Estiagem afeta reservas com até 30 metros de profundidade, usadas por
diversas famílias.
O medo do caseiro Natalício Correia Vilela, de 27 anos, era “dar pedra”.
Seriam seis meses desperdiçados com 25 metros de escavação para encontrar
rochas. “Deu água”, comemorou. “Só não sei até quando.”
O drama de Vilela se tornou rotina em Bragança Paulista, a 90
quilômetros da capital, onde ficam as duas maiores represas do Sistema
Cantareira. A estiagem na região também está afetando os poços “caipiras” - de
até 30 metros de profundidade - de diversas famílias que dependem,
exclusivamente, da captação subterrânea.
Em janeiro, quando estourou a crise no manancial, o nível de água do
poço que o caseiro dividia com o irmão baixou de 3 metros para 70 centímetros.
A solução encontrada foi mudar de casa e cavar um novo buraco em busca de água.
“O pessoal só fala da represa, mas a seca está acabando com o lençol freático.
Vários poços aqui já secaram de vez”, disse Vilela.
Foi o que aconteceu na casa do segurança Benedito Aparecido Pinheiro, de
34 anos, há dois meses. Sem água, ele fez como o governo do Estado e foi atrás
do volume morto. Contratou um pedreiro por R$ 500 para afundar seu poço em mais
2 metros. “Se não fosse isso não tinha água hoje. Agora a gente está
economizando o que pode para não ficar sem. Antes dessa crise, a água batia 5
metros de altura.”
Segundo Sérgio Werneck Filho, CEO da empresa Nova Opersan, especializada
em soluções ambientais para tratamento de água e esgoto, poços rasos como o de
Pinheiro e Vilela ficam tão sujeitos às questões climáticas quanto as represas.
“Esses poços captam água do lençol freático e sofrem de forma imediata os
efeitos da estiagem porque sem chuva a terra não absorve água. Nesses casos, só
um poço artesiano, com 300 metros de profundidade”, afirma.
Artesianos
Jacy Acácio dos Santos, dono da empresa Tecsonda, que instala poços em
todo o Estado, disse que a seca nos reservatórios caipiras fez triplicar a
procura pelos artesianos na região desde janeiro. “Só de pedido de orçamento
são 30 por dia. Ele custa mais caro - cerca de R$ 25 mil -, mas é mais seguro
com relação à contaminação e não há risco de secar”, explica.
Sem disposição para investir essa quantia, o contador João Ricardo
Barbosa Coelho, de 52 anos, abandonou a casa de campo que tem há 17 anos na
beira da Represa Jacareí porque a mina de onde captava água secou no fim de
2013. “Até a casa do caseiro, que tem um poço mais profundo, demora de três a
quatro dias para acumular 200 litros. Uma alternativa seria pegar água na
represa, mas o espelho d'água de 300 metros que tinha na frente de casa
desapareceu.”
Subterrâneo
O lençol freático segue o nível da represa. Sem chuva, continua caindo
até chegar o momento em que só restará rocha, que é impermeável. (OESP)
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