decoração natalina da cidade. No último Natal, cerca de um milhão de garrafas viraram arranjos de flores, guirlandas, pinheiros, bengalas, estrelas e até um presépio. Os enfeites são confeccionados na Fábrica dos Sonhos, um galpão onde trabalharam 150 pessoas contratadas pela prefeitura. Além de reaproveitar o material tradicionalmente jogado fora, a atitude ecologicamente correta também gera emprego e renda.
Os funcionários, na maioria mulheres, aprenderam a técnica com decoradores responsáveis pela decoração natalina de Gramado, no Rio Grande do Sul. Anualmente, desde junho os artesãos da Fábrica dos Sonhos participam de mini cursos mensais sobre a confecção dos arranjos. Membro da coordenação, Izi Noronha disse que a população local já se mostra mais preocupada com o destino do lixo. “A conscientização do município aumentou bastante (desde o evento realizado em 2009, primeiro ano da iniciativa)”, avalia. Para o artesão Rafael Silva, 19 anos, além de fonte de renda extra, o trabalho é uma forma de contribuir para a preservação do meio ambiente. “Além de me ajudar, ajuda o meio ambiente e eu fico muito orgulhoso com a decoração da cidade”, disse.
A ação da prefeitura também contribui para a arrecadação de receita do município. No último Natal, foram cerca de 200 mil turistas que visitaram Benevides para conhecer a decoração natalina que contou também com programação cultural. Um coral e o desfile do Papai Noel realizado durante o mês que a decoração enfeitou a cidade. Um público convidativo para os moradores da Benevides que se esmeram na preparação de comidas e bebidas comercializadas, além dos brindes e produtos natalinos. A mesma proposta de um natal ecologicamente correto foi adotada pela Prefeitura Municipal de Belém que também incluiu os distritos de Outeiro, Icoaraci e Mosqueiro.
Cada vez mais é maior o número de pessoas preocupadas com hábitos ecologicamente corretos. Em vários pontos de Belém a sociedade civil se organiza para separar o lixo, reciclar e reaproveitar os materiais descartados. A aposentada Antonieta Campos da Silva de 82 anos separa o lixo em casa há pelo menos cinco anos. “Não custa nada fazer uma boa ação que dura poucos minutos. Tem gente que sobrevive da venda de latas e papelão”, diz.
Na casa do engenheiro civil Marcus Vinícius Neto, 45 anos, a utilização de energia solar para aquecer a água do chuveiro demonstra a preocupação com o meio ambiente. “A caixa d’água recebeu a cobertura de uma capa térmica que aquece com a luz solar. O engenheiro também planta vegetais no quintal para a alimentação da família. “Planto o que for possível, mesmo sem muito espaço reservei uma área para plantar temperos e algumas verduras, reutilizo a água da chuva para irrigar”, diz.
Para Marcus, a soma das condutas ecologicamente corretas beneficia o meio ambiente. Segundo ele, o consumo sustentável também é uma forma de poupar os recursos naturais. “Se cada um fizer sua parte todos contribuiremos para a melhoria da qualidade de vida no nosso planeta, mas infelizmente não basta só ter força de vontade Existem diversas formas de contribuirmos para o desenvolvimento sustentável, mas infelizmente ainda não temos o apoio necessário para isso. Além dos custos altos de materiais como placas de energia solar, é difícil separarmos o lixo em casa quando ainda não existe coleta seletiva no nosso bairro. E também é importante investir na educação”.
As amigas Luciana Bezerra, Alina Gomes e Diana Leão são fundadoras de um grupo de voluntários que realiza mutirões de limpeza em Belém. Quando morava na Alemanha, Diana Leão participou de um ato de limpeza coletiva em uma praia do país. Adolescentes e jovens tiraram um dia de folga para livrar a areia branca de madeira, vidros, plásticos e de objetos que foram levados para lá pela correnteza. Lixo que veio de várias cidades litorâneas da Europa.
O exemplo ela trouxe para Belém nas últimas férias. A estudante de design convidou voluntários pela internet. Cerca de 20 pessoas limparam um terreno baldio no bairro da cremação. “Aquele terreno fica no caminho da faculdade. Passei várias vezes por ali e me incomodei. Pensei ‘não vou esperar a prefeitura para fazer algo’. Foi então que tive a ideia do mutirão”, lembra. (EcoDebate)

Planos Estaduais de Resíduos Sólidos

Os planos estaduais de resíduos sólidos são fundamentais para que os Estados tenham acesso a recursos administrados ou financiados pela União ou suas entidades de créditos destinados a empreendimentos e serviços de gestão dos resíduos sólidos. A prioridade no acesso aos recursos federais será dos estados que estabelecerem planos microrregionais de resíduos em suas regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas. Estas microrregiões abrangem ações como coleta seletiva, reciclagem e recuperação, tratamento e destinação final, resíduos da construção civil, transporte, saúde, agropecuária e outros específicos dos municípios integrados.
Os planos estaduais têm vigência indeterminada, devem abranger todo o território do respectivo estado, horizonte de vinte anos e atualização cada quatro anos. Como o plano nacional deve observar conteúdos mínimos: realização de diagnóstico e identificação dos fluxos de resíduos, seus impactos sociais, econômicos e ambientais, a proposição de cenários, metas de redução, reutilização e reciclagem entre outras que reduzam a quantidade de rejeitos, metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de disposição final e para a eliminação dos lixões associadas à inclusão e emancipação econômica dos trabalhadores (catadores) de materiais recicláveis e reutilizáveis, programas, projetos e ações para a realização dos objetivos estabelecidos.
As condições para o acesso a recursos estaduais destinados a programas e ações de interesse dos resíduos sólidos, as diretrizes para a disposição final adequada dos rejeitos, medidas que incentivem a gestão consorciada ou compartilhada, previsão conforme os demais instrumentos de planejamento, principalmente o zoneamento ecológico-econômico e o zoneamento costeiro das áreas favoráveis à localização das unidades de tratamento e disposição final dos rejeitos e áreas degradadas por disposição inadequada de resíduos que necessitam de recuperação ambiental são parte dos planos estaduais.
O controle e fiscalização estaduais, sua implementação e operacionalização devem assegurar a participação social. A elaboração e implantação dos planos de resíduos sólidos microrregionais, das regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas terão obrigatoriamente a participação dos municípios envolvidos e não excluem ou substituem as prerrogativas individuais de cada município. (EcoDebate)

Brasil e a reciclagem de resíduos

Brasil tem grande potencial de reciclagem de resíduos, avalia diretor do Ministério do Meio Ambiente
O Brasil tem grande potencial de reciclagem de resíduos sólidos como vidros, papel, embalagens, alumínios e outros, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos, criada em agosto do ano passado pela Lei 12.305, “veio para dinamizar a coleta desses materiais e viabilizar sua reutilização”, afirmou o diretor de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Silvano Silvério da Costa.
Além do potencial de reciclagem, ele destacou que a lei criou um artifício muito importante, denominado logística reversa, para reaproveitamento dos produtos utilizados. É, na verdade, o “caminho de volta” de baterias, eletroeletrônicos, embalagens, agrotóxicos, óleos lubrificantes e tudo o mais que possa prejudicar a saúde humana deve ser devolvido pelo consumidor ao comerciante, e deste até a origem para o devido encaminhamento à reciclagem.
Com isso, a responsabilidade atual de coleta, que é só do Poder Público municipal, passa a ser compartilhada com o fabricante, distribuidor, comerciante e usuário. Depois que o modelo for devidamente implantado, com previsão para agosto de 2014, Costa lembra que o município será obrigado a fazer a coleta seletiva e mandar para o aterro sanitário só o que não for passível de reciclagem ou reutilização – o chamado rejeito.
Segundo ele, de 30% a 37% do lixo constituem resíduo seco que pode ser reutilizado, em torno de 55% são resíduos úmidos, aí incluído o material orgânico, sobrando, portanto, de 8% a 10% de rejeito. “É só o material sem possibilidade de reaproveitamento que o município enviará para o aterro sanitário, o que vai reduzir em muito os lixões Brasil afora”, disse.
Ele salientou que a lei também cria a obrigatoriedade de o município se adequar à sistemática de coleta seletiva, pois determina que os municípios que não o fizerem, até agosto de 2014, deixarão de receber repasses de verbas do governo federal. Essa obrigação aumenta os desafios para as pequenas e médias cidades que ainda usam lixões a céu aberto por não disporem de recursos financeiros nem capacidade técnica para a gestão adequada dos serviços. Para esses casos, Costa afirma que os municípios mais pobres podem viabilizar autarquias regionais, com interveniência dos governos estaduais. (EcoDebate)

