sábado, 31 de março de 2018

Interior de SP reduz consumo d’água em até 40% no cultivo de alimentos

Em São Paulo, projeto no interior do estado consegue reduzir consumo de água em até 40% no cultivo de alimentos.
Agricultura familiar representa 88% das propriedades rurais no estado.
Consumido em todo o mundo, o suco de laranja é um dos principais itens produzidos no Brasil. Entre julho e dezembro do ano passado, que corresponde aos seis primeiros meses da safra 2017/2018, foram exportadas mais de 584 toneladas de suco concentrado, um aumento de 23% em comparação com o mesmo período da safra anterior. A receita alcançou mais de um bilhão de dólares, valor 26% superior à safra 2016/2017. As informações são da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).
O Estado de São Paulo tem participação ativa nessa produção, já que concentra 90% da produção nacional. Por ser um plantio que depende de temperaturas mais altas, o cultivo de laranja depende da água para obter frutos de qualidade. De acordo com o coordenador da Coordenadoria de Assistência Integral (Cati), João Bruneli Júnior, ainda falta conscientização aos produtores rurais. Para isso, já existem projetos de proteção de nascentes e recuperação de áreas impróprias para plantações.
Um deles se chama Microbacias Hidrográficas. Essa ação consiste em minimizar os problemas de erosão de alguns locais e melhorar o uso de água. Cerca de 50 famílias são acolhidas por este projeto desde o ano passado. O extensionista rural Alcides Almeida pôs o modelo em prática na região de Bragança Paulista. Ele ressalta que o principal objetivo é mostrar aos agricultores familiares a necessidade de se reaproveitar a água, sempre que possível.
“A valorização da quantidade e da qualidade da água. Quer dizer, manter as nascentes jorrando o ano todo e não nascentes intermitentes. Sobrava água e chegava na seca e essa nascente secava. E a água é a base de tudo, sem água não tem vida na propriedade, não tem criação ou agricultura em si”, disse.
Melhor utilização da água
A agricultura familiar, segundo o coordenador da Cati de São Paulo, representa 88% das propriedades rurais no estado. Além disso, projetos como esse fazem com que os pequenos produtores consigam reduzir o desperdício hídrico de 30% a 40% no cultivo de alimentos. João Bruneli Júnior comenta que as práticas utilizadas para reutilizar a água começam no solo, e podem beneficiar também quem mora na área urbana.
“A partir do momento em que ele faz o manejo correto de solo, você faz com que quando a chuva cai, ao invés de a chuva escorrer totalmente, ela vai infiltrar o máximo possível no solo. É isso que faz com que aumente o nível das reservas exatamente para os períodos de seca. Então, a conservação correta de solo no meio rural, é um serviço que o agricultor está prestando para o pessoal que mora na cidade”, explicou. (ecodebate)

A solução da água no Amapá pode vir da redução das perdas

A Lei nº 11.445/2007 que trata do Saneamento Básico no país, um direito que é assegurado pela Constituição Federal, foi sancionada em 5 de janeiro de 2007. Esta lei que ficou conhecida como a Lei do Saneamento Básico, estabelece os fundamentos legais para um conjunto de serviços como o de abastecimento público de água potável; coleta, tratamento e disposição final adequada dos esgotos sanitários; drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, além da limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos. Estabeleceu, também, as regras básicas para o setor, definindo as competências do governo federal, estadual e municipal para os serviços de saneamento básico.
Assim, em janeiro de 2017, a Lei do Saneamento Básico completou dez anos e a população brasileira convive ainda com os mesmos problemas daquela época. De acordo com dados divulgados pelo IBGE (PNAD 2016) em 24 de novembro de 2016, 97,2% (67,3 milhões) de domicílios possuíam água canalizada, sendo que 85,8% desses a principal fonte de abastecimento era a rede geral de distribuição. Deste contingente, em 87,3% dos casos a disponibilidade da rede geral era diária. O Nordeste foi à região que apresentou o menor percentual de domicílios com disponibilidade diária (66,6%), enquanto a Região Sul registrou o maior percentual (98,1%). Veja o gráfico:
Domicílios com disponibilidade de água da rede geral por Região – 2016
Muito embora os dados do IBGE mostrem que na Região Norte 88,2% dos domicílios possuam abastecimento através de água canalizada por rede geral, no Amapá ela só chega a 58,9% das residências. Este percentual coloca o Amapá na frente dos demais estados da Região Norte, como o Acre (54%), Pará (51,4%) e Rondônia (43,4%). Todavia, em 2008 no Amapá chegava em 51,94 das residências. Então se constata que no Amapá o avanço foi insignificante.
