Num texto datado de
1882, um mestre da comunidade dos Himalaias (próximo ao planalto tibetano)
escreveu que “a natureza uniu todas as partes do seu Império por meio de fios
sutis de simpatia magnética, e há uma relação mútua até mesmo entre uma estrela
e um homem”.
Quem traz esse texto
à tona é Carlos Cardoso Aveline, em seu livro “A Vida Secreta da Natureza” (ed.
Bodigaya, 156 págs), procurando destacar a essência da percepção ecológica da
vida.
Tudo, absolutamente
tudo que está ao nosso redor, ligados à nossa vida, tem uma íntima relação com
a natureza. Não por acaso, “no universo e na natureza tudo tem a ver com tudo
em todos os momentos e em todas as circunstâncias”, disseram os físicos Niels
Bohr (1885-1962) e Werner Heisenberg (1901-1976).
Somos parte do universo,
feitos do mesmo pó cósmico que se originou com a explosão das grandes estrelas
vermelhas. Nossa relação com as estrelas é ainda maior, afinal, são elas que
auxiliam o processo de conversão do hidrogênio em hélio e, da combinação entre
esses gases efluem o oxigênio, o carbono, o nitrogênio, o fósforo e o potássio.
Sem essa rica
combinação, não seriam possíveis os aminoácidos (essenciais para a produção de
mais de 50 mil proteínas e mais de 15 mil enzimas, incluindo as enzimas
digestivas), indispensáveis à vida. Por isso há uma especial relação entre uma
estrela e um homem, conforme mencionado.
Fato inexorável é que
a grande comunidade da vida une todos os seres numa mesma relação, abrigados
numa mesma Casa (Eco), do grego (oikos) que, em conjunto com logos, (logia,
cujo significado é ciência), fez surgir o termo Ecologia, empregado pela
primeira vez em 1866, pelo biólogo Ernest Haeckel (1834-1919).
Das bactérias aos
seres humanos há em todos o mesmo código genético de base, os mesmos
aminoácidos e as mesmas bases fosfatadas, diferenciando apenas as combinações
destes elementos.
Somos, assim, parte
da biodiversidade e não é com muito esforço que se pode concluir que nosso
corpo é um ecossistema, afinal, abrigamos, dentro de nós, mais ou menos 71% de
água (a mesma porcentagem que há no Planeta Terra); nossa taxa de salinização
do sangue (3,4%) é a mesma dos mares. Simplesmente, 60% do nosso corpo é
oxigênio. Há dentro de cada um de nós mais de 100 trilhões de células
compartilhando átomos com tudo o que está ao nosso redor. Certamente, essa é
uma clara percepção ecológica da vida.
Habitamos uma Terra
que se formou em sua origem de matéria cósmica, composta basicamente de
silício, oxigênio, alumínio e ferro. Essa relação homem-seres
vivos-natureza-Terra-vida é tão intensa que até mesmo em ambientes inóspitos é
possível encontrar sinais de vida, como nas profundezas oceânicas de mais de
três quilômetros, aonde a luz solar não chega e a pressão é extrema; ou nas
crateras de vulcões com temperaturas assustadoras; ou ainda, em regiões com
alta radiação, nos diz Henrique Lins de Barros, em “Biodiversidade” (ed. Fiocruz,
94 págs.).
Assim, com as coisas
da natureza a vida vai evoluindo, moldando-se e se afirmando, sempre num
processo de contínuo aperfeiçoamento, pois a natureza, tal como a própria vida,
dia a dia nos apresenta uma novidade, basta olharmos com atenção para isso.
Leonardo Boff,
reiterando a relação vida-natureza, comenta que sem os elementos da natureza,
da qual o ser humano é parte e parcela, sem os vírus, as bactérias, os
microorganismos, o código genético, os elementos químicos primordiais, ele (ser
humano) não existiria.
Somos filhos e filhas
de Gaya (a Mãe Terra) que nos abriga. A percepção ecológica da vida humana, bem
como a percepção da vida ecológica, se reflete por toda parte, em todos os
cantos, em todo momento, quer seja numa simples gota d´água ou na queda de uma
cachoeira, nos ventos que produzem energia, num grão de areia que junto ao cactos
é capaz de embelezar a aridez escaldante do deserto, na massa de ar, nas folhas
verdes, na chuva que faz florir, no lírio que floresce no lodo, na
multiplicidade da vida aquática, no afinadíssimo canto dos pássaros, nas
abelhas que polinizam as flores nos dando o alimento, nos fitoplânctons que
produzem o oxigênio que respiramos. Isso tudo é a abundante riqueza ecológica
que perfaz a essência da vida, que embeleza, sobremaneira, a magia do viver.
Carl Sagan
(1934-1996) certa vez afirmou que “há seres que deslizam, rastejam, flutuam,
planam, nadam, escavam, caminham, galopam ou apenas ficam imóveis e crescem
verticalmente durante séculos. Alguns pesam 100 toneladas, mais a maioria é
menor que um bilionésimo de grama. Há organismos capazes de enxergar sob luz
infravermelha ou ultravioleta; e há seres cegos que percebem o ambiente
envolvendo-se num campo elétrico. Alguns armazenam luz solar e ar; alguns são
plácidos comedores de pastagens; outros caçam sua presa com garras, dentes e
venenos neurológicos. Alguns vivem uma hora e, alguns, um milênio”.
Assim é a vida no
seio do sistema ecológico, e é assim que ocorre a percepção ecológica da vida.
(EcoDebate)
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