segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Práticas ecoeficientes no mercado da saúde

Mercado de saúde está atento a práticas ecoeficientes
O hospital Pablo Tobón Uribe foi um dos pioneiros ao investir coeficiência na América Latina.
UNIMED RIO: novo hospital "verde" de alta e média complexidade custou R$ 190 milhões
Preservar o meio ambiente através de ações sustentáveis. Um discurso que há pouco mais de uma década só seria pronunciado por ativistas entrou definitivamente na pauta de discussão de executivos das companhias de saúde em todo o mundo. Os investimentos em sustentabilidade ambiental têm se mostrado instrumentos valiosos não só para o equilíbrio do planeta, como para o controle e a diferenciação dos negócios no mercado. Na América do Sul, o bom exemplo quem dá é a Colômbia. O país, que assim como o Brasil integra a lista dos 17 países mais biodiversificados do mundo, abriga na cidade de Medellín um dos maiores hospitais verdes do continente, o Pablo Tobón Uribe. Instituição filantrópica de alto nível de complexidade, além de importante centro de pesquisa e ensino do país, a organização foi uma das primeiras das américas a investir em sustentabilidade ambiental, há 25 anos.
Com 351 leitos e uma taxa de ocupação média anual de mais de 80%, o Pablo Tobón Uribe – ou “hospital com alma”, como é carinhosamente chamado em seu país – focou o seu programa de sustentabilidade na prestação de serviços dentro de parâmetros de produção mais limpa. A intenção era criar um hospital ecológico, que respeitasse a cultura local e proporcionasse uma melhor qualidade de vida às pessoas envolvidas no processo. “Não fazia sentido tratar e ajudar nossos pacientes e, ao mesmo tempo, deteriorar o meio ambiente”, disse à revista Diagnóstico o engenheiro ambiental da instituição, Carlos Andrés Parra.
O primeiro passo foi a implantação de uma política de gestão de resíduos sólidos, através da classificação do material conforme a sua origem. O lixo passou a ser separado em recipientes identificados por um sistema de cores, técnica adotada no final da década de 80, quando as discussões sobre sustentabilidade ambiental ainda eram incipientes. Mais de 10 anos depois, o procedimento seria transformado em norma na Colômbia. “Não existiam outros modelos que servissem de referência para o nosso programa de sustentabilidade”, ressalta Parra, mencionando as barreiras enfrentadas pelo hospital na época. “A indústria não produzia recipientes, bolsas nem outros artigos úteis para o manejo adequado dos resíduos”, completa.
O programa de sustentabilidade ambiental do Pablo Tobón Uribe incluiu desde procedimentos básicos, como a esterilização de resíduos com risco biológico antes do envio para o aterro sanitário, até o encapsulamento de materiais pesados, como mercúrio, para o armazenamento em local seguro. Através de medidas simples, foi possível obter recursos para o custeio de parte do projeto e diminuição das despesas da casa. Com a gestão de resíduos, por exemplo, o hospital colombiano passou a vender material reciclável para empresas especializadas. As áreas verdes da instituição também passaram a receber adubos orgânicos produzidos a partir do lixo biodegradável recolhido. A instalação de válvulas reguladoras de consumo nos chuveiros e uma reestruturação no sistema de lavanderia do hospital permitiram ainda a redução de cerca 20% no consumo mensal de água.
Economia também nos gastos com luz. Além dos painéis solares instalados no final da década de 80, o sistema elétrico do hospital recebeu bombas econômicas, fotocélulas nos alambrados exteriores e sensores de presença, que significaram um ganho de mais de 50% nos sistemas de iluminação, ou seja, 20% a menos na conta de energia da instituição. “Tornar-se sustentável traz benefícios econômicos, por estimular uma cultura baseada no uso racionalizado dos recursos”, defende o engenheiro ambiental Parra, sem revelar, porém, os custos que as medidas ecoeficientes tiveram para o hospital. “Os investimentos só aconteceram após estudo da viabilidade financeira e seu retorno. Afinal, somos um hospital sem fins lucrativos, mas nem por isso destinados à falência”, brinca o engenheiro.
O programa de sustentabilidade do hospital colombiano figura como case de sucesso no livro Gestão Ambiental em Hospitais, de autoria de Artur Toledo, coordenador do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA).“O Pablo Tobón Uribe se tornou um hospital ecológico referência para as instituições médicas que desejam aliar ecoeficiência e competitividade empresarial”, qualifica o acadêmico.
Brasil - A onda de investimentos em negócios ecossustentáveis segue a mesma tendência no Brasil, com interessantes iniciativas. Casos como o da Unimed Rio, que possui cerca de 850 mil usuários e 5,2 mil médicos cooperados. Com atuação na capital carioca e no município de Duque de Caxias, a operadora vai inaugurar até o final deste ano um hospital “verde” de alta e média complexidade, no Rio de Janeiro. Resultado de um investimento de R$ 190 milhões, o empreendimento segue os padrões da United States Green Building Council (USGBC), organização norte-americana responsável por promover ações de sustentabilidade ambiental no mundo.
A Unimed Rio, que em 2011 faturou R$ 2,8 bilhões e registrou um crescimento de quase 20%, pretende obter o selo de sustentabilidade Liderança em Energia e Design Ambiental (LEED), nível prata. Para tanto, o hospital está sendo construído com materiais reciclados e de origem certificada, equipamentos de alta eficiência energética e de baixo consumo de água, além de vidros especiais que valorizam a luz natural e filtram calor. A unidade terá 30 mil m² de área construída e 229 leitos, com previsão de atendimento de aproximadamente 18 mil pacientes por ano.
No setor da medicina diagnóstica, o Grupo Fleury, que em 2011 faturou R$ 1,2 bilhão, já inaugurou, no início deste ano, a sua segunda unidade com arquitetura ecologicamente sustentável, na capital paulista. O empreendimento de 6 mil m² também foi construído conforme os conceitos da certificação LEED, emitida pela USGBC. A nova estrutura possui ar-condicionado livre de CFC (clorofluorcarboneto), sistema inteligente de regulagem de temperatura e todas as lâmpadas com baixa concentração de mercúrio. “Nossa unidade ‘verde’ se mostrou 13% mais eficiente quanto ao consumo de energia que outras do mesmo porte e com mesmo mix de serviços”, contabiliza o gerente de Sustentabilidade e Gerenciamento de Riscos do grupo, Daniel Périgo. O local conta ainda com sistema de reaproveitamento de água e telhado verde, uma espécie de jardim na laje. Com o teto ecológico, a temperatura interna do ambiente chega a ser reduzida em até 7ºC.
Atualmente com 83 unidades distribuídas pelo Distrito Federal, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Tocantins e Amazonas, a rede de laboratórios Sabin começou a investir em sustentabilidade ambiental há dez anos, quando buscou o selo norte-americano SA 8.000. Entre as adaptações exigidas para a certificação estavam investimentos em gestão de saúde e segurança ambiental. A empresa, que no ano passado faturou mais de R$ 189 milhões, iniciou o seu projeto ecológico pelo gerenciamento de resíduos, com a esterilização de material contaminante antes do descarte. A organização adotou ainda medidas simples como campanhas de sensibilização dos próprios colaboradores, que possibilitaram a redução de 15% no consumo de energia. Bom resultado também com o programa de conscientização dos motoristas e manutenção constante da frota da empresa, que diminuiu o gasto de combustível em 12%. O projeto contemplou ainda o tratamento da água utilizada nos procedimentos do laboratório antes de lançá-la na rede de esgoto, através de uma metodologia desenvolvida pela própria empresa.