Porém, a insuficiência de investimentos, durante décadas, da empresa estatal que é responsável pela distribuição de água e saneamento básico no Amapá refletiu na alteração da proporção quanto à forma de abastecimento de água no Estado. Em 2008, o Amapá tinha 174 mil domicílios, sendo 122 mil atendidos através da rede geral (70,11%). Já no ano de 2015, o número de domicílios passou para 206 mil domicílios e os atendidos pela rede geral caíram para 107 mil (51,94%), ou seja, houve uma redução de 18,17% dos domicílios abastecidos pela rede geral. A razão desta redução está no aumento do abastecimento de água nas unidades habitacionais através de poços artesianos ou amazonas que em 2008 era utilizado em 40 mil domicílios (22,99%), enquanto no ano de 2015 passou para 75 mil (36,41%), logo um aumento de 87,5% nos domicílios abastecidos com poços, de acordo com os dados da PNAD.
Podemos constatar então que a utilização de poços pela população, tem sido a forma de resolver o problema do abastecimento de água este bem tão precioso para o ser humano e porque não dizer para a sustentabilidade. A água que é disponibilizada para a população nem sempre chega aos domicílios e por vezes é escassa e de qualidade duvidosa. Na imprensa são reiteradas as notícias de ampliação da rede e obras de infraestrutura estão sempre sendo anunciadas, mas pouco acontece efetivamente. Veja a tabela abaixo:
PNAD/IBGE (Gráfico elaborado pelo autor).
Outro problema que afeta diretamente o abastecimento de água no Amapá são as perdas que ocorrem no sistema. Vários estudos apontam neste sentido. A perda de água é um dos pontos mais sensíveis do sistema de saneamento das empresas que o operam. No processo de abastecimento de água por meio de redes de distribuição ocorrem constantes perdas de água.
As chamadas perdas reais são associadas aos vazamentos, já às perdas aparentes são as relativas à falta de hidrômetros ou demais erros de medição, ligações clandestinas e ao roubo de água.
Neste contexto, o nível de perdas de água constitui um índice relevante para medir a eficiência dos prestadores em atividades como distribuição, planejamento, investimentos e manutenção.
Estudo do Instituto Trata Brasil aponta que a cada 100 litros de água coletada e tratada, apenas 63 litros são consumidos, ou seja, 37% da água no Brasil é perdida, seja com vazamentos, roubos e ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no consumo de água, resultando um prejuízo de R$ 8 bilhões de reais. Veja o gráfico:
Consumo X Perdas
Instituto Trata Brasil
Ainda de acordo com o estudo do Instituto Trata Brasil, foram simulados possíveis ganhos com a melhoria da eficiência com a redução das perdas. Primeiramente, foi simulado um cenário de redução de 10% nas perdas financeiras. Uma redução de apenas 10% nas perdas no Brasil agregaria R$ 1,3 bilhão à receita operacional com água, equivalente a 42% do investimento realizado em abastecimento de água em 2010 para todo o país.
No Amapá, os dados mostram que as perdas chegam a 70%, ou seja, a cada dez litros produzidos sete ficam pelo meio do caminho. O estudo mostra também que na região Norte os índices de perdas de faturamento oscilam de 21,93% no estado de Tocantins a 74,6% no estado do Amapá.
Considerando que o Amapá tem o pior índice com perda de água do país, uma redução de apenas 10% traria um ganho de R$ 8,3 milhões, ou seja, valor 6.135% maior do que o Estado investiu em água em 2010, destaca ainda o mesmo estudo do Instituto Trata Brasil.
Para a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, diversas empresas de saneamento estão investindo em Programas de Redução de Perdas. Esses programas consideram a relação entre o valor gerado pelo volume de água economizado e o valor do investimento, seja em infraestrutura ou gestão comercial, para lograr a redução de perdas.
Como se pode constatar diante dos dados aqui demonstrados, o Saneamento Básico em nosso país necessita de investimentos em sua infraestrutura, principalmente no que diz respeito a perdas de água. Pelo que ficou demonstrado nos números apresentados, o Amapá ficou muito afastado no quesito eficiência e não se questiona por aqui o desempenho da empresa que é responsável pelo abastecimento de água para a população amapaense por este viés.
Este debate é oportuno, porque nesta semana mais precisamente dia 22 de março é o Dia Mundial da Água. A data instituída pela ONU em 22 de março de 1992 tem como objetivo à conscientização da população a respeito desse bem tão valioso. Também, nesta data foi divulgada a Declaração Universal dos Direitos da Água.
Um outro marco relevante com relação à água, é que Brasília está sediando de 18 a 23 de março o 8º Fórum Mundial da Água. São 151 representações estrangeiras, entre embaixadas e organismos internacionais. Assim, Brasília se transformou na Capital Mundial da Água.

