domingo, 3 de janeiro de 2010

Copenhague ou Copenhágua?

A estratégia de mobilização através do clima teve sucesso. O carbono se tornou um elemento químico mágico. Mas há o risco de reducionismo absurdo. Será que poderemos resolver nossos problemas ambientais, profundamente vinculados às relações econômico-sociais e internacionais, através do sequestro de carbono com matas homogêneas de eucalipto e cana? São algumas das contradições que hoje nos embalam hoje e de outras que surgiram em Kyoto, como a que manda pagar pela monocultura florestal plantada pelo carbono que absorve da atmosfera, mas não paga pela preservação da floresta biodiversa nativa de pé. Será que Al Gore e equipe não encontraram uma estratégia que permite ao capital financeiro internacional e as indústrias pagarem seus pecados sem se arrependerem e sem mudarem nenhum dos ingredientes de seu modo de produção e consumo? O carbono parece repetir o milagre da salvação pelas indulgências medievais, agora unindo judeus, católicos e protestantes. Esta discussão entre os interesses dos países pobres e ricos, parecendo o renascimento de um certo terceiromundismo, é café requentado, de péssimo gosto. Entra na agenda de Copenhague para permitir a fuga das questões essenciais: a biodiversidade dos ecossistemas, a questão dos cuidados com o solo, a questão das matrizes energéticas, o modelo de produção e consumo, as questões demográficas e das águas, sobretudo continentais, geridas diretamente por nós. Uma mesma área de floresta biodiversa nativa tem valor muito superior a uma floresta homogênea plantada, do ponto de vista ambiental. Uma armadilha que está no modelo em consagração em Copenhague é desconhecer a biodiversidade e os ecossistemas remanescentes na Terra e tentar resolver questões complexas a partir de sequestro de carbono. As áreas já desmatadas, as áreas abandonadas por culturas em decadência, ou as áreas possíveis de serem redirecionadas como oferta agro-florestal no planeta poderia ser utilizada como áreas de plantio de florestas homogêneas energéticas, capturando carbono e também riqueza para seus proprietários, com grande impacto ambiental e sócio-econômico mundial, fazendo retroceder a sanha de desmatamento de biomas nativos com as últimas reservas de biodiversidade e criando condições favoráveis para recuperação e sobrevivência de biomas em extinção.As águas doces continentais disponíveis às populações têm muito a ver com o sistema de cobertura vegetal, sobretudo das florestas nativas. As águas como eixo de mobilização e transformação das políticas urbanas e rurais em todo o globo terrestre são mais profícuas, abrangentes, mobilizadoras e compreensíveis pelas grandes massas humanas que este foco no carbono. O carbono e outras variáveis indicadores sistêmicos ambientais devem compor um sistema de monitoramento em que a vida e biodiversidade dos ecossistemas sejam centrais. E com este objetivo a gestão da água é central, no território desta grande bacia que é a Terra. A águas mostram a nossa cara, os espelhos d’água refletem a nossa mentalidade. E podemos monitorar todas as políticas públicas pelo foco do biomonitoramento.

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