Erupções vulcânicas explicam em parte a redução do
aquecimento global, diz estudo
Partículas expelidas
por vulcões teriam compensado parte da emissão de gases de efeito estufa. Para
pesquisadores, humanos contaram com a “sorte”, já que erupções ajudaram a
manter a Terra mais fria.
Dos 14 anos mais
quentes já registrados, 13 foram neste século. Mas desde 1988, o ritmo do aumento
da temperatura da Terra está mais devagar. As contas dos cientistas não fecham:
a velocidade do aquecimento global está muito inferior ao nível de emissões de
gases estufa. Essa fase de “silêncio” ficou conhecida como hiato.
Um estudo [Volcanic contribution to
decadal changes in tropospheric temperature] publicado em 23/02/14
na Nature
Geosciense ajuda a explicar o mistério. As erupções vulcânicas
registradas desde 2000 compensariam a diferença entre o aquecimento global
previsto e o observado para este século. As partículas despejadas na atmosfera
pelos vulcões são capazes de refletir a luz solar e, assim, manteriam a Terra
mais fria.
Simulações climáticas
feitas com dados de satélites sugerem que as cerca de 20 erupções ocorridas nos
últimos 13 anos foram responsáveis por até 15% da diferença entre o aquecimento
previsto segundo o alto nível de emissões e o de fato registrado.
“Esse ‘hiato’ no
aquecimento desde 1988 tem uma série de causas diferentes. O resfriamento
causado pelas erupções vulcânicas é apenas uma delas”, pontuou Ben Santer, do
Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, um dos co-autores do
estudo.
Uma questão de sorte
Para os cientistas,
os humanos contaram com a sorte na última década. O estudo não pode ser usado
para apoiar a falta de iniciativa das nações para cortar as emissões de gases
estufa. “Nós tivemos sorte por observar um resfriamento natural que,
parcialmente, contrabalanceou o aquecimento provocado pelo homem”, comentou
Santer.
“Não sabemos como a
atividade vulcânica vai se desenvolver nas próximas décadas e, por isso, não
sabemos quanto tempo essa sorte vai durar.” Segundo o estudo feito por
pesquisadores dos Estados Unidos e Canadá, outros motivos para a desaceleração
do aquecimento global podem ser uma maior absorção do calor pelos oceanos, ou
um declínio da atividade solar.
Os autores ainda não
têm uma dimensão da magnitude do efeito dos vulcões. Para reduzir essas
incertezas, será necessário aprimorar os modelos de simulação climática e as
observações sobre as propriedades específicas dos gases expelidos nas erupções
vulcânicas.
“Os vulcões dão
apenas um alívio temporário à pressão implacável do aumento contínuo de emissão
de gases de efeito estufa”, analisa Piers Forster, da Universidade de Leeds.
Divergências
Céticos do
aquecimento global apontam a desaceleração do aquecimento da Terra observado
nos últimos anos como uma prova de falhas nos modelos usados para prever o fenômeno global. Eles alegam que há um exagero quanto ao efeito da retenção do calor a partir da emissão dos gases
estufa, mas os autores do estudo discordam.
Grande parte dos
especialistas em mudanças climáticas concordam que o planeta está excedendo o
limite de aquecimento de 2°C, estabelecido em negociações climáticas pela
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
Em 2013, o nível de
gás carbônico na atmosfera ultrapassou a marca de 400 partes por milhão (ppm),
nível nunca experimentado por seres humanos. As concentrações de CO2
na atmosfera crescem de três a quatro partes por milhão a cada ano,
especialmente por causa da queima de combustíveis fósseis. (ecodebate)