Um dos objetivos do fórum também é reunir prefeitos e governadores, outras autoridades e sociedade civil. Excelente oportunidade para que os gestores públicos do Amapá possam aprofundar uma discussão sobre o abastecimento de água no estado. Principalmente do ponto de vista da sustentabilidade.
De acordo com a ONU, até o ano de 2030, a demanda por água no mundo deve subir 50%. Com desperdício de água o Brasil terá muitos desafios a superar, especialmente o Amapá, onde a água não chega em milhares de torneiras. As soluções vão depender de planejamento, novas tecnologias e investimentos que visem a redução nas perdas nas redes de distribuição. (ecodebate)

Relatório mundial da UNESCO sobre os recursos hídricos

UNESCO lança relatório mundial sobre desenvolvimento dos recursos hídricos
As soluções baseadas na natureza podem ter um papel importante na melhoria do abastecimento e da qualidade da água e na redução do impacto dos desastres naturais, de acordo com a edição de 2018 do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos.
O estudo, foi apresentado por Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, e por Gilbert Houngbo, diretor do UN Water (ONU Água, em tradução livre) durante 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, defende que reservatórios, canais de irrigação e estações de tratamento de água não sejam os únicos instrumentos de gestão hídrica à nossa disposição.
Manguezal derrubado no Timor-Leste.
As soluções baseadas na natureza podem ter um papel importante na melhoria do abastecimento e da qualidade da água e na redução do impacto dos desastres naturais, de acordo com a edição de 2018 do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos.
O estudo, que será apresentado por Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, e por Gilbert Houngbo, diretor do UN Water (ONU Água, em tradução livre) durante 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, defende que reservatórios, canais de irrigação e estações de tratamento de água não sejam os únicos instrumentos de gestão hídrica à nossa disposição.
Em 1986, o estado do Rajastão (Índia) passou por uma das piores secas de sua história. Durante os anos seguintes, uma ONG trabalhou junto com as comunidades locais para estabelecer estruturas de coleta de água e regenerar solos e florestas na região. A iniciativa levou a um aumento de 30% na cobertura florestal, os níveis das águas subterrâneas subiram em alguns metros e a produtividade das terras de cultivo aumentou.
Tais medidas são bons exemplos de soluções baseadas na natureza (SbN) defendidas na mais recente edição do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos: “Soluções baseadas na natureza para a gestão da água”.
O relatório reconhece a água não apenas como um elemento isolado, mas como parte integrante de um processo natural complexo que envolve evaporação, precipitação e absorção da água pelo solo. A presença e a extensão da cobertura vegetal – como pastagens, zonas úmidas e florestas – influencia o ciclo da água e pode ser o foco de ações para a melhoria da quantidade e da qualidade da água disponível.
“Precisamos de novas soluções na gestão dos recursos hídricos para superar os novos desafios da segurança hídrica causados pelo crescimento da população e pela mudança climática. Se não fizermos nada, em 2050, cerca de 5 bilhões de pessoas estarão vivendo em áreas com baixo acesso à água. Este relatório propõe soluções baseadas na natureza para uma melhor gestão da água. Essa é uma importante tarefa que todos nós precisamos cumprir, juntos e de maneira responsável, para evitar conflitos relacionados à água”, declarou a diretora-geral da UNESCO.
“Por muito tempo, o mundo tem se transformado em um lugar onde as melhorias para a gestão hídrica são baseadas primariamente nas infraestruturas construídas pelo ser humano, conhecidas como ‘infraestruturas cinzas’. Com isso, conhecimentos tradicionais e indígenas, que abrangem soluções mais ‘verdes’, são constantemente deixados de lado. Três anos após a adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, é hora de reexaminarmos as soluções baseadas na natureza para que nos auxiliem a alcançar os objetivos relacionados à gestão hídrica”, escreveu Gilbert Houngbo, diretor do ONU-Água e presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, no prefácio do Relatório.
Foco na ‘engenharia ambiental'
A chamada infraestrutura “verde”, em oposição à tradicional infraestrutura “cinza”, concentra-se em preservar as funções dos ecossistemas, tanto naturais quanto artificiais, e na engenharia ambiental, ao invés da engenharia civil, para melhorar a gestão dos recursos hídricos.
A infraestrutura verde apresenta diversos usos no setor da agricultura, de longe o maior consumidor de água. Contribuindo para o desenvolvimento de sistemas de irrigação mais efetivos e econômicos, por exemplo, a infraestrutura verde pode ajudar a reduzir as pressões sobre o uso da terra, limitando a poluição, a erosão do solo e as necessidades hídricas.
Dessa maneira, o Sistema de Intensificação do Arroz, originalmente desenvolvido em Madagascar, ajuda a restaurar o funcionamento hidrológico e ecológico dos solos, ao invés de usar novas variedades de plantio ou produtos químicos. Esse sistema propicia uma economia de 25% a 50% na necessidade hídrica e de 80% a 90% em sementes, enquanto aumenta a produção de arroz de 25% a 50%, dependendo da região na qual está implementado.
Estima-se que a produção agrícola possa ser aumentada em cerca de 20% em todo o mundo, se forem utilizadas práticas mais verdes de gestão da água. Um estudo citado pelo Relatório avaliou projetos de desenvolvimento agrícola em 57 países de baixa renda e descobriu que o uso mais eficiente da água, combinado com a redução do uso de pesticidas e com melhorias na cobertura do solo, aumentou o rendimento das colheitas em 79%.
Soluções verdes também mostram grande potencial em áreas urbanas. Enquanto “paredes verdes” e jardins nos terraços (“jardins suspensos”) talvez sejam os exemplos mais facilmente identificáveis, outros incluem medidas para reciclar e coletar água, reservatórios para a recarga de águas subterrâneas e proteção de bacias hidrográficas que abastecem áreas urbanas. A cidade de Nova York tem protegido suas três maiores bacias hidrográficas desde o final dos anos 1990. Dispondo do maior abastecimento de água não filtrada nos Estados Unidos, a cidade agora economiza mais de US$ 300 milhões anualmente em tratamento de água e custos de manutenção.
Confrontados pela sempre crescente necessidade de água, países e cidades têm demostrado um interesse crescente em soluções verdes. A China, por exemplo, iniciou recentemente um projeto chamado Cidade Esponja, para melhorar a disponibilidade de água em aglomerados urbanos. Até 2020, serão construídas 16 Cidades-Esponja pilotos pelo país. O objetivo é reciclar 70% da água da chuva por meio de uma maior permeação do solo, por retenção e armazenamento, e pela purificação da água e restauração de zonas úmidas adjacentes.
A importância das zonas úmidas
As zonas úmidas cobrem apenas cerca de 2,6% da superfície do planeta, mas têm um papel desproporcionalmente grande na hidrologia. Elas impactam de forma direta a qualidade da água, filtrando substâncias tóxicas, de pesticidas a descargas industriais e da mineração.
Há evidências de que as zonas úmidas sozinhas podem remover de 20% a 60% dos metais na água e reter de 80% a 90% dos sedimentos de escoamento. Alguns países chegaram a criar zonas úmidas para tratar as águas residuais industriais, ao menos parcialmente. Durante os últimos anos, a Ucrânia, por exemplo, tem realizado experimentos com zonas úmidas artificiais para filtrar produtos farmacêuticos de águas residuais.
No entanto, os ecossistemas sozinhos não são capazes de executar a totalidade das funções de tratamento da água. Eles não podem filtrar todos os tipos de substâncias tóxicas despejadas na água, e suas capacidades têm limites. Existem pontos críticos além dos quais os impactos negativos da carga de poluentes em um ecossistema se tornam irreversíveis, daí vem a necessidade de se reconhecer os limites e gerenciar os ecossistemas adequadamente.
Atenuar os riscos de desastres naturais
As zonas úmidas também agem como barreiras naturais que absorvem e capturam água da chuva, reduzindo a erosão do solo e os impactos de certos desastres naturais, como inundações. Com a mudança climática, especialistas preveem que irá ocorrer um aumento da frequência e da intensidade dos desastres naturais.
Alguns países já começaram a tomar precauções. O Chile, por exemplo, anunciou medidas para proteger suas zonas úmidas litorâneas após o tsunami de 2010. O estado de Louisiana (EUA) criou a Autoridade de Proteção e Restauração Costeira após o Furacão Katrina (2005), cujo impacto devastador foi aumentado pela degradação das zonas úmidas no delta do Rio Mississippi.
Entretanto, o uso de soluções baseadas na natureza continua a ser secundário, e quase todos os investimentos ainda são direcionados a projetos de infraestrutura cinza. Porém, para satisfazer a crescente demanda por água, infraestruturas verdes parece ser uma solução promissora, complementando as abordagens tradicionais.
Os autores do relatório pedem que haja um maior equilíbrio entre as duas, especialmente considerando que as soluções baseadas na natureza estão mais bem alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adotados pelas Nações Unidas em 2015.

