sábado, 19 de abril de 2014

Indústria do coco cresce, mas com alto desperdício

Indústria do coco cresce, mas cada casca gera cerca de 1,75 kg de resíduo com alto desperdício
Em parte pelo calor, em parte pelo apelo saudável, o consumo de água de coco tem crescido no Brasil entre 10% e 20% ao ano, de acordo com Sindcoco (sindicato nacional dos produtores de coco). Mas não raro o destino da casca do coco verde é uma pilha de lixo em alguma praia brasileira.
“É um mercado grande, mas o aumento da demanda tem gerado uma grande quantidade de resíduos sólidos, que é um material problemático”, explica Fernando Abreu, pesquisador da Embrapa no Ceará, um dos polos brasileiros de produção de coco. “Basta pensar que cada coco tem entre 2 kg e 2,5 kg, e até 70% de seu peso está na casca.”
Segundo Francisco Porto, presidente do Sindcoco, o Brasil produz anualmente 1 bilhão de cocos verdes (de onde é extraída a água) e 1 bilhão de cocos secos (matéria-prima do coco ralado e do leite de coco).
Apenas 10% desse total é reciclado. “Quase tudo vai para o lixo. É um subaproveitamento.”
Produtores e empresas consultados pela BBC Brasil explicam que a reciclagem tende a ser cara e trabalhosa. Esforços para reaproveitar o coco estão parados em algumas cidades, mas, ao mesmo tempo, crescem as iniciativas – e as pesquisas – em busca de usos cada vez mais inovadores e ecologicamente corretos do material.
De MDF à contenção de encostas
Mantas feitas da fibra do coco são usadas em encostas para conter deslizamentos
Na linha de frente das pesquisas está a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que estuda uma forma de transformar os resíduos do coco verde em um material prensado semelhante ao MDF (compensado de madeira). A ideia é que, no futuro, o produto final seja uma alternativa à madeira na produção de móveis.
“Nossa pesquisa já está em fase final, avaliando a resistência do material”, explica Fernando Abreu. “O que falta é um investidor, uma empresa que tenha interesse em passar um período aqui dentro (da Embrapa) para a transferência dessa tecnologia.”
Seu colega Adriano Mattos cita também estudos para obter, a partir da casca, resinas e nanocristais de celulose, que possam ser usados para aumentar a resistência de materiais plásticos.
Enquanto isso, recicladores de coco tentam difundir o uso de produtos reciclados que já são mais conhecidos.
Um exemplo é o pó do coco triturado, que gera um substrato com alta capacidade de absorção de água. Por isso, é usado como adubo na agricultura – por exemplo, na plantação de cana-de-açúcar, de flores ou mesmo dos próprios cocos.
Indústrias conseguem reaproveitar resíduos em sua própria produção agrícola
“Para cada mil quilos de casca de coco, obtemos 300 kg de adubo orgânico”, explica à BBC Brasil Emerson Tenório, diretor-superintendente-executivo da Sococo, empresa especializada em produtos com coco e que tem fábricas em Alagoas e Pará.
Os resíduos também podem ser processados para gerar energia por meio da queima. E a fibra da casca é usada como substituto de xaxins, para compor estofados de assentos de veículos, para isolantes térmicos e para fazer mantas biológicas usadas na contenção de encostas, evitando deslizamentos.
A empresa baiana Fibraztech, que iniciou seus trabalhos no ano passado, diz que a meta é produzir 6 milhões de metros de biomanta em 2014. O produto já é vendido para proteger encostas no Nordeste brasileiro, e a companhia quer agora vender para o exterior – está em negociações para exportar ao Panamá.
“É um mercado de grande potencial, mas que precisa ser mais divulgado”, diz Fausto Ferraz, diretor industrial da Fibraztech.
Mercado interno
Mas o principal mercado é mesmo o interno. Empresas e representantes do setor dizem que é muito difícil concorrer no exterior – seja vendendo a água de coco ou os derivados reciclados – devido aos baixos salários pagos aos trabalhadores do sul da Ásia (em países como Indonésia e Sri Lanka), onde se concentra a maior produção de coco do mundo.
Tenório, da Sococo, calcula que, enquanto o Brasil tem 300 mil hectares plantados de coco, Filipinas e Indonésia tenham entre 4 e 5 milhões de hectares.
Empresários dizem que reciclagem tem grande potencial, mas seus subprodutos ainda são pouco conhecidos
“O custo Brasil é alto, é difícil ganhar mercado lá fora competindo com a Indonésia”, explica. Mas aqui no Brasil, diz ele, “só não se consome mais água de coco porque não tem”.
“A água de coco é uma coqueluche mundial. O consumo do coco seco acompanha o crescimento da população, mas o do verde (de onde é extraída a água) tem crescido muito mais”, diz ele.
Segundo Tenório, a Sococo recicla 100% de suas cascas, usadas tanto para biomantas quanto para adubar mudas.
Mas o reaproveitamento não traz lucros, diz ele. “Quando empatamos (com os custos) já estamos felizes. (A obtenção do substrato vegetal) é cara e complexa, são investimentos que duraram 15 ou 20 anos. E, pela produção se concentrar em países pobres, as pesquisas são próprias e experimentais.” (ecodebate)

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