Plano Nacional de Resíduos Sólidos

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos previsto na Lei 12.305/2010 deve ser apresentado até o dia 21 de junho de 2011, devendo ser elaborado e avaliado pelo Comitê Interministerial da PNRS composto por dez Ministérios (Meio Ambiente, Cidades, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Saúde, Minas e Energia, Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior, Agricultura, Ciência e Tecnologia), Casa Civil e Secretaria de Relações Institucionais, sob coordenação do Ministério do Meio Ambiente.
Esta proposta deve ser submetida à consulta pública por ao menos sessenta dias após sua divulgação, devendo ser realizada no mínimo uma audiência pública em cada região geográfica do país e uma audiência pública nacional no Distrito Federal. As contribuições provenientes destas audiências devem ser incorporadas à proposta original para avaliação dos Conselhos Nacionais de Meio Ambiente, Cidades, Recursos Hídricos, Saúde e Política Agrícola.
A vigência do Plano Nacional de Resíduos Sólidos é indeterminada, com horizonte de vinte anos e atualização cada quatro anos, devendo observar alguns conteúdos mínimos como a realização de um diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos no país, proposição de cenários e análise das tendências internacionais e macroeconômicas, metas de redução, reciclagem, reutilização e outras que reduzam a quantidade de rejeitos, metas para aproveitamento energético de gases gerados nas unidades de disposição final e programas, projetos e ações para o atendimento dos objetivos propostos. A eliminação dos lixões associadas à inclusão social e emancipação econômica dos trabalhadores (catadores) de materiais recicláveis e reutilizáveis deve estar prevista.
Devem estar especificadas as condições para acesso a recursos da União ou administrados por entidades federais destinados a programas e ações de interesse dos resíduos sólidos, bem como medidas que incentivem e viabilizem a gestão regionalizada destes resíduos. Para as áreas turísticas de interesse especial e as regiões integradas de desenvolvimento (instituídas por leis complementares) as diretrizes para o planejamento e gestão adequada de seus resíduos também está prevista. A disposição final dos rejeitos terá normas e diretrizes claras e o controle e fiscalização em caráter nacional, sua implantação e operacionalização devem assegurar a participação social.
O Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos, responsável pela elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos foi empossado em 17 de março de 2011, no Ministério do Meio Ambiente em Brasília. Foi elaborado um plano de trabalho até novembro 2011 e definidos os grupos temáticos. A Ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira afirmou: “Temos quatro anos para montar um novo quadro para os resíduos sólidos em nosso país”. (EcoDebate)

Pescadores ajudam a limpar o mar

Espanha: Pescadores podem ajudar a limpar o mar do plástico
Moisés Erades Sart, líder da associação de pescadores de Xabia (Alicante), não tem dúvidas. Ele é um firme defensor de que as embarcações de arraste ou artesanais também possam recolher os plásticos e o lixo que são abundantes entre os cabos Santo António e la Nao, uma encruzilhada de travessias náuticas no Mediterrâneo oriental.
Os pescadores de Xabia, cerca de cem, reuniram-se há alguns dias e deram pleno apoio à ideia dada recentemente pela comissária de Pesca da União Europeia, Maria Damanaki. Ela sugeriu que os barcos de pesca também capturem os plásticos e dejetos que ameaçam a vida marinha; Bruxelas quer que, nas épocas de inatividade (nos períodos de proibição), os pescadores sejam encarregados de limpar o mar dos resíduos e levá-los para reciclar. Reportagem de Antonio Cerrillo, La Vanguardia.
“A ideia da comissária de Pesca nos parece muito boa, porque nos ajudaria a enfrentar a crise econômica”, explica Moisés Erades, que se estende ao relatar a série de dejetos que costuma encontrar ao tirar suas redes de pesca da água. “Perto da costa, na primeira linha do mar, encontra-se de tudo; mas mar adentro também é comum encontrar plásticos, latas e até galões, porque estamos numa rota muito transitada, tanto pelos navios mercantes como pelo turismo náutico”, afirma.
Erades e seus companheiros de Alicante pescam merluza, salmonete e polvo, mas também mariscos, camarão e lagostim. E não é estranho que, em algumas ocasiões, algumas redes tenham de ser jogadas fora ao emergirem cheias de piche ou graxa.
O ponto de vista da comissária europeia conta com o apoio incondicional de muitos pescadores andaluzes, que consideram que assim será possível consolidar o intervalo biológico, muito necessário para recuperar o estoque pesqueiro super-explorado. “Dessa forma, os lugares de pesca poderão descansar, o que facilitaria a reprodução e nos renderia um salário”, disse María del Carmen Navas Guerrero, líder da associação de pescadores de Vélez-Málaga.
A super-exploração afeta os barcos de arraste (polvo, pacamão, camarões, sibas) e de cerco (sardinhas, boqueirões), até o ponto em que a associação fixou limites próprios “para dar trégua às espécies e fazer com que tenham mais valor”.
O mesmo apoio é expresso por Eusebi Esgleas, presidente da Federação Catalã de Associações de Pescadores, para quem a proposta comunitária permitiria “cuidar do meio ambiente e ao mesmo tempo ajudar os pescadores”. “As pequenas embarcações de pesca artesanais podem ser uma boa solução para ter praias limpas no verão, agora que as lixeiras deixaram de funcionar”, afirma.
Na opinião de Esgleas, as subvenções que receberão não devem ser para compensar o recolhimento de plásticos, algo que já fazem de forma habitual e rotineira quando fazem a seleção da pesca, mas para pagar pela limpeza de áreas marinhas extensas e bem delimitadas onde o lixo se concentra (plásticos, dejetos, além de troncos e outros detritos) arrastados pelas correntes que eles conhecem tão bem.
“A medida nos parece muito acertada e, além disso, equilibraria a economia do setor pesqueiro”, diz Miquel Illa, chefe da associação de pescadores de Vilanova i la Geltrú. Illa acha necessário limpar além da primeira linha marítima. “Há plásticos por toda parte. Inclusive nas áreas mais profundas, onde pescamos camarões”, diz ele.
Em Vilanova i la Geltrú há 230 pescadores e 76 barcos. Entretanto, a iniciativa de Bruxelas não foi acolhida exatamente com alvoroço pelo Ministério do Meio Ambiente e Meio Rural e Marinho. A secretaria geral do mar realizará reuniões com as organizações de pescadores, onde a questão será abordada “a partir do diálogo e o consenso com o setor pesqueiro”, afirma um porta-voz ministerial.
Neste ponto, o governo não dará um passo sem o consentimento dos pescadores. “O governo espanhol não se define claramente sobre esta ideia, porque ainda não ficou claro de onde sairá o dinheiro”, diz Moisés Erades. Os fundos europeus de pesca preveem subvenções para ações coletivas dos pescadores se forem de interesse social geral. E, de fato, a secretaria geral do mar já colocou em andamento em 2009, na Galícia, um projeto (em colaboração com o Centro Tecnológico do Mar da Galícia) para estudar o reaproveitamento dos resíduos sólidos (não só plásticos) que forem recuperados do mar e nos trabalhos da pesca.
Para poder avançar mais nessa linha, o passo seguinte deveria ser detectar as áreas com uma acumulação de resíduo mais intensa, segundo indica a secretária geral do mar. Mercè Sanmartí, diretora de Pesca da Generalitat, mostra-se cética com o propósito da comissária europeia: e, ainda que admita os benefícios iniciais desse projeto, diz que não foi demonstrada a relação entre custo e eficácia. “Estamos em crise, e deve-se avaliar previamente se o custo de sair recolhendo plástico no mar não será muito grande, tendo em vista o alto preço do combustível, do diesel e do trabalho”, afirma.
A atividade exigiria instalar contêineres nos portos e facilitar as medidas para entregar e reciclar os plásticos. O Greenpeace rejeitou sem rodeios a pesca de lixo por entender que ela confunde dois problemas que deveriam ter soluções diferenciadas. “Para começar, os plásticos não deveriam ficar no mar. Mas, além disso, o que é preciso fazer é uma boa gestão da pesca, mais social e sustentável. Os pescadores não podem se dedicar à gestão dos resíduos, mas sim a fazer uma pesca responsável”, disse Celia Ojeda, porta-voz da organização.
As iniciativas para ampliar o horizonte da atividade pesqueira são várias. A França colocou em andamento em 2008 os contratos azuis, com os quais subvencionaram ações para recolher utensílios de pesca perdidos e outros resíduos em colaboração com os pescadores. Na Espanha, introduziram-se planos para fomentar o ecoturismo de pesca. Alguns pescadores oferecem a possibilidade de passar um dia no mar e conhecer a vida marinha e seus costumes. Entretanto, as medidas estritas de segurança no mar exigidas pelo Ministério de Fomento bloquearam por enquanto a sua implantação, dizem os pescadores.
O que contamina os mares?
Plataformas e navios petroleiros
 As plataformas petroleiras e os grandes navios que transportam o petróleo são um dos focos de contaminação dos mares. O golfo do México é a região do mundo onde houve mais vazamentos de barcos e plataformas. O Mediterrâneo está em terceiro lugar na lista, atrás do noroeste dos EUA, mas à frente do Golfo Pérsico e do mar do Norte.
Águas residuais
Mais de 35 municípios espanhóis estão muito atrasados no tratamento das águas residuais, que são jogadas com muita contaminação no mar, segundo uma condenação recente do Tribunal de Luxemburgo contra a Espanha. Entre outras regiões, sobressaem-se Estepona, Barbate, Alhaurín el Grande, Chipiona, Nerja, Tarifa, Gijón-Este, Llanes, Ceuta, Noia, Benicarló, Arenys de Mar, Pineda de Mar, Elx, Vinaròs, A Coruña, Vigo, Peñiscola, Bayona, Santiago Hondarribia.
Vertedores no mar
O mar recebe a cada dia cerca de 7.100 toneladas de petróleo e derivados procedentes dos vertedores de resíduos de veículos e indústrias que chegam ao mar através do esgoto.
Barcos de recreio
Derramam centenas de toneladas de resíduos. Os navios são obrigados a entregar seus resíduos oleosos em instalações de recepção autorizadas no porto. (EcoDebate)

A vida sem sacolas plásticas

A vida sem sacolas plásticas
Proibição da distribuição e da venda de sacolinhas no comércio da cidade de São Paulo impõe mudança de hábitos; entre as alternativas estão sacolas retornáveis e caixas de papelão.
A lei que proíbe a distribuição e a venda de sacolas plásticas no comércio de São Paulo, aprovada pela Câmara Municipal na semana passada e logo sancionada pelo prefeito Gilberto Kassab (PSB), pôs os consumidores em uma encruzilhada. Se por um lado a retirada de circulação das sacolas traz benefícios, como a redução dos entupimentos em bueiros e do plástico descartado no ambiente, por outro impõe ao paulistano dilemas cotidianos. Como transportar as compras? E se não houver uma sacola retornável à mão? E o lixo doméstico, como descartar?
Para Eduardo Jorge, secretário do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, é questão de hábito. "O que está sendo questionado com a lei é o uso excessivo das sacolas descartáveis. As cidades que já adotaram leis semelhantes, como Jundiaí e Belo Horizonte, mostram que o comércio soube se adaptar e a população aceitou a medida" diz Jorge.
Grandes redes do varejo se preparam para atender ao consumidor. No Grupo Pão de Açúcar, que engloba as redes Extra e CompreBem, os consumidores poderão adquirir sacolas retornáveis - os preços variam de R$ 2,99 a R$ 9,90 - ou solicitar aos funcionários caixas de papelão para transportar as compras.
Ligia Korkes, gerente de sustentabilidade do grupo, diz que a demanda por caixas de papelão gratuitas pode ser maior que a quantidade de embalagens disponíveis. "Pode faltar caixa e vamos avisar os consumidores."
Fora da capital, a rede também venderá sacolas biodegradáveis, feitas com amido de milho, a R$ 0,20 a unidade. Mais rígida, a lei paulistana não permite a comercialização de nenhum tipo de sacola plástica.
Experiências
Nove meses após o acordo com os supermercados que previa a extinção das sacolinhas plásticas, Jundiaí comemora a redução do envio para o aterro sanitário de 80 toneladas de plástico por mês, o que representa 720 toneladas no período. Os cálculos são da Associação Paulista de Supermercados. A adesão foi de 99% dos supermercados, que deixaram de distribuir 176 milhões de sacolas.
Agora, a cidade se prepara para estender a restrição à distribuição das sacolas para outros segmentos do comércio. Pesquisas locais apontam que 75% da população aprovou a medida.
No Estado do Rio, a legislação que estimula a redução do uso de sacolas plásticas, fiscalizada desde julho de 2010, não atingiu a eficácia esperada entre os consumidores, de acordo com balanço da Secretaria do Meio Ambiente. Cerca de 70% das lojas de grande porte cumprem a lei, mas a maior parte dos estabelecimentos deixa de oferecer o desconto de R$ 0,03 a cada cinco itens a quem não utilizar as embalagens.
Mais branda que a lei paulistana, pois apenas estimula a substituição de sacolas comuns por embalagens reutilizáveis, o texto aprovado na Assembleia Legislativa do Rio em 2009 obriga os estabelecimentos a oferecer os descontos, vender embalagens mais resistentes e estabelece a troca de 50 sacolas plásticas por 1 kg de arroz ou feijão.
"Houve redução significativa do número de sacolas plásticas utilizadas, mas esperamos mais. A eficácia da lei poderia ser maior se a população se conscientizasse e exigisse o desconto em vez de utilizar a embalagem comum", diz José Padrone, da coordenadoria de combate a crimes ambientais da Secretaria do Ambiente.
Perguntas e respostas
1. Como transportar as compras, já que as sacolas plásticas agora estão proibidas em São Paulo?
Antes de ir às compras, consumidor terá de se programar e levar uma sacola retornável, que pode ser feita de lona, plástico, tecido ou qualquer outro material. Outra opção será levar um carrinho de feira; carregar uma mochila para transportar as compras ou pedir, nos supermercados, que as compras sejam acondicionadas em caixas de papelão. Se estiver de carro, o consumidor pode levar os itens até o porta-malas do veículo no próprio carrinho do supermercado.
2. E se o consumidor estiver desprevenido, sem uma sacola retornável à mão?
Nesse ponto, a lei aprovada em São Paulo restringe as opções dos consumidores, que não poderão comprar sacolas descartáveis, como ocorre em outras cidades. A opção será comprar uma sacola retornável (há modelos a partir de R$ 2,99 nas lojas do Pão de Açúcar, por exemplo), pedir a caixa de papelão ou transportar os itens na própria bolsa ou mochila que estiver carregando.
3. A restrição às sacolas plásticas é válida também para feiras livres?
Alimentos vendidos a granel, como é o caso de hortifrútis comercializados em feiras livres e supermercados, poderão continuar sendo embalados em sacos plásticos descartáveis. O mesmo vale para alimentos que podem verter água - como carnes, peixes, laticínios -, que podem ser embalados com sacolas descartáveis.
4. A lei proíbe também sacolas descartáveis de papel?
Não, a lei aprovada em São Paulo proíbe sacolas de plástico. Não há qualquer restrição em relação às sacolas de papel, mesmo que sejam descartáveis.
5. Quando a lei passa a valer?
A legislação foi publicada no Diário Oficial em 18 de maio, então ela já está vigorando. No entanto, a lei ainda precisa ser regulamentada, o que deverá ser feito até 31 de dezembro pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente de São Paulo. O comércio se prepara para banir as sacolas plásticas somente a partir do dia 1.º de janeiro de 2012.
6. A restrição às sacolas plásticas valem só para os supermercados ou contempla outros tipos de estabelecimento comercial?
A restrição vale para todo tipo de comércio - shopping centers, farmácias, lojas de roupas e calçados, etc. Lojas do comércio popular, como as da Rua 25 de Março, já estão discutindo qual solução será dada aos consumidores: só nas 3,5 mil lojas da região, estima-se que sejam utilizadas 250 mil sacolas/dia. Esses estabelecimentos poderão continuar oferecendo sacolas de papel, ou poderão oferecer sacolas reutilizáveis para venda.
7. Pesquisas apontam que 100% dos consumidores utilizam as sacolas plásticas descartáveis para colocar o lixo doméstico. Com a proibição, quais são as alternativas?
Os consumidores terão de comprar sacos específicos para descartar o lixo. Esses sacos são encontrados em supermercados e são mais resistentes, além de serem, na maior parte das vezes, feitos com plástico já reciclado. Já existem opções de sacos para acomodar o lixo feitos de plástico de matérias-primas renováveis. A empresa Embalixo, de Campinas (SP), está produzindo sacos plásticos de cana-de-açúcar para embalar o lixo. A vantagem ambiental, explica o diretor da empresa, Rafael Costa, é que, diferente do petróleo, o material absorve CO2 da atmosfera. Sai por R$ 0,14 a unidade.
Outra opção será utilizar os sacos plásticos que continuarão a ser distribuídos (como os usados para embalar alimentos a granel ou que podem verter água) para dispor o lixo produzido em casa. Há ainda consumidores que estão usando jornal velho, dobrado em uma espécie de origami, para acomodar o lixo da pia da cozinha e do banheiro.
8. Qual o custo do saco de lixo?
Cálculos feitos pelo Sindicato dos Trabalhadores Químicos e Plásticos de São Paulo e Região apontam que, com a compra dos sacos de lixo, o consumidor terá um gasto mensal extra da ordem de R$ 11.
9. Quais impactos ao meio ambiente as sacolas descartáveis podem trazer?
Feitas de petróleo, as sacolas plásticas descartáveis podem demorar até 400 anos para se decompor no meio ambiente. Descartadas de forma incorreta pela população, entopem bueiros nas ruas e prejudicam a drenagem urbana. Podem ainda acabar em rios, lagos e mares, prejudicando a vida aquática. Peixes, aves, tartarugas e baleias morrem ao ingerir as sacolas por engano. A extração e o refino do petróleo utilizado para fabricar as sacolas descartáveis também são emissores de gases de efeito estufa, que agravam o aquecimento global.
10. De que modo a proibição pode ajudar a diminuir esse impacto? É realmente necessário banir as sacolas ou uma ampla campanha de conscientização resolveria o problema?
Só na cidade de São Paulo, estima-se que sejam usadas 650 milhões de sacolas/mês. No Estado são 2,5 bilhões/mês. Esse volume deixará de ser descartado incorretamente na cidade e reduzirá o volume de lixo que vai para aterros. Na avaliação do Instituto Akatu, ONG que incentiva o consumo consciente, as duas medidas devem caminhar juntas. "A criação da lei aliada à veiculação de uma campanha tem importância política: o cidadão percebe que tem obrigações, mas não está sozinho. As empresas e o governo também as têm" diz a ONG, em nota.
PARA ENTENDER
Diferentes tipos de plástico no mercado
Reciclado: Fabricado com plásticos usados e descartados. A maioria dos sacos pretos de lixo é desse material.
Plástico de cana: O "plástico verde", feito de cana-de-açúcar, foi desenvolvido no Brasil pela petroquímica Braskem. Embora de matéria-prima renovável - ajuda a absorver carbono da atmosfera no processo de produção -, leva o mesmo tempo para se decompor que o plástico feito de petróleo.
Biodegradável ou bioplástico: Feito com matéria-prima renovável, como milho ou mandioca, decompõe-se mais rapidamente na natureza. Em até seis meses, esse tipo plástico é decomposto. Outra vantagem da matéria-prima de origem vegetal é a substituição do petróleo, que produz mais gases de efeito estufa em sua extração e refino.
Oxibiodegradável: Bastante difundido no comércio brasileiro, esse tipo de plástico é feito de petróleo e recebe um aditivo químico que acelera o processo de degradação das moléculas: o plástico pode se desfazer em 18 meses. Mas as substâncias químicas persistem no solo e na água. (OESP)