Coordenado pelo Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos da UNESCO (WWAP, na sigla em inglês), o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos é fruto da colaboração entre 31 entidades das Nações Unidas e 39 parceiros internacionais que formam o UN Water. Sua publicação, geralmente, coincide com o Dia Mundial da Água, celebrado todos os anos em 22 de março. (ecodebate)

ONU e o equilíbrio entre infraestruturas verde e cinza pro uso d'água

ONU defende equilíbrio entre infraestruturas verde e cinza para uso adequado da água.
Relatório divulgado em 22/03/18 pela Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que um equilíbrio entre as chamadas infraestruturas verde e cinza seja a melhor saída para um uso adequado da água. A chamada infraestrutura verde concentra-se em preservar as funções dos ecossistemas, tanto naturais quanto artificiais e na engenharia ambiental, para melhorar a gestão dos recursos naturais. Já a infraestrutura cinza está mais relacionada a soluções obtidas por meio da engenharia civil.
“Soluções baseadas na natureza não estão limitadas à infraestrutura verde”, explicou a engenheira ambiental da ONU, Ângela Cordeiro, responsável pela apresentação do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018. “É pensar onde as duas juntas darão o melhor benefício”, acrescentou.
Segundo Ângela, as soluções verdes têm sua relevância também por “ajudar-nos a pensar diferente, com contato maior com a natureza e as populações”. Ela aponta como soluções desse tipo desde os banheiros secos até manejos adequados do solo e o uso de zonas úmidas para funções ambientais.
De acordo com o relatório da ONU, a infraestrutura verde apresenta diversos usos, inclusive na agricultura, setor que, de acordo com a entidade, é “de longe” o que mais consome água em todo o planeta. Por meio dela foram desenvolvidos sistemas de irrigação “mais efetivos e econômicos”.
Infraestrutura verde
“A demanda hídrica mundial tem aumentado a uma taxa de 1% ao ano. Atualmente há 3,6 bilhões de pessoas vivendo em áreas que são potencialmente escassas de água”, contextualizou a especialista ao ressaltar que a infraestrutura verde pode também ajudar a reduzir as pressões sobre o uso da terra, limitando a poluição, a erosão do solo e as necessidades hídricas.
Representando a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Alan Bojanic ressaltou a importância de se evitar o desperdício de alimentos, uma vez que é para a produção deles que vai a água consumida por agricultores e pecuaristas. “No mundo, 70% da água doce vai para a agricultura. No Brasil é 67%”, disse.
“Isso poderia ser amenizado, se levássemos em conta que um terço dos alimentos produzidos no mundo vão para o lixo ou são desperdiçados. Para 1 kg de carne são necessários 10 mil litros de água; e para uma maçã, 100 litros. São muitos zeros”, argumentou o representante da FAO. “Portanto não desperdiçar alimentos é também uma boa alternativa para evitarmos o uso inadequado da água”, concluiu.
Entre os participantes da roda de discussão sobre o relatório estava o coordenador residente do Sistema ONU no Brasil, Niky Fabiancic. “Soluções baseadas na natureza são o foco desse documento, e simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão hídrica”, disse Fabiancic.
“Precisamos identificar ações que se apoiem mutuamente, e trabalhar com a natureza. Não contra ela. A combinação entre as infraestruturas verde e cinza pode sim reduzir riscos, e esse relatório apresenta boas práticas para escolhas e investimentos inteligentes”, acrescentou.
Grupos vulneráveis
Diretor do PNUD no Brasil, Didier Trebucq lembrou que, apesar de os povos indígenas representarem 5% da população mundial, eles protegem 80% da biodiversidade do planeta. Segundo ele, o relatório “traz não apenas soluções, mas desafios para em 2030 assegurarmos o acesso equitativo e universal à água e ao saneamento”. Nesse sentido, acrescentou Trebucq, o desafio de superar desigualdades é central. “Este é um dos maiores desafios do uso da água: a atingir grupos mais vulneráveis”.
“Soluções baseadas na natureza não estão limitadas à infraestrutura verde”, explicou a engenheira ambiental da ONU, Angela Cordeiro.
Representando a ONU Meio Ambiente, Denise Hamú lamentou a falta de conexão das pessoas com a natureza, por conta do atual modelo social, em especial industrial e urbano. “No Brasil, por exemplo, 85% das pessoas vivem nas áreas urbanas e não sambem sequer de onde vem o leite. Digo isso porque outro dia perguntei a uma criança sobre se ela sabia de onde ele vem, e ela disse que vem da garrafa. Temos de fazer mudanças drásticas no padrão de consumo e de produção”, argumentou. (ecodebate)

‘Água não é mercadoria, a água é do povo’

