Mudanças climáticas radicais estão prestes a ocorrer, diz estudo
A evolução da temperatura futura no cenário de
maiores emissões (vermelho) e num cenário em que se consegue implantar com
sucesso medidas de mitigação (azul) – o “mundo 4 graus mais quente” e o “mundo
2 graus mais quente”.
A Terra pode
experimentar um clima radicalmente diferente no prazo de 34 anos, mudando para
sempre a vida como conhecemos e os trópicos devem ser afetados primeiro e de
forma mais intensa, alerta um estudo [The projected timing of climate departure from
recent variability] publicado em 09/10/13, que visa reforçar os
riscos do aquecimento global.
Com as tendências
atuais de emissões de gases de efeito estufa, 2047 será o ano em que o clima na
maior parte das regiões da Terra mudará para além dos extremos documentados,
destacou o estudo.
Este prazo se
estenderá a 2069 em um cenário em que as emissões derivadas da queima de
combustíveis fósseis se estabilizarão, destacou uma análise de projeções
climáticas publicada na revista Nature.
“Os resultados nos
chocaram”, afirmou a respeito das descobertas o principal autor do estudo,
Camilo Mora, do departamento de geografia da Universidade do Havaí.
“Ao longo da minha
geração, qualquer clima com o qual estejamos acostumados será coisa do
passado”, acrescentou.
A maioria dos estudos
climáticos prevê mudanças médias globais a partir de uma data aleatória, como
2100.
O novo estudo seguiu
um curso diferente, ao distinguir entre diferentes regiões do planeta e tentar
identificar o ano em que o clima cruzará o limite em que os eventos climáticos
considerados extremos serão a norma.
Entre os efeitos
analisados estão a temperatura superficial de ar e mar, padrão de chuva e
acidez dos oceanos.
“Independentemente do
cenário, as mudanças vão acontecer logo”, advertiu Mora, destacando que isto
forçará as espécies a se adaptar ou mudar para não morrer.
“O trabalho demonstra
que estamos empurrando os ecossistemas do planeta para fora do ambiente em que
evoluíram e para dentro de condições totalmente novas que eles podem não
conseguir suportar. As extinções são o resultado provável”, comentou Ken
Caldeira, do departamento de ecologia global do Instituto Carnegie de Ciência.
Segundo o estudo, os
trópicos serão afetados mais rápido e de forma mais intensa. Plantas e animais
tropicais não estão habituados a variações no clima e por isso são mais
vulneráveis mesmo às menores alterações.
“Os trópicos
sustentam a maior diversidade do mundo em espécies marinhas e terrestres e
experimentarão climas sem precedentes dez anos antes do que qualquer outra
(região) da Terra”, destacou um comunicado.
Essas regiões também
abrigam a maior parte da população mundial e contribuem significativamente para
o abastecimento alimentar global.
“Em países
predominantemente desenvolvidos, cerca de um bilhão de pessoas em um cenário
otimista e cinco bilhões em um cenário ‘business-as-usual’ (n.r: mantidas as
mesmas condições) vivem em regiões que irão experimentar climas extremos antes
de 2050″, disse o co-autor do estudo, Ryan Longman.
“Isso faz aumentar a
preocupação com mudanças no abastecimento de água e comida, saúde humana, a
disseminação mais extensa de doenças infecciosas, estresse causado pelo calor,
conflitos e desafios para as economias”, alertou.
“Nossos resultados
sugerem que os países que serão impactados primeiro por climas sem precedentes
serão aqueles com menos capacidade de responder”, prosseguiu.
Segundo um cenário de
emissões ‘business-as-usual’, os cientistas previram que as datas da “partida
climática” seriam por volta de 2020 em Manokwari (Indonésia), 2029 em Lagos
(Nigéria), 2031 na Cidade do México, 2066 em Reykjavik (Islândia) e 2071 em
Anchorage (Alasca).
Os estudiosos
denominaram de “partida climática” o ponto em que eventos extremos mensurados
durante os últimos 150 anos – período durante o qual dados climáticos são
considerados confiáveis – se tornam a norma.
“Se a avaliação
estiver correta, atenção conservacionistas: a corrida das mudanças climáticas
não só começou, mas está definida, com a linha de chegada da extinção se
aproximando mais dos trópicos”, escreveu Eric Post, do departamento de biologia
da Universidade do Estado da Pensilvânia, em um comentário sobre as
descobertas.
O ano 2047 foi
estabelecido em um cenário ‘business-as-usual’, segundo o qual os níveis de
dióxido de carbono (CO
2
) atmosférico continuarão constantes.
Atualmente, estes
níveis estão abaixo das 400 partes por milhão (ppm), mas podem alcançar 936 ppm
em 2100, o que significaria uma elevação média na temperatura ao longo deste
século de 3,7º C graus Celsius.
O ano 2067 se baseia
em um cenário de redução de emissões, que alcançaria as 538 ppm em 2100,
provocando um aquecimento neste século de cerca de 1,8º C.
Mais 0,7º C precisa
ser adicionado às temperaturas para incluir um aquecimento que aconteceu do
início da Revolução Industrial até o ano 2000.
As Nações Unidas
estabeleceram como meta limitar o aquecimento global a 2º C em comparação com
níveis pré-industriais para evitar efeitos catastróficos decorrentes das
mudanças climáticas. (EcoDebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário