A transição
demográfica e o crescimento populacional no mundo
A história da humanidade é a história da luta contra as
altas taxas de mortalidade precoce. Desde o surgimento do homo sapiens,
há cerca de 200 mil anos, a mortalidade sempre foi alta e exigia que as taxas
de natalidade também fossem altas, para evitar o declínio de uma população que
era relativamente pequena.
A literatura demográfica mostra que a população mundial
estava em torno de 5 milhões de habitantes no ano 8000 antes de Cristo, chegou
a cerca de 300 milhões no ano 1 da era Cristã e atingiu 1 bilhão de habitantes
por volta do ano 1800. A taxa de crescimento demográfico foi de apenas 0,05% ao
ano, em um período de aproximadamente 10 mil anos, pois a mortalidade ceifava vidas
imaturas.
O crescimento econômico também era pequeno e se destacava
apenas em algumas populações isoladas como na Babilônia, no Egito, na Grécia,
em Roma, etc. e por pouco tempo. Segundo cálculos do economista Angus Maddison,
o Produto Interno do Bruto (PIB) do mundo cresceu 6 vezes entre o ano 1 e 1800,
representando um aumento anual de 0,09%. A renda per capita mundial aumentou
somente 1,4 vezes (40%), em 1800 anos.
Porém, tudo mudou quando o novo modelo de produção e consumo
começou a apresentar resultados práticos e os avanços científicos e
tecnológicos permitiram o avanço da manufatura movida a energia não animal. Na
primeira Revolução Industrial, no final do século XVIII, James Hargreaves e
Richard Arkwright revolucionaram as máquinas de fiar e James Watt aumentou a
eficiência do motor a vapor. As locomotivas e os navios a vapor revolucionaram
os transportes de passageiros e de carga, expandindo as fronteiras e as
migrações humanas.
Na segunda Revolução Industrial, na virada do século XIX
para o século XX, os avanços foram ainda maiores com a introdução da iluminação
elétrica, o aço, o motor de combustão interna, o petróleo, o telefone, o
automóvel, o avião, etc. Nos últimos dois séculos, os avanços da população e da
economia superaram tudo que foi feito nos últimos 200 mil anos.
Ainda segundo estimativas de Maddison, o Produto Interno
Bruto (PIB) do mundo cresceu 90 vezes entre 1800 e 2011, enquanto a população
mundial aumentou sete vezes, passando de 1 bilhão para 7 bilhões de habitantes.
Ou seja, paralelamente ao crescimento demográfico que chegou a 1% ao ano, na
média do período, houve uma aceleração do incremento da renda per capita, pois
um trabalhador médio do mundo em 2011 recebia por mês aquilo que um habitante
pré-revolução industrial teria que juntar em 13 meses de salário.
Porém, o sucesso humano dos últimos dois séculos teve um
alto preço, representado pela agressão generalizada à natureza. Por exemplo,
nos últimos 20 anos houve um acréscimo de 1,6 bilhão de habitantes no mundo,
pois quando a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
(Rio/92) foi declarada aberta, em meados de 1992, a população mundial estava na
casa de 5,5 bilhões de habitantes. Em meados de 2012, durante os dias da Rio +
20, a população mundial estará na casa de 7,1 bilhões de habitantes.
Para as próximas décadas a ONU estima 9 bilhões de
habitantes em 2043. Portanto, o mundo continua gerando mais gente e mais
consumo. Para 2100, a projeção média da ONU indica uma população em torno de 10
bilhões de habitantes.
Nos últimos 200 anos, o desenvolvimento econômico
possibilitou que ocorresse uma das maiores transformações sociais da história
da humanidade que é a transição demográfica. Na medida em que o mundo ia se
urbanizando e melhorando as condições de educação, alimentação e moradia as
taxas de mortalidade começaram a cair – especialmente a mortalidade infantil –
aumentando a esperança de vida ao nascer.
Quanto maior o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) maior
é a esperança de vida. Esta correlação positiva mostra que o aumento do tempo
de vida médio das pessoas, possibilita que os investimentos em educação
apresentem retornos econômicos para os indivíduos e para a sociedade. A lição é
a seguinte: não existe país desenvolvido com baixa esperança de vida ao nascer.
No estágio seguinte, a teoria da transição demográfica
mostra que, universalmente, a queda nas taxas de natalidade acontecem com um
certo lapso de tempo após o início da queda da mortalidade. Diversos autores
ressaltam que a transição da fecundidade é um dos mais importantes fenômenos
sociais de todos os tempos. A taxa média de fecundidade no mundo era de 5
filhos por mulher em 1950 e caiu para 2,5 filhos em 2010.
Mas como houve um lapso entre a queda da mortalidade e da
natalidade, o crescimento populacional foi muito alto e os 250 anos, entre 1800
e 2050, serão absolutamente diferentes de tudo que aconteceu no passado e do
que vai acontecer no futuro. Mas para que a transição demográfica apresente
ganhos duradouros no longo prazo é preciso que as taxas de natalidade caiam
para um nível próximo das taxas de mortalidade. Taxas elevadas de crescimento
demográfico não se sustentam indefinidamente. Atingir a estabilidade da
população mundial é um imperativo que não pode ser adiado por muito tempo.
Na segunda metade do século XXI, pode ser que a população
mundial venha a se estabilizar ou até mesmo a iniciar um declínio. Mas o
crescimento de 1 bilhão de habitantes em 1800 para 7 bilhões em 2011 já se
constitui em um recorde absoluto. O impacto ambiental deste crescimento foi
enorme, pois além do crescimento da população houve crescimento da renda per
capita mundial. Quanto maior é a economia maior é o uso de matérias-primas e
recursos naturais e maior é o volume de lixo e resíduos descartados no
ambiente.
Mas a possibilidade de colapso ambiental estabelece a
necessidade de interromper o crescimento exponencial da curva de crescimento
demográfico (e do crescimento ainda maior da economia). Isto deveria ser feito
com respeito aos direitos de cidadania, num ambiente onde predomine as regras
do Estado Democrático de Direito. O atual modelo de crescimento populacional e
econômico é impossível de ser mantido em um Planeta finito. (EcoDebate)
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