Declaração final do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA 2018) reafirma: ‘água não é mercadoria, a água é do povo’.
22/03 é Dia Mundial da Água, encerrou-se o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), que reuniu cerca de 7 mil pessoas por cinco dias em Brasília (DF), como contraponto ao fórum das corporações – Fórum Mundial da Água.
Compreendendo o FAMA como algo maior que um evento, as organizações que convergiram na construção da luta pela água divulgam esta declaração final. O compromisso fundamental é de se manter em luta, enraizar os processos de construção até aqui realizados e manter a mobilização viva.
O documento reafirma a luta contra qualquer privatização e o estabelecimento de propriedade privada da água. O FAMA defende a água como um bem comum, ou seja, que deve ser controlado e estar a serviço do povo, reforçando o lema do encontro: “Água é direito, não mercadoria”.
Assinam o documento 36 organizações. As demais entidades do Brasil e do mundo que quiserem subscrever o documento, devem enviar solicitação, até o dia 12 de abril, à Secretaria Operativa do FAMA, pelos e-mails: operativafama@gmail.com/metodologiafama2018@gmail.com.
Marcha do FAMA
Confira abaixo a íntegra da declaração:
DECLARAÇÃO FINAL DO FÓRUM ALTERNATIVO MUNDIAL DAS ÁGUAS
Quem somos
Nós, construtores e construtoras do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), reunidos de 17 a 22 de março de 2018, em Brasília, declaramos para toda a sociedade o que acumulamos após muitos debates, intercâmbios, sessões culturais e depoimentos ao longo de vários meses de preparação e nestes últimos dias aqui reunidos. Somos mais de 7 mil trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo, das águas e das florestas, representantes de povos originários e comunidades tradicionais, articulados em 450 organizações nacionais e internacionais de todos os continentes. Somos movimentos populares, tradições religiosas e espiritualidades, organizações não governamentais, universidades, pesquisadores, ambientalistas, organizados em grupos, coletivos, redes, frentes, comitês, fóruns, institutos, articulações, sindicatos e conselhos.
Na grandeza dos povos, trocamos experiências de conhecimento, resistência e de luta. E estamos conscientes que a nossa produção é para garantir a vida e sua diversidade. Estamos aqui criando unidade e força popular para refletir e lutar juntos e juntas pela água e pela vida nas suas variadas dimensões. O que nos faz comum na relação com a natureza é garantir a vida. A nossa luta é a garantia da vida. É isso que nos diferencia dos projetos e das relações do capital expressos no Fórum das Corporações – Fórum Mundial da Água.
Também estamos aqui para denunciar a 8º edição do Fórum Mundial da Água (FMA), o Fórum das Corporações, evento organizado pelo chamado Conselho Mundial da Água, como um espaço de captura e roubo das nossas águas. O Fórum e o Conselho são vinculados às grandes corporações transnacionais e buscam atender exclusivamente a seus interesses, em detrimento dos povos e da natureza.
Mulher carrega galão de água potável no Quênia.
Nossas constatações sobre o momento histórico
O modo de produção capitalista, historicamente, concentra e centraliza riqueza e poder, a partir da ampliação de suas formas de acumulação, intensificação de seus mecanismos de exploração do trabalho e aprofundamento de seu domínio sobre a natureza, gerando a destruição dos modos de vida. Vivemos em um período de crise do capitalismo e de seu modelo político representado pela ideologia neoliberal, na qual se busca intensificar a transformação dos bens comuns em mercadoria, através de processos de privatização, precificação e financeirização.
A persistência desse modelo tem aprofundado as desigualdades e a destruição da natureza, através dos planos de salvamento do capital nos momentos de aprofundamento da crise. Nesse cenário, as ações do capital são orientadas pela manutenção a qualquer custo das suas taxas de juros, lucro e renda.
Esse modelo impõe à América Latina e ao Caribe o papel de produtores de artigos primários e fornecedores de matéria prima, atividades econômicas intensivas em bens naturais e força de trabalho.  Subordina a economia desses países a um papel dependente na economia mundial, sendo alvos prioritários dessa estratégia de ampliação da exploração a qualquer custo.
O Brasil, que sedia esta edição do FAMA, é exemplar nesse sentido. O golpe aplicado recentemente expõe a ação coordenada de corporações com setores do parlamento, da mídia e do judiciário para romper a ordem democrática e submeter o governo nacional a uma agenda que atenda seus interesses rapidamente. A mais dura medida orçamentária do mundo foi implantada em nosso país, onde o orçamento público está congelado por 20 anos, garantindo a drenagem de recursos públicos para o sistema financeiro e criando as bases para uma onda privatizante, incluindo aí a infraestrutura de armazenamento, distribuição e saneamento da água.
Quais são as estratégias das corporações para a água?
Identificamos que o objetivo das corporações é exercer o controle privado da água através da privatização, mercantilização e de sua titularização, tornando-a fonte de acumulação em escala mundial, gerando lucros para as transnacionais e ao sistema financeiro. Para isso, estão em curso diversas estratégias que vão desde o uso da violência direta até formas de captura corporativa de governos, parlamentos, judiciários, agências reguladoras e demais estruturas jurídico-institucionais para atuação em favor dos interesses do capital. Há também uma ofensiva ideológica articulada junto aos meios de comunicação, educação e propaganda que buscam criar hegemonia na sociedade contrária aos bens comuns e a favor de sua transformação em mercadoria.

O resultado desejado pelas corporações é a invasão, apropriação e o controle político e econômico dos territórios, das nascentes, rios e reservatórios, para atender os interesses do agronegócio, hidronegócio, indústria extrativa, mineração, especulação imobiliária e geração de energia hidroelétrica. O mercado de bebida e outros setores querem o controle dos aquíferos. As corporações querem também o controle de toda a indústria de abastecimento de água e esgotamento sanitário para impor seu modelo de mercado e gerar lucros ao sistema financeiro, transformando direito historicamente conquistado pelo povo em mercadoria. Querem ainda se apropriar de todos os mananciais do Brasil, América Latina e dos demais continentes para gerar valor e transferir riquezas de nossos territórios ao sistema financeiro, viabilizando o mercado mundial da água.
Denunciamos as transnacionais Nestlé, Coca-Cola, Ambev, Suez, Veolia, Brookfield (BRK Ambiental), Dow AgroSciences, Monsanto, Bayer, Yara, os organismos financeiros multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, e ONGs ambientalistas de mercado, como The Nature Conservancy e Conservation International, entre outras que expressam o caráter do “Fórum das Corporações”. Denunciamos o crime cometido pela Samarco, Vale e BHP Billiton, que contaminou com sua lama tóxica o Rio Doce, assassinando uma bacia hidrográfica inteira, matando inúmeras pessoas, e até hoje seu crime segue impune. Denunciamos o recente crime praticado pela norueguesa Hydro Alunorte que despejou milhares de toneladas de resíduos da mineração através de canais clandestinos no coração da Amazônia e o assassinato do líder comunitário Sergio Almeida Nascimento que denunciava seus crimes. Exemplos como esses têm se reproduzido por todo o mundo.

