sexta-feira, 15 de abril de 2011

Fukushima tornou-se um novo Chernobyl

Autoridades do Japão confirmam o que diziam os especialistas e consideram o desastre de nível sete, onde até agora só estava a catástrofe ucraniana.
O acidente na central nuclear de Fukushima Daiichi, provocado pelo sismo de 9,0 na escala de Richter e consequente tsunami que atingiram o Japão a 11 de Março, já foi classificado ao nível do desastre nuclear de Chernobyl. As autoridades japonesas viram-se ontem obrigadas a subir o nível do acidente de Fukushima de 5 para 7 (nível máximo na escala internacional que mede a gravidade deste tipo de eventos), anunciando que a situação na central da província no Nordeste do país está agora ao nível do acidente de 1986 na Ucrânia. Contudo, a comissão de segurança nuclear do país sublinhou que as emissões de radiação na área são mais baixas que a radioatividade libertada naquele que até agora era considerado o maior desastre nuclear de sempre (a envolver a exploração do nuclear para fins civis).
Segundo o organismo estatal nipónico, ontem os níveis de radiação representavam apenas 10% dos registados em Chernobyl, ainda que, num raio de 60 quilómetros em redor da central, os níveis continuem acima dos legais - situação que já obrigou as autoridades a alargar a zona de exclusão, até agora limitada a um raio de 40 quilômetros em torno de Fukushima Daiichi. A comissão indicou ainda que o novo patamar de perigosidade é "provisório" e que a decisão foi tomada devido "às medições de iodo e césio registadas no meio ambiente". A decisão definitiva ficou sublinhada, estará a cargo de um comité de especialistas internacionais.
O dia de ontem também ficou marcado por um novo sismo, uma réplica que atingiu 6,3 graus na escala de Richter e afetou sobretudo a província da central nuclear pelas 14h locais (6h da manhã em Lisboa). O novo sismo levou à retirada urgente dos funcionários da central, como medida de precaução.
Naoto Kan em alta A subida oficial do nível de perigo na central surgiu com uma adenda - o governo deixou claro que a decisão de assumir o nível máximo em Fukushima surgiu, não devido à atual situação na central, mas ao cenário visto como um todo desde o sismo de Março. Ainda assim, o governo não escapa ao amontoar de críticas quanto à falta de informação fornecida à população.
Depois de, há algumas semanas, o líder do partido comunista japonês, Kazuo Shii, ter exigido que a gestão do desastre em Fukushima passasse a ser feita por um órgão independente do governo - pelas "lacunas na informação" que foi chegando aos japoneses -, ontem as afirmações do executivo de Naoto Kan de que esta catástrofe era difícil de prever foram igualmente alvo de duras críticas. "Ouvi o governo e a Tepco [Tokyo Electric Power Co., empresa que gere a central] dizerem que não poderiam prever que o tsunami atingira esta dimensão, mas isso é ridículo", disse ao "The Japan Times" Ryohi Morimoto, membro honorário da Associação Japonesa para a Prevenção de Desastres Sísmicos.
Ainda assim, e apesar das críticas, um analista coreano a viver em Tóquio, Cha Hak-bong, referia que "a taxa de popularidade do primeiro-ministro, Naoto Kan, já subiu 10% desde o sismo".
Repensar o nuclear
A discussão mundial sobre as vantagens e os riscos nucleares continua a subir de tom desde o acidente em Fukushima e, depois de países como a Alemanha terem suspendido a construção já em curso de novas centrais para reavaliação do modelo, ontem a Suíça anunciou que está a estudar a possibilidade de abandonar completamente a exploração de energia nuclear. "Estamos a analisar vários cenários, incluindo o da saída", disse Micheline Calmy-Rey, presidente do país, depois de uma reunião com o homólogo austríaco, Heinz Fischer.
A Áustria é um dos poucos países que já aboliram a exploração deste tipo de energia, depois de um referendo em 1978 em que a população votou em massa no "não". A Suíça - que não quis esperar pelos testes de stress exigidos, em Março, pela UE - tem cinco centrais nucleares em atividade e recentemente deu início a consultas públicas para determinar a renovação dos modelos de segurança e de funcionamento de três delas. (ionline)

Um comentário:

Anônimo disse...

E o Brasil? não vai largar suas usinas de Angra e desistir de fazer outras? ou vai esperar uma catástrofe?

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