sábado, 23 de julho de 2011

Aquicultura reduzirá o problema da fome?

Professor da USP afirma que a aquicultura pode contribuir para reduzir o problema da fome no mundo
A nutrição de peixes e a fome mundial – Até o ano de 2050, o mundo passará dos atuais 6,7 bilhões para mais de 9 bilhões de habitantes agravando um problema já existente: a fome mundial. Os dados são da Divisão de Estatísticas das Nações Unidas (Unstat) e foram apresentados pelo professor Daniel Eduardo Lavanholi de Lemos do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) durante o World Aquaculture 2011, realizado de 6 a 10 de junho em Natal (RN).
O crescimento populacional é agravado pela desigualdade, já que o grupo dos mais ricos cresce menos que o grupo dos mais pobres, segundo o pesquisador. No cenário de 2050 delineado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), as nações da Ásia e da África subsaariana abrigarão 60% da população do planeta.
Diante desse quadro, Lemos acredita que a aquicultura possui um importante papel a cumprir. “O pescado já é segunda maior fonte de proteína animal atrás apenas dos suínos”, assinalou o professor da USP, ressaltando que a aquicultura já divide igualmente com a pesca o fornecimento de pescado mundial.
A diferença é que a produção pesqueira não cresce desde o ano 2000 enquanto que a aquicultura aumenta a cada ano e ainda tem muito potencial para se expandir, segundo o especialista. “Assim como ocorreu com a caça, que não responde mais pelo suprimento de alimentos para o homem, era previsível que o mesmo ocorresse com a pesca”, assinalou Lemos em seu trabalho.
No entanto, para crescer de maneira sustentável, a criação de pescado deve enfrentar vários desafios. Um dos maiores será o de encontrar fontes alternativas de nutrientes para as rações de piscicultura.
Isso ocorre porque ainda se usam recursos marinhos na aquicultura. Boa parte da alimentação dos animais criados em tanques são rações compostas por farinha feita com peixes pescados e a redução dos estoques naturais tem tornado a matéria-prima mais rara e o produto a cada dia mais caro. “A escassez desse insumo levará a buscas mundiais cada vez maiores por fontes de nutrientes-chave”, aventou.
Encontrar soluções sustentáveis para a nutrição na aquicultura é o desafio atual de Lemos que coordena o projeto “Determinação in vitro da digestibilidade da proteína alimentar para peixes em aquicultura”, que tem o apoio FAPESP na modalidade Auxílio a Projeto de Pesquisa – Regular.
Subprodutos da agricultura
Boa parte da resposta para a questão da aquicultura sustentável estaria na agricultura. Com produção mundial crescente, muitos subprodutos agrícolas poderão entrar na composição de rações sem prejuízo para a produção de alimentos, acredita o professor.
“A tendência é usar fontes cada vez mais grosseiras para as rações e deixar as matérias-primas mais nobres para o consumo humano”, afirmou. Segundo ele, o arroz quebrado, por exemplo, é componente de rações no Ocidente, mas a China não se dá mais ao luxo de lançá-lo aos animais, pois prefere destiná-lo à população.
Com um setor agropecuário superavitário, o Brasil desponta como um potencial fornecedor de insumos para a aquicultura, na opinião de Lemos, além de possuir vastas extensões de espelhos d’água a serem exploradas.
E mesmo com os desafios relacionados à nutrição sustentável, a aquicultura ainda apresenta inúmeras vantagens em relação aos outros tipos de criação animal. Lemos lembra que mais de 50% da produção aquícola prescinde de ração como algas, ostras, vieiras e mexilhões ou de peixes que não consomem proteína animal.
Os animais aquáticos também são os que melhor convertem nutrientes em carne, pois não gastam energia para produzir calor como os animais homeotérmicos e sofrem menos a ação da força da gravidade, o que também demanda energia para a manutenção estrutural do corpo.
“Teremos que saber administrar cada vez melhor os nutrientes-chave e saber usar os recursos nutritivos para a aquicultura de modo que ela se torne solução para a falta de alimentos, e não parte desse problema”, concluiu. (EcoDebate)

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