Resíduos sólidos e a geração de empregos

Política nacional de resíduos sólidos poderá gerar milhões de novos empregos
Milhões de empregos poderão ser criados nos próximos anos com a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Benefícios que podem chegar antes, caso o governo promova os incentivos fiscais e tributários para estimular os investimentos de empresas e cooperativas. A avaliação é do diretor da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP) Walter Capello Júnior.
“Apesar de sempre se mostrar interessado em dar incentivos fiscais e, também, de fazer uma diferenciação tributária para favorecer a utilização de plásticos, metais e outros materiais recicláveis, pouco tem sido feito de concreto, pelo governo, nesse sentido. E isso é fundamental para que o país consiga implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos até 2014, como pretende o governo”, disse Capello à Agência Brasil.
“Só assim os investimentos necessários serão financeiramente interessantes e só depois disso o setor poderá, de fato, agregar valores à economia nacional”, acrescentou. Segundo ele, não há estímulos tributários para o uso de materiais recicláveis.
Com experiência de 36 anos no ramo, Capello tem certeza de que a nova política de resíduos sólidos trará muitos benefícios ao país, ao meio ambiente e aos trabalhadores. “Em primeiro lugar, transformaremos os mais de 1 milhão de catadores que existem no país em agentes ambientais de reciclagem. Mas a grande vantagem virá com a criação de milhões de vagas para uma nova profissão: a de agente ambiental selecionador”, prevê o diretor da ABLP.
Ele explica que, enquanto os agentes de reciclagem têm a função de separar do lixo os materiais recicláveis, diferenciando papéis, metais, plásticos e vidros, o agente selecionador será responsável pela triagem desses materiais por categoria de uso. “São inúmeros tipos de materiais e de utilidades para cada um desses grupos”, afirma ele.
Atualmente, são produzidos por dia, de acordo com a ABLP, cerca de 180 mil toneladas de lixo urbano. Só com a coleta são gastos, em média, R$ 80 por tonelada. Já o custo do aterro é de R$ 70 por tonelada. “Ou seja, são gastos um total de R$ 150 por tonelada [de lixo], no formato atual. Dinheiro que poderia ser economizado se o país entendesse que cidade limpa é cidade que não se suja, adotando a prática de tratar o lixo na origem”, argumenta Capello.
De acordo com o diretor de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Silvano Silvério da Costa, de 30% a 37% do lixo são resíduos secos, que podem ser reutilizados, e 55% são resíduos úmidos, aí incluído o material orgânico. Sobram, portanto, de 8% a 10% de rejeito inaproveitável. “Só o rejeito inaproveitável passará a ser enviado pelo município ao aterro sanitário, o que vai reduzir em muito os lixões Brasil afora”, avalia o diretor do MMA.
Ele lembrou que a lei também obriga o município a se adequar à sistemática da coleta seletiva. As cidades que não adotarem os procedimentos de coleta seletiva até agosto de 2014 deixarão de receber verbas do governo federal.
Essa obrigação aumenta os desafios para os pequenos e médios municípios, que ainda usam lixões a céu aberto por não dispor de recursos financeiros nem capacidade técnica para a gestão adequada dos serviços. Para esses casos, Silvano Silvério lembra que os municípios mais carentes podem se unir em autarquias regionais, com interveniência dos governos estaduais.
O diretor da ABLP, por sua vez, sugerem a formação de consórcios para atuar tanto nas regiões metropolitanas como nos municípios do interior. “Os consórcios são um dos instrumentos mais importantes para se utilizar, com aterros regionais localizados estrategicamente para atender a um número maior de municípios. Mas, para isso, é preciso agregar tecnologias para, por exemplo, gerar energia a partir do lixo e atenuar o custo operacional”. (EcoDebate)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Amazônia pode virar um deserto?

A possibilidade é remota, mas alguns especialistas não descartam essa hipótese. Existem várias teorias sobre o futuro da Amazônia caso os desmatamentos não diminuam. Uma das principais teses aponta para a savanização, ou seja, a transformação da densa floresta em uma vegetação “rala”, parecida com a do cerrado brasileiro. “O solo amazônico usado em exagero para a agricultura pode dar início a esse processo”, diz Francisco Mendonça, professor de geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Uma sucessão de eventos trágicos – após alguns milhares de anos – poderia piorar ainda mais as coisas, levando à formação de um deserto. Veja como seriam estes dois processos, o da savanização (mais possível) e o da desertificação (mais remoto).
DA SELVA À SAVANA
Desmatamento pode deixar a Amazônia parecida com o cerrado brasileiro
1- Nas últimas décadas a região amazônica tem sofrido muito com o aumento dos desmatamentos. Num primeiro momento, as árvores são derrubadas para a comercialização de madeira mesmo. Depois, essas áreas dão lugar à agricultura, principalmente para lavouras de soja.
2- Sem as grandes árvores para protegê-lo, o solo fica mais exposto às fortes chuvas, frequentes na região. A água carrega os materiais orgânicos e os nutrientes ao escorrer pela terra, deixando o solo pobre – num processo conhecido como lixiviação.
3- Depois do material orgânico, a chuva passa a carregar também pedras e detritos, que acabam se acumulando nos rios da região. Isso provoca o assoreamento e a formação de bancos de areia, que diminuem a vazão de água dos rios amazônicos.
4- O solo empobrecido e o menor fluxo dos rios dificultam o nascimento de grandes árvores nas áreas de agricultura que possam ser abandonadas. No lugar, surgem arbustos e vegetação de pequeno porte, como a do cerrado, no Centro-Oeste brasileiro.
5- A vegetação menos densa faz com que animais morram ou deixem a região. Muitos desses bichos, como os pássaros, ajudam na conservação da floresta ao transportar nutrientes e sementes. A redução da fauna é mais um fator que impede a recuperação da mata.
E DA SAVANA AO DESERTO
Num cenário mais trágico, “cerrado amazônico” ficaria sem chuvas
1- É uma situação mais remota, mas, após milhares de anos, a savana formada poderia ter cada vez menos chuvas. Na região haveria uma queda na evaporação (causada pelo menor volume dos rios) e na evapotranspiração (evaporação da água presente no solo, na fauna e na flora).
2- Com menos chuvas caindo na Amazônia já meio detonada, a vegetação mais rala da savana começaria a morrer. Aos poucos iriam sumindo da paisagem até mesmo as pequenas árvores e os arbustos, levando ao surgimento de um cenário semidesértico.
3- Para piorar, a Amazônia é cercada por áreas semiáridas ou que já foram desertos – como a caatinga, o cerrado, a cordilheira dos Andes e a região Llanos do Orinoco, na Venezuela. Com a ajuda dessa vizinhança seca, um deserto se formaria mais facilmente. (blogdasmoleculas)

Amazônia mais quente e seca

INPE confirma previsão de Amazônia mais quente e seca
A floresta amazônica ficará mais quente e com eventos naturais extremos --como grandes secas ou inundações-- cada vez mais comuns.
Esse tipo de projeção já vinha aparecendo em pesquisas anteriores, mas o cenário pessimista foi corroborado agora por um modelo climático mais sofisticado, levando em conta as características específicas da Amazônia.
O trabalho, feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pelo Centro Hadley, do Reino Unido, também incorporou na análise o ciclo do carbono e a dinâmica da vegetação diante das mudanças climáticas.
"Os modelos anteriores consideravam uma vegetação estática, que não reagia às alterações no clima", explica o climatologista do INPE José Marengo, um dos autores.
Por exemplo, na seca de 2010, estima-se que a mortalidade das árvores tenha liberado 5 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera.
O cenário agora é de mais secas no sul da Amazônia nos próximos anos e chuvas mais intensas no norte da floresta. Além disso, a mata deve ficar mais rala e aberta, processo chamado de savanização.
Tudo isso, claro, será agravado se o desmatamento não for contido. "Se o desmate aumentar, os impactos na floresta também ficarão mais intensos", diz Marengo.
Os resultados dos novos modelos sugerem que, quando o desmatamento atingir mais de 40% da extensão original da floresta amazônica, a precipitação (ou seja, o índice de chuvas) diminuirá de forma significativa no leste.
Isso provocaria um aquecimento de mais de 4ºC na parte oriental da floresta, com redução significativa das precipitações na área. (amazonianewscerrado)

Os oceanos e as mudanças climáticas

Um novo estudo indica que a vida nos oceanos pode enfrentar extinção sem precedentes
Um novo estudo indica que os ecossistemas marinhos enfrentam perigos ainda maiores do que os estimados até agora pelos cientistas e que correm o risco de entrar em uma fase de extinção de espécies sem precedentes na história da humanidade.
O levantamento foi feito realizado por especialistas que integram o Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos (IPSO, na sigla em inglês), uma entidade formada por cientistas e outros especialistas no assunto.
Eles concluíram que fatores como a pesca excessiva, a poluição e as mudanças climáticas estão agindo em conjunto de uma forma que não havia sido antecipada.
A pesquisa reuniu especialistas de diferentes disciplinas, incluindo ambientalistas com especialização em recifes de corais, toxicologistas e cientistas especializados em pesca.
‘‘As conclusões são chocantes. Estamos vendo mudanças que estão acontecendo mais rápido do que estávamos esperando e de formas que não esperávamos que fossem acontecer por centenas de anos’’, disse Alex Rogers, diretor científico do IPSO e professor da Universidade de Oxford.
Plástico
Entre as mudanças que estão ocorrendo antes do esperado estão o derretimento da camada de gelo no Ártico, na Groenlândia e na Antártida, o aumento do nível dos oceanos e liberação de metano no leito do mar.
O estudo observou também que existem efeitos em cadeia provocados pela ação de diferentes poluentes.
A pesquisa observou, por exemplo, que alguns poluentes permanecem nos oceanos por estarem presos a pequenas partículas de plástico que foram parar no leito do oceano.
Com isso, há um aumento também dos poluentes que são consumidos por peixes que vivem no fundo do mar.
Partículas de plástico são responsáveis também por transportar algas de parte a parte, contribuindo para a proliferação de algas tóxicas, o que também é provocado pelo influxo para os oceanos de nutrientes e poluentes provenientes de áreas agrícolas.
O estudo descreveu ainda como a acidificação do oceano, o aquecimento global e a poluição estando agindo de forma conjunta para aumentar as ameaças aos recifes de corais, tanto que 75% dos corais mundiais correm o risco de sofrer um severo declínio.
Ciclos
A vida na Terra já enfrentou cinco ”ciclos de extinção em massa” causados por eventos como o impacto de asteróides e muitos cientistas que o impacto de diferentes ações exercidas pelo homem poderá contribuir para um sexto ciclo.
”Ainda contamos com boa parte da biodiversidade mundial, mas o ritmo atual da extinção é muito mais alto (do que no passado) e o que estamos enfrentando é, certamente, um evento de extinção global significativa”, afirma o professor Alex Rogers.
O relatório observa ainda que eventos anteriores de extinção em massa tiveram ligação com tendências que estão ocorrendo atualmente, como distúrbios no ciclo de carbono, acidificação e baixa concentração de oxigênio na água.
Os níveis de CO2 que estão sendo absorvidos pelos oceanos já são bem mais altos que aqueles registrados durante a grande extinção de espécies marinhas que ocorreu há 55 milhões de anos, afirma a pesquisa.
Entre as medidas que o estudo aconselha sejam tomadas imediatamente estão o fim da pesca predatória, especialmente em alto mar, onde, atualmente há pouca regulamentação; mapear e depois reduzir a quantidade de poluentes, como plásticos, fertilizantes agrícolas e detritos humanos; e reduzir de forma acentuada os gases do efeito estufa.
As conclusões do relatório serão apresentadas na sede da ONU, em Nova York, nesta semana, durante um encontro de representantes governamentais sobre reformas na maneira de gerenciar os oceanos. (EcoDebate)

