América Latina e Caribe poderiam com a fome apenas com
alimentos desperdiçados, diz FAO
Somente na venda a varejo, se desperdiça comida que
alimentaria 64% das pessoas que sofrem de fome na região.
Na América Latina e
no Caribe se perdem e desperdiçam mais alimentos do que os necessários para
satisfazer as necessidades das 47 milhões de pessoas que ainda sofrem de fome
na região, disse em 16/07/14 a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO).
O relatório “Perdas e
desperdícios de alimentos na América Latina e Caribe”, publicado pelo
escritório regional da FAO, diz que 6% das perdas mundiais de alimentos ocorrem
na região.
“A cada ano, a região
perde ou desperdiça aproximadamente 15% de seus alimentos disponíveis, o que
impacta a sustentabilidade dos sistemas alimentares, reduz a disponibilidade
local e mundial de comida, gera menor renda para os produtores e aumenta os preços
para os consumidores”, explicou o representante regional da FAO, Raul Benítez.
Benítez acrescenta
que as perdas e desperdícios também têm um efeito negativo sobre o meio
ambiente devido à utilização não sustentável dos recursos naturais. “Enfrentar
este problema é fundamental para avançar na luta contra a fome e deve ser
convertida em uma prioridade para os governos da América Latina e do Caribe”,
disse Benítez.
O que são e onde
ocorrem as perdas e desperdícios?
Segundo a FAO, as
perdas de alimentos dizem respeito à diminuição da massa disponível de
alimentos para o consumo humano nas fases de produção, pós-colheita,
armazenamento e transporte.
Já os desperdícios de
alimentos são as perdas derivadas da decisão de descartar alimentos que ainda
têm um valor nutricional, e estão associados principalmente ao comportamento
dos vendedores atacadistas e varejistas, serviços de venda de comida e
consumidores.
As perdas e
desperdícios ocorrem ao longo da cadeia alimentar: na região, 28% se dão no
âmbito do consumidor; 28% da produção; 17% no mercado e distribuição; 22%
durante o manuseio e armazenamento e o 6% restantes na etapa de processamento.
Perdas na venda do
varejo
Com os alimentos que
se perdem na região somente na venda no varejo, ou seja, em supermercados,
feiras livres, armazéns e demais pontos de venda, poderiam ser alimentadas mais
de 30 milhões de pessoas – ou seja, 64% das pessoas que sofrem de fome na
região.
Os alimentos que se
perdem neste nível nas Bahamas, Jamaica, Trinidade e Tobago, Belize e Colômbia
são equivalentes aos que se necessitaria para alimentar todos aqueles que
sofrem de fome nestes cinco países.
Antígua e Barbuda,
Bahamas, Jamaica, São Cristóvão e Neves, Trinidade e Tobago, Belize, Bolívia,
Colômbia, Equador, El Salvador, Suriname e Uruguai poderiam ter alimentos
equivalentes aos que necessitam para alcançar o primeiro Objetivo de
Desenvolvimento do Milênio, se reduzissem somente este tipo de perda.
“Ainda que seja
importante dizer que os países da região possuem as calorias mais que suficientes
para alimentar todos seus cidadãos, a enorme quantidade de alimentos que são
perdidos ou que acabam na lixeira é simplesmente inaceitável enquanto a fome
continuar afetando quase 8% da população regional”, explicou Benítez.
Como acabar com as perdas
e desperdícios?
Existem formas de
evitar as perdas e os desperdícios em todos os elos da cadeia, principalmente
por meio de investimentos em infraestrutura e capital físico, melhorando a
eficiência dos sistemas alimentares e de governança sobre o tema mediante
normas, investimentos, incentivos e alianças estratégicas entre o setor público
e o privado.
Um exemplo são os
bancos de alimentos, que reúnem comida que, por diversas razões, seriam
descartadas para sua redistribuição e que já existem na Costa Rica, Chile,
Guatemala, Argentina, República Dominicana, Brasil e México. A Associação de
Bancos de Alimentos do México, por exemplo, resgatou 56 mil toneladas de
alimentos somente em 2013.
A sensibilização
pública também é chave e pode ocorrer por meio de campanhas dirigidas a cada um
dos atores da cadeia alimentar, como faz a iniciativa mundial “Save Food”, uma
parceria entre a FAO, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
e a companhia alemã Messe Düsseldorf. A iniciativa reúne 250 parceiros,
organizações e empresas públicas e privadas e realiza campanhas em todas as
regiões do mundo.
“Erradicar a fome na
região requer que todos os setores da sociedade façam esforços para reduzir
suas perdas e desperdícios”, destacou o representante da FAO na região.
Perdas e desperdícios
mundiais
No âmbito mundial,
entre um quarto e um terço dos alimentos produzidos anualmente para o consumo
humano se perde ou desperdiça.
Isso equivale a cerca
de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, o que inclui 30% dos cereais; entre 40
e 50% das raízes, frutas, hortaliças e sementes oleaginosas; 20% da carne e
produtos lácteos; e 35% dos pescados.
A FAO calcula que
estes alimentos seriam suficientes para alimentar 2 bilhões de pessoas.
(ecodebate)

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