Os povos têm sido as vítimas desse avanço do projeto das corporações. As mulheres, povos originários, povos e comunidades tradicionais, populações negras, migrantes e refugiados, agricultores familiares e camponeses e as comunidades periféricas urbanas têm sofrido diretamente os ataques do capital e as consequências sociais, ambientais e culturais de sua ação.
Nos territórios e locais onde houve e/ou existem planos de privatização, aprofundam-se as desigualdades, o racismo, a violência sexual e sobrecarga de trabalho para as mulheres, a criminalização, assassinatos, ameaças e perseguição a lideranças, demissões em massa, precarização do trabalho, retirada e violação de direitos, redução salarial, aumento da exploração, brutal restrição do acesso à água e serviços públicos, redução na qualidade dos serviços prestados à população, ausência de controle social, aumentos abusivos nas tarifas, corrupção, desmatamento, contaminação e envenenamento das águas, destruição das nascentes e rios e ataques violentos aos povos e seus territórios, em especial às populações que resistem às regras impostas pelo capital.
A dinâmica de acumulação capitalista se entrelaça com o sistema hetero-patriarcal, racista e colonial, controlando o trabalho das mulheres e ocultando intencionalmente seu papel nas esferas de reprodução e produção. Nesse momento de ofensiva conservadora, há o aprofundamento da divisão sexual do trabalho e do racismo, causando o aumento da pobreza e da precarização da vida das mulheres.
A violência contra as mulheres é uma ferramenta de controle sobre nossos corpos, nosso trabalho e nossa autonomia. Essa violência se intensifica com o avanço do capital, refletindo-se no aumento de assassinato de mulheres, da prostituição e da violência sexual. Tudo isso impossibilita as mulheres de viver com dignidade e prazer.
Para as diversas religiões e espiritualidades, todas essas injustiças em relação às águas e seus territórios, caracterizam uma dessacralização da água recebida como um dom vital, e dificultam as relações com o Transcendente como horizonte maior das nossas existências.
Destacamos que para os Povos Originários e Comunidades Tradicionais há uma relação interdependente com as águas, e tudo que as atinge, e que todos os ataques criminosos que sofre, repercutem diretamente na existência desses povos em seus corpos e mentes. Esses povos se afirmam como água, pois existe uma profunda unidade entre eles e os rios, os lagos, lagoas, nascentes, mananciais, aquíferos, poços, veredas, lençóis freáticos, igarapés, estuários, mares e oceanos como entidade única. Declaramos que as águas são seres sagrados. Todas as águas são uma só água em permanente movimento e transformação. A água é entidade viva, e merece ser respeitada.
Por fim, constatamos que a entrega de nossas riquezas e bens comuns conduz a destruição da soberania e a autodeterminação dos povos, assim como a perda dos seus territórios e modos de vida.
Mas nós afirmamos: resistimos e venceremos!
Nossa resistência e luta é legítima. Somos os guardiões e guardiãs das águas e defensores da vida. Somos um povo que resiste e nossa luta vencerá todas as estruturas que dominam, oprimem e exploram nossos povos, corpos e territórios. Somos como água, alegres, transparentes e em movimento. Somos povos da água e a água dos povos.
Nestes dias de convívio coletivo, identificamos uma extraordinária diversidade de práticas sociais, com enorme riqueza de culturas, conhecimento e formas de resistência e de luta pela vida. Ninguém se renderá. Os povos das águas, das florestas e do campo resistem e não se renderão ao capital. Assim também tem sido a luta dos povos, dos operários e de todos os trabalhadores e trabalhadoras das cidades que demonstram cada vez maior força. Temos a convicção que só a luta conjunta dos povos poderá derrotar todas as estruturas injustas desta sociedade.
Identificamos que a resistência e a luta têm se realizado em todos os locais e territórios do Brasil e do mundo e estamos convencidos que nossa força deve caminhar e unir-se a grandes lutas nacionais e internacionais. A luta dos povos em defesa das águas é mundial.
Água é vida, é saúde, é alimento, é território, é direito humano, é um bem comum sagrado.
O que propomos
Reafirmamos que as diversas lutas em defesas das águas dizem em alto e bom som que água não é e nem pode ser mercadoria. Não é recurso a ser apropriado, explorado e destruído para bom rendimento dos negócios. Água é um bem comum e deve ser preservada e gerida pelos povos para as necessidades da vida, garantindo sua reprodução e perpetuação. Por isso, nosso projeto para as águas tem na democracia um pilar fundamental. É só por meio de processos verdadeiramente democráticos, que superem a manipulação da mídia e do dinheiro, que os povos podem construir o poder popular, o controle social e o cuidado sobre as águas, afirmando seus saberes, tradições e culturas em oposição ao projeto autoritário, egoísta e destrutivo do capital.
Somos radicalmente contrários às diversas estratégias presentes e futuras de apropriação privada sobre a água, e defendemos o caráter público, comunitário e popular dos sistemas urbanos de gestão e cuidado da água e do saneamento. Por isso saudamos e estimulamos os processos de reestatização de companhias de água e esgoto e outras formas de gestão. Seguiremos denunciando as tentativas de privatização e abertura de Capital, a exemplo do que ocorre no Brasil, onde 18 estados manifestaram interesse na privatização de suas companhias.
Defendemos o trabalho decente, assentado em relações de trabalho democráticas, protegidas e livre de toda forma de precarização. Também é fundamental a garantia do acesso democrático e sustentável à água junto à implementação da reforma agrária e defesa dos territórios, com garantia de produção de alimentos em bases agroecológicas, respeitando as práticas tradicionais e buscando atender a soberania alimentar dos trabalhadores e trabalhadoras urbanos e do campo, florestas e águas.

Estamos comprometidos com a superação do patriarcado e da divisão sexual do trabalho, pelo reconhecimento de que o trabalho doméstico e de cuidados está na base da sustentabilidade da vida. O combate ao racismo também nos une na luta pelo reconhecimento, titulação e demarcação dos territórios dos povos originários e comunidades tradicionais e na reparação ao povo negro e indígena que vive marginalizado nas periferias dos centros urbanos.
Nosso projeto é orientado pela justiça e pela solidariedade, não pelo lucro. Nele ninguém passará sede ou fome, e todos e todas terão acesso à água de qualidade, regular e suficiente bem como aos serviços públicos de saneamento.