Produção de alimentos em um planeta aquecido

Mudanças climáticas: produção de alimentos em um planeta aquecido
Alimento em um planeta aquecido – O rápido crescimento da produção agrícola no final do século 20 desacelerou tanto que não está suprindo a demanda, conduzida por aumentos da população e pela crescente afluência em países antes pobres.
O consumo dos quatro alimentos básicos que fornecem a maior parte das calorias humanas -trigo, arroz, milho e soja- superou a produção na maior parte da última década. O desequilíbrio resultou em dois grandes aumentos nos preços internacionais dos grãos desde 2007, com alguns deles mais do que duplicando de preço.
Esses aumentos agravaram a fome de dezenas de milhões de pobres, desestabilizando a política de dezenas de países, do México, passando por Usbequistão, até o Iêmen. O governo do Haiti foi deposto em 2008 em meio a revoltas por alimentos, e a carestia teve um papel nas recentes revoltas árabes.
Hoje, pesquisas sugerem que um fator antes desprezado está ajudando a desestabilizar o sistema alimentar: a mudança climática.
Muitas colheitas fracassadas da última década foram consequência de desastres climáticos, como inundações nos EUA, seca na Austrália e ondas de calor escorchante na Europa e na Rússia. Os cientistas ligam alguns desses eventos ao aquecimento global induzido pelos seres humanos.
As temperaturas estão aumentando rapidamente durante a temporada de plantio em alguns dos países agrícolas mais importantes, e um trabalho recente revelou que isso havia cortado vários pontos percentuais de colheitas potenciais, aumentando as variações de preços. Durante quase duas décadas, os cientistas haviam previsto que a mudança climática seria relativamente administrável para a agricultura, sugerindo que, provavelmente, levaria até 2080 para que os preços dos alimentos dobrassem.
Em parte, eles supuseram que o aumento dos níveis de dióxido de carbono, o principal fator do aquecimento global, atuaria como um poderoso fertilizante e compensaria muitos dos efeitos daninhos da mudança climática.
Mas a desestabilização do sistema alimentar, e o aumento dos preços abalaram muitos cientistas.
“O sucesso da agricultura foi surpreendente”, disse Cynthia Rosenzweig, pesquisadora da Nasa que ajudou no estudo pioneiro da mudança climática e da agricultura. “Mas acho que começa a haver previsões de que poderá não ser para sempre.”
Alguns pesquisadores que assessoram o governo sobre perspectivas agrícolas estão indicando o que consideram lacunas nas previsões dos computadores. Essas incluem uma falha ao considerar os efeitos do clima extremo que estão aumentando conforme a Terra se aquece.
Uma crescente preocupação sobre o futuro do suprimento alimentar do mundo apareceu durante entrevistas neste ano com mais de 50 especialistas agrícolas que trabalham em nove países. Eles dizem que, nas próximas décadas, os agricultores terão de suportar choques climáticos e duplicar a quantidade de alimentos que produzem para atender à demanda. E eles precisam fazer isso enquanto reduzem os danos ambientais causados pela agricultura.
A situação é longe de desesperadora. Do México à Índia, agricultores estão mostrando que talvez seja possível tornar a agricultura mais produtiva e resistente à mudança climática. Eles alcançaram enormes ganhos de produção no passado, e o aumento dos preços é um poderoso incentivo para que o façam novamente.
Mas há necessidade de novas variedades agrícolas e novas técnicas, dizem os cientistas. Apesar da urgência, eles acrescentaram, o financiamento prometido demora a se materializar, grande parte do trabalho necessário ainda não começou e, quando o fizer, é provável que leve décadas para produzir resultados.
“Existe uma tremenda desconexão, com pessoas que não compreendem que a situação em que estamos é altamente perigosa”, disse Marianne Bänziger, vice-diretora do Centro Internacional de Aperfeiçoamento do Trigo e do Milho, um importante instituto de pesquisa no México que faz parte de uma rede global de centros que analisam as principais plantações do mundo. Outros ficam na China, na Colômbia, na Turquia, na Geórgia e nas Filipinas.
Agricultores veem mudança de padrões
No vale do Yaqui, no deserto de Sonora, região norte do México, plantadores de trigo, como Francisco Javier Ramos Bours, acreditam que a mudança climática poderá ser responsável por falta de água. “Todo mundo está falando sobre isso”, disse Ramos.
Agricultores de toda parte enfrentam a escassez de água, assim como inundações repentinas. Suas colheitas são atacadas por pragas, por doenças emergentes e pelo calor inédito.
No nordeste da Índia, um plantador de arroz chamado Ram Khatri Yadav também se queixou. “Não chove na estação de chuvas, mas na estação da seca”, ele disse. “A estação do frio também está diminuindo.”
Décadas atrás, os agricultores de trigo do vale do Yaqui eram a vanguarda da Revolução Verde, que usou variedades aperfeiçoadas e métodos de agricultura intensivos para aumentar a produção de alimentos na maior parte do mundo em desenvolvimento.
Norman E. Borlaug, um agrônomo americano, começou a trabalhar aqui na década de 1940. Seus êxitos na hibridação ajudaram a aumentar em seis vezes a produção de trigo do México. Nos anos 60, ele levou seu conhecimento para a Índia e para o Paquistão, onde se temia uma fome em massa. A produção lá também disparou.
Outros países aderiram à Revolução Verde, e a produção de alimentos superou o crescimento da população na última metade do século 20. Em 1970, o doutor Borlaug tornou-se o único agrônomo a vencer o Prêmio Nobel da Paz.
Mas, em Oslo, ele fez uma dura advertência: “Podemos estar na maré alta hoje, mas a vazante poderá chegar cedo se nos tornarmos complacentes”. Como ele havia previsto, os cortes de verbas para pesquisa e desenvolvimento agrícola começaram a se mostrar no sistema alimentar mundial perto do fim do século.
 Esse período ocorreu exatamente quando a demanda de alimentos e rações começava a decolar, graças em parte à crescente afluência na Ásia. Milhões de pessoas acrescentaram carne e laticínios a suas dietas, exigindo a produção de grãos. A política de transformar grande parte da safra de milho americana em etanol contribuiu para a demanda.
O clima irregular, como uma onda de calor em 2003 na Europa e uma longa seca na Austrália, ambas possivelmente ligadas à mudança climática, reduziu a produção de trigo e arroz.
Em 2007-2008, com os estoques de cereais baixos, os preços duplicaram ou triplicaram. Os países começaram a acumular comida e ocorreu um pânico de compras. Tumultos alimentares irromperam em mais de 30 países.
Os agricultores reagiram plantando o máximo possível, e colheitas saudáveis em 2008 e 2009 ajudaram a reabastecer os estoques. Esse fator, ao lado da recessão global, fez cair os preços em 2009. Mas, no ano passado, mais fracassos nas colheitas ligados ao clima os fizeram disparar novamente. Neste ano, os estoques de arroz estão adequados, mas o clima ruim ameaça as safras de trigo e milho em algumas áreas.
Especialistas temem que a era da comida barata tenha terminado. “Nossa mentalidade era de excedentes”, disse Dan Glickman, um ex-secretário da Agricultura dos EUA. “Isso, simplesmente, mudou do dia para a noite.”
Os recentes aumentos de preços ajudaram a causar os maiores surtos de fome no mundo em décadas. A Organização de Alimentos e Agricultura (FAO) da ONU estimou o número de famintos em 925 milhões no ano passado. O Banco Mundial diz que, neste ano, poderá chegar a 940 milhões.
Hans-Joachim Braun, o atual diretor do instituto mexicano do trigo e do milho, diz que o crescimento das cidades está consumindo terra agrícola e competindo com os agricultores por água. Em alguns dos celeiros, os agricultores estão bombeando a água do subsolo muito mais depressa do que a natureza pode repor.
Os agricultores do vale do Yaqui plantam seu trigo em um semideserto. Sua água vem por aqueduto de montanhas próximas, mas, durante partes da última década, a chuva foi abaixo do normal. E o norte do México está em um cinturão global que deverá secar ainda mais por causa dos gases do efeito estufa.
O doutor Braun está liderando esforços para produzir novas variedades de trigo capazes de suportar estresse, incluindo falta de água. Mas os orçamentos estão rígidos. “Se não começarmos agora, vamos enfrentar sérios problemas”, ele disse.
Crenças abaladas
Os cientistas acreditaram por muito tempo que a dependência de combustíveis fósseis, apesar de todos os seus problemas, ofereceria um enorme benefício. O dióxido de carbono, o principal gás liberado pela combustão, também é o combustível básico para o crescimento das plantas. Usando a energia da luz do sol, elas transformam o carbono do ar em substâncias densas em energia como a glicose. Toda a vida funciona com essas substâncias.
Os seres humanos já aumentaram o nível de dióxido de carbono na atmosfera em 40% desde a Revolução Industrial e estão prestes a duplicar ou triplicar o volume neste século. Estudos sugeriram por muito tempo que o gás extra daria uma sobrecarga às colheitas alimentares do mundo.
Mas muitos desses estudos foram feitos em condições artificiais. Na última década, cientistas da Universidade de Illinois colocaram o “efeito fertilizante do dióxido de carbono” em teste no mundo real.
Eles plantaram soja em um campo, depois borrifaram dióxido extra de um tanque gigante. Esperavam que o gás pudesse aumentar a produção em até 30%. Mas, na colheita, o aumento foi de apenas 15%. Seus testes com o milho, a safra mais valiosa dos EUA e a base para a produção de carne e a indústria de biocombustível, foram ainda piores. Não houve aumento.
Esse trabalho e o de outros sugere que o dióxido de carbono extra atua como fertilizante, mas os benefícios, provavelmente, ficam aquém do necessário para evitar a escassez de alimentos.
