Mercado de saúde está atento a práticas ecoeficientes
O hospital Pablo Tobón Uribe foi um dos pioneiros ao
investir coeficiência na América Latina.
UNIMED RIO: novo hospital "verde" de alta
e média complexidade custou R$ 190 milhões
Preservar
o meio ambiente através de ações sustentáveis. Um discurso que há pouco mais de
uma década só seria pronunciado por ativistas entrou definitivamente na pauta
de discussão de executivos das companhias de saúde em todo o mundo. Os
investimentos em sustentabilidade ambiental têm se mostrado instrumentos
valiosos não só para o equilíbrio do planeta, como para o controle e a
diferenciação dos negócios no mercado. Na América do Sul, o bom exemplo quem dá
é a Colômbia. O país, que assim como o Brasil integra a lista dos 17 países
mais biodiversificados do mundo, abriga na cidade de Medellín um dos maiores
hospitais verdes do continente, o Pablo Tobón Uribe. Instituição filantrópica
de alto nível de complexidade, além de importante centro de pesquisa e ensino
do país, a organização foi uma das primeiras das américas a investir em
sustentabilidade ambiental, há 25 anos.
Com
351 leitos e uma taxa de ocupação média anual de mais de 80%, o Pablo Tobón
Uribe – ou “hospital com alma”, como é carinhosamente chamado em seu país –
focou o seu programa de sustentabilidade na prestação de serviços dentro de
parâmetros de produção mais limpa. A intenção era criar um hospital ecológico,
que respeitasse a cultura local e proporcionasse uma melhor qualidade de vida
às pessoas envolvidas no processo. “Não fazia sentido tratar e ajudar nossos
pacientes e, ao mesmo tempo, deteriorar o meio ambiente”, disse à revista
Diagnóstico o engenheiro ambiental da instituição, Carlos Andrés Parra.
O primeiro
passo foi a implantação de uma política de gestão de resíduos sólidos, através
da classificação do material conforme a sua origem. O lixo passou a ser
separado em recipientes identificados por um sistema de cores, técnica adotada
no final da década de 80, quando as discussões sobre sustentabilidade ambiental
ainda eram incipientes. Mais de 10 anos depois, o procedimento seria
transformado em norma na Colômbia. “Não existiam outros modelos que servissem
de referência para o nosso programa de sustentabilidade”, ressalta Parra,
mencionando as barreiras enfrentadas pelo hospital na época. “A indústria não
produzia recipientes, bolsas nem outros artigos úteis para o manejo adequado
dos resíduos”, completa.
O
programa de sustentabilidade ambiental do Pablo Tobón Uribe incluiu desde
procedimentos básicos, como a esterilização de resíduos com risco biológico
antes do envio para o aterro sanitário, até o encapsulamento de materiais
pesados, como mercúrio, para o armazenamento em local seguro. Através de
medidas simples, foi possível obter recursos para o custeio de parte do projeto
e diminuição das despesas da casa. Com a gestão de resíduos, por exemplo, o
hospital colombiano passou a vender material reciclável para empresas
especializadas. As áreas verdes da instituição também passaram a receber adubos
orgânicos produzidos a partir do lixo biodegradável recolhido. A instalação de
válvulas reguladoras de consumo nos chuveiros e uma reestruturação no sistema
de lavanderia do hospital permitiram ainda a redução de cerca 20% no consumo
mensal de água.
Economia
também nos gastos com luz. Além dos painéis solares instalados no final da
década de 80, o sistema elétrico do hospital recebeu bombas econômicas,
fotocélulas nos alambrados exteriores e sensores de presença, que significaram
um ganho de mais de 50% nos sistemas de iluminação, ou seja, 20% a menos na
conta de energia da instituição. “Tornar-se sustentável traz benefícios
econômicos, por estimular uma cultura baseada no uso racionalizado dos
recursos”, defende o engenheiro ambiental Parra, sem revelar, porém, os custos
que as medidas ecoeficientes tiveram para o hospital. “Os investimentos só
aconteceram após estudo da viabilidade financeira e seu retorno. Afinal, somos
um hospital sem fins lucrativos, mas nem por isso destinados à falência”,
brinca o engenheiro.
