União Europeia propõe leis para promover a reciclagem de materiais
e a economia circular
Escassez de recursos
e poluição são fatores a favor da reciclagem e da economia circular. Mas, além
de serem positivas para o meio ambiente, Tais práticas podem ser lucrativa para
as empresas: um argumento forte.
A União Europeia quer
que, até 2030, seus países-membros passem a reciclar 70% do lixo municipal e
80% de embalagens plásticas. A proposta também prevê que material reciclável
deixe de ser enterrado em aterros sanitários até 2025, além de abranger metas
para reduzir o desperdício de alimentos e o lixo marinho.
“A proteção ambiental
pode impulsionar o desenvolvimento econômico, gerando crescimento e emprego”,
declarou o comissário europeu de Ambiente, Janez Potočnik. Anteriormente ao
anúncio, no início de junho, a economia circular, que prevê maior eficiência na
criação de produtos e na reciclagem, já havia sido tema da Semana Verde, o
encontro ambiental anual da UE, realizado em Bruxelas.
“Se não formos às
raízes do comportamento econômico, de como consumimos, produzimos e vivemos,
não acredito que, em longo prazo, possamos resolver a questão de como proteger
o meio ambiente e viver nos limites do planeta”, disse Potočnik.
O comissário, cujo
mandato termina este ano, ressaltou que os sistemas econômicos lineares, herdados
do século 19, não são adequados ao século 21 das economias emergentes, com
milhões de novos consumidores de classe média e mercados interconectados. “Se
quisermos competir, precisamos tirar o máximo dos nossos recursos – e isso
significa reciclar, colocando-os de volta no uso produtivo, e não enterrá-los
em aterros sanitários, como lixo.”
Novos padrões consumo
Segundo Heinz
Leuenberger, diretor da iniciativa Indústria Verde, promovida pela Organização
das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), sozinha, a
eficiência de recursos não vai resolver todos os problemas ambientais, mas já é
um passo na direção certa.
Potočnik defende
que se aproveitem melhor os recursos naturais
Um estudo do
Instituto McKinsey estima que em 2030 o benefício financeiro da eficiência de
recursos chegará a 3 trilhões de dólares por ano, estando de 70% a 85% desse
volume concentrado nos países em desenvolvimento. Para Leuenberger, há tempo
demais a relação custo-benefício da eficiência de recursos vem sendo
negligenciada.
“Estudos revelam que
na Alemanha, um país com salários elevados, a mão de obra corresponde a cerca
de 20% dos custos de produção, enquanto matéria-prima e energia ficam entre 45%
e 55%, dependendo do setor. Ainda assim, quando se trata de reduzir custos de
produção, a maioria dos executivos mira a mão de obra. Mas nós achamos que a
eficiência de recursos é um aspecto-chave.”
Bas de Leeuw é
diretor do Fórum Mundial de Recursos, baseado na Suíça, que conecta cientistas,
políticos e ONGs com o fim de aprimorar a gestão de recursos naturais. Segundo
ele, as tendências mundiais estão indo na direção errada: “Estamos
superconsumindo, usando recursos demais, o que significa poluição demasiada e
preços ascendentes. E pode também significar instabilidade crescente no mundo,
pois os pobres é que são as vítimas.”
Leuenberger
acrescenta que modificar os processos de produção é um aspecto central, mas os
padrões de consumo do mundo industrializado também precisam mudar. “Se todos consumirem
no mesmo nível das nações industriais, não haverá um mundo sustentável, mesmo
se otimizarmos ao máximo. Não se pode convencer alguém no Vietnã a só comprar
uma camiseta, ou uma bicicleta ao invés de um carro, quando se tem quatro
carros e 50 camisetas.”
Políticas ambientais
As propostas da
Comissão Europeia ainda precisam ser aprovadas pelo Conselho e o Parlamento
Europeus, além de ser implementadas em combinação com as legislações existentes
sobre lixo, aterros sanitários e embalagens. Porém tanto a UE quanto o da ONU
enfatizam que a chave é convencer as empresas que eficiência de recursos faz
sentido do ponto de vista econômico.
“Não acho que
possamos esperar até que todos os países tenham políticas adequadas e todas as
instituições governamentais estejam treinadas e equipadas para aplicar as leis
ambientais ou de sustentabilidade. O que nós devemos, é tentar convencer as
empresas a apostar em eficiência de recursos, em tecnologias mais
ecologicamente corretas, pois elas podem lucrar produzindo de modo mais limpo e
eficiente”, exorta Heinz Leuenberger, da Iniciativa Indústria Verde.
Matérias-primas
não recicladas: como dinheiro no lixo
Para De Leeuw,
contudo, a regulamentação governamental tem um papel decisivo em acelerar a
transição para a economia circular. Iain Gulland, diretor da iniciativa Zero
Waste Scotland, concorda. “É tudo uma questão de criar um mercado, persuadindo
as pessoas a mudarem seu modelo de negócios e a desenvolver novos produtos.
Elas não vão fazer isso em nível doméstico, mas o farão para um mercado mais
amplo. Com essa agenda, nós criamos um novo mercado, e as empresas, pequenas e
grandes, começarão a se adaptar.”
A Escócia defende na
UE a ambiciosa meta de 60% de reciclagem até 2020 e 70% até 2025. Segundo
Gulland, o setor público pode tomar a dianteira, ao implementar estratégias de
aquisição sustentável. Essa abordagem conta com o apoio da TCO Certified, grupo
sueco de origem sindical que opera um sistema de certificação – também
promovido pela UE – para produtos de tecnologia de informação (TI) sustentáveis
no setor público.
Niclas Rydell,
diretor da TCO, defende que “a certificação pode ter grande impacto sobre todo
um setor”. “O que tentamos fazer é minimizar os impactos ambientais e, ao mesmo
tempo, aumentar a vida de um produto.”
Outro fator que
impulsiona a eficiência de recursos e a economia circular é a escassez de
matérias-primas, como os metais de terras raras, necessários à produção de
produtos de TI. O fato de eles não serem encontrados na Europa e nos Estados Unidos,
é mais um incentivo para que sejam usados mais economicamente, ressalta De
Leeuw, do Fórum Mundial de Recursos: “Essa não é uma agenda ambiental, na
realidade é uma agenda econômica e de segurança, que exige uma discussão
internacional.” (ecodebate)
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