“Temos sido um agente geológico nefasto e um elemento de antagonismo terrivelmente bárbaro da própria natureza que nos rodeia” (Euclides da Cunha, 1907).
“… a flora (…) atualmente se acha em constante diminuição, devido principalmente à devastação progressiva pelos cortes incessantes e ruinosos, pelos descuidos com o fogo nas ocasiões das queimas e pela avultada criação de cabras, sem método e numa liberdade desastrosa pela vegetação, sendo esta criação assim um dos maiores impedimentos para uma renovação espontânea das essências arbustivas e arborescentes e, portanto, florestais.” (LÖEFGREN, 1923).
Florestas têm sido ameaçadas em todo o mundo, pela degradação incontrolada. Isto acontece por terem seu uso desviado para necessidades crescentes do próprio homem e pela falta de um gerenciamento ambiental adequado. As florestas são o ecossistema mais rico em espécies animais e vegetais. A sua destruição causa erosão dos solos, degradação das áreas de bacias hidrográficas, perdas na vida animal, quando o seu o habitat é destruído, os animais morrem e há perda de biodiversidade.
No dia 21 de março, foi comemorado o Dia Mundial da Floresta e ele foi instituído em 1872, através de orientações da Confederação Europeia de Agricultores.
O objetivo da criação desta data é o de mobilizar a população do mundo sobre a importância de se manter as florestas em seus estados naturais, conservando-as para garantir a manutenção da vida na Terra.
O que no século passado era apenas uma comemoração, hoje virou um alerta. Sim, tanto a preservação e a conservação, como as homenagens às florestas se transformaram num ato de conscientização. As florestas e a água são os dois recursos naturais que andam sempre juntos. Sem florestas não há água, não existe clima favorável e muito menos vida. Além de ser alimento, remédio e matéria prima, são as florestas, com suas raízes e folhas, que alimentam e protegem o solo.
O desmatamento condena as populações que dependem da floresta para a sua subsistência, atinge um patrimônio genético que poderia ser usado para originar novos tipos de remédios e alimentos, empobrece os solos tropicais, que se tornam inférteis, e ameaça de extinção para dezenas de espécies.
Desmatamento é a operação que objetiva a supressão total da vegetação nativa de determinada área para o uso alternativo do solo, implantação de projetos de assentamento de população, agropecuários; industriais; florestais; de geração e transmissão de energia; de mineração; e de transporte. Considera-se nativa toda vegetação original, remanescente ou regenerada, caracterizada pelas florestas, capoeiras, cerradões, cerrados, campos, campos limpos, vegetações rasteiras, etc. Qualquer descaracterização que venha a suprimir toda vegetação nativa de uma determinada área deve ser interpretada como desmatamento.
Antes de tudo, é preciso a manutenção da biodiversidade brasileira e limitar a monocultura de árvores uniformes de eucaliptos, pinus, etc., as poucas essências florestais, particularmente as que servem de combustível.
Em todas as partes do país onde as fronteiras agrícolas avançaram, o método de derrubada queimada continua sendo o mais usado, chegando a representar em alguns Estados uma ameaça aos últimos fragmentos de floresta.
Não obstante haver passado várias décadas os processos de desflorestamentos põem em risco a conservação dos solos, dos recursos hídricos e da biodiversidade do planeta, além de contribuir para o aquecimento global, o que observamos atualmente é o agravamento da destruição da natureza pela expansão da ocupação de regiões que nem eram cogitadas para tal. A situação é imensamente mais grave, considerando-se que os meios de destruição são muito mais eficientes e rápidos. Além disso, a conivência e a ausência de figuras públicas, cujas vozes discordantes se façam ouvirem, e tenham capacidade de mobilizar a sociedade brasileira, agravam ainda mais o atual quadro de negligência e furor dendrocida.
Apesar das taxas de desmatamento ter sido reduzida significativamente nos últimos anos, a FAO alerta que as perdas ainda são altas em muitos países e as áreas de florestas primárias, que nunca tiveram atividade humana, continuam diminuindo.
O bioma Pampa, que ocupa a maior parte do Rio Grande do Sul, já perdeu quase 54% da vegetação original. Os dados mais recentes do desmatamento do bioma, divulgados recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente, mostram que, entre 2002 e 2008, 2.183 km2 de cobertura nativa foram derrubados. No total, o bioma já perdeu mais de 95 mil km2 da vegetação original.
O levantamento feito pelo Centro de Monitoramento Ambiental do IBAMA, aponta os dezenove municípios gaúchos que mais desmataram o bioma no período. Alegrete, na fronteira do estado do Rio Grande do Sul, foi o município que mais desmatou no período 2008-2009, em números absolutos, sendo 51,93 km2 equivalentes a 0,67% da área do município. É o campeão de desmatamento, com 176 quilômetros quadrados de desmate entre 2002 e 2008. Os municípios de Dom Pedrito e Encruzilhada do Sul aparecem em seguida, com 120 km2 e 87 km2, desmatados em seis anos.