Nosso plano de ações e lutas
A profundidade de nossas debates e elaborações coletivas, o sucesso da nossa mobilização, a diversidade do nosso povo e a amplitude dos desafios que precisam ser combatidos nos impulsionam a continuar o enfrentamento ao sistema capitalista, patriarcal, racista e colonial, tendo como referência a construção da aliança e da unidade entre toda a diversidade presente no FAMA 2018.
Trabalharemos, através de nossas formas de luta e organização para ampliar a força dos povos no combate à apropriação e destruição das águas. A intensificação e qualificação do trabalho de base junto ao povo, a ação e a formação política para construir uma concepção crítica da realidade serão nossos instrumentos. O povo deve assumir o comando da luta. Apostamos no protagonismo e na criação heroica dos povos.
Vamos praticar nosso apoio e solidariedade internacional a todos os processos de lutas dos povos em defesa da água denunciam a arquitetura da impunidade, que, por meio dos regimes de livre-comércio e investimentos, concede privilégios às corporações transnacionais e facilitam seus crimes corporativos.
Multiplicaremos as experiências compartilhadas no Tribunal Popular das Mulheres, para a promoção da justiça popular, visibilizando as denúncias dos crimes contra a nossa soberania, os corpos, os bens comuns e a vida das mulheres do campo, das florestas, águas e cidades.
A água é dom que a humanidade recebeu gratuitamente, é direito de todas as criaturas e bem comum. Por isso, nos comprometemos a unir mística e política, fé e profecia em suas práticas religiosas, lutando contra os projetos de privatização, mercantilização e contaminação das águas que ferem a sua dimensão sagrada.
O Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA) apoia, se solidariza e estimulará todos os processos de articulação e de lutas dos povos no Brasil e no mundo, tais como a construção do “Congresso do Povo”, do “Acampamento Terra Livre”, da “Assembleia Internacional dos Movimentos e Organizações dos Povos”, da “Jornada Continental pela Democracia e Contra o Neoliberalismo”; da campanha internacional para desmantelar o poder corporativo e pelo “tratado vinculante” como ferramenta para exigir justiça, verdade e reparação frente aos crimes das transnacionais.
Convocamos todos os povos a lutar juntos para defender a água. A água não é mercadoria. A água é do povo e pelos povos deve ser controlada.

É tempo de esperança e de luta. Só a luta nos fará vencer. Triunfaremos!
'A água está em disputa por quem precisa para beber e produzir, e por quem precisa para a mineração e agronegócio', afirma ativista do MST.

Assinam a declaração:
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Articulação Semiárido Brasileiro
Associação Brasileira de Saúde Coletiva
Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento
Caritas Brasil
Central de Movimentos Populares
Conselho Nacional das Populações Extrativistas
Confederação Nacional dos Urbanitários
Confederação Nacional das Associações de Moradores
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
Comissão Pastoral da Terra
Confederação Sindical de Trabalhadores/as das Américas
Central Única dos Trabalhadores
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal
Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros
Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental
Federação Nacional dos Urbanitários
Federação Única dos Petroleiros
Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social
Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental
Internacional de Serviços Públicos
Marcha Mundial das Mulheres
Movimento dos Atingidos por Barragens
Movimento dos Pequenos Agricultores
Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
ONG Proscience
Rede Mulher e Mídia
Serviço Interfranciscano de Justiça Paz e Ecologia
Sociedade Internacional de Epidemiologia Ambiental
Vigência (ecodebate)

quinta-feira, 29 de março de 2018

'Infraestrutura verde’, manejo das águas urbanas

'Infraestrutura verde' como complementação ao manejo das águas urbanas
Pesquisadores do IPT indicam ‘infraestrutura verde’ como complementação ao manejo das águas urbanas.
Propostas vão desde a utilização de água da chuva em casas e edifícios até a descontaminação de solos, inspiradas no funcionamento dos ecossistemas na natureza.
SANEAMENTO AMBIENTAL
ARBORIZAÇÃO URBANA
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E CONTAMINADAS

