É possível viver bem,
com plena qualidade de vida, sem depender de crescimento econômico constante?
Talvez seja essa a principal pergunta localizada no cerne do debate existente
entre os economistas ecológicos (ecoeconomistas) e os tradicionais
(neoclássicos).
Para os primeiros, em
face da existência de limites de recursos naturais, a premissa é a seguinte: é
impossível crescer indefinidamente simplesmente porque a Terra não é capaz de
sustentar (e suportar) uma expansão econômica que fere substancialmente os
sistemas ecológicos, tanto no ato da extração quanto no descarte (incapacidade de
absorção de resíduos).
Para os economistas
tradicionais, esperançosos que um dia a tecnologia e os padrões modernos de
elevada produtividade darão conta da escassez ambiental, crescer (mais produção
econômica) ainda é e será sempre a melhor maneira de promover bem-estar aos
povos, dando-lhes acesso aos bens materiais e aos serviços oferecidos pela
economia.
Fato irretocável é
que, do choque existente entre os objetivos econômicos (acelerar o crescimento
da atividade produtiva via políticas monetária e fiscal expansionistas) e os
imperativos ecológicos (finitude dos recursos naturais, tamanho limitado da
biosfera), a crise ambiental (típico “produto” de modelos econômicos expansivos
emoldurado pela ação antrópica) emergiu como a mais grave ameaça à vida humana.
Diante disso, a
hierarquia das urgências se configura em uma só: propor um novo modelo de
administrar a economia em que, prioritariamente, sejam respeitados
(resguardados) os serviços ecossistêmicos, sem os quais a própria atividade
econômica não funciona.
Decorre daí a questão
mais decisiva para a sobrevivência da humanidade: equilibrar o clima mediante a
ocorrência de uma atividade econômica de baixo carbono, expurgando, além disso,
o falso paradigma de progresso que se apoia, substancialmente, na acumulação de
objetos materiais, promovendo nesse ato uma destruição avassaladora dos
principais serviços prestados pela natureza – regulação climática, ciclagem de
nutrientes, conservação dos solos, polinização, conservação dos corpos d´água,
além, especificamente, dos serviços de provisionamento (alimentos,
combustíveis, fibras, recursos genéticos).
Esse falso paradigma
de progresso (pautado na expansão econômica e na consequente acumulação
material) tem levado a atividade econômica a praticar, apenas e tão somente, um
crescimento “quantitativo” e unidimensional, quando o sensato, na procura pela
melhoria das condições de vida dos mais necessitados, visando alcançar
bem-estar, seria obter desenvolvimento “qualitativo” e multidimensional.
Certo mesmo é que só haverá
verdadeiro paradigma de progresso quando a economia social (poder de compra,
emprego, aposentadoria, previdência social) e a economia ecológica (recursos
naturais, serviços ecossistêmicos, patrimônio ambiental) estiverem numa mesma
sintonia, compartilhando, numa mesma perspectiva, um mesmo horizonte;
conversando num mesmo idioma, longe, portanto, de uma atividade econômica que
agride a biodiversidade e contemporiza, por conta da perda ambiental, o
agravamento de taxas indecentes de desigualdades sociais.
A crise ambiental,
ora em curso, deixa cada vez mais notória a seguinte mensagem: não é possível
conciliar crescimento com as alterações climáticas; ainda que o conceituado
relatório Stern (Stern Review on the Economics of Climate Change) julgue que “não
é incompatível a luta contra a mudança climática com a promoção do
crescimento”.
Na contramão dos
fatos, somos partidários da seguinte opinião: todo e qualquer crescimento
exagerado é altamente prejudicial. Mesmo um corpo humano que sofre, por
exemplo, de acromegalia (doença crônica provocada por excesso de produção do
hormônio do crescimento – GH – na vida adulta) leva ao crescimento disforme de
mãos, pés, nariz, enfim, ao espessamento geral da pele e de órgãos humanos.
Guardadas as óbvias diferenças, assim também acontece com a atividade econômica
quando cresce além dos limites.
Logo, não é
desproposital afirmar que todo e qualquer organismo vivo que cresce
exageradamente causa (e sofre) transtornos. Vale reiterar que para a atividade
econômica – espécie de organismo vivo do sistema econômico – isso não é e nem
poderia ser diferente.
Crescer além dos
limites, em termos meramente econômicos e produtivos, tem promovido, ao
contrário do que parece num primeiro momento, mais acúmulo de miséria (e
desigualdades) de forma mais rápida do que contribuído para a geração de
riqueza (e justa distribuição), uma vez que esse crescimento tem se soerguido
na mais completa dilapidação ambiental e em alterações climáticas, cujo
aquecimento da Terra é o fator mais ilustrativo.
Contudo, não se nega
aqui a importância do ato de crescer; porém, se requer que o mesmo seja
estabelecido dentro dos limites e, essencialmente, em regiões em que as
condições se apresentem favoráveis.
Como bem disse Mary
Robinson, ex-presidente da Irlanda (1990-97): “ninguém desmente que o
crescimento econômico seja essencial para melhorar o acesso a direitos básicos
nas nações mais pobres”.
Dessa ponderação, não
há espaço a dúvidas. É necessário, contudo, deixar margem ao crescimento das
nações mais pobres; um crescimento dentro dos limites ecológicos.
O que se deve
repensar, nesse pormenor, é a ocorrência de taxas de crescimento econômico
continuadas nas nações mais ricas – como se isso fosse condição suprema para
manter e elevar mais ainda a prosperidade – visto que isso tem contribuído para
tornar um pouco mais insustentável a sociedade atual.
Essa
insustentabilidade está nitidamente expressa na depleção dos ecossistemas do
planeta. Os últimos 40 anos mostram, claramente, que a “nossa” pegada ecológica
global dobrou. Agora, já está 30% maior do que a capacidade biológica da Terra
tem de produzir para suas necessidades. (ecodebate)
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