Outra evidência recente sugere que antigas suposições sobre a produção de alimentos em um planeta mais quente podem ter sido demasiado otimistas. Dois economistas, Wolfram Schlenker da Universidade Columbia, e Michael J. Roberts, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, compararam a produção de colheitas e a variabilidade da temperatura natural em uma escala fina. Seu trabalho mostra que, quando as colheitas são submetidas a temperaturas além de certo limite -cerca de 29 graus para o milho e 30 para a soja-, a produção cai acentuadamente.
Um trabalho de David B. Lobell, da Universidade Stanford na Califórnia, e do doutor Schlenker sugere que os aumentos de temperatura na França, na Rússia, na China e em outros países já estão reduzindo as colheitas.
Essa pesquisa é controversa. As conclusões vão um pouco além das de um relatório de 2007 do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU, que descobriu que, embora a mudança climática provavelmente apresentasse graves desafios para a agricultura nos trópicos, ela seria benéfica em regiões mais frias do hemisfério norte, ajudada pelo efeito do dióxido de carbono.
Na Universidade de Illinois, um importante cientista por trás daquele trabalho, Stephen P. Long, criticou o relatório. “Eu achei que deveria ser muito mais honesto ao dizer: este é o nosso melhor palpite no momento”, ele disse.
O grupo de ajuda internacional Oxfam projetou recentemente que os preços dos alimentos mais que duplicarão até 2030, sendo a mudança climática responsável por cerca da metade do aumento. A doutora Rosenzweig, cientista climática da Nasa, teve um papel destacado na formação do antigo consenso. Mas está fazendo uma nova análise. Ela está reunindo um consórcio global de pesquisadores cujo objetivo será produzir previsões de computador mais detalhadas e realistas.
Necessidade de dinheiro e convicção
Em junho passado, na remota aldeia indiana de Samhauta, o agricultor Anand Kumar Singh plantou uma nova variedade de arroz. Em 23 de agosto, uma enchente severa submergiu seu campo durante dez dias. No passado, essa enchente teria destruído a plantação. Mas a nova variedade produziu uma colheita robusta.
 “Foi um milagre”, disse Singh.
O milagre ilustrou até onde os cientistas podem ir para ajudar os agricultores a adaptar-se, mas alguns importantes pesquisadores não têm tanta certeza de que seja possível adaptar as colheitas para suportar o calor extremo, embora a engenharia genética possa eventualmente ter sucesso.
Décadas de trabalho foram necessárias para melhorar a nova variedade de arroz, e o dinheiro estava justo; a distribuição para os agricultores não foi garantida. Então, a Fundação Bill e Melinda Gates entrou com uma verba de US$ 20 milhões para financiar o desenvolvimento e a distribuição final do arroz na Índia e em outros países. Ele poderá chegar às mãos de um milhão de agricultores neste ano.
A Fundação Gates doou US$ 1,7 bilhão para projetos agrícolas desde 2006, mas os governos percebem que há necessidade de maior esforço de sua parte.
Em 2008-2009, em meio às crises provocadas pelos preços dos alimentos, os governos se superaram na oferta de apoio. Em conferência em L’Aquila, na Itália, eles prometeram cerca de US$ 22 bilhões. Mas o financiamento não se materializou totalmente. “É uma decepção”, disse Gates.
O presidente Obama prometeu US$ 3,5 bilhões, mais do que qualquer outro país, e os EUA lançaram uma iniciativa para apoiar o desenvolvimento agrícola em 20 dos países mais necessitados.
Mas, em meio a dificuldades orçamentárias em Washington, o governo conseguiu US$ 1,9 bilhão do Congresso. Talvez o sinal mais esperançoso seja que os países pobres começam a investir em agricultura de maneira séria, como muitos não fizeram nos anos em que a comida era barata.
Na África, cerca de 12 países estão à beira de cumprir a promessa de dedicar 10% do orçamento ao desenvolvimento agrícola, contra 5% ou menos antes. “Em meu país, cada centavo conta”, disse Agnes Kalibata, a ministra da Agricultura de Ruanda. Com dificuldade, Ruanda cumpriu a promessa de 10%, e Kalibata citou um projeto de terraços nas montanhas do país que aumentou a produção de batatas em 600%.
A ONU recentemente projetou que a população global atingirá 10 bilhões até o fim do século, 3 bilhões a mais do que hoje. As projeções significam que a produção de alimentos poderá ter de duplicar até o final do século.
Diferentemente do passado, essa demanda deve ser satisfeita de algum modo, em um planeta onde há poucas novas terras disponíveis, os suprimentos de água estão diminuindo, a temperatura aumenta, o clima se tornou imprevisível, e o sistema alimentar mostra sérios sinais de instabilidade.
“Nós já duplicamos a produção alimentar do mundo várias vezes na história, e hoje temos de fazê-lo mais uma vez”, disse Jonathan A. Foley, pesquisador da Universidade de Minnesota. “A última duplicação é a mais difícil. É possível, mas não será fácil.”
Colaborou Hari Kumar, de Samhauta, que fica na Índia. (EcoDebate)
Alimento em um planeta aquecido – O rápido crescimento da produção agrícola no final do século 20 desacelerou tanto que não está suprindo a demanda, conduzida por aumentos da população e pela crescente afluência em países antes pobres.
O consumo dos quatro alimentos básicos que fornecem a maior parte das calorias humanas -trigo, arroz, milho e soja- superou a produção na maior parte da última década. O desequilíbrio resultou em dois grandes aumentos nos preços internacionais dos grãos desde 2007, com alguns deles mais do que duplicando de preço.
Esses aumentos agravaram a fome de dezenas de milhões de pobres, desestabilizando a política de dezenas de países, do México, passando por Usbequistão, até o Iêmen. O governo do Haiti foi deposto em 2008 em meio a revoltas por alimentos, e a carestia teve um papel nas recentes revoltas árabes.
Hoje, pesquisas sugerem que um fator antes desprezado está ajudando a desestabilizar o sistema alimentar: a mudança climática.
Muitas colheitas fracassadas da última década foram consequência de desastres climáticos, como inundações nos EUA, seca na Austrália e ondas de calor escorchante na Europa e na Rússia. Os cientistas ligam alguns desses eventos ao aquecimento global induzido pelos seres humanos.
As temperaturas estão aumentando rapidamente durante a temporada de plantio em alguns dos países agrícolas mais importantes, e um trabalho recente revelou que isso havia cortado vários pontos percentuais de colheitas potenciais, aumentando as variações de preços. Durante quase duas décadas, os cientistas haviam previsto que a mudança climática seria relativamente administrável para a agricultura, sugerindo que, provavelmente, levaria até 2080 para que os preços dos alimentos dobrassem.
Em parte, eles supuseram que o aumento dos níveis de dióxido de carbono, o principal fator do aquecimento global, atuaria como um poderoso fertilizante e compensaria muitos dos efeitos daninhos da mudança climática.
Mas a desestabilização do sistema alimentar, e o aumento dos preços abalaram muitos cientistas.
“O sucesso da agricultura foi surpreendente”, disse Cynthia Rosenzweig, pesquisadora da Nasa que ajudou no estudo pioneiro da mudança climática e da agricultura. “Mas acho que começa a haver previsões de que poderá não ser para sempre.”
Alguns pesquisadores que assessoram o governo sobre perspectivas agrícolas estão indicando o que consideram lacunas nas previsões dos computadores. Essas incluem uma falha ao considerar os efeitos do clima extremo que estão aumentando conforme a Terra se aquece.
Uma crescente preocupação sobre o futuro do suprimento alimentar do mundo apareceu durante entrevistas neste ano com mais de 50 especialistas agrícolas que trabalham em nove países. Eles dizem que, nas próximas décadas, os agricultores terão de suportar choques climáticos e duplicar a quantidade de alimentos que produzem para atender à demanda. E eles precisam fazer isso enquanto reduzem os danos ambientais causados pela agricultura.
A situação é longe de desesperadora. Do México à Índia, agricultores estão mostrando que talvez seja possível tornar a agricultura mais produtiva e resistente à mudança climática. Eles alcançaram enormes ganhos de produção no passado, e o aumento dos preços é um poderoso incentivo para que o façam novamente.
Mas há necessidade de novas variedades agrícolas e novas técnicas, dizem os cientistas. Apesar da urgência, eles acrescentaram, o financiamento prometido demora a se materializar, grande parte do trabalho necessário ainda não começou e, quando o fizer, é provável que leve décadas para produzir resultados.
“Existe uma tremenda desconexão, com pessoas que não compreendem que a situação em que estamos é altamente perigosa”, disse Marianne Bänziger, vice-diretora do Centro Internacional de Aperfeiçoamento do Trigo e do Milho, um importante instituto de pesquisa no México que faz parte de uma rede global de centros que analisam as principais plantações do mundo. Outros ficam na China, na Colômbia, na Turquia, na Geórgia e nas Filipinas.
Agricultores veem mudança de padrões
No vale do Yaqui, no deserto de Sonora, região norte do México, plantadores de trigo, como Francisco Javier Ramos Bours, acreditam que a mudança climática poderá ser responsável por falta de água. “Todo mundo está falando sobre isso”, disse Ramos.
Agricultores de toda parte enfrentam a escassez de água, assim como inundações repentinas. Suas colheitas são atacadas por pragas, por doenças emergentes e pelo calor inédito.
No nordeste da Índia, um plantador de arroz chamado Ram Khatri Yadav também se queixou. “Não chove na estação de chuvas, mas na estação da seca”, ele disse. “A estação do frio também está diminuindo.”
Décadas atrás, os agricultores de trigo do vale do Yaqui eram a vanguarda da Revolução Verde, que usou variedades aperfeiçoadas e métodos de agricultura intensivos para aumentar a produção de alimentos na maior parte do mundo em desenvolvimento.