Apesar do grande percentual desmatado, o ritmo de devastação do Pampa é o menor entre os biomas brasileiros. De acordo com os dados do MMA, a região perdeu anualmente, em média, 364 km2 de vegetação nos últimos seis anos. No Cerrado, o ritmo anual de devastação é de 14 mil km2 por ano e, na Amazônia, a derrubada atinge 18 mil km2 de floresta anualmente.
O Bioma Pampa ou Campos Sulinos perdeu 331 d área com a supressão de vegetação nativa, equivalente à taxa de 0,18%, entre 2008-2009, no período de 2002-2008 a taxa foi de 1,2%.
Dos seus 177.767 km2, o Pampa teve quase 54% de área original suprimida ao longo de sua ocupação histórica.
Agricultura, a pecuária e a expansão do “reflorestamento da vegetação nativa” por monoculturas de árvores exóticas são as atividades que pressionam o desmatamento no Pampa.
Amplamente reconhecida por todos é a necessária inter-relação existente entre as florestas e águas. A água precisa das florestas para servir elas mesmas, o humano e a fauna.
As florestas são fundamentais à conservação da riqueza biológica, à produção de bens e serviços ambientais, além de proporcionarem geração de renda, emprego e desenvolvimento econômico às nações.
As florestas têm importância vital para o equilíbrio ambiental e ecológico do planeta. Elas promovem a amenização do clima, a troca atmosférica, a manutenção da biodiversidade e a reciclagem dos solos. Florestas, além de proporcionarem condições fundamentais para a existência da vida, também apresentam enorme importância para os interesses socioeconômicos e culturais, fornecendo inúmeros produtos, desde madeiras, energia, alimentos e remédios, até valores edílicos e turísticos, tais como belas paisagens. Entre as mais importantes funções desempenhadas pelas florestas está a conservação e a preservação que proporcionam aos mananciais de água potável, cada vez mais escassos.
A eficiência e produtividade de mananciais em florestas estão em relação direta com o grau de integridade do ecossistema florestal, constituído por fauna, flora e inúmeras relações entre os seres que ali convivem. Nas florestas, a água da chuva é interceptada pelas árvores, armazena-se nas folhas mortas sobre o solo e lentamente, esta água se infiltra nos lençóis subterrâneos, abastecendo os mananciais. Com a destruição florestal, toda essa dinâmica é comprometida. Sem florestas, a energia da chuva desagrega e arrasta o solo em processos de erosão, assoreando rios e provocando enchentes; com a redução da infiltração de água no solo reduz-se drasticamente a produtividade dos mananciais. Portanto, destruir florestas é destruir os recursos hídricos naturais e artificiais, comprometendo a disponibilidade de água potável.
Apesar de sua importância, as florestas do planeta não estão recebendo a atenção devida. Vêm sendo destruídas num ritmo acelerado, e calcula-se que cerca de dois terços já não existem mais. Nesse quadro trágico, o Brasil figura como o país que mais destrói suas matas. Após a histórica devastação da mata atlântica, que continua sendo atacada, apesar de resumida a apenas 7,8% de sua área original, prossegue o saque predatório à floresta amazônica, ao cerrado e à caatinga. Em razão desse imprevidente, e por que não dizer irracional comportamento, tornam-se cada vez mais frequentes as crises de falta d’água que afetam o bem estar das populações e comprometem a economia. A consequência é a elevação dos custos sociais, principalmente nos territórios da mata atlântica, na qual se concentra uma população superior a 100 milhões de habitantes e 70% do PIB nacional.
Florestas nativas devem ter sua real importância reconhecida. Precisam ser valorizadas como produtoras de água, além de sua função na perpetuação da biodiversidade e do equilíbrio ecológico. São essenciais para o denominado desenvolvimento sustentável em longo prazo, agregando produtividade ecossistêmica, água, ar, biodiversidade, estabilidade geomorfológica. Projetos, programas, planos de florestas nativas, além de garantir a disponibilidade de água, criariam milhões de empregos e melhores perspectivas para as gerações futuras presentes e futuras.
Se realmente quisermos construir uma nação sustentável e justa, com adequado provisionamento de água em quantidade e qualidade, precisamos que a sociedade civil e o poder público, aprendam a valorizar e gerenciar eficientemente os recursos naturais.
Capacitar os educadores, formadores de opinião, técnicos dos órgãos ambientais, promover a conscientização da sociedade sobre as relações entre florestas e água, incentivar o desenvolvimento efetivo dos comitês de bacias hidrográficas, programar planos regional e nacional de recursos hídricos são algumas das medidas urgentes a serem implementadas. Acima de tudo, devemos aprender a abordar a temática água e florestas de maneira integrada, ou seja, da única forma que sempre deveriam ter sido tratadas. E, antes de mais nada, fazer cessar, os vergonhosos desmatamentos.
“Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher o que semeamos!” - Provérbio Chinês. (EcoDebate)
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