Agência reguladora critica disputa
entre SP e Rio por ‘guerra de água’
Presidente da agência que regula
captação de água em rios federais teme que disputa pelo rio Paraíba do Sul
desencadeie disputas regionais; nível do sistema Cantareira caiu para 14,1%
Rio Paraíba do Sul, na região de Campos dos
Goytacazes, no Rio de Janeiro
O presidente da
Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, criticou a disputa entre
os governos de São Paulo e do Rio de Janeiro em torno da transposição de
água do rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira. O projeto
apresentado por Geraldo Alckimin (PSDB) na semana passada, que visa aumentar a
oferta de água para São Paulo em períodos de seca, suscitou uma troca de farpas
com o governador Sérgio Cabral (PMDB), que teme impacto da medida no
abastecimento fluminense.
"Estou
apreensivo com o tom das declarações dos governadores", afirmou Andreu.
"Esta situação de sair pintando o rosto e dizer ‘não tira nenhuma gota
daqui, todas as gotas são minhas’, não contribui. Não podemos deixar essa
discussão se contaminar pelo calendário eleitoral", afirmou o presidente
da ANA em audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo. A agência é
a autoridade máxima que regula a captação de água em rios federais.
Andreu disse
que os dois governos precisam "sentar à mesa" para discutir o projeto
e chegar a um consenso, sem necessidade de intervenção judicial. Ele teme que a
"guerra pela água" possa desencadear novas disputas regionais.
"Qualquer decisão arbitrária terá pouco tempo de duração. Tem que ter
disposição de aceitar um debate sério", disse o presidente da ANA.
Para esquentar
ainda mais a disputa, Cabral afirmou à presidente Dilma Rousseff na sexta-feira
que recorrerá à Justiça, caso seja preciso. Ele informou que órgãos
técnicos do Rio ligados ao setor vão elaborar "todos os estudos
possíveis" para impedir que seja aprovado qualquer projeto que estabeleça
ajuda a São Paulo, usando água do rio Paraíba do Sul.
As medidas
tomadas para refrear o desabastecimento do Sistema Cantareira, que
registou nesta quarta-feira-feira 14,1% da capacidade, por
enquanto não surtiram o efeito desejado. Enquanto o nível de água cai, as
obras para captação do chamado volume morto do sistema estão em andamento.
Quanto aos gastos com as obras, foram investidos 80 milhões de reais -
foram compradas dezessete bombas flutuantes, tubos, cabos e geradores. No
entanto, essa parcela do reservatório só será suficiente para abastecer
Região Metropolitana de São Paulo por quatro meses, a partir do início da
operação, em maio.
A proposta
Na semana
passada, Alckmin apresentou o projeto para transpor água da represa Jaguari, no
Vale do Paraíba, para a represa Atibainha, no Cantareira, que sofre a pior seca
da história. A proposta foi rechaçada por Cabral porque o Jaguari é afluente do
rio Paraíba do Sul, que abastece 11 milhões de pessoas na Região Metropolitana
do Rio. O governador fluminense disse que "jamais cederá uma gota" e
Alckmin rebateu dizendo que a represa é paulista.
O projeto de
Alckmin, orçado em 504 milhões de reais e previsto para o segundo semestre de
2015, não precisa ter aval da ANA, destacou Andreu. Ponderou, no entanto,
que a agência pode impor restrições às vazões pretendidas pelo governo paulista
pelo fato da transposição poder impactar um rio federal.
Em defesa do
projeto, o diretor metropolitano da Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo (Sabesp), Paulo Massato, afirmou que é o mais viável em curto
prazo e que trará benefícios para ambos os lados. "É uma solução
sinérgica, onde dois mais dois são cinco e não quatro", afirmou.
Baixa adesão
Massato afirmou
ainda que os moradores de classe média alta abastecidos pelo Cantareira na
Grande São Paulo não estão atingindo a meta de redução de ao menos 20% do
consumo de água no plano de bônus de 30%, lançado em fevereiro
pela Sabesp por causa da seca histórica do principal manancial paulista.
Iniciou a cobrança pelo uso da água captada em rios, represas
e poços na região da bacia do Alto Tietê, que abrange 36 cidades da Grande São
Paulo, incluindo a capital paulista.
Essa medida vale
também para quem despeja esgoto nos rios e afeta principalmente as empresas de
saneamento básico, como a Sabesp, que terá de pagar caro para retirar água do
Alto Tietê. Com essa providência, o governo paulista e o Comitê da Bacia
Hidrográfica do Alto Tietê esperam arrecadar 24 milhões de reais só em 2014 –
quantia que pode chegar a 40 milhões em 2016. (veja)
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