O
programa de sustentabilidade do hospital colombiano figura como case de sucesso
no livro Gestão Ambiental em Hospitais, de autoria de Artur Toledo, coordenador
do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Fundação Santo André
(CUFSA).“O Pablo Tobón Uribe se tornou um hospital ecológico referência para as
instituições médicas que desejam aliar ecoeficiência e competitividade
empresarial”, qualifica o acadêmico.
Brasil
- A onda de investimentos em negócios ecossustentáveis segue a mesma tendência
no Brasil, com interessantes iniciativas. Casos como o da Unimed Rio, que
possui cerca de 850 mil usuários e 5,2 mil médicos cooperados. Com atuação na capital
carioca e no município de Duque de Caxias, a operadora vai inaugurar até o
final deste ano um hospital “verde” de alta e média complexidade, no Rio de
Janeiro. Resultado de um investimento de R$ 190 milhões, o empreendimento segue
os padrões da United States Green Building Council (USGBC), organização
norte-americana responsável por promover ações de sustentabilidade ambiental no
mundo.
A
Unimed Rio, que em 2011 faturou R$ 2,8 bilhões e registrou um crescimento de
quase 20%, pretende obter o selo de sustentabilidade Liderança em Energia e
Design Ambiental (LEED), nível prata. Para tanto, o hospital está sendo
construído com materiais reciclados e de origem certificada, equipamentos de
alta eficiência energética e de baixo consumo de água, além de vidros especiais
que valorizam a luz natural e filtram calor. A unidade terá 30 mil m² de área
construída e 229 leitos, com previsão de atendimento de aproximadamente 18 mil
pacientes por ano.
No
setor da medicina diagnóstica, o Grupo Fleury, que em 2011 faturou R$ 1,2
bilhão, já inaugurou, no início deste ano, a sua segunda unidade com
arquitetura ecologicamente sustentável, na capital paulista. O empreendimento
de 6 mil m² também foi construído conforme os conceitos da certificação LEED,
emitida pela USGBC. A nova estrutura possui ar-condicionado livre de CFC
(clorofluorcarboneto), sistema inteligente de regulagem de temperatura e todas
as lâmpadas com baixa concentração de mercúrio. “Nossa unidade ‘verde’ se
mostrou 13% mais eficiente quanto ao consumo de energia que outras do mesmo
porte e com mesmo mix de serviços”, contabiliza o gerente de Sustentabilidade e
Gerenciamento de Riscos do grupo, Daniel Périgo. O local conta ainda com
sistema de reaproveitamento de água e telhado verde, uma espécie de jardim na laje.
Com o teto ecológico, a temperatura interna do ambiente chega a ser reduzida em
até 7ºC.
Atualmente
com 83 unidades distribuídas pelo Distrito Federal, Goiás, Bahia, Minas Gerais,
Tocantins e Amazonas, a rede de laboratórios Sabin começou a investir em
sustentabilidade ambiental há dez anos, quando buscou o selo norte-americano SA
8.000. Entre as adaptações exigidas para a certificação estavam investimentos
em gestão de saúde e segurança ambiental. A empresa, que no ano passado faturou
mais de R$ 189 milhões, iniciou o seu projeto ecológico pelo gerenciamento de
resíduos, com a esterilização de material contaminante antes do descarte. A
organização adotou ainda medidas simples como campanhas de sensibilização dos
próprios colaboradores, que possibilitaram a redução de 15% no consumo de
energia. Bom resultado também com o programa de conscientização dos motoristas
e manutenção constante da frota da empresa, que diminuiu o gasto de combustível
em 12%. O projeto contemplou ainda o tratamento da água utilizada nos
procedimentos do laboratório antes de lançá-la na rede de esgoto, através de
uma metodologia desenvolvida pela própria empresa.