Norman E. Borlaug, um agrônomo americano, começou a trabalhar aqui na década de 1940. Seus êxitos na hibridação ajudaram a aumentar em seis vezes a produção de trigo do México. Nos anos 60, ele levou seu conhecimento para a Índia e para o Paquistão, onde se temia uma fome em massa. A produção lá também disparou.
Outros países aderiram à Revolução Verde, e a produção de alimentos superou o crescimento da população na última metade do século 20. Em 1970, o doutor Borlaug tornou-se o único agrônomo a vencer o Prêmio Nobel da Paz.
Mas, em Oslo, ele fez uma dura advertência: “Podemos estar na maré alta hoje, mas a vazante poderá chegar cedo se nos tornarmos complacentes”. Como ele havia previsto, os cortes de verbas para pesquisa e desenvolvimento agrícola começaram a se mostrar no sistema alimentar mundial perto do fim do século.
Esse período ocorreu exatamente quando a demanda de alimentos e rações começava a decolar, graças em parte à crescente afluência na Ásia. Milhões de pessoas acrescentaram carne e laticínios a suas dietas, exigindo a produção de grãos. A política de transformar grande parte da safra de milho americana em etanol contribuiu para a demanda.
O clima irregular, como uma onda de calor em 2003 na Europa e uma longa seca na Austrália, ambas possivelmente ligadas à mudança climática, reduziu a produção de trigo e arroz.
Em 2007-2008, com os estoques de cereais baixos, os preços duplicaram ou triplicaram. Os países começaram a acumular comida e ocorreu um pânico de compras. Tumultos alimentares irromperam em mais de 30 países.
Os agricultores reagiram plantando o máximo possível, e colheitas saudáveis em 2008 e 2009 ajudaram a reabastecer os estoques. Esse fator, ao lado da recessão global, fez cair os preços em 2009. Mas, no ano passado, mais fracassos nas colheitas ligados ao clima os fizeram disparar novamente. Neste ano, os estoques de arroz estão adequados, mas o clima ruim ameaça as safras de trigo e milho em algumas áreas.
Especialistas temem que a era da comida barata tenha terminado. “Nossa mentalidade era de excedentes”, disse Dan Glickman, um ex-secretário da Agricultura dos EUA. “Isso, simplesmente, mudou do dia para a noite.”
Os recentes aumentos de preços ajudaram a causar os maiores surtos de fome no mundo em décadas. A Organização de Alimentos e Agricultura (FAO) da ONU estimou o número de famintos em 925 milhões no ano passado. O Banco Mundial diz que, neste ano, poderá chegar a 940 milhões.
Hans-Joachim Braun, o atual diretor do instituto mexicano do trigo e do milho, diz que o crescimento das cidades está consumindo terra agrícola e competindo com os agricultores por água. Em alguns dos celeiros, os agricultores estão bombeando a água do subsolo muito mais depressa do que a natureza pode repor.
Os agricultores do vale do Yaqui plantam seu trigo em um semideserto. Sua água vem por aqueduto de montanhas próximas, mas, durante partes da última década, a chuva foi abaixo do normal. E o norte do México está em um cinturão global que deverá secar ainda mais por causa dos gases do efeito estufa.
O doutor Braun está liderando esforços para produzir novas variedades de trigo capazes de suportar estresse, incluindo falta de água. Mas os orçamentos estão rígidos. “Se não começarmos agora, vamos enfrentar sérios problemas”, ele disse.
Crenças abaladas
Os cientistas acreditaram por muito tempo que a dependência de combustíveis fósseis, apesar de todos os seus problemas, ofereceria um enorme benefício. O dióxido de carbono, o principal gás liberado pela combustão, também é o combustível básico para o crescimento das plantas. Usando a energia da luz do sol, elas transformam o carbono do ar em substâncias densas em energia como a glicose. Toda a vida funciona com essas substâncias.
Os seres humanos já aumentaram o nível de dióxido de carbono na atmosfera em 40% desde a Revolução Industrial e estão prestes a duplicar ou triplicar o volume neste século. Estudos sugeriram por muito tempo que o gás extra daria uma sobrecarga às colheitas alimentares do mundo.
Mas muitos desses estudos foram feitos em condições artificiais. Na última década, cientistas da Universidade de Illinois colocaram o “efeito fertilizante do dióxido de carbono” em teste no mundo real.
Eles plantaram soja em um campo, depois borrifaram dióxido extra de um tanque gigante. Esperavam que o gás pudesse aumentar a produção em até 30%. Mas, na colheita, o aumento foi de apenas 15%. Seus testes com o milho, a safra mais valiosa dos EUA e a base para a produção de carne e a indústria de biocombustível, foram ainda piores. Não houve aumento.
Esse trabalho e o de outros sugere que o dióxido de carbono extra atua como fertilizante, mas os benefícios, provavelmente, ficam aquém do necessário para evitar a escassez de alimentos.
Outra evidência recente sugere que antigas suposições sobre a produção de alimentos em um planeta mais quente podem ter sido demasiado otimistas. Dois economistas, Wolfram Schlenker da Universidade Columbia, e Michael J. Roberts, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, compararam a produção de colheitas e a variabilidade da temperatura natural em uma escala fina. Seu trabalho mostra que, quando as colheitas são submetidas a temperaturas além de certo limite -cerca de 29 graus para o milho e 30 para a soja-, a produção cai acentuadamente.
Um trabalho de David B. Lobell, da Universidade Stanford na Califórnia, e do doutor Schlenker sugere que os aumentos de temperatura na França, na Rússia, na China e em outros países já estão reduzindo as colheitas.
Essa pesquisa é controversa. As conclusões vão um pouco além das de um relatório de 2007 do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU, que descobriu que, embora a mudança climática provavelmente apresentasse graves desafios para a agricultura nos trópicos, ela seria benéfica em regiões mais frias do hemisfério norte, ajudada pelo efeito do dióxido de carbono.
Na Universidade de Illinois, um importante cientista por trás daquele trabalho, Stephen P. Long, criticou o relatório. “Eu achei que deveria ser muito mais honesto ao dizer: este é o nosso melhor palpite no momento”, ele disse.
O grupo de ajuda internacional Oxfam projetou recentemente que os preços dos alimentos mais que duplicarão até 2030, sendo a mudança climática responsável por cerca da metade do aumento. A doutora Rosenzweig, cientista climática da Nasa, teve um papel destacado na formação do antigo consenso. Mas está fazendo uma nova análise. Ela está reunindo um consórcio global de pesquisadores cujo objetivo será produzir previsões de computador mais detalhadas e realistas.
Necessidade de dinheiro e convicção
Em junho passado, na remota aldeia indiana de Samhauta, o agricultor Anand Kumar Singh plantou uma nova variedade de arroz. Em 23 de agosto, uma enchente severa submergiu seu campo durante dez dias. No passado, essa enchente teria destruído a plantação. Mas a nova variedade produziu uma colheita robusta.
“Foi um milagre”, disse Singh.
O milagre ilustrou até onde os cientistas podem ir para ajudar os agricultores a adaptar-se, mas alguns importantes pesquisadores não têm tanta certeza de que seja possível adaptar as colheitas para suportar o calor extremo, embora a engenharia genética possa eventualmente ter sucesso.
Décadas de trabalho foram necessárias para melhorar a nova variedade de arroz, e o dinheiro estava justo; a distribuição para os agricultores não foi garantida. Então, a Fundação Bill e Melinda Gates entrou com uma verba de US$ 20 milhões para financiar o desenvolvimento e a distribuição final do arroz na Índia e em outros países. Ele poderá chegar às mãos de um milhão de agricultores neste ano.
A Fundação Gates doou US$ 1,7 bilhão para projetos agrícolas desde 2006, mas os governos percebem que há necessidade de maior esforço de sua parte.
Em 2008-2009, em meio às crises provocadas pelos preços dos alimentos, os governos se superaram na oferta de apoio. Em conferência em L’Aquila, na Itália, eles prometeram cerca de US$ 22 bilhões. Mas o financiamento não se materializou totalmente. “É uma decepção”, disse Gates.
O presidente Obama prometeu US$ 3,5 bilhões, mais do que qualquer outro país, e os EUA lançaram uma iniciativa para apoiar o desenvolvimento agrícola em 20 dos países mais necessitados.
Mas, em meio a dificuldades orçamentárias em Washington, o governo conseguiu US$ 1,9 bilhão do Congresso. Talvez o sinal mais esperançoso seja que os países pobres começam a investir em agricultura de maneira séria, como muitos não fizeram nos anos em que a comida era barata.
Na África, cerca de 12 países estão à beira de cumprir a promessa de dedicar 10% do orçamento ao desenvolvimento agrícola, contra 5% ou menos antes. “Em meu país, cada centavo conta”, disse Agnes Kalibata, a ministra da Agricultura de Ruanda. Com dificuldade, Ruanda cumpriu a promessa de 10%, e Kalibata citou um projeto de terraços nas montanhas do país que aumentou a produção de batatas em 600%.
A ONU recentemente projetou que a população global atingirá 10 bilhões até o fim do século, 3 bilhões a mais do que hoje. As projeções significam que a produção de alimentos poderá ter de duplicar até o final do século.
Diferentemente do passado, essa demanda deve ser satisfeita de algum modo, em um planeta onde há poucas novas terras disponíveis, os suprimentos de água estão diminuindo, a temperatura aumenta, o clima se tornou imprevisível, e o sistema alimentar mostra sérios sinais de instabilidade.
“Nós já duplicamos a produção alimentar do mundo várias vezes na história, e hoje temos de fazê-lo mais uma vez”, disse Jonathan A. Foley, pesquisador da Universidade de Minnesota. “A última duplicação é a mais difícil. É possível, mas não será fácil.”
Colaborou Hari Kumar, de Samhauta, que fica na Índia. (EcoDebate)

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