O Sabin gastou cerca de R$ 250 mil em ações ecoeficientes, que resultaram em uma economia de R$ 232 mil nos últimos cinco anos. Mas o principal lucro com a política ambiental da empresa foi traduzido em credibilidade e expansão da marca. Segundo pesquisas de controle encomendadas pelo laboratório à Fundação Dom Cabral, os investimentos em sustentabilidade têm reforçado a imagem da instituição junto aos clientes, refletindo positivamente no crescimento da empresa – em 2011 esse marco foi de 30%. “Notamos que os brasileiros apreciam as empresas que demonstram preocupação com o meio ambiente”, comemora o gerente de Sustentabilidade da rede, Antônio Leitão.
Incentivo - Para estimular a prática de ações sustentáveis no mercado segurador, a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) vai premiar em dezembro securitários e corretores com trabalhos relacionados ao tema. Na ocasião, serão laureadas as ideias inovadoras com impacto positivo em pelo menos um dos três pilares da sustentabilidade – social, ambiental e governança corporativa. “É uma forma de fortalecer nossa cultura de gerenciamento do risco e influenciar no comportamento de nossos colaboradores, parceiros de negócios e da sociedade em geral”, avalia a diretora executiva da CNseg, Solange Mendes. O evento integra as ações de fomento à sustentabilidade da confederação, que se tornou neste ano signatária dos princípios do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Iniciativa Financeira (UNEP–FI).
A Sulamérica Seguros está concorrendo ao prêmio com o “guia do uso consciente”, uma espécie de cartilha com respostas às dúvidas dos usuários de plano de assistência médica quanto aos termos técnicos utilizados na área de saúde. Em 2009, a companhia já tinha criado em sua estrutura um departamento para gerir os programas de sustentabilidade da empresa. As medidas adotadas contemplaram a conscientização dos colaboradores do grupo para a adoção de práticas “limpas”.
A seguradora foi a primeira do setor a implantar a certificação digital na troca de documentos eletrônicos entre prestadores e seguradora. O documento online permitiu a economia de 86 mil toneladas de papel, em quatro anos de projeto. Os cartões de identificação dos beneficiários também deixaram de ser impressos com data de validade. A medida evitou reimpressões, reduzindo o consumo de papel, plástico e combustível para a entrega dos documentos. Somente em 2011, mais de três milhões de cartões deixaram de ser emitidos. “Os investimentos em sustentabilidade colaboram positivamente para a imagem da companhia e aumentam a confiança do consumidor na empresa”, avalia a superintendente de Sustentabilidade da Sulamérica, Adriana Boscov.
Ainda há muito a se fazer para estimular novas ações e produtos ecoeficientes no mercado da saúde do país. Entraves como o alto custo do investimento inicial em ações sustentáveis ainda assustam a iniciativa privada brasileira. Segundo especialistas, são poucas as fábricas nacionais que produzem em larga escala material e equipamentos para atender a demanda local, forçando as empresas a importarem esses bens de outros países.
Outra importante barreira é a falta de profissionalização administrativa em algumas instituições do segmento médico-hospitalar. “As organizações geridas de forma amadora, comuns no setor da saúde, veem as ações de sustentabilidade ambiental como um gasto, e não como um investimento”, afirma o sócio da Slageng, Augusto Gitirana, empresa especializada em gestão, fusões e aquisições. Para o executivo, que esteve à frente do Memorial São José (Recife) por dois anos, essa é uma visão equivocada. “Investir em medidas ecoeficientes é estratégico, pois além de agregar valor à marca ajuda a reduzir as despesas institucionais”, classifica Gitirana.
Mas para o fomento à sustentabilidade, as organizações também precisam investir em profissionais qualificados no tema, o que encarece ainda mais o processo. “O incentivo fiscal do Estado às organizações que promovam ações de sustentabilidade seria uma alternativa viável e, certamente, bem acolhida no meio empresarial”, defende Artur Toledo.
Para o acadêmico, só os investimentos em medidas ecologicamente corretas não seriam suficientes. “O desenvolvimento sustentável só será alcançado se houver uma condição de igualdade, bem-estar e justiça social para toda a população do planeta”, alerta. (diagnosticoweb)

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