O
Sabin gastou cerca de R$ 250 mil em ações ecoeficientes, que resultaram em uma
economia de R$ 232 mil nos últimos cinco anos. Mas o principal lucro com a
política ambiental da empresa foi traduzido em credibilidade e expansão da
marca. Segundo pesquisas de controle encomendadas pelo laboratório à Fundação
Dom Cabral, os investimentos em sustentabilidade têm reforçado a imagem da
instituição junto aos clientes, refletindo positivamente no crescimento da
empresa – em 2011 esse marco foi de 30%. “Notamos que os brasileiros apreciam
as empresas que demonstram preocupação com o meio ambiente”, comemora o gerente
de Sustentabilidade da rede, Antônio Leitão.
Incentivo
- Para estimular a prática de ações sustentáveis no mercado segurador, a
Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e
Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) vai premiar em dezembro
securitários e corretores com trabalhos relacionados ao tema. Na ocasião, serão
laureadas as ideias inovadoras com impacto positivo em pelo menos um dos três
pilares da sustentabilidade – social, ambiental e governança corporativa. “É
uma forma de fortalecer nossa cultura de gerenciamento do risco e influenciar
no comportamento de nossos colaboradores, parceiros de negócios e da sociedade
em geral”, avalia a diretora executiva da CNseg, Solange Mendes. O evento
integra as ações de fomento à sustentabilidade da confederação, que se tornou
neste ano signatária dos princípios do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente – Iniciativa Financeira (UNEP–FI).
A
Sulamérica Seguros está concorrendo ao prêmio com o “guia do uso consciente”,
uma espécie de cartilha com respostas às dúvidas dos usuários de plano de
assistência médica quanto aos termos técnicos utilizados na área de saúde. Em
2009, a companhia já tinha criado em sua estrutura um departamento para gerir
os programas de sustentabilidade da empresa. As medidas adotadas contemplaram a
conscientização dos colaboradores do grupo para a adoção de práticas “limpas”.
A
seguradora foi a primeira do setor a implantar a certificação digital na troca
de documentos eletrônicos entre prestadores e seguradora. O documento online
permitiu a economia de 86 mil toneladas de papel, em quatro anos de projeto. Os
cartões de identificação dos beneficiários também deixaram de ser impressos com
data de validade. A medida evitou reimpressões, reduzindo o consumo de papel, plástico
e combustível para a entrega dos documentos. Somente em 2011, mais de três
milhões de cartões deixaram de ser emitidos. “Os investimentos em
sustentabilidade colaboram positivamente para a imagem da companhia e aumentam
a confiança do consumidor na empresa”, avalia a superintendente de
Sustentabilidade da Sulamérica, Adriana Boscov.
Ainda
há muito a se fazer para estimular novas ações e produtos ecoeficientes no
mercado da saúde do país. Entraves como o alto custo do investimento inicial em
ações sustentáveis ainda assustam a iniciativa privada brasileira. Segundo
especialistas, são poucas as fábricas nacionais que produzem em larga escala
material e equipamentos para atender a demanda local, forçando as empresas a
importarem esses bens de outros países.
Outra
importante barreira é a falta de profissionalização administrativa em algumas
instituições do segmento médico-hospitalar. “As organizações geridas de forma
amadora, comuns no setor da saúde, veem as ações de sustentabilidade ambiental
como um gasto, e não como um investimento”, afirma o sócio da Slageng, Augusto
Gitirana, empresa especializada em gestão, fusões e aquisições. Para o
executivo, que esteve à frente do Memorial São José (Recife) por dois anos,
essa é uma visão equivocada. “Investir em medidas ecoeficientes é estratégico,
pois além de agregar valor à marca ajuda a reduzir as despesas institucionais”,
classifica Gitirana.
Mas
para o fomento à sustentabilidade, as organizações também precisam investir em
profissionais qualificados no tema, o que encarece ainda mais o processo. “O
incentivo fiscal do Estado às organizações que promovam ações de
sustentabilidade seria uma alternativa viável e, certamente, bem acolhida no
meio empresarial”, defende Artur Toledo.
Para o
acadêmico, só os investimentos em medidas ecologicamente corretas não seriam
suficientes. “O desenvolvimento sustentável só será alcançado se houver uma
condição de igualdade, bem-estar e justiça social para toda a população do
planeta”, alerta. (diagnosticoweb)
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