“É uma tecnologia de baixo impacto ambiental e baixo custo, resiliente, autorreparadora, que demanda poucos recursos energéticos, mão-de-obra e manutenção”, explicam Letícia dos Santos Macedo e Camila Camolesi Guimarães, pesquisadoras do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do IPT. “Além disso, auxilia na melhora da qualidade do ar, reduz processos erosivos e aumenta a infiltração e a retenção local de água”, elencam.
Comemorado anualmente em 22 de março, o Dia Mundial da Água tem como tema de reflexão no ano de 2018 ‘A natureza para a água’, proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) para incentivar estratégias baseadas na natureza para manejo e preservação do ciclo da água. Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apontam, dentro desse contexto, medidas que levam em conta a própria dinâmica das vegetações, solos, rios e lagos para o manejo dos recursos hídricos.
O enfrentamento dos desafios relacionados à água, tais como alagamentos, escassez e poluição, é feito usualmente com a chamada ‘infraestrutura cinza’. Ou seja, obras ou intervenções baseadas na engenharia tradicional, a exemplo de galerias de drenagem de águas pluviais e piscinões, que buscam minimizar os problemas advindos da própria urbanização e das atividades humanas.
Essas soluções, porém, podem ser harmonizadas e complementadas pela chamada ‘infraestrutura verde’, que tem por base a observação e a consideração do modo de funcionamento dos ecossistemas para auxiliar no enfrentamento dos desafios da água e podem ser aplicadas em escala urbana. Confira a seguir algumas das alternativas baseadas nesse conceito sugeridas por especialistas do IPT para o manejo das águas urbanas.
O setor de saneamento ambiental, nas áreas de água, esgoto e drenagem, é um dos que podem contar com estratégias de infraestrutura verde, considerando tecnologias relacionadas à capacidade natural da vegetação e do solo reterem, absorverem e tratarem águas de chuva e até mesmo esgotos.
“Jardins de chuva, bacias ou valas vegetadas e biovaletas são soluções de infraestrutura verde que utilizam conceitos de biomimética, ou seja, inspiradas na natureza, em estruturas de infiltração, retenção ou detenção de águas pluviais”, explica Luciano Zanella, pesquisador do Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento do IPT. Segundo ele, a construção de sistemas de captação de água da chuva em telhados, tal como apontado em manual lançado pelo Instituto, também é uma solução enquadrada no conceito, pois funciona como uma fonte alternativa de água para fins não potáveis e colabora para atenuar o efeito da impermeabilização do solo nos centros urbanos.
Ele aponta também que o tratamento de esgotos e da poluição difusa, aquela trazida pelas águas de chuva, pode ser feito a partir da ação conjunta de plantas e bactérias para a limpeza da água. “Os wetlands construídos são sistemas de tratamento inspirados no funcionamento natural de áreas de várzea ou pântanos, que permitem a melhoria da qualidade das águas e trazem ganhos paisagísticos, podendo servir inclusive como parques ou como área de atração de aves”, complementa Zanella.
A vegetação urbana também tem papel importante na gestão da água nas cidades. Raquel Amaral e Giuliana Velasco, especialistas do Laboratório de Árvores, Madeiras e Móveis do IPT, explicam que árvores de grande porte, com copas frondosas, favorecem a retenção da água das chuvas e diminuem o impacto das gotas no solo. “Isso reduz o escoamento superficial (runoff) e, consequentemente, os alagamentos, que são um grande problema nas cidades”, apontam.
Elas ainda chamam a atenção para o conceito de evapotranspiração, processo de perda de água do solo e da planta que aumenta a umidade do ar e possibilita maior frescor, principalmente em tempos de clima seco. “Uma única árvore de grande porte pode transpirar cerca de 150 mil litros de água em um ano, ou seja, uma média de 400 litros por dia! Teríamos uma‘bomba d’água’ vinda das árvores se tivéssemos, nas cidades, uma floresta urbana que se interligasse com os parques, as matas remanescentes e os quintais das casas, produzindo o que atualmente é chamado de ‘rio aéreo’”, explicam Raquel e Giuliana.
A degradação das margens dos rios é um dos grandes problemas urbanos com relação à gestão dos recursos hídricos. Um dos conceitos que aliam preservação dos recursos hídricos à recuperação de áreas degradadas na natureza é a bioengenharia de solos, que preconiza o uso da vegetação, isolada ou combinada com outros materiais, para formar sistemas vivos em que espécies vegetais utilizadas são arranjadas em modelos construtivos combinando as funções estrutural e ecológica.
“A bioengenharia apresenta potencial de uso em projetos de gestão de recursos hídricos, com a função de recompor segmentos – ou dependendo do caso, até a totalidade – das margens de cursos d’água, comprometidas pela degradação ambiental em bacias hidrográficas”, diz Maria Lucia Solera, pesquisadora da Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais do IPT.
As áreas vegetadas podem ser também utilizadas para a redução da contaminação nos solos e águas superficiais ou subterrâneas por meio do processo de fitorremediação, técnica que utiliza diversos tipos de plantas para a remoção, degradação ou contenção de poluentes nos solos, lodos e sedimentos, como os óleos, graxas e metais pesados.
Embora a fitorremediação seja uma técnica mais lenta de remediação – as plantas devem primeiramente estabelecer raízes e ter a estrutura bem desenvolvida – e seja melhor aplicada em áreas com nível baixo a moderado de contaminação, para que os poluentes não inibam o próprio crescimento das plantas, ela traz uma série de benefícios aos lugares em que é empregada.
Além de sustentáveis, as técnicas envolvidas no conceito de infraestrutura verde ajudam, em sua maioria, a melhorar a estética dos ambientes, construindo uma paisagem urbana diferenciada. “Elas podem ser exploradas para criar habitats, tornando os ambientes urbanos ao mesmo tempo úteis e bonitos”, finaliza as pesquisadoras. (ecodebate)

Povos indígenas defendem a proteção dos recursos hídricos

Fórum Mundial da Água: povos indígenas defendem a proteção dos recursos hídricos.
Culturas de Água dos Povos Indígenas da América Latina.
Para os povos indígenas a água é um elemento sagrado e que precisa ser protegido esse foi o tom da sessão realizada nesta quarta-feira, no Fórum Mundial da Água, sobre Culturas de água dos povos indígenas da América Latina. O destaque foi a importância das comunidades tradicionais na proteção dos recursos hídricos.
Maria Alice Campos, do Conselho Internacional das 13 Avós Nativas, lembra do ritual que fazia com as filhas na comunidade Vila Céu do Mapiá, na floresta Nacional do Purus, no Amazonas, para repassar respeito e a devoção pela água.
Além do Brasil, a sessão contou com a participação de representantes indígenas do Equador, Guatemala e Chile. Eles falaram das experiências nesses países.
Luis Olmedo, do Equador, destacou que a água para os povos andinos significa a própria vida, e que a maioria das nascentes do país ficam em terras indígenas. Olmeo lembrou que em 2014 a Constituição do país garantiu a água como um bem coletivo e assegurou o direito a água para todo cidadão equatoriano. lembrou ainda que em 2017, os indígenas passaram a administrar os recursos hídricos em seus territórios.
Maria Alice Campos, do Conselho Internacional das 13 Avós Nativas, destacou que o Brasil tem uma boa legislação ambiental e de proteção aos povos tradicionais, mas que muitas vezes não tem sido respeitada.
Representante do povo Maya, Ana Francisca Pérez, da Guatelamala, apontou entre os desafios da água a promoção ações que tragam conhecimento para a população sobre a importância de proteger a natureza e seus guardiões, como os povos indígenas. Os participantes também destacaram que é necessário decisão política para que a água não seja tratada como mercadoria.
Maria Alice, das 13 Avós, lembrou que paralelo ao Forum Mundial da Água ocorre o Fórum alternativo, que realizou a Assembleia dos povos originários e tradicionais pela água. Segundo ela, lá diversas comunidades relataram graves violações, como perseguição de lideranças e crimes ambientais promovidos dentro de terras indígenas.
A brasileira pediu a inclusão de dossiê produzido pelos povos indígenas presentes no Fórum alternativo, que também ocorre em Brasília, nos anais do Fórum Mundial da Água.
De acordo com ela, o documento traz relatos de graves violações aos direitos dos povos indígenas, e crimes ambientais promovidos no Alto Solimões. A área, de 33 lagos é considerada um santuário para etnias como os Tikuna. (ecodebate)

Como a fumaça de incêndios florestais afeta a saúde humana

Dentre os sintomas de doenças e doenças observados relatam infecções do sistema respiratório superior, asma, conjuntivite, bronquite, irrita...